sábado, 31 de dezembro de 2022

Chama o Gregório!

O dia 1 de Janeiro foi inventado no dia 24 de Fevereiro de 1582 pelo papa Gregório XIII. Daí é que vem a mais famosa expressão da noite de passagem de ano - Com licença, vou só ali chamar o Gregório...

Génios

Parecendo que não, há uma diferença assinalável entre o génio da lâmpada e o génio da garrafa. Eu, por exemplo, embora também aprecie a competência e o rasgo de um bom electricista, dou muito mais valor à sabedoria decilitrada de um bêbado manso.

P.S. - O inventor norte-americano Thomas Edison fez a primeira apresentação pública da sua lâmpada incandescente no dia 31 de Dezembro de 1879, acendendo as luzes numa rua em Menlo Park, Nova Jérsia.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Pinto da Costa está velho. Foi de repente.

Ainda anteontem Pinto da Costa tinha apenas 84 anos, estava na plenitude das suas faculdades físicas e mentais, dispunha de idoneidade para dar e vender e era o presidente insubstituível do FC Porto. Hoje Pinto da Costa é um velho de 85 anos, gagá, um bocado trafulha e já devia estar em casa a chá e bolachas e com as perninhas agasalhadas sob um cobertorzinho azul e branco. Foi o que descobriram durante o dia de ontem quatro ou cinco pascácios donzelos - outros irão aparecer - que de repente, por singelo altruísmo e acrisolado amor clubista, lhe querem abafar o lugar. E as peitas.

Os famosos do dia

No dia 29 de Dezembro de 1891 o empresário americano Thomas Edison patenteou o rádio. No dia 29 de Dezembro de 1987 o tractorista português Anacleto Felgueiras fracturou o cúbito.

Tenho pressa, vou a pé

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Os Foda e o Kagawa

Por falar em futebol e aniversariantes, registo, sem ofensa, o nome do jogador alemão Sandro Foda, que nasceu no dia 28 de Dezembro de 1989 e que portanto faz hoje 33 anos, muitos parabéns. Que se segue. Sandro Foda, irmão de Marco Foda, jogou até à época passada no Sturm Graz, da Áustria, onde foi treinado pelo seu próprio pai, Franco Foda. Os Foda, Deus me perdoe, fazem-me lembrar, por exemplo, o internacional japonês Kagawa - Shinji Kagawa -, que por acaso joga agora nos belgas do STVV, ou Sint-Truiden, e não faz anos hoje, mas também realmente.

As gaivotas e assim

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Caixa do Evaristo

Quando abriram a caixa de Pandora, saiu de lá de dentro o Evaristo. Pandora ia morrendo de vergonha...

Boxers, trusses e espermatozóides

Assunto da época: natalidade. Um estudo de cientistas americanos publicado aqui há uns anos na revista Human Reproduction considerava que os homens que normalmente vestem boxers têm mais espermatozóides. A ideia já tem barbas, mas a palpitosa notícia foi-me então dada pelo nosso jornal Público, sempre atento a estas extraordinarices. Não me vou dar ao trabalho de procurar, mas tenho a certeza de que o estudo científico em questão contradiz um outro estudo científico, americano evidentemente, que prova que os boxers prejudicam os espermatozóides. Como se sabe, os estudos científicos, sobretudo na América, tanto podem ser patrocinados por fabricantes de boxers como por fabricantes de slips - é a lei da livre concorrência, pelo menos no reino das cuecas.
Fixemo-nos, porém, no âmago da notícia, nos boxers. Será abusivo concluir que, se um homem com boxers tem mais espermatozóides, um homem sem cuecas de qualquer espécie tem muitos mais? E as famigeradas trusses? E a tanga, como é? E o fio dental, prejudica? E um nudista a tempo inteiro, o que é que ele há-de fazer ao mais que certo excedente de espermatozóides, que às tantas até lhe saem pelas orelhas? E mulher que use boxers, como é que fica de espermatozóides?
Por outro lado, homens que vestem boxers chamam-se, por norma, "segundos". É do boxe.

P.S. - Hoje é Boxing Day. E portanto.

Que tristeza o fim do Natal...

O fim do Natal é muito triste. Terminasse o Natal em m, Natam, terminasse o Natal em x, Natax, terminasse o Natal em y, Natay, terminasse o Natal em z, Nataz, e, quer-se dizer, o fim do Natal até teria alguma piada. Agora, terminar em l, Natal, um esquelético tracinho ao alto, um pauzinho desamparado armado em guarda-redes, é realmente uma tristeza muito grande, um fim que ninguém merece.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

E se o Natal for um embuste?

