quarta-feira, 31 de maio de 2023

O cãozinho passeava pelas mamas das senhoras

Três mulheres à mesa na pequena esplanada da confeitaria famosa, gozando uma amostra matinal de sol de Inverno. São jovens, alegres, morenas, e têm um cão. Um cão pequeno, rechonchudo, de focinho amarrotado, caricatura de um velho boxista na reforma. Será talvez um pug. Leio na Wikipédia que o pug tem "personalidade", que é "encantador, brincalhão, astuto, sociável, arteiro, dócil, afectuoso, teimoso, amoroso, atento, tranquilo, calmo". Pois. Será. O estupor do cão, o sortudo do cão, passeia-se irrequieto de colo em colo, de mama em mama, esfregando-se ao comprido na brancura sedosa de seis seios quase ao léu, lambendo, lambendo e mais não sei quê, e as mordomas ali na rua sem pudores, crescentemente excitadas, vermelhas, aos gritinhos, aos saltinhos, num fuzuê que só visto.
Ora bem. Foi na parte do mais não sei quê - e digo mais não sei quê porque realmente não faço ideia, o assunto interessou-me sobremaneira, eu estava ali concentradíssimo como o Futre, invejoso, confesso, mas não consegui perceber o que se passava até às últimas consequências -, portanto, foi na parte do mais não sei quê que a mulher menos jovem, com evidente cara de dona, largou os suspiros, ganhou fôlego, esganiçou ainda mais a voz e disse ao cão, imperativa: - Frederico! Não! Não! Não! Mamãe já falou! Isso não, Frederico!
Fiquei fodido! Não tanto por causa da indivídua chamar Frederico ao cão. Também chamo Frederico ao meu filho e isso nunca me incomodou, antes pelo contrário, até porque é o nome dele. O que me confundiu foi aquilo de ela ser mãe do cão. Estou velho para estas merdas. Fico baralhado com estas modernices sorrateiramente edipianas mas ao contrário. Não consigo acompanhar estes tempos malucos em que a nova ordem parece ser tratar os animais como pessoas, como filhos, e tratar as pessoas como animais. Como animais que não são tratados como pessoas. Estou definitivamente fora de prazo. E fiquei fodido!

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Criança ou Dia da Criança e Dia Mundial do Leite, porque isto anda tudo ligado. É também Dia Mundial dos Pais ou Dia Global dos Pais e Dia Nacional do Sobreiro e da Cortiça, que não vem ao caso.

terça-feira, 30 de maio de 2023

O vogal que é consoante

É um homem muito dado, com uma vida inteira dedicada ao associativismo. Pertence aos corpos sociais há mais de quarenta anos, primeiro como suplente, na última década como membro efectivo da Direcção, e lá se vai aguentando, automaticamente reeleito, ano após ano. É vogal. E no entanto ninguém lhe conhece uma opinião própria, uma tomada de posição, um ponto de vista, um prisma, uma óptica, um ângulo de visão que se diga. Navega ao sabor do vento e sempre com a maioria, silencioso. Exigem-lhe uma decisão, e ele diz "depende". Quer-se dizer: é vogal, mas os colegas chamam-lhe consoante...

P.S. - Hoje é Dia Nacional das Colectividades.

Tá-se...

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 27 de maio de 2023

Ferreira Fernandes, a respeito do Benfica

O Benfica é campeão e é muito bem feito! A mim até me dá jeito, que não gramo o Benfica nem à lei da bala e aliás sou portista. Que sejam, pois, campeões e lampiões, a ver se aprendem! Por outro lado e para quem não sabe, e serão, há quem diga, mais de sete milhões de benfiquistas ignorantes, o nosso falecido Estádio das Antas foi inaugurado no dia 28 de Maio de 1952, uma data por acaso um bocado fascista, e faz hoje anos, mas isso não interessa, e portanto eu até tinha aqui assunto de desconversa para fazer render até ao quinto caralho, desviando as atenções do principal, mas não vou por aí. Por uma boa razão. Uma excelentíssima razão chamada Ferreira Fernandes. Eu não sei dele, do Ferreira Fernandes, e tenho muitas saudades.

Ferreira Fernandes faz-me falta. Por causa dele, escrevi aqui, armado em carapau de corrida, no dia 1 de Maio de 2012, sob o título "Também acontece aos melhores" e com a reprodução de uma caixa de Kompensam-S, medicamento indicado para o alívio dos sintomas de azia, enfartamento e acumulação de gases:

Ferreira Fernandes é um dos mais brilhantes cronistas do jornalismo português. E é o meu preferido. Todos os dias procuro o cantinho que lhe dão no Diário de Notícias e todos os dias me delicio e aprendo alguma coisa com ele. Ferreira Fernandes é informado, é culto, é estiloso, é escorreito, é claro, é corajoso, é honesto, é sensato, é sucinto, é simples, é assertivo. E também é benfiquista.
Ferreira Fernandes escreve de tudo, não por armanço idiota, mas porque verdadeiramente sabe de quase tudo. Escreve, por exemplo, de futebol, sem que lhe caiam as medalhas ao chão, e continua a ser um prazer lê-lo. O Barcelona e o Real Madrid, Messi e Cristiano Ronaldo, Guardiola e Mourinho devem-lhe se calhar os mais perfeitos textos que sobre eles foram escritos a nível mundial.
Ferreira Fernandes tornou ao tema do pontapé na bola na edição de ontem do DN, mas inesperadamente com uma cirúrgica preocupação doméstica. Na noite em que Rio Ave e Benfica entregaram ao FC Porto mais um título de campeão que, desta vez, parece que mais ninguém queria, o meu cronista favorito esqueceu-se do facto e resolveu escrever sobre os desarranjos intestinais do futebol português. É. Realmente, ninguém está livre.

