quinta-feira, 31 de maio de 2012
Estou farto do prefixo
O Governo convocou ontem uma "reunião de urgência" para apresentar aos parceiros da Concertação Social um estudo sobre o desemprego. A coisa foi marcada para as 10 horas de hoje e a mim dá-me um grandessíssimo abalo ao pífaro. Estou farto do prefixo. Eu queria era que o Governo apresentasse ao País um estudo sobre o emprego. Pelo menos isso.
Chegaram e tomaram conta do parque - dia 4
E ninguém vai preso?
quarta-feira, 30 de maio de 2012
A parábola da caixa de correio
Foi uma quarta-feira quase corriqueira na minha caixa de correio. Na caixa de correio, mesmo: naquela que já existia antes dos computadores e da internet terem sido inventados. Deixaram-me o desdobrável da Media Markt com um Stallone de papelone que é a cara chapada do Gene Simmons, um convite para a Feira do Mundo Rural, na Quinta da Bonjóia, as "7 vantagens" do "cartão de saúde" de uma rede nacional de lojas de óculos, com "especialidades médicas para toda a família", e o folheto como-quem-não-quer-a-coisa de uns desses novos compradores de "ouro, prata, jóias, novo, usado, em mau estado" que tomaram de assalto as nossas ruas e gavetas. Lixo.
O extraordinário é que alguém também lá meteu um exemplar da Voz da Verdade, publicação que até ontem me tinha passado completamente ao lado. E nem admira. Tanto quanto percebi, a Voz da Verdade é a voz do patriarcado de Lisboa e eu moro em Matosinhos. Matosinhos Sul, confesso, mas não creio que seja sul bastante para que já nos tivéssemos encontrado. Mais extraordinário ainda é que as notícias e o jornal têm a data de "domingo-20 de Novembro-2005".
Não sei que mensagem me estão a querer enviar. Nem quem. Nem porquê. Mas se é por causa de eu pensar e ter escrito que a Igreja (a Hierarquia, mais precisamente) anda muito devagar em relação ao Mundo e à História, esclareço já que não era a isto que me estava a referir. Não era às notícias. Embora esta história dos seis anos e meio de atraso até pudesse ser o princípio de uma excelente parábola para explicar o resto.
O extraordinário é que alguém também lá meteu um exemplar da Voz da Verdade, publicação que até ontem me tinha passado completamente ao lado. E nem admira. Tanto quanto percebi, a Voz da Verdade é a voz do patriarcado de Lisboa e eu moro em Matosinhos. Matosinhos Sul, confesso, mas não creio que seja sul bastante para que já nos tivéssemos encontrado. Mais extraordinário ainda é que as notícias e o jornal têm a data de "domingo-20 de Novembro-2005".
Não sei que mensagem me estão a querer enviar. Nem quem. Nem porquê. Mas se é por causa de eu pensar e ter escrito que a Igreja (a Hierarquia, mais precisamente) anda muito devagar em relação ao Mundo e à História, esclareço já que não era a isto que me estava a referir. Não era às notícias. Embora esta história dos seis anos e meio de atraso até pudesse ser o princípio de uma excelente parábola para explicar o resto.
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terça-feira, 29 de maio de 2012
Óculos com a bateria em baixo são uma chatice
É desagradável. Pousar os óculos e depois não saber onde. E precisar deles para os procurar. E pegar no telemóvel para lhes ligar, obrigando-os a darem sinal de si. E então lembrar-me que nunca os pus a carregar.
A caminho do Níger
Mais de 27 por cento das crianças portuguesas vivem em situação de carência económica, de acordo com o relatório "Medir a Pobreza Infantil", que é hoje apresentado pela Unicef e que coloca Portugal em 25.º lugar numa lista de 29 países da OCDE. Abaixo de nós, só a Letónia, a Hungria, a Bulgária e a Roménia.
Mas atenção: as conclusões do estudo baseiam-se em dados de 2009. Seriam bem piores se já reflectissem o impacto da crise em que nos enfiaram. É. As crianças portuguesas ainda não estão tão mal como aquelas da "pequena aldeia no Níger que têm duas horas de aulas por dia e têm de dividir uma cadeira por três", e que tanto comovem Christine Lagarde, a directora do FMI que ganha 380 mil euros por ano, livres de impostos. Mas para lá caminham.
Mas atenção: as conclusões do estudo baseiam-se em dados de 2009. Seriam bem piores se já reflectissem o impacto da crise em que nos enfiaram. É. As crianças portuguesas ainda não estão tão mal como aquelas da "pequena aldeia no Níger que têm duas horas de aulas por dia e têm de dividir uma cadeira por três", e que tanto comovem Christine Lagarde, a directora do FMI que ganha 380 mil euros por ano, livres de impostos. Mas para lá caminham.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
domingo, 27 de maio de 2012
Infelizmente cheira
O professor Marcelo diz que Miguel Relvas é um semimorto político no Governo de Passos Coelho. Finalmente compreendo Cavaco Silva, que segue o caso "de longe".
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Já me tinhas dito 7
O jornal escreve que "Rui Patrício só quer pensar no Euro 2012 e deixa o futuro para mais tarde". Rui Patrício, guarda-redes e bom rapaz, tem toda a razão: o futuro deve deixar-se sempre para mais tarde, para o futuro. Por uma questão de princípio.
sábado, 26 de maio de 2012
Matosinhos, os votos e os devotos
Foto Hernâni Von Doellinger |
O Senhor do Padrão, em Matosinhos, é um monumento. Um monumento nacional ao desmazelo municipal. Um monumento à irresponsabilidade, à ignorância, à incultura, aos desrespeito, ao lixo, ao abandono, um convite descarado ao vandalismo. Obra da autarquia e não só. A cretinagem não se fez rogada e destruiu a porta do belíssimo fontanário que encosta ao Porto de Leixões. Mostrei aqui o triste espectáculo que era no dia 13 de Março de 2012.
