sábado, 30 de setembro de 2023
Piadistas e outros mentirosos
As anedotas vinham de fora, regra geral. Fafe não tinha então produção própria, quero dizer, os nossos piadistas eram mais divulgadores do que criadores. As redes sociais funcionavam boca a boca, como a respiração salva-vidas, e as novidades humorísticas chegavam até nós trazidas pelos vendedores ou caixeiros-viajantes que visitavam regularmente o comércio e a indústria locais. Debitar umas larachas, se possível frescas em ambos os sentidos - "já sabe a última?, é de bolinha!" -, fazia parte do ofício. Primeiro as anedotas e só depois a nota de encomenda, se corresse bem, embora fosse tudo dar ao mesmo.
As excepções talvez fossem o António Augusto Ferreira e o extraordinário Zé Manel Carriço. O Tónio Augusto, pai do omnijornalista Carlos Rui Abreu, o qual, diga-se de passagem, é provavelmente o melhor relatador de futebol português de hoje em dia e parece que Fafe ainda não tomou sentido disso, o Tónio Augusto, era aqui que eu ia, abastecia-se de anedotas em Guimarães, onde por aquela altura já se encontrava estabelecido. A loja chamava-se T111, se não estou em erro, suponho que derivado à sua localização, no Toural, e ao número da porta, 111, ali a meia dúzia de passos da Basílica de São Pedro, cujos sinos tocavam, e não sei se ainda tocam, o Hino de Guimarães às prestações de quartos de horas. Quem também tocava o Hino de Guimarães, mas de uma ponta à outra e apenas uma vez por ano, era a Banda de Revelhe quando ia às Gualterianas e fazia a rompida na cidade velha, em frente à Câmara Municipal, e eu sei de cor a música do Hino de Guimarães e esta parte, sou obrigado a admitir, não abona nada a meu favor.
E então o que é que se segue? O Tónio Augusto todos os dias trazia de Guimarães anedotas ainda vivinhas, praticamente por estrear, e, quiséssemos ou não, contava-as pelas noites dentro do Verão fafense, na "esplanada" do velho Peludo, temperadas com fininhos e tremoços. Depois, terminada a função, metia-se no carro e ia para a Póvoa, ter com a família, e só lhe ficava bem.
A piada era fácil para o Tónio Augusto, porque ele era cómico de nascença. Ele era, dir-se-ia hoje, um predestinado, um Cristiano Ronaldo da pilhéria, um Lionel Messi do chiste. Uma vez, jogava o Tónio Augusto nos juniores da AD Fafe, no Campo da Granja, e rachou ou racharam-lhe a cabeça. Encostou ao banco, que era mesmo um banco, em madeira, corrido, ao fundo dos cinco réis de bancada, e o massagista, talvez o João Americano, tratava de enfiar-lhe uns agrafos no lanho escarrapachado e sanguinolento (não tenho a certeza se não estaria mesmo a ser cosido), mas ele não deixava, queria voltar ao jogo. Barafustava um, ralhava o outro, um a puxar para a frente e o outro a puxar para trás, escangalhados como parelha de bêbados matinais. Era mesmo de rir, parecia cinema mudo mas já em sonoro e a cores...
O Zé Manel Carriço era outra coisa. Ele não contava anedotas. O Zé Manel contava as suas histórias, verdadeiras mais ou menos, episódios protagonizados por ele próprio, mas cenas tão improváveis, tão esdrúxulas, tão gagas, com um fim tão inesperado e teatral, e tão bem contadas, que passávamos noites inteiras naquilo, só a ouvi-lo. E o Zé Manel era o primeiro a rir-se do que dizia, e ria-se sonoramente, afagando a pêra elegante, e o seu riso era como um fósforo em mato seco. E nós à volta éramos um incêndio de gargalhadas, incontrolável. Os mesmos empregados do Dom Fafe que, da uma às cinco da manhã, pediam, de meia em meia hora, "Ó Sr. Zé Manel, por favor, precisamos de fechar, olhe a polícia, temos de ir dormir!", às seis já só queriam "Ó Sr. Zé Manel, conte mais uma!"...
Depois tínhamos os "profissionais", o Landinho Bacalhau, o antigo, e o Zé Fala-Barato, os nossos microfónicos apresentadores de espectáculos, paus para toda a obra, cheios de categoria, e sempre com uma chalaça na ponta da língua. E tínhamos os pontos avulsos. As malandrices do Valença, as aventuras do Pimenta, as tiradas do Serafim d'Eiteiro, as saídas do Moisés, o Toninho da Luísa, que eu gostava de imaginar DaLuísa por causa do DeLuise americano, o Aníbal Carriço, o Zé do Registo em dias bons e fora do horário de expediente, o Zé Maria Sapateiro, o Sr. Lem, o Rates da Fábrica, o Manel Fogueiro, o Toninho do Café Chinês, o Aurélio Funileiro, o Chico Americano, o Tónio da Legião e o Aristides Carteiro, amiúde o Sr. Aristeu da Loja Nova e até o Joãozinho Summavielle, que aparecia pouco e só à noite mas não deixava os seus créditos por mãos alheias.