Portugal, 2022. Dezembro, vésperas de Natal. Quase dois milhões de pessoas subvivendo abaixo do limiar da pobreza. E passam a 4,4 milhões se lhes retirarmos os apoios sociais. Mais de dois milhões e meio de portugueses em risco de pobreza ou exclusão social. Quase vinte por cento da população empregada é pobre. Um quarto dos trabalhadores a salário mínimo, sobretudo mulheres, jovens e precários. Quase dois milhões de pensionistas da Segurança Social com pensões, de velhice ou invalidez, abaixo do salário mínimo. Mais de um milhão de desempregados, entre registados, desarriscados, clandestinos, envergonhados e vitalícios. Mais de quarenta mil famílias que vivem em casas sem condições. Quase dez mil sem-abrigo recenseados, fora os milhares de sem-abrigo obliterados pelas estatísticas e por nós todos. Um vergonhoso número calado de trabalhadores imigrantes tratados como escravos, torturados, humilhados, brutalizados, ignorados farisaicamente pelo país em peso, quando não lançados sem dó nem piedade para o redondel dos novos cães racistas. Fome, frio, doença, abandono, solidão, miséria física e moral, despessoamento, indignidade. Dezembro, vésperas de Natal. Portugal, quase 2023.

Weather report

- Isto é que tem estado!...
- Realmente...
- E então hoje!...
- Lá isso...
- O que é que eles dão para amanhã?
- Eu...
- Pois. Então até logo, vizinho.
- Vá pela sombra, vizinha.
É, o elevador aproxima muito as pessoas. O elevador e o boletim meteorológico.

P.S. - Hoje é Dia do Vizinho. No Brasil.

A menina das gaivotas

Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Aproveite o Natal: vá para a cama!

Aproveite estes dias abençoados, ou a quadra, como muito bem dizem os mais fervorosos natalistas. Fique em casa, leia, escreva, pense, e todas as tardes durma um sono, ou dois, consoante a disposição e a companhia, e dormir é aqui uma forma de dizer. E ouça a chuva a bater à janela. Mas não abra se bater leve, levemente, que a chuva não bate assim: é de certeza o Neves, e o Neves é um chato do caralho.

O Natal é um equívoco

O Natal é um paradoxo: alegra e deprime. E é também um equívoco: marcado nas agendas e calendários para o dia 25, toda a gente sabe que é na noite de 24.

Voavam, voavam

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Entre a bisca lambida e o bilhar às três tabelas

Era um atleta de mão cheia. Dele se dizia, e com razão, que dava cartas no jogo de bilhar. Passou ao lado de uma grande carreira, exactamente porque nunca lhe explicaram que bisca lambida é uma coisa e as três tabelas são outra. As duas juntas, com efeito, não perfazem modalidade desportiva.

P.S. - Hoje é Dia do Atleta. No Brasil. E é também o primeiro dia do Verão. No Brasil.

Fazendo a fineza

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 17 de dezembro de 2022

Para consumo na casa

"Os produtos expostos são para consumo no estabelecimento", dizia a tabuleta. E dizia bem. Estávamos, com efeito, num bar de alterne com quartos e água quente no andar de cima.

Ataque à bomba

Disse que ia atacar à bomba, e foi. Anos e anos a fio. Dental. Hoje a bomba é a estação de metro da Trindade e ele era travesti.

Amai-vos uns aos outros (mas devagarinho!)

Ele padecia de um tipo particularmente violento de paronímia. Amiúde confundia bondade com bondage - o que, convenhamos, é deveras inconveniente.

P.S. - Hoje é Dia Internacional Contra a Violência Sobre Trabalhadores do Sexo.

Karate kid 4

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Macaco

Macaco, o termo assim dito, abrange todos os primatas, sem cauda, com cauda curta ou longa, pertencentes às famílias dos cebídeos, hapalídeos, cercopitecídeos, hapalídeos, cercopitecídeos e antropomorfos. São animais que habitam geralmente as regiões quentes do Globo. Nas regiões frias, o macaco é um aparelho mecânico para levantar coisas muito pesadas, como por exemplo automóveis. É também um gajo astuto ou feio. No seu estado superior de desenvolvimento, o macaco pode ser mandante de bando de arruaceiros, isto é, Macaco Líder.