Foto Hernâni Von Doellinger |
Mas a coisa não ficou assim. Aproveitando a noite de 24 para 25 de Março, alguém rebentou de vez o gradeamento que rodeia o conjunto monumental e roubou o aloquete que aparentemente também não servia para nada (cadeado que aparentemente também não servia para nada, se for lido em Lisboa). Denunciei.
Foto Hernâni Von Doellinger |
Dois dias depois - e sinceramente não sei se o Tarrenego! ajudou -, a Câmara decidiu assumir responsabilidades e fazer alguma coisa. Foi competente e drástica: recolheu os destroços da porta do fontanário.
Foto Hernâni Von Doellinger |
Fiquei à espera do restauro, do asseio, do interesse, da dignidade. Esperei sentado e de boné na cabeça, por causa do sol. Fiz bem. Passaram-se dois meses.
Ontem, finalmente, tudo estava mudado. Aleluia! Aleluia! Encontrei o Senhor do Padrão de cara lavada, ervas arrancadas, varrido, num brinco, e até tinha um aloquete novo (cadeado novo, se lido em Lisboa). Um aloquete made in China (cadeado made in China, se lido em Lisboa).
Foto Hernâni Von Doellinger |
Melhor ainda: o problema da porta do fontanário foi resolvido de vez. Agora não há porta propriamente dita, mas os especialistas do património taparam o buraco com algo que pelo menos imita muito bem o cimento. De mestre!
Foto Hernâni Von Doellinger |
Ah!, já me esquecia: hoje é dia da procissão do Senhor de Matosinhos, que, como manda a tradição, faz a sua visita anual ao Senhor do Padrão. Uma "grandiosa procissão", diz a autarquia, uma procissão habitualmente frequentada por milhares de votos. De devotos, queria eu dizer.
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sexta-feira, 25 de maio de 2012
Pst! Queres saber a última dos serviços secretos?
A oportunidade australiana
Em Camberra, Cavaco Silva plantou um sobreiro, lembrou a importância económica da cortiça e pediu-nos atenção para as oportunidades de negócio na Austrália. Muito obrigado pela dica, Senhor Presidente: vou já lá investir o dinheiro todo que ganhei no BPN.
quinta-feira, 24 de maio de 2012
Madressilva, a mãe de todas as curas
Foto Hernâni Von Doellinger |
Duas mulheres com feições e conversa orientais. Provavelmente chinesas e aparentemente mãe e filha. Ouço-as antes de as ver. Estão agachadas entre os arbustos do Parque da Cidade. Desolho num relâmpago, cheio de vergonha e culpa por ter olhado, e fujo dali para fora aos solavancos o mais depressa que posso. As sapatilhas que herdei do meu filho fazem-me bolhas. Mancam-me. Já é o terceiro par que recebo assim, começo a desconfiar que estou de castigo.
Dia seguinte à mesma hora lá estão elas outra vez. As duas outra vez aninhadas, movendo-se de cócoras pelo meio do restolho e, alto e pára o baile, isso já me autoriza a não desviar o olhar. Isso de se moverem, digo bem, mais o facto de cada uma delas arrastar consigo de vez em quando uma daquelas enormes sacas de supermercado que custam 50 cêntimos nos dias em que não são dadas. Aproximo-me. "É pala chá. Só pala chá. Só chá!", diz-me a mulher mais velha, incomodada e, parece-me, receosa da minha curiosidade.
Percebo. As duas mulheres com feições e conversa orientais catam flores de madressilva, que já esbordam das sacas de supermercado. Voltam lá todos os dias, vejo-as pelas cinco da tarde, às vezes com reforços, na zona do parque mais junto ao mar.
Consulto o dr. Google, que me explica tudo. A flor da madressilva é altamente valorizada na medicina tradicional chinesa, que lhe reconhece propriedades adstringente, antibacteriana, antifúngica, anti-séptica, antiespasmódica, antitumor, diaforética, diurética, expectorante, febrífuga, hipoglicémica, laxante e refrigerante. Usa-se para tratar a asma, o colesterol alto, a congestão linfática, a diarreia, a disenteria, a dor de cabeça, a dor de garganta, erupções cutâneas, febre, gripe, inchaços, infecção bacteriana, intoxicação gastrintestinal, laringite, queimadura do sol, sumagre-venenoso, tosse e úlceras. Se lhe conseguirmos acrescentar as unhas encravadas, estaremos então na presença de uma panaceia ao nível da nossa famosa banha da cobra, misteriosamente desaparecida das feiras mas ainda à venda, que eu bem sei.
Por outro lado: a avaliar pela posição em que é apanhada, o mais certo é que a flor da madressilva faça mal às costas.
Não sou dado a chás, tirando o chá de parreira. A mulher mais velha, sem que eu lhe tivesse perguntado, fez questão de dizer-me, como se estivesse a defender-se de uma acusação, que era "só pala chá". Mas porquê? A coisa também se fuma, será? Hummm!... Vim-me embora com essa pedra no sapato. E era escusado. As putas das sapatilhas já me dão mau andar que chegue.
