Jogada de mestre, ontem, a de António José Seguro. Farto de falar para o boneco, cansado de ser ignorado pelo País em geral e pelos portugueses em particular, o líder do PS resolveu finalmente deitar mão à arma que tem mais ao pé para ultrapassar a sua congénita invisibilidade: convocar uma conferência de imprensa e fazer figura de urso. Concentradíssimo no seu discurso, com papel e tudo, Seguro conseguiu embrulhar-se brilhantemente em gafes e contradições, umas atrás das outras, inaugurando em Portugal o uso da versão política da já famosa "táctica Paulo Futre". O resultado da esperta iniciativa? Um sucesso! Hoje não se fala de outra coisa.
Aparentemente de língua enrodilhada, António José Seguro "acusou" o Governo de Passos Coelho de total ausência de insensibilidade social e de exigir sacrifícios a quem mais tem e a quem mais ganha. Quê? Não faz sentido? Faz, sim senhor: estas é-assim-mas-ao-contrário são artimanhas que Seguro astutamente engendrou para focar as pessoas na proposta socialista, que lá meteu pelo meio, de uma taxa extra de 3,5 por cento sobre as empresas com lucros anuais acima dos dois milhões de euros.
É de génio! Quem assim mete os pés pelas mãos só pode ser de propósito. Não descortino razões sólidas para pensar de outra maneira. Só se forem razões líquidas. E então o melhor é o PS mudar as suas conferências de imprensa para de manhã.
terça-feira, 30 de agosto de 2011
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Submarinos 2
O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, exigiu ontem ao chefe das secretas que o inquérito ao caso da alegada espionagem ao jornalista Nuno Simas seja levado a cabo com "celeridade" e "na maior profundidade". Estão a ver? Celeridade e profundidade?... Não lhes diz nada? Estadista de visão, Paulo Portas! Ele já sabia em 2004, foi o único a antecipar, que qualquer dia os submarinos ainda haviam de servir para alguma coisa...
Uma câmara para Mourinho
José Mourinho diz que há uma campanha contra ele em Espanha. Eu não costumo ligar ao que Mourinho diz, porque ele nunca diz nada sem uma segunda intenção, não dá ponto sem nó, e eu tenho mais que fazer do que perder tempo a tentar perceber aonde é que ele quer chegar. Mas abro aqui uma excepção, porque me parece que, desta vez, o homem é capaz de ter razão.
Ontem, durante a transmissão do jogo Saragoça-Real Madrid (0-6), o treinador luso teve direito a uma câmara, em exclusivo, que lhe seguiu todos os movimentos no banco de suplentes. Uma distinção digna do imenso umbiguismo de El Especial, mas que trazia água no bico. Depois do turbulento episódio final do último Barcelona-Real Madrid, o que a realização espanhola procurava era apanhar Mourinho novamente em falso. O português estava sob vigilância.
Numa transmissão paralela à transmissão do próprio jogo (três golos de Cristiano Ronaldo), todos os gestos mais bruscos de Mourinho, os gritos, as caras feias, os protestos, os enfados, os desapontamentos, foram passados a pente fino e repassados em câmara lenta, para que Espanha e o mundo se convençam de uma vez que realmente está ali um homem mau. Sim, Mourinho é capaz de ter razão. Às tantas, eles estão a ver se o tramam. Se calhar há mesmo uma campanha contra ele em Espanha. No entanto,
convém não esquecer que José Mourinho é mestre na arte de criar cenários para rupturas. Foi assim em Portugal, foi assim em Inglaterra, foi assim em Itália. Atentemos primeiro no seu "desabafo" de ontem ao jornal espanhol El Mundo. Diz Mourinho: "Ao contrário de outros países onde treinei, aqui sinto que estão a fazer uma campanha contra mim. Um amigo chegou a dizer-me que, com as pedras que me lançam, conseguia construir um monumento".
Um monumento a Mourinho, claro. Um Mourinho com queda para retocar a história. Porque, se formos um pouco atrás, ao tempo em que ele era Il Speciale e treinava o Inter, vamos encontrá-lo, em Novembro de 2008, a dar azo ao seguinte título na imprensa italiana: "A Itália não gosta de mim". Ou, em Março de 2010, já a preparar o salto para Madrid e a afirmar: "Não gosto do futebol italiano e o futebol italiano não gosta de mim".
Pois é. Ele sabe-a mesmo toda!
Ontem, durante a transmissão do jogo Saragoça-Real Madrid (0-6), o treinador luso teve direito a uma câmara, em exclusivo, que lhe seguiu todos os movimentos no banco de suplentes. Uma distinção digna do imenso umbiguismo de El Especial, mas que trazia água no bico. Depois do turbulento episódio final do último Barcelona-Real Madrid, o que a realização espanhola procurava era apanhar Mourinho novamente em falso. O português estava sob vigilância.
Numa transmissão paralela à transmissão do próprio jogo (três golos de Cristiano Ronaldo), todos os gestos mais bruscos de Mourinho, os gritos, as caras feias, os protestos, os enfados, os desapontamentos, foram passados a pente fino e repassados em câmara lenta, para que Espanha e o mundo se convençam de uma vez que realmente está ali um homem mau. Sim, Mourinho é capaz de ter razão. Às tantas, eles estão a ver se o tramam. Se calhar há mesmo uma campanha contra ele em Espanha. No entanto,
convém não esquecer que José Mourinho é mestre na arte de criar cenários para rupturas. Foi assim em Portugal, foi assim em Inglaterra, foi assim em Itália. Atentemos primeiro no seu "desabafo" de ontem ao jornal espanhol El Mundo. Diz Mourinho: "Ao contrário de outros países onde treinei, aqui sinto que estão a fazer uma campanha contra mim. Um amigo chegou a dizer-me que, com as pedras que me lançam, conseguia construir um monumento".