Hidráulico e exótico

Andava com um macaco no carro. Hidráulico, para mudança de pneus. Mas foi apanhado pela GNR numa operação stop. A autoridade procedeu à competente identificação, tendo sido elaborado o respectivo auto de contraordenação por violação do Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção.

O grande prestidigitador

Era um mágico extraordinário: em vez de coelhos da cartola, tirava macacos do nariz.

Macaquinhos no sótão

Ele tinha macaquinhos no sótão. Denunciado pela vizinha bisbilhoteira, ele foi detido e preso. Os animais, após vistoria veterinária, seguiram para o jardim zoológico.

Pentear macacos

Mandaram-no pentear macacos e ele foi. Começou por baixo, evidentemente, mas já é cabeleireiro-chefe em Gibraltar.

Cada macaco no seu galho

"Em que ramo é que trabalhas?", perguntaram-lhe. E o macaco respondeu: "No de baixo, derivado às vertigens..."

P.S. - Hoje é Dia do Macaco.

O despertar da sereia

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 11 de dezembro de 2022

A montanha pariu um rato

A montanha pariu um rato. Que miséria, realmente. Se ainda ao menos parisse um elefante! Ou dois - que incomodam muito mais... 

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Montanha.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

O problema dos meios-irmãos

O problema dos meios-irmãos é que, por exemplo, pegamos em dois e não conseguimos fazer um irmão inteiro. O que é realmente aborrecido.

A família

Tinha realmente uma família numerosa: sete filhos, vinte e três netos, quarenta e sete bisnetos, dezassete trinetos, duas tetranetas e uma trotineta.

Um homem de famílias

O casamento, para ele, era tudo. Aliás, tinha dois. Ao mesmo tempo.

Móvel do crime

Não é tão raro assim. Às vezes o móbil do crime é mesmo o móvel de sala. Acontece geralmente em família, sobretudo em casos de herança ou partilhas.

P.S. - Hoje é Dia da Justiça. No Brasil.

Crime imperfeito

Tirando as minhas caminhadas matinais à beira-mar, passo o dia inteiro enfiado em casa. Sozinho. Quer-se dizer: vivo sem testemunhas. E isso começa a assustar-me. Tenho medo de ser apanhado. Porque - bem vejo o que acontece nos policiais da televisão - sozinho em casa não serve como álibi.

Dá-me o teu melhor sorriso!

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

O Febras, de Timor ao Campo das Cebolas

A menina dos altifalantes avisa-me, numa voz metálica e sincopada, de andróide: "Próxima paragem, Timor." Sobressalto-me, de repente o coração enche-se-me de egrégios avós, de coragem que nunca tive, às armas às armas, digo, maubere people, canto, emociono-me de mim, Ai Timor!, os olhos afogados em lágrimas, olho pela vigia, o mar calmo e eu agoniado, faço as últimas orações, seja o que Deus quiser, dou o peito às balas... e dou também fé que estou no 500, o autocarro da STCP que faz a ligação entre o Mercado de Matosinhos e a portuense Praça da Liberdade, viceversando. Para quem vai, Timor, a paragem da Rua de Timor, fica entre as paragens do Castelo do Queijo e do Homem do Leme, Avenida Montevideu, Foz, e antes assim.

É claro que me lembrei também do Febras, do Armando Febras de Fafe, que guiava um velho camião geralmente cheio de areia e era a única pessoa que eu conhecia que "fez a guerra" em Timor, se não me engano. O Febras era um tipo porreiro, bom amigo, e tinha uma grande pancada naquele tempo. Uma vez falhou a gasolina em Fafe e no resto do País, segundo as notícias, e os carros faziam longas filas que davam duas ou três voltas ao Largo para abastecer. Os condutores desligavam os carros, saíam e empurravam a respectiva viatura consoante a fila ia avançando a conta-gotas. O Febras tinha o camião apontado àquelas bombas muito bem estabelecidas ali entre o Monumento e o Martins da Avenida e não largava o volante, até porque lhe faltava disposição para descer e levar o veículo pelas orelhas. Aquilo era preciso madrugar para garantir um bom lugar na fila, havia até quem fosse para lá de véspera, portanto é bom de ver que pelo meio da manhã já estava tudo com os nervos em frangalhos. E o que é que acontece? Assim que tal, a fila anda um bocadinho, metro, metro e meio, mas o carro imediatamente à frente do Febras nem se mexe. O Febras buzina. E o carro, nada. O Febras torna a buzinar. E o condutor do carro faz aquele sinal internacional descrito no código da estrada como "passa por cima". E o Febras arranca. Evidentemente não passa por cima do carro, isso só ocorre nos filmes americanos, mas leva-o à frente, um metro, metro e meio. O Febras sai então do camião, disposto à pancadaria, a polícia, que rondava por ali, faz de conta que intervém para evitar males maiores, mas nem toma conta da ocorrência, e fica tudo em águas de bacalhau, porque, lá está, era o Febras, e o que é que se havia de fazer?...