Lula da Silva, Lisboa e o resto
Estilos. Ele há cada um!
quarta-feira, 23 de maio de 2012
O Relvas tem razão: o Público abusa
Só soube na cama do hospital, depois da operação: a notícia falava, nas letras pequeninas, de um "esqueleto", de "fósseis", de um "fóssil quase completo". É. Miguel Relvas - líder do PSD, ministro nas horas vagas, primeiro-ministro de facto e doutor honoris causa em jornalismo interpretativo - está salvo da encrenca em que se meteu quando "prometeu" à jornalista do Público colocar-lhe a lingerie ao léu. O jornal não se cansa de o ilibar, a ERC está no bolso e ninguém se lembra que o caso é de polícia. Toquei a campainha e pedi que me trouxessem o 24horas.
terça-feira, 22 de maio de 2012
Amor em cadeado ou bunga-bunga à la française?
Os franceses são uns exagerados. Os parisienses abusam. E se o assunto for o amor, l'amour, então é que ninguém os atura. Compreende-se: os parisienses são os únicos que realmente têm sempre Paris. "Casablanca" é omisso quanto a aloquetes (cadeados, se lido em Lisboa). Não se sabe, por isso, se Rick e Ilsa se juraram aferrolhadamente um ao outro numa qualquer ponte da Cidade Luz e deitaram a chave ao rio, como agora se usa, mas vamos admitir que sim. Era bonito ter começado dessa maneira, no Sena, a moda que por acaso até já chegou cá, graças a Deus temperada com recato e parcimónia, como convém a um país de brandos costumes.
Agora olhem-me estes parisienses (parisienses de todo o mundo) e vejam o que é que eles fizeram a uma pequena ponte pedonal, entre Notre-Dame e o Louvre. Isto já não é sexo em grupo para aloquetes. Isto é um pesadelo, bunga-bunga à la française, bacanal de cadeados em nome do amor eterno enquanto dura. Um dia a ponte vem abaixo e depois admiram-se com os divórcios...
Agora olhem-me estes parisienses (parisienses de todo o mundo) e vejam o que é que eles fizeram a uma pequena ponte pedonal, entre Notre-Dame e o Louvre. Isto já não é sexo em grupo para aloquetes. Isto é um pesadelo, bunga-bunga à la française, bacanal de cadeados em nome do amor eterno enquanto dura. Um dia a ponte vem abaixo e depois admiram-se com os divórcios...
Foto MANUEL FLÓRIDO |
Foto MANUEL FLÓRIDO |
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Bingo: morrer da cura e da falta de remédios
- É. Mas já não há - respondeu-me o boticário, armado em ministro das Finanças.
Praticamente de acordo (ortográfico)
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Na passagem do primeiro meio aniversário
Entretanto, Duarte Lima foi ouvido pelo juiz, ficou preso preventivamente, teve tempo para pensar na vida, pôs a boca no trombone mas tocou piano, denunciou três ou quatro dos seus comparsas, modestos operacionais, pôs os amigos da alta-roda a não lhes caber um feijão no cu e, por ter sido bom rapaz, mandaram-no para casa com uma pulseira electrónica. Ah!, e Emídio Rangel, fundador da TSF e da SIC, foi condenado em tribunal por acusar juízes e magistrados do Ministério Público de passarem aos jornalistas informação em segredo de justiça. "Nos cafés, às escâncaras".
22 de Maio de 2012. O inquérito do Senhor Procurador-Geral faz hoje seis meses. O "inquérito urgente". Já se sabe alguma coisa? O que é que se descobriu? Se calhar, nada. Realmente é raro os inquéritos desta natureza produzirem resultados. Pinto Monteiro avisou logo.
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domingo, 20 de maio de 2012
Um quarto de hora três vezes por dia
- Com efeito, meu caro senhor - respondeu-me o solícito farmacêutico, sem sequer pestanejar.
- E o efeito é garantido? - insisti, pestanejando.
- Cinco anos ou 150 mil quilómetros.
- E tem genérico?
sábado, 19 de maio de 2012
Lá vem a "mudança de paradigma"
faz-me lembrar pecados velhos. Recua-me à década de oitenta do século passado, ao cimo da Rua de 31 de Janeiro, onde havia uma casa de jogos de máquinas de flippers e afins que tinha uma cave com um altifalante fanhoso que, de uns quantos em quantos minutos, gritava cá para fora a curiosa frase "Mudança de modelo". Lá em baixo parece que havia umas raparigas muito jeitosas e nuas a fazerem não sei o quê e umas cabinas individuais e sebentas com ranhura para a clientela meter a moeda como nos flippers e espreitar por um vidro e fazer também não sei o quê. Sei muito pouco do assunto porque, palavra de honra, nunca lá pus os pés. E, agora que penso nisso, nem me lembro sequer porquê. Mas estou arrependido.
Informei-me. "Mudança de modelo", logo a seguir ao ding-dong de uma campainha de aeroporto, queria dizer, por exemplo, que a morena mamuda passava a pasta à loura pernalta e ia para os bastidores ler a Corín Tellado, e assim sucessivamente e vice-versa, mas decerto queria dizer também que os clientes tinham que fechar a braguilha o mais rapidamente possível e dar a vez a outros, que eram mais que as mães, sobretudo no intervalo de almoço. O speaker de serviço dizia "Mudaaaança de modeloooo" com um garbo só comparável ao do mestre-de-cerimónias do Circo Merito quando anunciava a sensacional "Maribelaaaa no seu rrrrrola-rolaaaa". Eu gostava: "Mudaaaança de modeloooo"! Parava em frente para ouvir, uma e outra vez, até à hora de voltar ao trabalho. E ria-me. Quase trinta anos depois, leio e ouço a "mudança de paradigma". E também me faz rir, confesso, mas não me arrebita. Falta-lhe sustância.