Um monumento a Mourinho, claro. Um Mourinho com queda para retocar a história. Porque, se formos um pouco atrás, ao tempo em que ele era Il Speciale e treinava o Inter, vamos encontrá-lo, em Novembro de 2008, a dar azo ao seguinte título na imprensa italiana: "A Itália não gosta de mim". Ou, em Março de 2010, já a preparar o salto para Madrid e a afirmar: "Não gosto do futebol italiano e o futebol italiano não gosta de mim".
Pois é. Ele sabe-a mesmo toda!
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domingo, 28 de agosto de 2011
Protecção de dados? Deixem-me rir...
O meu telefone sem fios Zon Slim perdeu o pio ao fim de apenas nove meses de trabalho. Peguei no telemóvel e liguei para a operadora do telefone sem fios. Menos de uma hora depois já tinha em casa um técnico. O homem da Zon detectou rapidamente a avaria (transformador pifado) e procedeu à substituição completa do material: transformador, base e telefone. Até aqui tudo bem.
Quando o técnico se preparava para guardar o meu telefone "antigo", perguntei-lhe, num misto de bons modos com queres-tu-ver-que-já-me-estão-a-foder:
- O senhor vai levar o telefone? Assim? Com os meus contactos? Não lhe passa pela cabeça que pode estar a violar a lei de protecção de dados?...
O homem corou. Parou. Pensou e disse:
- Olhe que nunca ninguém me pôs esse problema. Mas, agora que penso nisso, o senhor tem toda a razão. Deixe ver... Posso é fazer-lhe reset no aparelho antes de o levar, quer?
Eu quis. E ele fez.
É assim que as coisas são. E parece que ninguém quer saber.
No dia seguinte, o País acordou alvoroçado com o escândalo da "alegada" espionagem das secretas a um jornalista do Público denunciada pelo Expresso. Chamadas aos microfones, as costumeiras virgindades rasgaram as vestes de indignação, clamaram aos céus contra a gravidade da violação da lei, pediram inquéritos. Isso: seguindo a habitual cábula, sobretudo pediram inquéritos. Passos Coelho, primeiro-ministro, também pediu. E a Procuradoria-Geral da República vai investigar o caso.
Palavra de honra, não percebo as razões de semelhante escarcéu. Mas quê, esta gente toda acha mesmo que os serviços secretos fazem sempre o seu trabalho dentro da lei e que só desta vez é que mijaram fora do penico? Mas para que é que servem os serviços de espionagem? Não é para espiar? Estavam à espera de quê? E os jornalistas não podem ser espiados? Só podem espiar? Afinal o que é que tanto incomoda estes cavalheiros: o acto de espionagem em si ou o facto de se saber dele?
São ingénuos? Não. São hipócritas.
Quando o técnico se preparava para guardar o meu telefone "antigo", perguntei-lhe, num misto de bons modos com queres-tu-ver-que-já-me-estão-a-foder:
- O senhor vai levar o telefone? Assim? Com os meus contactos? Não lhe passa pela cabeça que pode estar a violar a lei de protecção de dados?...
O homem corou. Parou. Pensou e disse:
- Olhe que nunca ninguém me pôs esse problema. Mas, agora que penso nisso, o senhor tem toda a razão. Deixe ver... Posso é fazer-lhe reset no aparelho antes de o levar, quer?
Eu quis. E ele fez.
É assim que as coisas são. E parece que ninguém quer saber.
No dia seguinte, o País acordou alvoroçado com o escândalo da "alegada" espionagem das secretas a um jornalista do Público denunciada pelo Expresso. Chamadas aos microfones, as costumeiras virgindades rasgaram as vestes de indignação, clamaram aos céus contra a gravidade da violação da lei, pediram inquéritos. Isso: seguindo a habitual cábula, sobretudo pediram inquéritos. Passos Coelho, primeiro-ministro, também pediu. E a Procuradoria-Geral da República vai investigar o caso.
Palavra de honra, não percebo as razões de semelhante escarcéu. Mas quê, esta gente toda acha mesmo que os serviços secretos fazem sempre o seu trabalho dentro da lei e que só desta vez é que mijaram fora do penico? Mas para que é que servem os serviços de espionagem? Não é para espiar? Estavam à espera de quê? E os jornalistas não podem ser espiados? Só podem espiar? Afinal o que é que tanto incomoda estes cavalheiros: o acto de espionagem em si ou o facto de se saber dele?
São ingénuos? Não. São hipócritas.
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sábado, 27 de agosto de 2011
O ministro Sexta-Feira
Às sextas-feiras aparece o Álvaro da Economia com mais uma das suas tiradas "históricas" para alimentar o fim-de-semana informativo-comentativo. À porta dos tascos do Porto, um papel sebento anuncia "Hoje há tripas". Nas agendas dos jornais, das rádios e das televisões, o aviso é outro: "Hoje há Álvaro". O Álvaro é um prato. O Álvaro é o nosso Sexta-Feira e eu já começo a achar piada ao tipo.