Ferreira Fernandes faz-me falta. No dia 15 de Setembro de 2015 tornei a ele, aqui, por razão de força maior. E escrevi - "Entre piçada e pissada, que escolha quem puder":

A palavra apareceu-me à esquina pela pena do cronista Ferreira Fernandes, que eu tando respeito e admiro, embora lastime que ele tenha amouchado perante o, por assim dizer, novo acordo ortográfico. A palavra é "pissada". Andei à procura dela e não a vi em sítio de respeito, em local de idoneidade gramatical que me obrigasse a pensar: sim, "pissada" é mesmo assim. Mas, pronto, que seja "pissada", porque, na verdade, encontrei duas ou três "pissas" em dicionários alternativos. Eu, pela parte que me toca, continuarei a piçar com toda a potência, sem medo de que me achem malcriado ou tarado da cedilha. Piçarei, aliás, até que a vós vos doa. Dar uma piçada, levar uma piçada, deixemo-nos de hipocrisias, bem sabemos de onde é que a coisa vem. De resto, confundir "pissada" com piçada pode, consoante as circunstâncias, ser até caso de extrema gravidez.

Ferreira Fernandes faz-me falta. Fui sempre atrás dele, só não lhe pedi a camisola, mas apenas por vergonha. De resto, sujeitei-me a tudo, a quase tudo. Os jornais deixaram de ser jornais, e eu, que remédio, contentei-me com as migalhas, "Aprendi a adivinhar Ferreira Fernandes":

Os chamados jornais digitais, agora, para serem lidos, tem de se meter a moeda. Não sei achar a esse respeito. Os artigos considerados mais importantes vêm com etiqueta de "premium" e só saem à casa, se saírem, mas estão acima das minhas actuais possibilidades, e portanto não jogo. A verdade é que só me faz falta o Ferreira Fernandes, lamentavelmente pago à linha, embora director do Diário de Notícias.
O Ferreira Fernandes é o meu cronista preferido, já disse. E gosto tanto de o ler que creio que já lhe apanhei o lado para onde descai o bilhar. E então o que é que eu faço? Pego no engodo, aquele paragrafozinho inicial dado à babuge, leio-o uma, duas ou três vezes, que continua a ser de graça, e suponho o resto do texto, porque o Ferreira Fernandes, noves fora os truques comerciais, é o Ferreira Fernandes que eu sei.

E era mais ou menos isto que eu tinha para dizer. O Benfica é campeão, e estimo-lhe as melhoras. Os carros andam lá fora a apitar e suspeito que as televisões também. Chove copiosamente, o que não deixa de ter piada, mas suponho que é do tempo, e eu lembrei-me do jornalista Ferreira Fernandes. O Ferreira Fernandes faz-me muita falta.

Cá em cima dizemos Super Bock

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 26 de maio de 2023

E se Pernambuco fosse no Algarve?

Fui ao mapa do Brasil à procura de Pernambuco. Fiquei satisfeito com o que encontrei, e só me beio dar razão: o estado de Pernambuco, com Recife por capital, fica no nordeste brasileiro, isto é, simplificando, no norte. E só podia. Porque, aqui é que comecei a demanda, hoje é dia do município pernambucano de Tabira. Assim tal qual, não é engano, e está certo. Tabira, estão a ber? Fosse Pernanvuco no sul, como acontece infelizmente em Portugal, e já o nome do antigo Toco do Gonçalo seria doutra maneira. É ou não é?