Curiosamente, anos mais tarde, o Armando Febras viria a ser agente da autoridade local e parece que ainda emigrou para a América, onde não sei se realmente chegou a passar por cima de automóveis. Mas antes disso, em Abril de 1977, ele fez parte de um extravagante grupo de fafenses que foi a Lisboa de camioneta para apoiar a AD Fafe no famoso jogo com a CUF para a Taça de Portugal. Desse bando, que viveu uma noite maluca pelas ruas do Bairro Alto, com a polícia atrás e tudo, constavam também, entre outros, o meu irmão Pimenta, que certamente organizara a excursão, o Machadinho e o Manel Caixeiro maila sua inseparável pistola. Eu não podia faltar, mas era o mais novo e inocente de todos, posso talvez dizê-lo. Esta parte da história fica, porém, para outra vez.
Quero contar é do amigo do Febras que veio ter connosco ao Campo das Cebolas, que era o sítio onde as camionetas das excursões pernoitavam. Um velho camarada de armas do Armando e a segunda pessoa que eu conheci que "fez a guerra" em Timor, se não estou em erro. Falava com cerrado sotaque lisboeta, alfacinha, malandro, gingão, "gajas" acima, "gajas" abaixo, tinha ouro ao pescoço, anéis, camisa havaiana, botas de cobói, navalha de ponta e mola e um suspeitíssimo Ford Capri que fazia piões de porta aberta.
Isso. Piões de porta aberta. Tantos, tão apertados e a tal velocidade, que no decurso de um deles o indivíduo saiu disparado do automóvel, caiu violentamente no chão, bateu com a cabeça, levantou-se de imediato como uma mola, num improvável pulo de kung fu, soltou um grito de guerra, sacudiu o pó da roupa, entrou no carro, que continuava a andar em círculo, fechou a porta e arrancou a todo o gás em direcção ao sol poente. E eu passei a compreender muito melhor o Armando Febras. 

P.S. - Hoje é Dia de Timor-Leste. Também chamado Dia dos Heróis Nacionais.

Kafka no metro

Entro no metro. Viagem curta, de Matosinhos Sul até à Senhora da Hora, apenas quinze minutos e mudança de linha para Vila do Conde. Sento-me num daqueles bancos frente com frente, éramos quatro, dois de cada lado e, se fosse futebol, a bola seria redonda. Ninguém conhecia ninguém. Os dois rapazes e a rapariga, os três mais para os trinta do que para os vinte, cabeças para baixo e graves, rapam dos bolsos os respectivos telemóveis como se se conhecessem de outras encarnações e estivessem combinados, e jogam, ela, e mensajam, eles, automaticamente, ignorantes uns dos outros, numa simbiose perfeita. Eu vou à mochila e tiro o livro. "Kafka à Beira-Mar", de Haruki Murakami. Pensei: é o que diz a minha mãe - sempre a destoar, eu.

Palavras para que vos quero

"Atenção: devido a um erro de sinalização, o metro foi obrigado a fazer uma paragem brusca. Se alguém se magoou, é favor entrar em contacto com o agente de condução". O "agente de condução" da Metro do Porto que assim falava pelos altifalantes internos para os passageiros da viagem Matosinhos Sul-Estádio do Dragão era uma mulher, e não cuide o Sr. Pedro Arroja que eu estou no gozo. Não estou.
Em trinta palavras exactas, a senhora condutora disse tudo o que era necessário ser dito naquele momento, com objectividade, sem eufemismos nem semânticas, num português escorreito, directo, universalmente compreensível, eficaz. Responsável. A assunção do "erro de sinalização" e da "paragem brusca", a preocupação imediata com os passageiros. Mas ninguém se magoou.
Pensei: que exemplo extraordinário para os nossos comunicadores de merda - governantes, ex-governantes, candidatos a governantes, candidatos a candidatos a governantes, políticos de uma forma geral, altos irresponsáveis, baixos responsáveis, autoridades civis, militares e religiosas, minhas senhoras e meus senhores, telecomentadores, radiofloricultores, trolhas conversadores, politólogos, peritos encartados, periquitos amestrados, vendedores de retroescavadoras com luzinhas e centros de exposições transfronteiriços, taxistas, barbeiros, enchedores de chouriços, especialistas em sarrabulho e fumeiro, jornalistas tremendistas e endrominadores para todo o serviço, que falam sobejamente, eu até reconheço a maioria das palavras, mas não sei o que eles dizem...