Às sextas-feiras, Álvaro Santos Pereira, ministro da Economia e da propaganda, visita o País e os microfones. Não se sabe o que ele faz, só se sabe o que ele diz. O Álvaro da Economia é um ministro que governa da boca para fora.
No passado dia 19, sexta-feira, o ministro foi de visita ao Porto de Sines e, já agora que estavam lá os senhores jornalistas, prometeu "reformas estruturais históricas" para o País. Oito dias depois, ontem, sexta-feira, o ministro foi de visita à Autoeuropa e, já agora que os senhores jornalistas lá estavam, prometeu um "corte histórico" na despesa do Estado.
Atente-se na modéstia dos objectivos: tudo o que o Álvaro da Economia promete fazer, sem explicar como nem quando, vai ser "histórico", e apenas isso. Qualquer ministro mais gabarola apontaria a adjectivos como sensacional, espectacular, monumental, iglantónico, piramidal, glorioso ou celestial. Mas o nosso Álvaro não é desses. Em todo o caso, e embora este seja manifestamente um Governo mais de adjectivos do que de objectivos, o que o povo espera é que, se alguma medida se concretizar, ao menos que venha a ser histórica pelas melhores razões...
Entretanto, preparem-se: o ministro prometeu ontem prometer para a semana medidas para "relançar os centros de emprego". Serão medidas certamente "históricas", apresentadas provavelmente na sexta-feira, só não se sabe ainda aonde é o passeio.
Às sextas-feiras, Álvaro Santos Pereira, ministro da Economia e da propaganda, visita o País e os microfones. Não se sabe o que ele faz, só se sabe o que ele diz. O Álvaro da Economia é um ministro que governa da boca para fora.
No passado dia 19, sexta-feira, o ministro foi de visita ao Porto de Sines e, já agora que estavam lá os senhores jornalistas, prometeu "reformas estruturais históricas" para o País. Oito dias depois, ontem, sexta-feira, o ministro foi de visita à Autoeuropa e, já agora que os senhores jornalistas lá estavam, prometeu um "corte histórico" na despesa do Estado.
Atente-se na modéstia dos objectivos: tudo o que o Álvaro da Economia promete fazer, sem explicar como nem quando, vai ser "histórico", e apenas isso. Qualquer ministro mais gabarola apontaria a adjectivos como sensacional, espectacular, monumental, iglantónico, piramidal, glorioso ou celestial. Mas o nosso Álvaro não é desses. Em todo o caso, e embora este seja manifestamente um Governo mais de adjectivos do que de objectivos, o que o povo espera é que, se alguma medida se concretizar, ao menos que venha a ser histórica pelas melhores razões...
Entretanto, preparem-se: o ministro prometeu ontem prometer para a semana medidas para "relançar os centros de emprego". Serão medidas certamente "históricas", apresentadas provavelmente na sexta-feira, só não se sabe ainda aonde é o passeio.
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
DSK está de volta
Dominique Strauss-Kahn tem a intenção de ir ao FMI, provavelmente já durante a próxima semana, para realizar um visita "privada", contando reunir com os funcionários. É, o homem deixou lá uns cus ainda por apalpar...
RTP: vêr para crêr
Isto foi ontem à noite, no Telejornal da RTP1. Nas imagens, o treinador do FC Porto falava sobre o jogo de mais logo, no Mónaco (a por milhões esperada degola dos indecentes), mas o rodapé puxava-me para muitos, muitos anos atrás. Para a antiquíssima Idade do Acento Circunflexo. Dizia: Vítor Pereira: "Não viemos para vêr o Barcelona jogar". Exactamente: ver, com o anacrónico e desnecessário chapeuzinho. Eu nem queria acreditar. A televisão da modernidade, tão lampeira a adoptar a merda do novo acordo ortográfico, dava assim um erro de palmatória? Dava e repetia. Porque o rodapé e a respectiva patacoada entravam e saíam da imagem sempre que lhes apetecia, como se estivessem na casa deles e não na nossa. E sempre sem tirar o chapéu. A RTP é ignorante e mal educada.
O abuso do circunflexo até pode ser, à nascença, um erro de caracacá, mas é exactamente o poder da televisão que o hiperboliza, conferindo-lhe a dimensão de uma asneira colossal. E logo na RTP, o primeiro canal do País, a televisão (ainda) do Estado que já teve a Telescola e (ainda) mantém obrigações de serviço público. A televisão que exibe um programa sobre o uso e abuso do português, "Cuidado com a Língua!", apresentado pelo encenador e actor Diogo Infante. A RTP que custa aos bolsos dos contribuintes mais de 300 milhões de euros por ano, mas que não tem dinheiro para contratar alguém com a quarta classe completa para lhe pôr os rodapés em ordem.
Estão a ver porque é grave o pentelho do circunflexo? É que, ainda por cima, este erro ultrapassa os limites da gralha, do lapso involuntário. O acento foi lá posto de propósito, conscientemente, porque sim. Outra coisa bem diferente é trazer para os rodapés os perigosos "exames de abelhas", como fez há dois ou três dias creio que outra televisão. A calinada é evidente, mas neste caso fica sempre a dúvida: é mesmo ignorância ou foi falha na teclagem?
Uma coisa é certa: esta gente não devia ter passado no enxame...