A história entre nós

Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 25 de maio de 2023

Os jardins era uma coisa que havia antigamente

Ora vamos lá recapitular. Os jardins era uma coisa que existia antigamente. Como os castelos, as pinturas rupestres, as pirâmides e assim. Era uma coisa muito antiga, do tempo dos romanos, basta ver que Deus, quando criou o mundo, o mundo era um jardim, mais ou menos como a Madeira, mas chamava-se Éden, como o velho cinema de Lisboa, ou Jardim do Éden ou Jardim das Delícias ou Paraíso Terreal ou simplesmente Paraíso, como o novo cinema de Palazzo Adriano. O plural de Éden é édenes, convém não esquecer.
E corria tudo bem no Paraíso. Quer-se dizer: corria tudo na paz do Senhor. Poder-se-ia até afirmar, creio que sem forçar demasiado a nota, que o Paraíso era, naquele tempo, um autêntico paraíso. Estava escrito, porém, que Adão e Eva tinham de asnear. Podiam ter cometido um pecado qualquer, um pecadinho de nada, um pecado repetido, copiado, um que estivesse na moda. Mas não! - quiseram ser originais. E foram. Adão e Eva cometeram o pecado original e deu na merda que deu. Até hoje.
Eu sou desse tempo. Do tempo em que ainda havia jardins. Não se sabe bem se foi por causa dos traques dos dinossauros ou derivado ao impacto de um asteróide gigante, eventualmente do tamanho de uma cidade, a verdade é que coisas antigas como os castelos, as pinturas rupestres, as pirâmides, os jardins e assim foram regra geral varridas da face da Terra, restando hoje em dia apenas algumas amostras por assim dizer raras e razoavelmente arqueológicas.
Para que a Humanidade tenha pelo menos uma vaga ideia de como era o mundo em Portugal antes do apocalipse é que foi inventado, por exemplo, o Dia Nacional dos Jardins. E o Dia Nacional dos Jardins é hoje, paz às suas almas.
Os jardins antigos, os jardins entretanto desaparecidos, foram substituídos por urbanismo, é assim que se chama a nova coisa. E como é que isso se fez? Como é que isso se faz?

Assim. Pegue-se num bom pedaço de terreno relvado, com árvores e com sombras, e arrase-se tudo. O terreno, a relva, as árvores e as sombras. Encha-se o espaço de alcatrão, cimento, placas de granito e mármore, pedregulhos aparelhados fazendo de conta de bancos e estacas de alumínio a imitarem árvores ou, quem sabe, a imitarem esculturas muito inteligentes, de preferência com esguichos mas sem água derivado à seca e à poupança. Isto é urbanismo! Pegue-se no jardim da cidade, arranquem-se as flores e os arbustos, envenene-se o verde, construam-se desertos em forma de praça e mandem-se as pessoas para casa. Isto é urbanismo! Pegue-se num monte, sítio de memórias, de brincadeiras da infância, santuário de locais secretos e míticos, reserva de saúde e natureza, e corte-se-lhe a crista, cape-se, desarborize-se, desfaune-se, terraplene-se, enxote-se a bicharada, cale-se o incómodo do chilreio dos pássaros, ergam-se moradias de preferência com feitio de caixote, altas, pegadas e muitas, fechadas, e muros e portões e estradas e carros e escapes e buzinas e estampanços e atropelamentos e antenas parabólicas e fios e postes de alta ou remediada tensão. Isto é urbanismo!

Resumindo e concluindo: roubam-nos os jardins e dão-nos esplanadas desamparadas e escaldantes, arrancam-nos as árvores e impingem-nos guarda-sóis publicitários. Os senhores doutores engenheiros da Câmara chamam-lhe urbanismo. Progresso. Eu digo que é estupidez. Natural.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

A "pequena Maddie" e o negócio das notícias

Madeleine McCann desapareceu. E o desaparecimento da "pequena Maddie" foi o melhor que aconteceu ao meu jornal naquele ano de 2007. As notícias saíam que nem pãezinhos quentes, para delícia de um público ávido de drama, coscuvilhice e sangue cor-de-rosa. E se não havia notícias, "inventavam-se" notícias. O monstro precisava de ser alimentado e as vendas iam de vento em popa.
Uma vez o chefe mandou-me ligar ao Presidente da República, a todos os antigos presidentes da República vivos, ao primeiro-ministro, a todos os ex-primeiros-ministros vivos, ao presidente da Federação Portuguesa de Futebol, ao seleccionador nacional, que era o Scolari, aos presidentes e treinadores de FC Porto, Benfica e Sporting, ao Freitas do Amaral (já não me lembro como é que este apareceu na lista, mas ele aparecia sempre), ao cardeal-patriarca de Lisboa e... ao Papa. "Ao Papa?", perguntei eu, só para ter a certeza. "Sim, pá! Liga ao Papa! Queremos um depoimento do Papa sobre o desaparecimento da Maddie". Foi assim, palavra de honra, que o chefe me respondeu.
Portanto tinha de ligar ao Papa, que era Bento XVI. O resto era fácil, era como se já estivesse feito. Pelo prestígio, pelo rigor e seriedade, pela sua inatacável ética editorial, o jornal onde eu trabalhava, e que só fazia merda, tinha praticamente linha directa com aquela gente toda. Agora Sua Santidade, isso, sim, era um desafio, e ainda por cima eu estava muito mal visto no Vaticano, pelo menos desde 1987. Claro que eu podia enfiar-me no bar o dia inteiro a "tentar ligar ao Papa" e à hora do fecho avisava o chefe, em Lisboa, de que "Não consegui, pá, desculpa, o gajo armou-se em difícil, não fala, eu ainda disse que ia da tua parte, mas nem assim o tipo se descoseu, sabes como são os alemães, teimosos do caralho". Porém eu não frequentava o bar.
Pensei então: o que é que há de mais parecido com o Papa e a que eu possa realmente chegar? E lembrei-me: o cardeal português D. José Saraiva Martins, que também estava em Roma como o outro e creio que ainda era prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Meti as mãos ao caminho, fiz chamada atrás de chamada e ao fim da tarde consegui enfim falar com ele. Atendeu-me cheio de bondade e essessss nassss palavrassss. Conhecia o caso e deu-me a sua opinião numa conversa de quase um quarto de hora. Falou-me da menina desaparecida, disse-me que rezava por ela, mas lembrou, com lucidez e sabedoria, que é fundamental que os pais não se ponham a jeito (a expressão é minha) para que semelhantes tragédias aconteçam. Vocês também percebem, tal como eu percebi, para quem é que o nosso cardeal enviava este recado. Sim, para os estranhíssimos paizinhos da "pequena Maddie". E estranhíssimos sou eu que digo.
No fim, D. José Saraiva Martins fez-me um pedido: "Olhe, depois mande-me o jornal, se faz favor". E eu mandei. O meu jornal era o 24horas. Exactamente. O jornal com as gajas todas boas e as mamas ao léu. Deve ter sido um sucesso no Vaticano.