Estávamos, com efeito, muito bem servidos. Aliás, sobre toda esta esplêndida plêiade de bem-dispostos benévolos e geralmente militantes, tínhamos também a nossa conta de reconhecidos gabarolas e mentirosos, e Fafe era realmente abundante. Mentiam tanto e tão mal, patranhavam tão estrambolicamente os nossos queridos aldrabões, que acabavam por ter piada! Eram uns tontos, mas também uns pontos...
P.S. - Texto publicado originalmente no meu blogue Fafismos, sob o título "Eram uns pontos...", no dia 15 de Setembro de 2023, Dia Internacional do Ponto.
sexta-feira, 29 de setembro de 2023
Por una cabeza
Foto Hernâni Von Doellinger |
"Por una cabeza" é talvez o velho tango mais conhecido dos tempos modernos. A sua versão instrumental é tocada a torto e a direito nas séries de televisão e no cinema, não só pela sua indiscutível beleza e porque entretanto caducaram os respectivos direitos autorais, mas sobretudo depois de ter sido utilizada com o sucesso que se viu no filme "Perfume de Mulher", de 1992, que valeu a Al Pacino o Óscar de melhor actor. A autoria deste tango é muitas vezes erradamente atribuída a Astor Piazzolla. Na verdade, o tango "Por una cabeza" foi composto em 1935 com música de Carlos Gardel, o mais famoso dos cantores de tango da história, e letra de Aldredo Le Pera.
quinta-feira, 28 de setembro de 2023
Na catedral da vitela assada
quarta-feira, 27 de setembro de 2023
terça-feira, 26 de setembro de 2023
Acto obsceno
As relações públicas são crime e podem dar cadeia. Quanto mais não seja, por exibicionismo e ultraje ao pudor.
Entre o hóbi e o lóbi
segunda-feira, 25 de setembro de 2023
sexta-feira, 22 de setembro de 2023
Orlando Castro e a UNITA
O novo livro do jornalista Orlando Castro, "Eu e a UNITA", chegará às bancas no próximo mês de Novembro. A obra conta com prefácio de William Tonet.
quinta-feira, 21 de setembro de 2023
Dia Europeu sem, mas com
quarta-feira, 20 de setembro de 2023
Cristiano Ronaldo e o circo
terça-feira, 19 de setembro de 2023
Luís Filipe Menezes vem por aí
Luís Filipe Menezes é o próximo convidado do Clube dos Pensadores. O ex-líder do PSD e ex-presidente da Câmara de Gaia e ex-candidato a candidato à Câmara do Porto e actual presidente da Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa é o trunfo de Joaquim Jorge para a conferência/debate "Portugal, hoje", na próxima segunda-feira, dia 25 de Setembro, pelas 21h30, no Hotel Holiday Inn Porto-Gaia. A entrada é livre.
sábado, 16 de setembro de 2023
Não há dinheiro, não há praia!
sexta-feira, 15 de setembro de 2023
Guerra Colonial, a memória em Tábua
"Guerra Colonial - Direito à Memória" é o mote para a sessão que esta tarde decorre na Biblioteca Pública Municipal João Brandão, em Tábua. A partir das 15h30, nas instalações da Rua Dr. Francisco Beirão, n.º 3, são oradores Jaime Froufe Andrade, ex-combatente e autor de "Não Sabes Como Vais Morrer" e "Os Manuscritos de R.", e Armando Pereira Costa, ex-primeiro-sargento e presidente do núcleo local da Liga dos Combatentes.
Pontos de vística
- Pelo contrário, ó ilustríssimo: estou absolutamente cértico.
Vendo pontos de vista para o mar
São uns pontos
- Morreu o último ponto de ordem à mesa. De fome - é o que consta.
- - PowerPoint! - gritou o ponto negro, de punho erguido.
- Antes ponto de embraiagem do que ponto morto.
- E daquela vez em que o ponto final fez sociedade com o ponto de cruz? Foi de morte.
- Diz o ponto cardeal ao ponto de rebuçado: não te armes em papa!
- Eram três e perigosos. Chamavam-lhes Reticências...
- O defeito do ponto e vírgula? Tem a mania que é mais que os outros.