O abuso do circunflexo até pode ser, à nascença, um erro de caracacá, mas é exactamente o poder da televisão que o hiperboliza, conferindo-lhe a dimensão de uma asneira colossal. E logo na RTP, o primeiro canal do País, a televisão (ainda) do Estado que já teve a Telescola e (ainda) mantém obrigações de serviço público. A televisão que exibe um programa sobre o uso e abuso do português, "Cuidado com a Língua!", apresentado pelo encenador e actor Diogo Infante. A RTP que custa aos bolsos dos contribuintes mais de 300 milhões de euros por ano, mas que não tem dinheiro para contratar alguém com a quarta classe completa para lhe pôr os rodapés em ordem.
Estão a ver porque é grave o pentelho do circunflexo? É que, ainda por cima, este erro ultrapassa os limites da gralha, do lapso involuntário. O acento foi lá posto de propósito, conscientemente, porque sim. Outra coisa bem diferente é trazer para os rodapés os perigosos "exames de abelhas", como fez há dois ou três dias creio que outra televisão. A calinada é evidente, mas neste caso fica sempre a dúvida: é mesmo ignorância ou foi falha na teclagem?
Uma coisa é certa: esta gente não devia ter passado no enxame...
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quinta-feira, 25 de agosto de 2011
terça-feira, 23 de agosto de 2011
De volta ao football
As primeiras cadeiras que apareceram no nosso futebol foram os então chamados lugares cativos. Um luxo para uns poucos, normalmente circunscrito a uma zona reduzida da bancada central e que garantia ao associado aderente o domínio soberano sobre cerca de 40 centímetros de estádio. Aquele espaço era dele, estava numerado e devidamente identificado, era intransmissível e motivo de muita discussão e alguns cachaços por causa das ocupações selvagens.
A cadeira de plástico era paga por cada um por cima da quota normal de sócio de bancada e por isso, por uma questão de poupança, ninguém se atrevia a arrancá-la para a atirar à cabeça do árbitro. Bons tempos!
Mas os portuguesíssimos lugares cativos, assim chamados, acabaram. Agora há o Dragon Seat, o Red Pass e a Gamebox. Quê? Eu repito: o Dragon Seat, o Red Pass e a Gamebox. E isto é o quê? Manobra de marketing? Enfim a modernidade? Não, nada disso! São os nossos três grandes - FC Porto, Benfica e Sporting - a andarem às arrecuas. Até parece que tornámos ao tempo do offside...
A cadeira de plástico era paga por cada um por cima da quota normal de sócio de bancada e por isso, por uma questão de poupança, ninguém se atrevia a arrancá-la para a atirar à cabeça do árbitro. Bons tempos!
Mas os portuguesíssimos lugares cativos, assim chamados, acabaram. Agora há o Dragon Seat, o Red Pass e a Gamebox. Quê? Eu repito: o Dragon Seat, o Red Pass e a Gamebox. E isto é o quê? Manobra de marketing? Enfim a modernidade? Não, nada disso! São os nossos três grandes - FC Porto, Benfica e Sporting - a andarem às arrecuas. Até parece que tornámos ao tempo do offside...
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
A problemática da sinalética
Não sei em que ponto exacto da moderna história do desporto e do jornalismo nacionais o sinal foi substituído pela sinalética. Mas sei que, como todas as asneiras, a sinalética pegou de estaca e hoje em dia até parece mal dizer outra coisa. Agora, segundo os nossos doutos comentadores e relatadores desportivos, os árbitros e os jogadores de futebol, por exemplo, já não fazem sinais uns aos outros ou uns para os outros - fazem ou dão sinalética.
Ouvi ontem na Antena 1: "Rui Patrício levanta os dois braços, dando sinalética aos seus companheiros". Dando sinalética? A rádio é para imaginar, e portanto eu imaginei o jovem guarda-redes do Sporting a desembrulhar-se com brilhantismo no uso da complexa mas bonita linguagem gestual, fazendo manguitos atrás de manguitos até ser compreendido pelo colegas.
E mais à frente ouvi: "O árbitro auxiliar a ter que dar sinalética". E veio-me à cabeça a imagem de um homenzinho em calções, munido não com uma mas com duas bandeirinhas, uma em cada mão, a fazer sinais ao navio-almirante, anunciando a iminente invasão das Berlengas.
Já que não há quem os ensine ou corrija, recomenda-se aos nossos comentadores e relatadores desportivos uma visita, ainda que breve, a um dicionário. Qualquer um, por mais modesto que seja, lhes demonstrará que um sinal continua a ser um sinal: uma indicação, um aviso, um meio de transmitir, à distância mas à vista, ordens ou avisos. E que a sinalética, quando muito e neste contexto, é um conjunto de sinais, o uso de sinais.
Daqui para a frente, e para nunca mais asnearem, peço aos nossos queridos comentadores e relatadores desportivos que se lembrem sempre da Lena d'Água, a cantora filha do mítico José Águas e irmã do famoso Rui Águas, figuras grandes do Benfica. Lembrem-se das primeiros versos da cantiga e vejam lá se isto tem algum jeito: "Sempre que o amor me quiser, basta fazer-me uma sinalética".
Estão a ver? Tem algum jeito? Até parece outra coisa...
Ouvi ontem na Antena 1: "Rui Patrício levanta os dois braços, dando sinalética aos seus companheiros". Dando sinalética? A rádio é para imaginar, e portanto eu imaginei o jovem guarda-redes do Sporting a desembrulhar-se com brilhantismo no uso da complexa mas bonita linguagem gestual, fazendo manguitos atrás de manguitos até ser compreendido pelo colegas.