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Um "quase" estudo
O Governo de Passos Coelho encomendou um estudo ao Instituto Superior Técnico (IST) para avaliar as Novas Oportunidades. E o IST concluiu, como lhe competia, que aquele programa, um dos emblemas dos executivos de José Sócrates, "quase" não criou mais emprego. As Novas Oportunidades são assim elevadas ao nível das nossas universidades, que, nos intervalos das encomendas, "quase" criam mais emprego.
E se fossem normalizar a puta que os pariu?
O
bacalhau, tal qual o conhecemos, pode estar em vias de extinção. A vida
ou morte do nosso bacalhau, do bacalhau português, do bacalhau do nosso
contentamento, está nas mãos da Comissão Europeia, que, empurrada pelo
lóbi nórdico, discute por estes dias uma proposta que visa normalizar o
processo de cura, introduzindo químicos (fosfatos) para alegadamente
evitar a oxidação do produto. Do produto...
A sanha normalizadora da Comissão Europeia chegou à seca. Que seca. Querem roubar-nos o nosso mais fiel amigo. Querem acabar
com a indústria portuguesa do bacalhau, que conta com 83 empresas e
emprega 1.800 pessoas. Querem obrigar-nos a comer bacalhau à la Noruega,
que não serve para fazer alguns dos nossos mais tradicionais e
emblemáticos pratos, a começar logo pela punheta.Ó pra mim todo admirado! 2
Escreve a Direcção Editorial do Público: "Num telefonema à editora de política do jornal, na quarta-feira, [o ministro] Miguel Relvas ameaçou fazer um blackout noticioso do Governo contra o jornal e divulgar detalhes da vida privada da jornalista Maria José Oliveira, de quem tinha recebido nesses dias um conjunto de perguntas relativas a contradições nas declarações que prestara, no dia anterior, na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias."
Parece impossível! O nosso Miguel Relvas? Quem havia de dizer? Estou varado. Nem sei se deva acreditar. O ministro Miguel Relvas entalado e a fazer ameaças? Não, acho que não. Há aqui uma confusão qualquer.
Parece impossível! O nosso Miguel Relvas? Quem havia de dizer? Estou varado. Nem sei se deva acreditar. O ministro Miguel Relvas entalado e a fazer ameaças? Não, acho que não. Há aqui uma confusão qualquer.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
À beira do naufrágio
Foto Hernâni Von Doellinger |
Uma reportagem da Revista do Expresso, a sair amanhã, diz que há cada vez mais "pobreza, vergonha e medo" na ilha de Alberto João. A Madeira está "à beira do naufrágio", mas quer afundar-se com grande classe.
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Em memória da burra do Reigrilo
Lembro-me muito bem como era. Havia a corrida de cavalos, sim senhor, coisa amadora, com montadores e montadas da terra e arredores, que mediam forças por entre um mar de gente cheia de entusiasmo, chapéus e vinho, na mais nobre rua da vila. No empedrado onde costuma terminar a etapa da Volta a Portugal em Bicicleta. Partiam em frente ao Café Império e iam dar a volta na Cafelândia, ainda não havia rotunda, com as ferraduras novas a chisparem por todos os lados e alguns animais, de travões bloqueados, a espargatarem contra vontade para um 10 de nota artística nos Jogos Olímpicos e os donos de focinho no chão. Ao Império regressavam apenas três ou quatro conjuntos completos e o pódio era discutido já depois de cortada a meta, à força de varapau, ameaças de tiros e polícia, com a multidão a tomar diferentes partidos, de cabeça e chapéus perdidos, mortinha por também molhar a sopa. Isto eram as pessoas, os cavalos não se metiam. Mesmo os cavalos que tinham terminado a prova sozinhos, apesar de um tudo-nada desorientados, mantinham o fair play, viravam as costas à confusão e iam procurar os donos mercurocromados para pedirem desculpa pelo mau jeito. Quanto ao júri, ponderava criteriosa e responsavelmente todos os argumentos em discussão, sobretudo os argumentos que metiam pistola, e depois entregava a taça às primeiras mãos que a agarrassem.
O melhor vinha a seguir. Era a corrida de burros, que não era bem uma corrida, porque os burros recusavam-se terminantemente a correr. Davam uns passos, nem sempre no sentido correcto, e se calhar às vezes não havia vencedor. Mas o povo ria-se. É preciso que se note, porém, que os burros portavam-se assim não por serem burros mas por serem ignorantes. Na verdade, naquele tempo eles ainda não sabiam do estudo da Universidade de Londres que acaba de descobrir que os burros não são animais estúpidos nem teimosos. Serão surdos ou não compreendem inglês, quando muito, mas agora já sou eu a extrapolar.
O Reigrilo tinha uma burra que se chamava a burra do Reigrilo. O Reigrilo era tão teimoso como a burra, portuguesa e analfabeta, mas bebia muito mais. Eu nunca na vida vi o Reigrilo sóbrio. A sorte dele, quando saía do tasco do Paredes em adiantado estado de fermentação, era exactamente a burra, que o levava a casa, submissa e em piloto automático, debaixo de um chorrilho de insultos e chibatadas absolutamente imerecidas. Eu tinha medo do vinho do Reigrilo e a burra parecia que também.