P.S. - O Metro do Porto foi inaugurado no dia 7 de Dezembro de 2002.

À velocidade da luz

A velocidade da luz desloca-se praticamente à velocidade da luz. O que é extraordinário!

P.S. - A velocidade da luz foi determinada pelo astrónomo dinamarquês Ole Rømer no dia 7 de Dezembro de 1676. O que também é extraordinário.

Assassinado por formigas

Quando saiu a notícia de que Cícero foi assassinado em Fórmias, edição de 7 Dezembro de 43 antes de Cristo da Trombeta de Arpino, houve logo quem compreendesse que o ilustre político, escritor, orador e filósofo romano fora devorado por formigas. Hoje em dia na nossa comunicação social o lamentável equívoco persiste. Porque os jornais digitais e até os analógicos não têm tempo para.

Karate kid 3

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Do normal ou do bô?

Tínhamos a bó e tínhamos o bô. Eu e os meus irmãos tivemos bó e bô vezes dois, sorte a nossa! Bozinha era a bisavó, e tínhamos, em Basto, uma, muito velhinha, que uma vez deu-me uma batata assada no borralho. Bô queria também dizer bom: binho bô; bô moço; estás bô? Depois, se calhar por soar a parolo, bô mudou para bu. Bu também mete medo, é susto. Buuu! Mas quem caralho teve a ideia?...

Para mim, e defendo-o de graça há muitos anos, o Minho começa em Fafe e acaba em Santiago de Compostela. E a Galiza também. Isto é: Galiza e Minho são-me o mesmo, chamem-lhe o que quiserem, mas Minho decerto fica-lhe melhor derivado ao rio que nos une. Somos a cara chapada uns dos outros, os minhotos e os galegos destes limites, labregos envernizados, crescemos das mesmas raízes, aprendemos de uma literatura comum, padecemos ainda hoje do mesmo ancestral atraso de vida, desfrutamos do mesmo amor à comida e à bebida, à água benta e à festa, partilhamos a maneira de falar, cheia de "ches", de "inhas" e de "inhos", de "xes" em vez de "ses", de "bes" em vez de "ves", não raro falamos até a mesma língua, consoante os sítios e a idade, debitamos caralhos atrás de caralhos como não há memória de tanto caralhar noutras latitudes deste mundo e de outros.
Em Fafe e nas terras de Basto chegadas a Fafe falava-se esse conversar comum quando eu era pequeno, aprendi-o naturalmente com os meus avós maternos, em Passos, Cabeceiras, com a minha mãe e com os meus tios. A querida tia Margarida ainda hoje o usa a cotio, com uma graça que me encanta e comove, e eu dou-lhe serventia da língua para fora sempre que posso, e agora posso quase sempre.

Imaginem então a minha alegria com o que se passou um destes dias, numa das nossas habituais saltadas ao lado do Minho a que outros chamam Galiza. Foi assim. Como de costume, aproveitámos para atestar o depósito do carro. "Gasóleo", digo eu ao senhor gasolineiro. E o senhor gasolineiro, nunca tal nos tinha acontecido, pergunta-me sem mais nem menos, como se anunciasse pipa nova: - Normal ou do bô?...
Caralho! "Do bô", o senhor gasolineiro perguntou-me se o gasóleo era "do bô", palavra de honra, "do bô", perguntou, como fosse a minha avó, o meu avô, a minha mãe ou a tia Margarida a perguntar-me. E eu fiquei tão contente, tão criança, de repente tão outra vez abraçado ao avental da minha mãe a cheirar tão bem a sabão e felicidade, a casa, a nós, fiquei tão...
Por outro lado, era normal e fedia. Mas o senhor gasolineiro perguntou se era "do bô", foi o que ele disse, e disse tão bem, e eu gostei tanto. "Do bô", caralho!...