E mais à frente ouvi: "O árbitro auxiliar a ter que dar sinalética". E veio-me à cabeça a imagem de um homenzinho em calções, munido não com uma mas com duas bandeirinhas, uma em cada mão, a fazer sinais ao navio-almirante, anunciando a iminente invasão das Berlengas.
Já que não há quem os ensine ou corrija, recomenda-se aos nossos comentadores e relatadores desportivos uma visita, ainda que breve, a um dicionário. Qualquer um, por mais modesto que seja, lhes demonstrará que um sinal continua a ser um sinal: uma indicação, um aviso, um meio de transmitir, à distância mas à vista, ordens ou avisos. E que a sinalética, quando muito e neste contexto, é um conjunto de sinais, o uso de sinais.
Daqui para a frente, e para nunca mais asnearem, peço aos nossos queridos comentadores e relatadores desportivos que se lembrem sempre da Lena d'Água, a cantora filha do mítico José Águas e irmã do famoso Rui Águas, figuras grandes do Benfica. Lembrem-se das primeiros versos da cantiga e vejam lá se isto tem algum jeito: "Sempre que o amor me quiser, basta fazer-me uma sinalética".
Estão a ver? Tem algum jeito? Até parece outra coisa...
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sábado, 20 de agosto de 2011
Vai lamber sabão!
Havia o sabão azul, o sabão rosa e o sabão amarelo. O sabão azul era o sabão macaco, para lavar roupa, o sabão rosa já naquele tempo era para peças mais delicadas e o sabão amarelo era para lavar as escadas e os soalhos, que, em muitas casas, depois eram encerados. E havia o sabão para lamber, que eu nunca soube de que cor era nem que sabor tinha, mas era o que a minha mãe me mandava fazer, "Vai lamber sabão!", quando eu andava à roda dela a arengar conversa sem assunto.
Aproveitando as férias do primeiro-ministro que disse que não ia de férias por causa do "trabalho colossal" que tem em cima da mesa, os ministros do Governo PSD/CDS têm-se fartado de dar água sem caneco, com dois deles, especialmente, a demonstrarem um enorme sentido de vacuidade.
Álvaro Santos Pereira, o Álvaro da Economia, deu o mote na sexta-feira, prometendo "reformas estruturais históricas" para o País. Assunção Cristas, do Ministério da Agricultura e etc., não lhe ficou atrás, ao revelar ontem que está "totalmente empenhada em aumentar a produção de cereais". E por aí se quedaram um e outra, sem explicarem aos portugueses do que é que estavam realmente a falar e o que é que vão realmente fazer, quando, como, onde e porquê. É a atracção fatal pelo sound bite. Largaram o bitaite e pronto, quem quiser que se deite a adivinhar. Vê-se logo que eles não sabem do que falam. Não resistiram aos microfones, falaram por falar, com uma profundidade e um conhecimento dignos de um professor Hernâni Gonçalves ou de uma Luciana Abreu.
E se o Álvaro e a Cristas fossem mas é lamber sabão?
Aproveitando as férias do primeiro-ministro que disse que não ia de férias por causa do "trabalho colossal" que tem em cima da mesa, os ministros do Governo PSD/CDS têm-se fartado de dar água sem caneco, com dois deles, especialmente, a demonstrarem um enorme sentido de vacuidade.
Álvaro Santos Pereira, o Álvaro da Economia, deu o mote na sexta-feira, prometendo "reformas estruturais históricas" para o País. Assunção Cristas, do Ministério da Agricultura e etc., não lhe ficou atrás, ao revelar ontem que está "totalmente empenhada em aumentar a produção de cereais". E por aí se quedaram um e outra, sem explicarem aos portugueses do que é que estavam realmente a falar e o que é que vão realmente fazer, quando, como, onde e porquê. É a atracção fatal pelo sound bite. Largaram o bitaite e pronto, quem quiser que se deite a adivinhar. Vê-se logo que eles não sabem do que falam. Não resistiram aos microfones, falaram por falar, com uma profundidade e um conhecimento dignos de um professor Hernâni Gonçalves ou de uma Luciana Abreu.
E se o Álvaro e a Cristas fossem mas é lamber sabão?
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sexta-feira, 19 de agosto de 2011
A problemática do penálti
O ministro Miguel Relvas convidou Jorge Jesus, treinador do Benfica, para comentador dos penáltis dos outros na RTP. Convidou também o treinador do FC Porto, Vítor Pereira, para comentador dos comentários de Jorge Jesus.
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Adoro, adoro, adoro!
Adoro ver na televisão o trabalho dos jovens chefs da nouvelle cuisine portuguesa. Adoro!
Adoro ver aquele modo de confecção improvável, os ingredientes inovadores, variados e mínimos, o requinte e a cerimónia, a delicadeza, a anorexia na dose, a obra de arte final, aquela espécie de ilha cubista no meio do prato em branco, adornada com bagas, com ervas inventadas, com salpicos e rabiscos de geleias coloridas. Salpicos e rabiscos aparentemente displicentes porém profundamente sábios. Adoro!
Adoro ouvir aquelas palavrinhas francesas, parecem palavras mágicas, nominhos de perlimpimpim. Adoro!
E a frescura?, ui, sobretudo muita frescura! Adoro!