Hoje é Dia Internacional das Crianças Desaparecidas. Este textinho, publiquei-o aqui pela primeira vez, mais ou menos nestes termos, em Fevereiro de 2012. O jornal 24horas nasceu em 1998 e morreu oficialmente em 2010, um ano depois de os seus alegados responsáveis terem liquidado a sangue frio a Redacção do Porto. Podem limpar as mãos à parede. Mas tinha piada o pasquim, que até chegou a ser bem feito, e é a bíblia do jornalismo que hoje se faz em Portugal.
Entretanto, a "pequena Maddie" tornou a bulir e continua a render, seja lá à pala do que for, recensões disparatadas, notícias a martelo, falsas maddies ou novas buscas, e só é pena o 24horas ter falecido de vez. Safar-se-ia agora. Como o Correio da Manhã e respectiva TV, que não se cansam de bombar. E de facturar...

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Em Fafe, do bom e do melhor


Fafe e Barcelos assinalam, no próximo fim-de-semana, o Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa. A meias. Em Barcelos, na sexta e domingo, dias 26 e 28. Em Fafe, no sábado, dia 27, com jogo do pau, folclore, exposição de carros de rali ou presença de animais de raça barrosã, destacando-se um almoço com vitela assada à moda de Fafe, no Pavilhão Multiusos. Aviso com tempo, coloque na agenda. Mais informação, aqui.
Aos apaixonados pela nossa vitela assada, pela gastronomia em geral ou simplesmente por Fafe, recomendo, como aperitivo, as seguintes leituras no meu blogue Fafismos: Provavelmente a melhor vitela assada do mundoO segredo da Albertininha da LameiraMais um quartilho para a mesa do cantoSushi à moda de FafeAnthony Bourdain não passou por Fafe; Adeus, confrade, até outro dia e Antes que seja crime.

domingo, 21 de maio de 2023

A quem provar pertencer-lhe

Andei a remexer nas gavetas, faço isso uma vez por ano, sei eu lá porquê, e no meio da papelada sem sentido encontrei duas dúzias de abraços antigos mas ainda em razoável estado de conservação, dois deles desirmanados e pelo menos um que de certeza não é meu, achei-o talvez, mas já não lembro, pu-lo de lado e estou pronto a entregá-lo a quem provar pertencer-lhe.
Quanto aos outros, deixei-os estar, devem ser sobras da pandemia e não sei o que me parece deitá-los fora. Quem os quiser, que diga. Eu dou-os!

P.S. - Hoje é Dia do Abraço. Amanhã pode ser tarde.

Georges, anda ver o meu país de ciclistas!

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 19 de maio de 2023

E a luz que vem grande vem menos grande

Foto Hernâni Von Doellinger

Xutos & Pontapés em Fafe

Fafe festeja a sua Senhora de Antime, como é tradição, no segundo fim-de-semana de Julho, de 7 a 9. Xutos & Pontapés e Karetus, no dia 7, sexta-feira, e Matias Damásio e D.A.M.A., dia 8, sábado, foram já anunciados como cabeças de cartaz.

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Mandem Saudades, de Mário Augusto, em Fafe


O jornalista Mário Augusto apresenta amanhã em Fafe o seu livro "Mandem Saudades, Uma Longínqua História de Emigração". A sessão, marcada para as 18 horas, no Auditório da Biblioteca Municipal, começará com a visualização de um documentário que o autor realizou e que revive a saga da emigração portuguesa para o Havai, do final do século XIX até 1913.

terça-feira, 16 de maio de 2023

Último dia

Atenção, muita atenção! Hoje é Dia do Iogurte. Amanhã estará fora de prazo.

As nossas letras galegas

Tínhamos a bó e tínhamos o bô. Eu e os meus irmãos tivemos bó e bô vezes dois, pela mãe e pelo pai, sorte a nossa! Bozinha era a bisavó, e tínhamos, em Basto, uma, muito velhinha, que uma vez deu-me uma batata assada no borralho. Bô queria também dizer bom: binho bô; bô moço; estás bô? Depois, se calhar por soar a parolo não sei a que finaços de carregar pela boca, bô mudou para bu. Bu também mete medo, é susto. Buuu! Mas quem caralho teve a ideia?...