Papando uns e outros

Chegava o Natal e ele, entre bombons e bumbuns, levava tudo a eito e sem destrinça. Padecia de uma espécie muito avançada de paronímia, segundo atestado médico, e a mulher desculpava-o, que remédio...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

A Câmara de Narciso faz 35 anos

Foto Hernâni Von Doellinger

O edifício dos Paços do Concelho de Matosinhos, com o traço do arquitecto Alcino Soutinho e marcas do pintor Júlio Resende e do escultor João Cutileiro, faz 35 anos. Há comemorações oficiais e o programa das festas, centralizado na próxima quinta-feira, feriado de 8 de Dezembro e aniversário da inauguração, pode ser consultado aqui e aqui. Para quem não se lembra ou tem tendência para esquecer, o projecto foi escolha de Narciso Miranda, o Presidente. E foi com ele que a obra se fez.

Abaixo de Braga

Mandaram-no abaixo de Braga e ele foi. Quando chegou a São Martinho de Dume, telefonou a perguntar se já chegava...

P.S. - Hoje é Dia de São Martinho de Dume. E também é Dia de São Geraldo, mas o cinema é mesmo no centro da cidade e portanto não se presta à pilhéria.

La belle de jour

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 4 de dezembro de 2022

Às vezes parecem parvos

"Cada carro que passa na A24 custa 79 euros ao País", revelava o influente semanário, em título, na sua primeira página, sempre atento e de calculadora na mão. Portanto, é só fazer as contas, um carro custa 79 euros, dois carros custam 158 euros e 200 carros custam 15.800 euros. Ao País. Isto é: quantos mais carros passarem na A24, maior é o prejuízo. Para o País. Se não passar nenhum carro, fica ela por ela. O que é porreiro para o País. Resumindo e concluindo: os jornais às vezes parecem parvos.

Isto a propósito de. O primeiro contrato para a construção, conservação e exploração de auto-estradas em regime de concessão foi assinado entre a Brisa de Jorge de Brito e o Estado no dia 4 de Dezembro de 1972, faz hoje cinquenta anos. E assim começou o prejuízo. Para o País.

Frank Zappa e o azar do dia de hoje

No dia 4 de Dezembro de 1971, em Montreux (Suíça), um incêndio provocado pelo disparo de um foguete de localização destruiu o casino onde tocavam Frank Zappa e os Mothers of Invention. A visão do incêndio foi fonte de inspiração da icónica canção "Smoke on the water" dos Deep Purple, que assistiam ao concerto de Zappa, na plateia, mesmo em frente ao palco.
No dia 4 de Dezembro de 1993, Frank Zappa morreu vítima de cancro na próstata, pouco antes de completar 53 anos.

À bolachada

A bolacha maria, torrada ou não, apareceu tarde na minha vida. Bolacha era luxo que não entrava lá em casa, e o mais parecido que a nossa mãe nos dava em pequenos era broa ou biju, e o biju já era um mimo. O caso só mudou de figura quando nasceu o nosso Lando. O Lando é o mais novo de quatro irmãos, decerto por isso teve direito a mordomias que os três anteriores nem sequer suspeitávamos, e as bolachas vieram com ele.
Entre outras alcavalas, o Landinho até fazia anos, coisa extraordinária, enquanto a nós só nos era permitido ficarmos mais velhos, somarmos dias, que remédio e a seco. Ao menino, a nossa mãe organizava-lhe uma festinha de aniversário, havia convidadozinhos, e do pequeno lanche constavam, só me lembro disso, umas curiosas sandes de bolacha maria com marmelada dentro, tipo oreos mas melhores e de fabrico caseiro. Eu, já espigadote, metia a mão sorrateira e rápida à passagem pela mesa, e foi assim que ficámos a conhecer-nos pessoalmente, eu e elas. As bolachas. Que estavam contadas, para mal dos meus pecados...
Mas não era de bolachas que eu queria aqui falar. É de bolachos. E o bolacho, faço deste já notar, é pitéu absolutamente indispensável, muito mais do que mero ornamento, nuns rojões à moda do Minho que se pretendam com todos os matadores. O bolacho é, versão curta e grossa, uma espécie de pão cilíndrico feito com farinhas de trigo, milho e centeio, a que se junta sangue de porco, fermento, caldo de carne, pimenta e cominhos. Depois de levedada, a massa é cozida em água temperada com sal, salsa, folha de laranjeira e louro. Cumprida a cozedura, o bolacho é cortado em rodelas e frito em pingue. O bolacho pode também chamar-se farinhato, pilouco, bica e, principalmente, beloura.
Mas também não era deste bolacho que eu queria aqui falar. É do bolacho de trigo. Do pão de cantos. Do pão de quatro cantos. Do trigo de ovelhinha. Do pão de padronelo. Desse. Esse fantástico pão, duro como cornos, que era vendido porta a porta em Fafe por umas senhoras que, dizia-se, vinham de Amarante. As abençoadas senhoras traziam enormes cestas à cabeça e dentro das cestas, carinhosamente envolto em toalhas de linho, o precioso pão. Um pão de longa duração que a minha querida avó de Basto guardava com todos os cuidados e também toalhas de linho na caixa de madeira que era o cofre e o frigorífico das coisas valiosas e boas numa terra por onde Jesus Cristo ainda não tinha passado e portanto não havia electricidade. Assim acondicionado, o pão aguentava-se bem uma semana ou mais e só era comido com o matinal café, que era cevada, aos domingos, feriados e dias santos. De resto, broa, que era o pãozinho do Senhor.
Leio agora que o bolacho é de ovelhinha porque teve a sua origem no lugar com aquele nome, Ovelhinha, na freguesia de Gondar, Amarante. E de padronelo porque decerto será sobretudo nesta outra freguesia amarantina, Padronelo, que hoje em dia ele é produzido e comercializado. Quanto a bolacho, é-o não sei porquê.