Mal termina o programa, e enquanto ainda está fresco, salto para a cozinha, atiro-me à galinha de arroba que a minha mãe me mandou e faço a boa e ancestral arrozada de cabidela. A cabidela monumental e histórica. E vai para a mesa no panelão, fumegante como uma velha locomotiva a vapor. Ah!, então é que eu me regalo...
Adoro ver aquele modo de confecção improvável, os ingredientes inovadores, variados e mínimos, o requinte e a cerimónia, a delicadeza, a anorexia na dose, a obra de arte final, aquela espécie de ilha cubista no meio do prato em branco, adornada com bagas, com ervas inventadas, com salpicos e rabiscos de geleias coloridas. Salpicos e rabiscos aparentemente displicentes porém profundamente sábios. Adoro!
Adoro ouvir aquelas palavrinhas francesas, parecem palavras mágicas, nominhos de perlimpimpim. Adoro!
E a frescura?, ui, sobretudo muita frescura! Adoro!
Mal termina o programa, e enquanto ainda está fresco, salto para a cozinha, atiro-me à galinha de arroba que a minha mãe me mandou e faço a boa e ancestral arrozada de cabidela. A cabidela monumental e histórica. E vai para a mesa no panelão, fumegante como uma velha locomotiva a vapor. Ah!, então é que eu me regalo...
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Mourinho
O treinador do Real Madrid, José Mourinho, pedagógico como sempre, puxou a(s) orelha(s) a um dos treinadores adjuntos do Barcelona. Literalmente. Estou mortinho por ouvir e ler a catrefada de justificações, explicações e atenuantes que há-de rebentar por aí. Não do próprio Mourinho, porque esse caga de alto e não terá problema nenhum em assumir a garotice, mas dos lambe-botas do costume.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
É Coura, estúpidos!
Recapitulando: o rio que passa em Paredes de Coura chama-se rio Coura. É o mesmo rio que, mais abaixo, passa em Vilar de Mouros e continua a chamar-se rio Coura.
O Coura nasce na serra da Boalhosa, na lagoa da Chã de Lamas e na serra de Corno de Bico, fazendo um percurso de cerca de 50 quilómetros até desaguar na margem esquerda do rio Minho. Banha os concelhos de Paredes de Coura, Vila Nova de Cerveira e Caminha. Passa pelas freguesias de Formariz, Paredes de Coura, Rubiães, São Martinho de Coura, Covas, Vilar de Mouros, Venade, Vilarelho, Seixas e Caminha. Percebido? Ora vamos lá repetir, todos e em voz alta...
Bombas
Escândalo! Bancos ingleses investem milhões em bombas proibidas. Se ao menos fossem bombas legais...
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Denuncie aqui
Foto Hernâni Von Doellinger |
São painéis publicitários devolutos e ladeiam a A28. Painéis grandes, espaçosos, cada um deles dava bem para albergar uma família de casal e três filhos se fosse proibido espirrar. Os painéis dizem, em letras garrafais, ANUNCIE AQUI. Mas eu leio sempre DENUNCIE AQUI.
É a mania que tenho de deixar ir a minha imaginação por onde lhe apetecer. Um interessante jogo a que me entrego sem perigos de maior, uma vez que o volante não está nas minhas mãos: não tenho carta, não sei conduzir, portanto não conduzo, mesmo sabendo que, para a maioria dos automobilistas, uma coisa não implica necessariamente a outra.
Mas onde é que eu ia? Ah!, nos painéis, os enormes painéis publicitários e vagos que eu imagino mandados colocar pelo Governo dando-nos a ordem expressa de que nos transformemos numa sociedade de delatores. DENUNCIE AQUI! E imagino o trânsito parado na A28, com quilómetros e quilómetros de filas de gente a guardar vez para chegar ao painel mais próximo e poder enfim oficializar a sua denúncia. A denúncia há muito trazida atravessada na garganta.
E imagino as denúncias e os denunciados. Imagino a denúncia escrita contra o vizinho de cima que arrasta móveis de noite, contra o preço de uma garrafa de vinho, contra o desgraçado que recebe subsídio de desemprego e ainda tem que fazer uns biscates para poder dar de comer aos filhos, contra o marido que bate na mulher, contra a mulher que bate no marido, contra o filho que bate no pai e na mãe que batem um no outro, contra o beijo do casal homossexual, contra os beijos, contra os que estão contra os beijos, contra os espanhóis que passam pelas portagens e não pagam, contra os governantes que fecham os olhos, contra os espanhóis que nos cobram portagens, contra a velhota sem reforma que roubou duas maçãs no supermercado, contra os pretos, contra os brancos, contra o trabalhador que já não aguentava a perseguição de que era vítima no emprego e meteu uma falsa baixa antes que endoudasse de vez, contra a Galp que só faz de conta que baixa o preço da gasolina, contra o árbitro do jogo do Sporting, contra os que estão contra o árbitro do jogo do Sporting, contra a merda do acordo ortográfico, contra a fome e a guerra no mundo (foi uma misse), contra o roubo no IVA da electricidade, contra o colega de trabalho que é do PS, contra o colega de trabalho que é do PSD, contra os partidos, contra os inteiros, contra os canhões...
Imagino que o que o Governo quer é pôr-se a salvo dos rancores, dos ódios, dos desencantos, da frustração, da inveja, da mesquinhez, da intolerância, da desesperança, da impaciência, da ira e da revolta dos portugueses, fornecendo papel e lápis e canalizando para o muro das lamentações da A28 este extremar dos sentimentos populares, inevitavelmente exacerbados em tempos de costas ao alto e bolsos vazios.