Para mim, e defendo-o de graça há muitos anos, o Minho começa em Fafe e acaba em Santiago de Compostela. E a Galiza também. Isto é: Galiza e Minho são-me o mesmo, chamem-lhe o que quiserem, mas Minho decerto fica-lhe melhor derivado ao rio que nos une. Somos a cara chapada uns dos outros, os minhotos e os galegos destes limites, labregos envernizados, crescemos das mesmas raízes, aprendemos de uma literatura comum, padecemos ainda hoje do mesmo ancestral atraso de vida, desfrutamos do mesmo amor à comida e à bebida, à água benta e à festa, partilhamos a maneira de falar, cheia de "ches", de "inhas" e de "inhos", de "xes" em vez de "ses", de "bes" em vez de "ves", não raro falamos até a mesma língua, consoante os sítios e a idade, repetimos nomes, palavras pândegas, debitamos caralhos atrás de caralhos como não há memória de tanto caralhar noutras latitudes deste mundo e de outros.
Em Fafe e nas terras de Basto chegadas a Fafe falava-se esse conversar comum quando eu era pequeno, aprendi-o naturalmente com os meus avós maternos, em Passos, Cabeceiras, com a minha mãe e com os meus tios. A querida tia Margarida ainda hoje o usa a cotio, com uma graça que me encanta e comove, e eu dou-lhe serventia da língua para fora sempre que posso, e agora posso quase sempre.

Imaginem então a minha alegria com o que se passou aqui atrasado, numa das nossas habituais saltadas ao lado do Minho a que outros chamam Galiza. Foi assim. Como de costume, aproveitámos para atestar o depósito do carro. "Gasóleo", digo eu ao senhor gasolineiro. E o senhor gasolineiro, nunca tal nos tinha acontecido, pergunta-me sem mais nem menos, como se anunciasse pipa nova: - Normal ou do bô?...
Caralho! "Do bô", o senhor gasolineiro perguntou-me se o gasóleo era "do bô", palavra de honra, "do bô", perguntou, como fosse a minha avó, o meu avô, a minha mãe ou a tia Margarida a perguntar-me. E eu fiquei tão contente, tão criança, de repente tão outra vez abraçado ao avental da minha mãe a cheirar tão bem a sabão e felicidade, a casa, a nós, fiquei tão comovido que quase me descompus...
Por outro lado, o gasóleo era normal e fedia. Mas o senhor gasolineiro perguntou se era "do bô", foi o que ele disse, e disse tão bem, e eu gostei tanto. "Do bô", caralho!...

P.S. - Hoje é Día das Letras Galegas, este ano dedicado a Francisco Fernández del Riego.

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Os cientistas, quem os inventou?

Hoje é Dia Nacional dos Cientistas. E pus-me a pensar: quem é que inventou os cientistas? Não é difícil. Evidentemente os cientistas só podem ter sido inventados por cientistas. Disso não tenho a mínima dúvida. Isto é: os cientistas foram inventados por cientistas. Mas quem é que inventou os cientistas?

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Com sola à frente, com sola atrás

Os cançonetista Rosinha e Toy são cabeças de cartaz das Feiras Francas que arrancam hoje em Fafe. Anteontem à tarde, enquanto esperava, fodido, no dentista, fiquei a saber pela RTP que a nossa Rosinha toca acordeão como o grande Quim Barreiros mas sem bigode e acaba de lançar o seu 17.º álbum, muito justamente intitulado "Com sola à frente, com sola atrás". Para mim, pura poesia!
E também admiro muito o Toy. O omnipresente Toy, que se gaba na televisão de andar sempre pelo menos setenta ou oitenta quilómetros acima dos limites de velocidade impostos pelo Código da Estrada e que conduz com o joelho, como faz questão de demonstrar para a câmara, para os entrevistadores pés-de-microfone e para os respectivos senhores telespectadores. Eu, se estivesse em Fafe, pedia-lhe um autógrafo...

Tadinho do bebé...

Foto Hernâni Von Doellinger

Feiras Franca de Fafe, já a partir de amanhã

Feiras Francas de Fafe, de 13 a 17 de Maio, com tenda principal montada no Parque da Cidade. Feira Rural, Feira das Coisas, Mercado Bio, vinhos e petiscos, noitadas, fado vadio, festival de folclore, animação de rua, cenas da vida do campo, jogos tradicionais, concurso pecuário, chega de bois, corrida de cavalos, as duas bandas de música da terra, Golães e Revelhe, e bombos, muitos bombos. Para além disso, os cantores Toy, Jorge Guerreiro, Rosinha e Cláudia Pascoal. Programa completo e mais informação, aqui.

domingo, 7 de maio de 2023

Aqui há gatos. Quer-se dizer, havia...