Creio não cometer nenhum erro histórico se afirmar que a burra do Reigrilo só fazia frente ao dono pelos "16 de Maio", na corrida que nunca era. O Reigrilo, altamente decilitrado, aparecia sempre, para incómodo da organização e gáudio da populaça. Podiam dar a partida quantas vezes quisessem: a burra do Reigrilo não saía do sítio, apesar das bordoadas impiedosas que apanhava, e se se mexia era apenas para deitar o dono de cangalhas, uma e outra vez, numa vingança anual e certamente bem amadurecida, ali mesmo onde a humilhação do homem podia ser maior.
Por falar em humilhação. Soube-se ontem que a sorte grande do desemprego já sorri a mais de um milhão de portugueses, números oficiais. Não sendo tão bom como uma corrida de jericos, é, no entanto, uma alegre notícia para todos os felizes contemplados, provavelmente a melhor do ano - no disléxico léxico de Pedro Passos Coelho. Quem sabe até se não estará aqui a oportunidade de que o povo carece para resolver enfim atirar com a albarda ao ar.
terça-feira, 15 de maio de 2012
O tempo é o melhor remédio
Foto Hernâni Von Doellinger |
"Céu geralmente muito nublado por nuvens altas. Vento fraco (inferior a 15 km/h), soprando temporariamente moderado (20 a 30 km/h) do quadrante sul no litoral a sul do Cabo Carvoeiro. Nas terras altas, vento moderado (20 a 30 km/h) do quadrante sul, tornando-se forte (35 a 45 km/h) a partir do final da tarde. Pequena subida da temperatura mínima. Subida da temperatura máxima, em especial no litoral Norte e Centro" - de acordo com a previsão do Instituto de Meteorologia para hoje. E pronto: é dinheiro que poupo na farmácia.
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Feiras Francas animam Fafe
As Feiras Francas de Fafe e a ExpoRural arrancam depois de amanhã. Detalhes e programa completo podem ser consultados aqui.
domingo, 13 de maio de 2012
sábado, 12 de maio de 2012
O beijo de narciso no sinal-da-cruz
São os árbitros, são os jogadores, são os treinadores. Não passam sem a chupadelazinha no dedo, que - perdoem-me que lhes diga - vale tanto no Céu como a entrada em campo com o pé direito. Deus está realmente à coca, mas vê pouco futebol e também é Pai do pé esquerdo.
E não é só no futebol. Nas nossas igrejas, com cada vez menos fregueses, esta entorse litúrgica vem passando de geração em geração e os fiéis de hoje até acreditam que foi sempre assim, que é assim. Mas não é: o beijo em mão própria está a mais, não faz parte do sinal-da-cruz.
Eu acho que sei como é que isto tudo começou. No tempo em que a missa era em latim e o povo, que já se via à rasca para perceber o português, aproveitava para ir rezando terços atrás de terços enquanto o padre, de costas voltadas para o mundo, se ocupava naqueles Dominus vobiscum que eram lá um assunto entre ele e o pobre do sacristão, que ajudava o melhor que sabia sem saber muito bem a quê.
Parece que ainda ouço. (As igrejas ecoam, sabiam?) O terço era sonoramente ciciado por mulheres enfiadas em bigodes e lenços pretos, bzzz, bzzz, bzzz, num cochicho ao despique remetido directamente a Nosso Senhor, embora devesse levar Nossa Senhora no endereço. O comendador Santos da Cunha, que era governador civil de Braga e ia a Fafe aos casamentos e funerais dos ricos do regime, também fazia bzzz, bzzz, bzzz, mas com voz de trombone, de terço na mão ostensiva, durante a missa inteira, e já ela era praticamente toda em português. E se o senhor comendador fazia e fazia que se soubesse é porque era a Bem da Nação - naquele tempo não havia dúvidas a esse respeito.
Ora bem. No fim da reza, e independentemente do que o padre estivesse a fazer lá à frente e do ponto em que a missa fosse, as pessoas benziam-se e beijavam respeitosamente o crucifixo do terço, que levavam aos lábios entre o dedo polegar e o indicador. Beijavam a cruz, não a mão, fiz-me explicar? Mas estão a ver a confusão que dali saiu? E por falar em Braga: narcisismos, só se meterem bacalhau, está bem?
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Ó Pedro, vai à merda outra vez, que eu já fui
O alegado primeiro-ministro disse, à entrada para um almoço, que mantém as suas afirmações sobre a sorte grande que é o desemprego em Portugal e que "o País está um bocadinho cansado das crises artificiais e desta tentativa de distorcer e de aproveitar qualquer coisa para querer fazer uma tensão enorme". E a seguir espalhou-se ao comprido a distorcer tudo o que tinha afirmado na véspera. A distorcer, ele. A descontextualizar, ele. A falar em nome de um país que não conhece de lado nenhum, ele. A criar uma crise artificial, ele, que não faz a mínima ideia do que anda a fazer e se calhar até agradece que o ponham no olho da rua, a ele, que nos desgoverna mas já está governado.
Eu bem não quero dar parte de fraco, mas estas canalhices ofendem-me. Primeiro, Passos Coelho chamou-nos piegas, ontem chamou-nos calões e desempregados mal agradecidos, hoje quer chamar-nos burros. O que é que lhe fizeram em pequenino? O que é que esta gajo tem contra as pessoas? O que é que o representante da troika em Portugal tem contra os Portugueses?