E imagino o Governo, pela calada da noite, a aparecer em biquinhos de pés por detrás dos painéis, a lançar a escada e a retirar, sem ler, a enorme folha completamente preenchida de denúncias, a rasgá-la em tirinhas, a queimá-la num instante e a colocar uma nova folha para o dia seguinte.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
domingo, 14 de agosto de 2011
O adiantado mental no país do atraso de vida
Boucherie diz e repete que não tem culpa nem se esforça, mas é bom em tudo o que faz e tudo o que faz é bem feito. E revela até, benzendo-se três vezes com água-benta, que está muito feliz por continuar a ser bom - uma vez que não consegue ser de outra maneira -, "mas cada vez pior", nas suas sábias e exactas palavras.
E "cada vez pior" porquê? Porque (explica Boucherie, fazendo o desenho, para que nós cá em baixo percebamos) lhe basta investir 40 a 50 por cento de si próprio para, mesmo assim, estar muito acima de todos os que o rodeiam. Num país "que se nivela por baixo", como assertivamente faz notar, os seus 70 por cento seriam para rebentar com a escala. Portugal não aguentaria. É a tal história do zarolho em terra de cegos...
Mal cheguei a casa, fui logo à procura deste genial Boucherie. Procurei a vacina que ele inventou, e nada. Procurei a cura que ele descobriu, e nada. Procurei a obra de arte que o imortalizou, e nada. Procurei a colónia de leprosos que fundou, e nada. Procurei o cometa que baptizou, e nada. Procurei o tal golo de calcanhar na final do Mundial, e nada. Procurei a sua doutrina económica, e nada. Procurei o seu pensamento filosófico, e nada. Procurei o seu pensamento, e nada. Procurei o Nobel, procurei o Pulitzer, procurei o Óscar, procurei o Acúrsio, e nada, nada, nada, nada. Nada.
O que encontrei foi isto: que Pedro Boucherie Mendes nasceu em 1970 e é o actual director coordenador de conteúdos dos canais temáticos SIC e director-geral da SIC Radical; que foi director da revista FHM, subdirector da revista Maxmen e editor no jornal O Independente; que criticou música e passou pela rádio, participando agora semanalmente no programa "Pedro e Inês", da Antena 3 (cá está); que participou no programa "Prazeres dos Diabos", da SIC; que foi jurado do programa "Ídolos", da SIC, e que terá ficado conhecido pela ironia e pelo sarcasmo dos seus comentários e pela forma como se dirigia aos concorrentes; e que escreveu um livro.
E, perante isto, lembrei-me do mais famoso calceteiro do País. Um português também muito acima e com um currículo mediático-artístico-literário a pedir meças ao de Boucherie, se descontarmos a insignificância dos cargos de direcção. Exactamente: lembrei-me do bom Tino de Rans.
sábado, 13 de agosto de 2011
Graças a Deus!
Nem me passa pela cabeça do que é que o DN estava à espera que acontecesse em Fátima, mas, fosse o que fosse, foi praticamente um milagre não ter acontecido.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Os dias inúteis
Embirro solenemente com a terminologia manga-de-alpaca dos "dias úteis" e das "horas de expediente". A que propósito é que os nanocrânios da burocracia terreiro-paçal determinaram e mandaram publicar que os meus sábados, os meus domingos, os meus feriados e dias santos, as minhas férias, se as tivesse, ou as férias deles são dias, por assim dizer, imprestáveis para a Nação? Quem lhes deu semelhante poder?
Eu, que tenho a mania de ser antes pelo contrário, desobedeço-lhes com quanta força consigo e gozo como um perdido nos fins-de-semana e correlativos. São os meus dias mais úteis.
Depois, chateiam-me as "horas de expediente", expressão tão prestável ao duplo sentido e que sempre me deixou com a pulga atrás da orelha. A minha dúvida é apenas esta, segredada pela pulga: será que, das 9 às 17, nas Finanças, nas autarquias ou nos ministérios, o papel do funcionalismo passa por lançar mão de todos os truques e armadilhas possíveis e inimagináveis para nos infernizar a vida e sacar-nos tudo, até o cotão dos bolsos, a mando do Estado? Então mais vale ir lá bater à porta depois do fecho dos serviços. Pode ser que, sem a obrigação do expediente, sejamos enfim atendidos com honradez.
Acredito que não estou sozinho nesta minha embirração. E por isso hoje apelo a que todos me sigam na desobediência. Apelo à revolta. Não vamos sair à rua para partir montras e pilhar iPods ou atirar pedras às cabeças dos polícias, mas combinamos o seguinte: peguemos nestes três dias que temos pela frente a façamo-nos felizes como se o fim do mundo fosse terça-feira. Façamo-nos felizes, antes que a felicidade pague imposto.
Eu, que tenho a mania de ser antes pelo contrário, desobedeço-lhes com quanta força consigo e gozo como um perdido nos fins-de-semana e correlativos. São os meus dias mais úteis.