Em Fafe, no meu tempo, as pessoas gostavam muito de animais, como por exemplo gatos. Quase todos os lares tinham o seu gato ou a sua gata de companhia, principalmente derivado aos ratos, que também eram muitos e caseiros, mas recebiam visitas. Evidentemente estou a falar da parte de Fafe que me diz respeito e conheço, Fafe dos pobres. Ora, havendo gatos e gatas, havia também ninhadas, porque as coisas são como são e até os bichinhos gostam. Mas alimentar um ou dois gatos, mesmo com sobras, é uma coisa, outra coisa é sustentar uma família inteira de tarecos, ainda por cima largam pêlo como o caralho e nos primeiros tempos, antes de levarem naquele focinho para aprenderem, coitadinhos, cagam e mijam em todo o lado sem respeito nenhum. Que se segue? As pessoas gostavam muito de animais e pegavam na ninhada, deixavam um gatito de reserva, o mais bonito e esperto, e enfiavam os outros todos numa saca de sarapilheira bem fechada e bem atada a uma pedra bem pesada e pegavam na pedra, na saca e nos gatos e atiravam tudo ao rio, que eram vários e lingrinhas. Não sei se Fafe conserva esta curiosa tradição. E quem diz Fafe, diz Portugal regra geral...

P.S. - Hoje é Dia Internacional dos Maine Coons, a raça dos maiores gatos de mundo.

Primaverão

Foto Hernâni Von Doellinger

Cristina Ferreira aos bocadinhos

Atenção! A Senhora Dona Cristina Ferreira acaba de regressar do Rio de Janeiro. Esteve lá uma semana e "viveu várias experiências". Dou de caras com a momentosa notícia no JN, parece-me. "Nas redes sociais", a Senhora Dona Cristina Ferreira informa, depois de chegar a casa: "Fica sempre um bocadinho de mim no Rio de Janeiro" - conta, acutilante, o jornal. Ora, eu não sei quantas vezes é que a Senhora Dona Cristina Ferreira já foi ao Rio, e portanto também não faço ideia da quantidade de bocadinhos da Senhora Dona Cristina Ferreira que já por lá ficaram. Temo no entanto por ela, pelo que resta dela. Se insistir nas viagens ao Rio de Janeiro, deixando sempre lá um bocadinho, qualquer dia não há Senhora Dona Cristina Ferreira para voltar a Portugal, por mais imensa que ela julgue que é. E ficarmos sem a Senhora Dona Cristina Ferreira, nem que seja só um bocadinho, um bocadinho qualquer, suspeito que haverá de resultar em irremediável prejuízo para as "redes sociais" e aliás também para os "jornais"...

sábado, 6 de maio de 2023

Silêncio de 24 quilates

Foi à loja de penhores. Entrou mudo e saiu calado. E muito satisfeito com o negócio. Porque o silêncio é de ouro...

P.S. - Hoje é Dia do Silêncio. No Brasil, pelo menos.

O rali e o famoso salto de Matosinhos...

Foto Hernâni Von Doellinger

Era Bouças e fez-se Matosinhos

Matosinhos cheira mal. Faz parte. E aos sábados e domingos mete nojo. Num dia como o de hoje, isto é, dia 6 de Maio, mas de 1909, o velho concelho de Bouças passou a chamar-se Matosinhos e pode portanto dizer-se que Matosinhos faz hoje anos, siga a rusga, siga a rusga, siga a nossa reinação. Os restaurantes de peixe rebentam pelas costuras e pelas esplanadas, e isso é bom para o IVA, mas fedem e fumegam num alucinante aviso de como será decerto o fim do mundo de um modo geral. Aos sábados e domingos, Matosinhos cheira a sardinhas mal descongeladas e a grelhas que não vêem água desde a grande seca de 1948. Cheira também a lixo deitado alegremente à rua sem norma nem excepção. Cheira também aos escapes bronquíticos dos incendiários autocarros da Resende. Quer-se dizer: Matosinhos cheira mal, fede ao natural e ao gasóleo, tresanda a Matosinhos.
Com vista para o mar se me puser de lado, moro há mais de trinta anos ao dobrar da esquina da restaurantíssima e concorridíssima Rua Heróis de França, no epicentro exacto dos vapores e malinas gastronómicas matosinhenses. Por estes dias a Rua Heróis de França está praticamente impraticável, pelo menos desde Tomás Ribeiro até às funduras da Lota, mas suponho que depois da Lota continua. Ecopontos e contentores tresandam perigosamente, mesmo à distância: nauseabundam a comida estragada, a peixe podre, a vomitado, a fermentado, a ranço, a lavadura para porcos, a ácido, a tóxico, a bagaço, a estrume, a bosta. Matosinhos World’s Best Fish, iniciativa da Câmara Municipal para inglês ver, só pode ser um equívoco, uma piada. E o fedor corre pela rua e entranha-se nas casas e nas roupas. Nos pulmões.
O Senhor Varredor que se ocupava de Heróis de França e fazia um trabalho impecável, e com quem eu dava, sempre que podíamos, dois dedos de conversa, pediu-me uma vez que eu fosse deitando os olhos ali às redondezas dos ecopontos novinhos em folha, porque se calhar um dia qualquer lá estaria ele estendido ao comprido, evidentemente gaseado por aquele fedor que não se aguenta, e muito grato ficaria se eu chamasse o INEM...