P.S. - Eu sei que é repetido, e pode até enjoar. Mas hoje é Dia da Bolacha, e contra isso nada!

Karate kid 2

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 3 de dezembro de 2022

Complexo de culpa

Como todo o bom católico, ele tinha um grande complexo de culpa. Edifício principal, duas unidades de produção, quatro armazéns, uma garagem com oficina, refeitório e zona social, parque de estacionamento e parque florestal, abrangendo uma área total de 51 hectares. Era realmente um enorme complexo.

Ela e o mar, dançando

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Quanto mais alto, melhor

Ouço a poderosa Abertura 1812, de Tchaikovsky, e é como se fosse o Minho, o meu Minho. Isto é: quanto mais alto, melhor.

Comer 243 sardinhas é muito?

Comi 243 sardinhas assadas! Isso, duzentas e quarenta e três. Não foi para o Guinness, portanto não as comi todas de uma vez, mas ao longo da época de 2022, que dei por encerrada faz hoje oito dias. E como é que eu cheguei a esse número tão quadrado sem ter de as contar uma a uma? É fácil. Logo que entrados no tempo delas, sexta-feira ao jantar é dia de sardinhada cá em casa. Sardinhas, salada de pimento vermelho assado, azeitonas, broa e vinho tinto, mais nada. Este ano abrimos as hostilidades no dia 29 de Abril e fechámos a loja, como já disse, a 25 de Novembro. Foram trinta e uma sextas-feiras. Se a estas tirarmos quatro, derivado ao mau tempo, a feriado ou a santo popular, ficamos com vinte e sete sextas-feiras limpas. Tendo em atenção que eu como, em média, nove sardinhas assadas por refeição, é só fazer as contas, como dizia o Guterres, e dá 243. Sim, duzentas e quarenta e três.
Sempre sardinhas aqui do nosso mar, mais pequenas mas mais saborosas, e vou buscá-las praticamente ao barco. Elas não se cansam a esperar por mim. Eu é que espero por elas, vivinhas que até metem raiva. E este ano as sardinhas foram outra vez excelentíssimas - abençoado defeso, que no-las devolveu à moda antiga.
Os antigos diziam que Maio, Junho, Julho e Agosto são os melhores meses para comer sardinha assada, mas não são. Como eu costumo lembrar, os antigos sabiam tudo e morriam muito. As sardinhas daqueles meses, dos meses sem "r", apesar de geralmente comestíveis e até agradáveis, ainda não estão maduras. A lengalenga popular é engodo para apedeutas. Eu também aprecio a novidade, mas, em bom rigor, as melhores sardinhas estão guardadas para Setembro e Outubro, aguentando-se às vezes até Novembro. Eu monitorizo-as sexta a sexta, e faço por parar ainda em bom, prevenindo o indesejável porém fatal desgosto. Foi o que fiz mais uma vez. Parei. Agora, sardinhas assados, só para o ano. E entretanto arquivo na memória um gosto bom que faço render contando histórias de crescer água na boca. Assim que tal, Abril ou Maio, os meus amigos do mar hão-de avisar-me para a urgência da retoma...