Eu bem não quero dar parte de fraco, mas estas canalhices ofendem-me. Primeiro, Passos Coelho chamou-nos piegas, ontem chamou-nos calões e desempregados mal agradecidos, hoje quer chamar-nos burros. O que é que lhe fizeram em pequenino? O que é que esta gajo tem contra as pessoas? O que é que o representante da troika em Portugal tem contra os Portugueses?
sexta-feira, 11 de maio de 2012
Em defesa do alargamento
- Exactamente, pá! Esta crise que nos sufoca, a ditadura da troika, o desemprego galopante, a falta de perspectivas de futuro...
- Nada disso...
- Eu percebo-te, pá! Crise de valores, queres tu dizer. Tens toda a razão, já não há valores, o que aí temos agora é uma juventude sem educação e sem respeito pelos mais velhos. No nosso tempo é que...
- Ó valha-me Deus...
- Sei aonde queres chegar, pá! Lá acima, estou a ver. É claro, já não há gente séria como antigamente. Saiu-nos na rifa esta cáfila de banqueiros arrivistas e políticos onzeneiros e trafulhas. É isso, não é?
- Não, pá! É o defeso, pá! O defeso! É este tempo todo sem futebolzinho! O defeso é uma seca...
(Publiquei este texto no dia 14 de Junho de 2011, ainda ninguém falava em alargamentos)
Ó Pedro, vai à merda!
O alegado primeiro-ministro de Portugal disse hoje, entre outras bardinices da pior espécie, que "estar desempregado não pode ser um sinal negativo". Pois não, pá, é até um sinal bastantíssimo positivíssimo. Os filhos-da-puta dos desempregados é que não sabem a sorte que têm.
Sexta-feira da compaixão
Passa das sete e meia da manhã e a Queima das Fitas ainda está a desfazer a tenda. Na Praia de Matosinhos e na Praia Internacional do Porto, dorme-se, mergulha-se, fuma-se, bebe-se, vomita-se e fornica-se. As esplanadas do Edifício Transparente, pejadas de garrafas em cacos e cadeiras partidas, parecem um campo de batalha sem sobreviventes. Na rotunda da Anémona, uma pequena multidão de ressacados espera de orelha caída pelo autocarro. Têm tratamento de claque de futebol: estão enjaulados e vigiados à distância de um dedo pela polícia de choque.
Três miúdas cambaleiam pela Avenida de Montevideu, aparentemente em direcção à Foz. Nos intervalos entre cabeçadas contra painéis publicitários e tropeções nos mecos de delimitação do passeio, pedem boleia aos carros que passam. São mesmo miúdas, caloiras da vida, naquela idade e naqueles corpinhos que o sacana do arguido aproveita sempre para se defender, dizendo: "Senhor Doutor Juiz, ponha-se no meu lugar".
Uma delas salta para a estrada, faz sinais ostensivos, quase desesperados, para que os carros parem e as levem dali. Só as buzinas lhe dão troco. E os trolhas das carrinhas cheias de pressa e juízo mandam-lhe a boca da ordem, "Ó filha, és toda boa", mas boleia é que nada. "Foda-se! Ninguém tem compaixão", lamenta-se a miúda, mais para si mesma do que para as outras, num desgosto que só visto.
Ela é nova e não sabe. Às vezes há quem tenha "compaixão", "compaixão" até demais. E é aí que o tribunal entra na história...
Três miúdas cambaleiam pela Avenida de Montevideu, aparentemente em direcção à Foz. Nos intervalos entre cabeçadas contra painéis publicitários e tropeções nos mecos de delimitação do passeio, pedem boleia aos carros que passam. São mesmo miúdas, caloiras da vida, naquela idade e naqueles corpinhos que o sacana do arguido aproveita sempre para se defender, dizendo: "Senhor Doutor Juiz, ponha-se no meu lugar".
Uma delas salta para a estrada, faz sinais ostensivos, quase desesperados, para que os carros parem e as levem dali. Só as buzinas lhe dão troco. E os trolhas das carrinhas cheias de pressa e juízo mandam-lhe a boca da ordem, "Ó filha, és toda boa", mas boleia é que nada. "Foda-se! Ninguém tem compaixão", lamenta-se a miúda, mais para si mesma do que para as outras, num desgosto que só visto.
Ela é nova e não sabe. Às vezes há quem tenha "compaixão", "compaixão" até demais. E é aí que o tribunal entra na história...
Isaltino, o meu herói
Uma Queima com muita protecção
Foto Hernâni Von Doellinger |
Beira-mar Matosinhos/Porto, entre a Anémona e o Edifício Transparente. Há momentos. Não são caixas de chiclas, são de preservativos, e ainda bem.
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quinta-feira, 10 de maio de 2012
A crise salva vidas na estrada. O perigo é à mesa.
Jorge Mendes: comer e colar
Desafectos ao Estado Novo
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Já pensou no próximo fim-de-semana?
Deixo-lhe uma dica final, e esta é como quem me arranca os dentes: procure o Restaurante Conselheiro, mesmo em frente à Câmara, ouça com atenção o Sr. Vilaça, dono da casa, aproveite e aprenda, coma e delicie-se, beba mas não abuse. Boa viagem e bom proveito!
Ó pra mim todo admirado!