- Aventureiro por natureza, o ponto de vista só tinha um medo - as cataratas.
quinta-feira, 14 de setembro de 2023
A conversão do penálti
terça-feira, 12 de setembro de 2023
Os meus cromos 74: Teixeira dos Santos
Foto Hernâni Von Doellinger |
domingo, 10 de setembro de 2023
sábado, 9 de setembro de 2023
Um dia com os dias contados
sexta-feira, 8 de setembro de 2023
E o árbitro saiu fardado de polícia
O grande Costeado. João Costeado, que, veio ontem nos jornais, regressa ao seu Vitória de Guimarães para tomar conta da braçadeira que o treinador Paulo Turra não pode usar. O grande Costeado, que jogou no meu Fafe na passagem da década de 1970 para a década de 1980 e que brilhou naquela extraordinária equipa de Nelo Barros que fez frente ao Sporting nas meias-finais da Taça de Portugal e que era assim, tal como a anunciei aos altifalantes do estádio cheio como um ovo: Zé Maria, Costeado, Cândido, Castro e Manuel Fernandes; Albano, Sousa Pinto e Valença, Valdemar, Daniel I e Nogueira. Que luxo! Que máquina! Quem no-la dera naquele ano administrativo em que fomos cheirar a primeira divisão! Nem teríamos descido, digo eu...
Mas a tal meia-final da Taça, e já era a segunda em apenas três anos. Nós na segunda divisão, que era o nosso sítio, e o Sporting que era o Sporting. Foi na época de 1978/79, no nosso campo, e roubaram-nos a glória da final no Jamor, ou pelo menos a hipótese de um segundo jogo em Alvalade, roubaram-nos, dizia, com um penálti produzido pelo árbitro e convertido por Jordão aos 94 minutos, isto é, já no prolongamento. A peregrina falta que deu origem ao castigo que teve tanto de máximo como de injusto foi assinalada, imaginem, ao nosso Costeado.
O João era uma riqueza de moço. E o Costeado, que depois até jogou quatro vezes pela Selecção, à pala de Saltillo, era um defesa direito velocista porém tecnicamente equilibrado, raçudo e amiúde sarrafeiro. Mas estava inocente naquele dia, diga-se em abono da verdade. A Bola, o insuspeito jornal do Benfica, fazia até notar que o árbitro "julgou mal o famigerado lance de Costeado, conferindo-lhe, primeiro, uma natureza e uma intencionalidade, depois, que a nosso ver não teve", e parece que estou a ouvir o Joaquim Rita, com vírgulas e tudo.
Ora bem. Acontece que naquele tempo não havia VAR, o que não era mau de todo, porque assim também não avariava, mas não havia VAR. O VAR daquele tempo eram o Carlos Manuel ou o André a andarem sempre à volta do árbitro a dizerem o que devia ou não devia ser marcado, e nunca falhava. À falta do Carlos Manuel e do André (e, já agora, do Bruno Fernandes, que é actualmente VAR em Inglaterra), o próprio Costeado deu conta do recado, colando-se ao juiz da partida, Santos Luís, agarrando-o respeitosamente pelo avental, pedindo-lhe, rogando-lhe, rezando-lhe, implorando-lhe, jurando-lhe, repetindo-lhe quase em lágrimas, estou em dizer que mesmo em lágrimas - Eu nem lhe teni, senhor árbitro! Nem lhe teni, senhor árbitro! Nem lhe teni!...
O árbitro, o senhor árbitro, não reverteu a decisão. Chamaram-lhe "o roubo do século". Conta A Bola que "Santos Luís saiu fardado de polícia". E Costeado, baptizado pelo Valença, ficou o "Teni"...
terça-feira, 5 de setembro de 2023
As beatas e os anões
Li no jornal, com estupefacção e náusea, que "atirar beatas para o chão passa a custar entre 25 e 250 euros de multa". Eu não sabia disto, palavra de honra: mas quem é que anda para aí a atirar beatas ao chão? Desde a história do lançamento de anões que eu não via tamanha estupidez. Por amor de Deus, deixem as beatas em paz! A religião é coisa de cada um...
segunda-feira, 4 de setembro de 2023
Feira Medieval de Leça do Balio 2023
Está aí a Feira Medieval de Leça do Balio, a que agora chamam pomposamente Hospitalários no Caminho de Santiago, aliás, Feira Medieval de Matosinhos. Seja como for, a famosa Feira Medieval de Leça do Balio abre portas já depois de amanhã, quarta-feira, dia 6 de Setembro, e decorre até ao próximo domingo, dia 10 de Setembro, ao redor do Mosteiro de Leça do Balio. Mais informação, aqui.
domingo, 3 de setembro de 2023
O fim do mundo
sábado, 2 de setembro de 2023
Na minha terra gomitava-se
sexta-feira, 1 de setembro de 2023
Extinção? Quem dera!
Hoje é Dia Internacional do Abutre. E quem diz abutre, diz usurário, agiota, especulador, onzeneiro, ganancioso, interesseiro, avarento, agarrado, mesquinho, somítico, explorador, aproveitador, intrujão, chupista. Quem fala em risco de extinção, certamente não conhece Portugal...