Uma vez, na peixaria da Dona Augusta, seria exactamente mês de Abril aqui há uns anos, uma senhora perguntava se "As sardinhas..." e foi logo interrompida pela minha peixeira, que lhe respondeu "Estão muito boas, as sardinhas ainda estão boas". Por acaso não estavam, naquele ano de colheita medíocre, lembro-me bem, mas a peixeira tem de fazer pela vida. Eu trouxe biqueirão.
Já experimentaram, decerto já, tirar a cabeça aos biqueirões, abri-los pela barriga retirando-lhes a espinha, que sai muito facilmente, temperar estas "costeletas" com sal, pimenta preta moída na hora, limão e um quase-nada de alho picado, e deixá-los neste preparo aí umas quatro horas, duas para cada lado? E depois passá-los por ovo e pão ralado e fritá-los sem deixar queimar? E fazer entretanto um arrozinho de bacalhau com trocinhos de tronchuda? Arroz carolino, já se sabe, que se transforma com o peixinho num verdadeiro manjar de deuses. Mas decerto já experimentaram.
Dica: as espinhas saem ainda mais facilmente se os biqueirões forem do dia anterior. Mas, para mim, peixe ou é do dia ou já não é peixe. Em miúdo, muito gostava eu de ouvir às peixeiras de Fafe o pregão "É da biba, olha a bibinha", e ficava-se logo também a saber que as sardinhas nesse dia seriam mais caras. Mas eram "como prata". Nós comíamos as sardinhas acomodados às três pancadas ao lado do assador, no nosso quintal da casa de pedra da Rua do Assento. Seriam poucas as sardinhas, mas a verdade é que davam para partilhar com os vizinhos e ninguém ficava com fome.
Hoje tenho a sorte de morar em Matosinhos, a dois passos do porto de pesca e da lota. O mais das vezes trago para casa peixe vivo, literalmente vivo, que os pescadores dos barcos pequenos estão a acabar de entregar. O que me levanta alguns problemas, operacionais e... de consciência. Um dia eu e uma solha metemo-nos numa luta cujos pormenores não conto nem quero lembrar. Ganhei, mas portei-me mal. E só à mesa é que me perdoei.

Descobri recentemente que a minha peixeira, que é a melhor peixeira do mundo, a impagável Dona Augusta, tem pelo menos um cliente que vem propositadamente de Fafe. Encontrei outro dia o Toni, que, contou-me, todas as terças-feiras vem buscar peixe para o sobrinho e, já agora, para o meu amigo Tónio Cá Te Espero, que tem tasco de categoria na Recta, que parece que se chama Taberna do Cates, ali à beira de virar para a casa da minha irmã, e de momento, felizmente, também da minha mãe. E eu, palavra de honra, quase me comovi ao saber disto.
E agora, quer-se dizer. Não sei se repararam lá em cima, mas eu não como sardinhas assadas por ocasião dos santos populares. Não como, porque geralmente não são das nossas, nem frescas. Não como, porque não gosto de balbúrdias, por um lado, nem de me meter em filas, por outro. Não como enfim, por uma questão de princípio, devido à indecência do preço a que costumam ser vendidas nesses dias. É. A procura estraga a oferta. Pelo São João, já há alguns anos, alugo um jacto particular, pego na mulher e vamos ao Maine, EUA, comer lagostas à ganância. Sempre nos fica mais em conta do que as sardinhas...

P.S. - Ontem foi Dia da Restauração. Aqui fica a minha singela homenagem ao sector.

Escola de cãodução

Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Os defenestráveis

O que eu gosto mais no 1.º de Dezembro é do episódio do defenestrado. O traidor à Pátria que, com a revolução à porta, escondeu-se no armário e acabou crivado de balas e lançado janela fora. Miguel de Vasconcelos era odiado pelo povo, porque, sendo português, andava a mando do estrangeiro e castigava Portugal com pesados impostos.
E hoje, se Portugal de repente se tornasse independente, como seria? Varejando os corredores dos ministérios, quantos se safariam?...

Guerra da Restauração

Quando a Guerra da Restauração entre Portugal e Espanha terminou e pediu a continha, em 1668, foi deveras porreiro. Os espanhóis começaram a vir comer bacalhau a Valença e os portugueses passaram a ir às bandejas de marisco a Vigo. Foi bom para o negócio e, entre mortos e feridos, salvaram-se consideráveis estabelecimentos.

Karate kid

Foto Hernâni Von Doellinger