Está escrito no jornal Público. "Algum tempo depois das eleições
legislativas de 2011, Jorge Silva Carvalho, então quadro da Ongoing,
enviou, por correio electrónico, ao ministro dos Assuntos Parlamentares,
Miguel Relvas, um relatório detalhado com um plano para reformar os
serviços de informação, propondo para directores do SIS (Serviço de
Informações de Segurança) e do SIED (Serviço de Informações Estratégicas
de Defesa) funcionários da sua confiança e apontando ainda os nomes
daqueles que não deveriam assumir cargos dirigentes."
Parece impossível! O Silva Carvalho e o Relvas? Estou varado! Quem havia de dizer? Nem sei se deva acreditar. Cambalacho nas secretas? O Relvas e o Silva Carvalho? Não, acho que não. Há aqui um engano qualquer.
Parece impossível! O Silva Carvalho e o Relvas? Estou varado! Quem havia de dizer? Nem sei se deva acreditar. Cambalacho nas secretas? O Relvas e o Silva Carvalho? Não, acho que não. Há aqui um engano qualquer.
Quando os Tonys eram de Matos
Foto RICARDO CASTELO |
Os lisboetas vão regressar amanhã às suas raízes mais profundas. Às berças. Aos campos do Minho, de Trás-os-Montes, das Beiras, do Alentejo ou dos Algarves de onde partiram há duas ou três gerações, de cajado ao ombro e saca com a merenda. Quer-se dizer: embora o ignorem, os lisboetas são tão parolos como os outros parolos todos. Lisboa já não diferencia. Faz cada vez mais parte do resto que é paisagem neste país que não existe.
Vai ser servido aos lisboetas, amanhã, um megapiquenique a que o analfabetismo chama "Mega Pic Nic". Um arraial dos antigos que promete recriar, em plena Avenida da Liberdade, o "espírito do campo", o "ambiente de uma grande quinta", com o objectivo - acrescentam os organizadores - de "chamar a atenção dos portugueses para a importância do apoio à produção nacional".
Os lisboetas, que são parolos mas não se lembram, vão poder (re)aprender, por exemplo, que o leite não nasce em pacotes, que as galinhas estão vivas antes de estarem mortas (a senhora dona Lili Caneças poderá explicar o fenómeno), que os ovos só podem ser produzidos com aquele feitio ou que o bife não é um animal, pelo menos um animal completo.
O anúncio televisivo do evento promete tudo isto e muito mais. Garante uma espécie de circo rural onde não vão faltar as vacas e os cavalos, os patos e os gansos, as ovelhas e os porcos, os frangos do Roberto e até
macacos de imitação. Exactamente. Está o trânsito todo escangalhado no Porto e em Matosinhos, este fim-de-semana, por causa das corridas de carrinhos do menino Rui Rio, e logo Lisboa resolve também semear o caos no seu centro mais central. (A parolice é mesmo assim, contagia, multiplica-se. Lisboa sofre de um acelerado processo de parolização.)
Nada, no entanto, que desmobilize os lisboetas, tenho a certeza. Lá estarão amanhã, milhares e milhares deles, entusiasmados até mais não com a novidade, fresquinha e ao vivo, das cores, dos sabores e dos aromas do campo. Mas sobretudo o que eles vão é ao cheiro do concerto do Tony Carreira. À borla. Tony Carreira apresentado aos lisboetas como "o melhor da música portuguesa"...
Ora bem. Honra lhe seja, Tony Carreira é um profissionalão, provavelmente o melhor do seu ofício, mas não é "o melhor da música portuguesa". Entendamo-nos: por mais multidões que congregue, por mais corações que despedace, Tony Carreira é apenas um cantor romântico com imeeeeeenso sucesso. Mas a música portuguesa é... outra coisa.
Apesar de tudo, que diferente era Lisboa no tempo em que os Tonys eram de Matos.
(Escrevi este texto no dia 17 de Junho de 2011. Republico-o hoje, com a mais-valia do trabalho do fotojornalista Ricardo Castelo.)
Fui às primas e gostei
Foto PAULO SILVA |
Há que tempos que eu não estava com elas! Almas caridosas levaram-me a casa das primas, ricas primas, e as raparigas continuam boas como o trigo. Estou farto de dizer: a família devia dar-se mais.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Já me tinhas dito 6
Eram um casal e o filho, a rondar os onze anos, e saíam do restaurante depois de jantar.
- Queres ir? - pergunta a mãe, urbana e meiga?
- Aonde? - diz o miúdo.
- Não se diz aonde. É onde. Estou farta de te dizer - corrige a mamã, instantaneamente ríspida, e a conversa acaba logo ali, por baixo da minha varanda.
É. A ignorância envernizada cuida que o aonde é um regionalismo, um parolismo. E os doutores da mula ruça, como não sabem por onde lhe devem pegar, pegaram nele e enfiaram-no no baú dos falsos arcaísmos. Mas o menino falou bem. E a mãe corrigiu mal. Depois entraram no Mercedes.
- Queres ir? - pergunta a mãe, urbana e meiga?
- Aonde? - diz o miúdo.
- Não se diz aonde. É onde. Estou farta de te dizer - corrige a mamã, instantaneamente ríspida, e a conversa acaba logo ali, por baixo da minha varanda.
É. A ignorância envernizada cuida que o aonde é um regionalismo, um parolismo. E os doutores da mula ruça, como não sabem por onde lhe devem pegar, pegaram nele e enfiaram-no no baú dos falsos arcaísmos. Mas o menino falou bem. E a mãe corrigiu mal. Depois entraram no Mercedes.
domingo, 6 de maio de 2012
É de um homem desconfiar
Vagamente relacionado: vi no jornal Público um título bem esgalhado e todo prafrentex. Dizia: "Ser mãe não é obrigatório". Pois não. A não ser que se tenha filhos.