Moro em Matosinhos e gosto de pensar que também sou de Matosinhos. Moro à beira-mar. E como eu gosto do mar! Levei com o fedor da fábrica da tripa, habituei-me ao chulé da estilha e gramo com os saralhotos de cão que abrilhantam metro sim metro não os passeios da cidade. Gosto do sítio onde moro e gosto das pessoas a quem digo e que me dizem bom-dia, todos os dias, na lota, na peixaria, na padaria, no mercado, na praia, no passeio marginal, nas portas dos cafés e lojas. Gosto dos pescadores, gosto das peixeiras, gosto do peixe fresco que me vendem por especial atenção, gosto da franqueza e da valentia deste povo, gosto do cheiro da sardinha assada que me entra pela casa dentro nem que eu não queira, gosto das esplanadas que no Verão estorvam ruas e pessoas e quem estiver mal que se mude, gosto do Leixões e gosto dos leixonenses apesar de eles odiarem visceralmente o meu FC Porto.
No prédio onde eu moro, o meu apartamento é o único que não tem marquise ou paramarquise na varanda. Dá nas vistas, é verdade, destoa, incomoda os vizinhos, aliás condóminos, e todos os dias tenho a caixa de correio assediada por uns quantos panfletos em quadricromia e papel couché que me oferecem o sufoco a xis euros o metro quadrado. Muito agradecido, mas passo: a varanda faz-me falta tal qual está.
Gosto de correntes de ar, que hei-de fazer? Gosto de terra e gosto de mar. E gosto de levar com a terra e com o mar nas ventas. Gosto dos cheiros. Gosto de pensar (ou de pensar que penso), gosto de refrescar ideias. A minha varanda é o meu retiro. O meu castelo. E é o meu quintal, a minha esplanada, o meu posto de vigia. Gosto de semear, de regar os vasos, de espreitar o nanocrescimento dos coentros, do alecrim, da salsa e do tomilho, e até tenho um loureiro e um carvalho, gostava de fumar a minha cachimbada e de beber o meu CRF "em balão previamente aquecido", que já não fumo e bissextamente bebo, gosto de ver passar navios. Condenaram-me a isso há uns anos, a ver navios, mas eu gosto. Sou um gajo cheio de sorte.
Estão a ver a cabeça daquele cromo assamarrado e de chapéu enfiado até às orelhas, sentado na varanda, ignorante da chuva e do frio, de braço de fora e olhando o mar? A cabeça é minha, o cromo sou eu. Não podem ver, mas tenho uma manta a agasalhar-me as pernas. Estou muito bem, não se preocupem. E estão a ver a gaivota belíssima, empoleirada no parapeito e quase em cima de mim? Ela não me larga. A gaivota também sabe que ali é santuário, lugar de pensamento e liberdade. Somos cúmplices, almas gémeas praticamente. Mas a gaivota abusa, caga na varanda e borra a roupa do estendal, o que enfurece sobremaneira a minha mulher, quase tanto como a cinza de cigarro da vizinha de cima. Eu, no que me diz respeito, tomo nota de mais um barco que entra no Porto de Leixões.

Claro que Matosinhos não tem o melhor peixe do mundo, como reclama a autarquia. Tem um peixe honestinho, com que me vou regalando cá em casa, e não é peixe de restaurante. É outro peixe, de que a publicidade não sabe, e ainda bem para mim. Por outro lado, Matosinhos terá provavelmente o melhor pior fedor do mundo. Entre o peixinho e o fedor, às tantas nem me queixo. Na verdade, confesso, gosto de Matosinhos assim.

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Isto é, wine bar & tapas

Foto Hernâni Von Doellinger

As cadeiras de rodas e o código da estrada

Vai por aí uma alarido desgraçado por causa do homem que foi filmado a circular numa cadeira de rodas na Nacional 13, perto de Vila do Conde. Como se fosse uma novidade, como se estivesse ali mais uma daquelas extraordinarices inventadas pelo Correio da Manhã, que evidentemente tomou conta da ocorrência. Pois estão todos enganados: eu já falo aqui deste assunto pelo menos desde Novembro de 2011, e levei-o também ao meu Fafismos, acrescentado e livremente adaptado, há cerca de meio ano. Se não se lembram, eu repito. Até porque hoje é Dia Mundial do Trânsito e da Cortesia ao Volante, e vem a propósito. E era assim:

Há um novo perigo nas estradas portuguesas, e não falo de trotinetas. Há uma novo perigo nas estradas e são as cadeiras de rodas. Cadeiras de rodas eléctricas. As cadeiras. As cadeiras é que são eléctricas, as rodas não, são rodas normais, mas parece-me mal dizer cadeiras eléctricas de rodas, que é o que elas são realmente. Então, elas andam aí, são cada vez mais e cada vez mais metediças. Ainda no outro dia me apareceu uma disparada a atravessar, vamos um supor, a EN 206, em Arões, após a saída de Paçô Vieira, e só não acabou em desastre porque um de nós travou a tempo e não foi o condutor da cadeira. Cujo, aliás, agradeceu a sorte com um enorme sorriso (vá lá!) e não tinha capacete nem piscas.
As novas máquinas do asfalto alcançam a furiosa velocidade de 12 km/hora, o que não é brincadeira nenhuma para atravessar uma estrada nacional, fora de passadeira e saídas do nada. Ainda por cima está na moda o tuning, que transforma algumas delas em verdadeiras bombas, como a daquele brasileiro que uma vez foi apanhado pela polícia a mais de 60km/hora, depois de ter artilhado a sua cadeira de rodas com um motor de motorizada.
Creio que se impõe uma análise série e aprofundada ao fenómeno, em sede de. Sim, em sede de. Convoquem-se então os rapazes e eles que ajeitem uma comissão governamental e multidisciplinar com amplos poderes para remodelar o Código da Estrada, alterando, nomeadamente, a legislação referente às escolas de condução e introduzindo a especialidade de cadeiras de rodas. A sinalética de trânsito vigente terá de ser também revista e actualizada, não sendo de desprezar a possibilidade de implementar corredores específicos para cadeiras de rodas na rede de auto-estradas nacional. Com isenção de pagamento de portagens, evidentemente.

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Era uma vez a Broadway

Foto Hernâni Von Doellinger

Corria o ano de 2016 e a Câmara de Matosinhos aproveitou as comemorações do 25 de Abril para inaugurar a sua Broadway, uma via de ligação dita pedonal entre a Praia de Matosinhos e as imediações da Circunvalação, decalcando o percurso do antigo canal ferroviário que apoiou a construção dos molhes do Porto de Leixões. E a autarquia, então presidida por Guilherme Pinto, chamou-lhe mesmo Broadway, a Broadway de Matosinhos, fez-se placa, subiu a toponímia, e eu, que moro exactamente aqui em Manhattan, mesmo ao lado da coisa, não percebi a americanice, e aliás achei-a uma transatlântica estupidez.
Não sei o que é se passou entretanto nem quando é que aconteceu, mas parece que a Câmara de Matosinhos, actualmente sob a presidência de Luísa Salgueiro, tomou sentido ao ridículo e mudou o nome à Broadway. Até pode ter sido há anos, mas eu só me apercebi ontem, e por isso aqui estou hoje a contar: a Broadway chama-se agora, com todas as tabuletas, Passeio da Praia. Isto aqui em Matosinhos! Em Nova Iorque, não sei se também.

Isto é, vinhos e petiscos

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Os rabilhos, sem menosprezo pelos outros

Rabilhos. Os japoneses são malucos por rabilhos. E as notícias dão conta disso, de vez em quando. É um assunto que me interessa sobremaneira, isto dos rabilhos japoneses. Aqui atrasado, um atum com 278 quilos foi comprado por dois vírgula sete milhões de euros, em Tóquio evidentemente, no mercado de Toyosu, que substitui o famoso mercado de Tsukiji, que era o maior mercado de peixe do mundo e uma das principais atracções turísticas da capital japonesa. O atum em questão foi a grande estrela do sempre muito aguardado primeiro leilão de Ano Novo, e bateu, sem culpa nenhuma, todos os recordes. Sei disto tudo porque o jornal Público mo contou na altura. E o Público, por favor não confundir com o Correio da Manhã, conta muito bem estas e outras extraordinarices. Para além disso, o Correio da Manhã é em vermelho...
Meses antes, um atum com 162 quilos fora vendido por 4,3 milhões de ienes (quase 33 mil euros), ainda no velho Tsukiji, no seu último leilão, uma semana antes de fechar portas. Um atum praticamente dado, em boa verdade. Com efeito, em Janeiro de 2013, sempre contado pelo jornal Público, atentíssimo até mais não, um atum gigante tinha sido vendido, no mesmo mercado, pelo então preço recorde de 1,38 milhões de euros. O peixão pesava 222 quilos, ficando por isso a cerca de quatro mil e setecentos euros cada quilo, é só fazer as contas. O outro, o tal do Ano Novo custou mais de dez mil euros o quilo. Ora passa-se o seguinte: no outro dia comprei um atum anão, cá em Matosinhos, na peixaria da Dona Augusta, por pouco mais de euro e meio, eu seja ceguinho, e mais fresco era impossível. Pesava quase três quilos.
As notícias afirmam que o atum gigante japonês era "rabilho". O meu atum anão, sinceramente não sei. Mas também foi comido. Em bifinhos. De cebolada. E que bem que nos soube.

Não percebo se é a fartura que os desorienta, mas a verdade é que os japoneses são mesmo um bocado tolos nisto de compras. Em Julho de 2014 soube-se que um cacho com 34 uvas, cada bago a pesar cerca de 30 gramas, foi vendido pelo simbólico preço de quatro mil euros. As uvas eram da raríssima casta ruby roman. E eu? Ainda ontem comprei na frutaria aqui da rua um bom gaipelo com 15 bagos e dois pequeninos, e não paguei mais do que cinquenta e três cêntimos. Evidentemente não eram ruby roman, muitíssimo longíssimo disso. As minhas uvas eram colhão-de-galo e, se quereis que vos diga, fiquei muito bem servido...

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Atum.

Uma ponte para... a eternidade?

Foto Hernâni Von Doellinger