Vê-se logo que não têm família
Com certos alegados, todo o cuidado é pouco
A notícia conta que a "GNR de Loulé deteve ontem em flagrante um suspeito de tráfico de droga numa povoação rural daquele concelho algarvio, apreendendo 2700 doses individuais de heroína". O jornal informa ainda que "a detenção ocorreu cerca das 15h, no sítio de Ribeira do Algibre, quando o suspeito, com 33 anos, estaria a vender produto estupefaciente a duas pessoas, que foram identificadas". E acrescenta que, segundo a polícia, o "suspeito", para além da droga, "tinha na sua posse 1200 euros em dinheiro e vários telemóveis" e já fora "detido há alguns anos no mesmo local". O título é: "GNR detém alegado traficante com 2700 doses de heroína em Loulé". Exactamente, alegado, porque pode ser que seja engano. Isto não é política.
sábado, 5 de maio de 2012
Este tipo faz-me rir
Uma vez Carlos Barbosa foi vice-presidente do Sporting e disse: "Daqui a um ano, um ano e tal, o FC Porto já não fará parte do nosso campeonato. O campeonato do Sporting daqui a um ano ou dois será o Barcelona, o Ajax, o Real Madrid. Isso para nós é que vai ser importante. Não vou competir com o Pinto da Costa, vou competir com a equipa do FC Porto no terreno. O que Pinto da Costa diz não me interessa rigorosamente nada". Menos de um ano depois, o Sporting mandou-o embora.
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Mataram os vizinhos. Agora somos condóminos.
E é irónico. Há 25 anos que eu sou um condómino exemplar, um condómino da melhor pior espécie, mas hoje deram-me as saudades de ser vizinho. Sei que já vou tarde. Estamos todos condenados a sermos condóminos para o resto das nossas vidas. Se ainda ao menos fôssemos conDominus nobiscum...
Vamos lá então arrasar pontes. Todas!
Foto Hernâni Von Doellinger |
Miguel Cadilhe, ex-ministro das Finanças e ex-muitos tachos mais, também acha que é preciso reduzir "drasticamente" o número de pontes. Quando assim fala, Cadilhe refere-se àquele diazinho que era tradição dar de bodo aos pobres entre um feriado e um fim-de-semana ou entre um fim-de-semana e um feriado - não às pontes entre empregos públicos e milionários distribuídos a dedo pelo grupinho do costume para o grupinho do costume, em que ele próprio está esplendorosa e saltitantemente metido. Já alguém fez bem as contas? Quais são as pontes que custam mais ao País: as dos trabalhadores cá do rés-do-chão, aos quais já roubaram tudo, até a esperança, ou as das falsas sumidades que nos meterem no monte de merda onde estamos e gozam as suas reformas precoces e pornográficas sentadas em cima das nossas cabeças?
Matosinhos perdeu a bandeira, e depois?
Foto Hernâni Von Doellinger |
A Praia de Matosinhos perdeu a Bandeira Azul. A Praia de Angeiras Sul também, mas a mim interessa-me mais a de Matosinhos propriamente dita, por ser no meu quintal. Aviso já que não sou praieiro, não compreendo os praieiros e nunca liguei à treta da Bandeira Azul. Os praieiros também não ligam. O que eles querem é água com coliformes, a pele a derreter, areia nos olhos e boladas nos tomates. E são felizes assim. Eles gostam de sofrer.
A Bandeira Azul não é importante, não faz diferença nenhuma às pessoas, podem crer. Nesse aspecto, a autarquia tem razão. Matosinhos perdeu a bandeira, e depois? Ainda por cima era azul (e branca). Até eu, que sou portista, achava que aquele farrapo esvoaçante era uma espécie de provocação e até insulto aos matosinhenses em geral. Vamos mas é pôr lá a bandeira do Leixões.
Ando a juntar dinheiro para comprar sardinhas
Tenho a mania: sardinhas, frescas é que são. Assadas. Na brasa. E, como já aqui disse, a sabedoria popular ensina, e ensina bem, que Maio, Junho, Julho e Agosto (os quatro que não têm "r") são os melhores meses para as comer. Depois há quem saiba congelar e descongelar o sardinhame como se não fosse nada, tendo ainda a suprema arte de o assar como se fosse novo. Dá para matar saudades durante o resto do ano, conheço muito bem onde, mas isso... é outro assunto.
Deposito grandes esperanças nas sardinhas de 2012. Porque o povo também diz "sardinha linda, sardinha maganão, ano sim, ano não". Ainda não as examinei. É cedo e os homens não têm ido ao mar, com esta invernia fora de tempo. Quer-se dizer: têm saído, mas já pelo alvor, o que não dá para pescarias por aí além. Os santos populares é que estão à porta, são no mês que vem, e eu quero ver se consigo comprar uma meiaduzinha delas, ao menos para conferir se "no São João a sardinha já pinga no pão". Até ando a juntar dinheiro.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Estudantes, espermatozóides e neurónios
Voltando ao essencial da coisa e aos números que não mentem, a realidade é esta: durante festas como, por exemplo, a Queima das Fitas do Porto (que é já na próxima semana, aqui à porta, muito obrigado) regista-se, em média, uma diminuição de 20 por cento na concentração de espermatozóides. No caso dos neurónios, a redução é de cem por cento.
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