Depois, chateiam-me as "horas de expediente", expressão tão prestável ao duplo sentido e que sempre me deixou com a pulga atrás da orelha. A minha dúvida é apenas esta, segredada pela pulga: será que, das 9 às 17, nas Finanças, nas autarquias ou nos ministérios, o papel do funcionalismo passa por lançar mão de todos os truques e armadilhas possíveis e inimagináveis para nos infernizar a vida e sacar-nos tudo, até o cotão dos bolsos, a mando do Estado? Então mais vale ir lá bater à porta depois do fecho dos serviços. Pode ser que, sem a obrigação do expediente, sejamos enfim atendidos com honradez.
Acredito que não estou sozinho nesta minha embirração. E por isso hoje apelo a que todos me sigam na desobediência. Apelo à revolta. Não vamos sair à rua para partir montras e pilhar iPods ou atirar pedras às cabeças dos polícias, mas combinamos o seguinte: peguemos nestes três dias que temos pela frente a façamo-nos felizes como se o fim do mundo fosse terça-feira. Façamo-nos felizes, antes que a felicidade pague imposto.
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quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Eles gostam de sofrer
Espreito da minha varanda e não compreendo o que vejo. O que estão a fazer ali aqueles milhares de pessoas quase nuas? Foram obrigadas? É um castigo? Vieram de livre vontade? E porque trouxeram as crianças e os velhos? Palavra de honra, não percebo. Se ao menos houvesse a sombra de uma árvore, a frescura da erva verde, um regato cristalino e gelado onde demolhar os pés e meia dúzia de garrafas, ainda vá que não vá. Mas não, é só areia, areia e mais areia, areia de mais para a minha camioneta.
Areia a escaldar e a voar, um sol a pique e impiedoso, o ar parado, pesado.
Sua-se em bica, sufoca-se, leva-se com boladas no nariz e nos tomates, a pele derrete e dói, a cabeça estala, a areia cega, pica, mete-se nos dentes, incomoda o rego do cu. E aquela gente parece que gosta, guincha de prazer. Gente esquisita. O que a praia lhes faz... Desisto, não entendo, mas talvez Sacher-Masoch explique.
(Se estas minhas palavras tiverem algum eco, não é de admirar: estou a escrever de dentro do frigorífico.)
Areia a escaldar e a voar, um sol a pique e impiedoso, o ar parado, pesado.
Sua-se em bica, sufoca-se, leva-se com boladas no nariz e nos tomates, a pele derrete e dói, a cabeça estala, a areia cega, pica, mete-se nos dentes, incomoda o rego do cu. E aquela gente parece que gosta, guincha de prazer. Gente esquisita. O que a praia lhes faz... Desisto, não entendo, mas talvez Sacher-Masoch explique.
(Se estas minhas palavras tiverem algum eco, não é de admirar: estou a escrever de dentro do frigorífico.)
Vida difícil
Godinho Lopes, presidente do Sporting. Primeiro fez a "limpeza de balneário", agora diz que "começar do zero não é fácil".
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Brandos costumes
Os ingleses procuram mais do que nunca o Algarve como destino turístico. Apesar da onda de assaltos, agressões, burlas, violações, raptos ou misteriosos desaparecimentos de que são vítimas, apesar do Zezé Camarinha, ou exactamente por causa dele, os simpáticos descorados da Velha Albion continuam a dar o cu e oito pennies por uma boa temporada estendidos ao sol deste país de mansas indignações.
Porque isto aqui ainda é um céu, dizem eles, que sabem o que dizem e até falam inglês desde pequeninos. Aqui, o crime ainda é cometido por criminosos, com todo o profissionalismo e por ordem de retirada de senha. Chega para todos, mas só um de cada vez. O crime ainda não é o grito de revolta popular nesta terra de come e cala. E isto, parecendo que não, faz toda a diferença nos tempos que correm.
Porque isto aqui ainda é um céu, dizem eles, que sabem o que dizem e até falam inglês desde pequeninos. Aqui, o crime ainda é cometido por criminosos, com todo o profissionalismo e por ordem de retirada de senha. Chega para todos, mas só um de cada vez. O crime ainda não é o grito de revolta popular nesta terra de come e cala. E isto, parecendo que não, faz toda a diferença nos tempos que correm.
terça-feira, 9 de agosto de 2011
Joana viu a luz. E apagou-a.
Joana Barata Lopes, a deputada, tinha um sonho, mas andava a dormir muito mal. O seu sonho era brilhar, botar figura e, sobretudo, merecer a graça de uma revelação divina que lhe ensinasse num piscar de olhos como chegar lá. Porque ela era manifesta e conscientemente ignorante. Até parecia castigo de Deus Nosso Senhor, mas a verdade é que exactamente desde que lhe arranjaram o emprego no Parlamento que a jovem ex-frequentadora da licenciatura em Direito o melhor que conseguia, à noite, era ter pesadelos. Muitos. Tantos, que uma vez, já que estava acordada e estava, resolveu contá-los a ver se adormecia: e foram 112!
A nova estrela parlamentar do PSD nem assim adormeceu, mas aproveitou para ver ali um sinal. E na manhã seguinte, na Assembleia da República, correu a pegar no telefone e a fazer a cagada que se sabe, com os resultados que se viram, o que quase a levou a apostatar. Ao que consta, Joana só não apostatou porque não conhecia a palavra.
E voltou aos pesadelos, aqueles de bate e foge, como decerto todos já experimentámos no incómodo de um estado febril. E era assim que Joana Barata Lopes estava, parecia uma doença. Vinha-lhe à cabeça a palavra "metro", que depois explodia em mil pedaços para se transformar na palavra "litro", que repentinamente se evaporava do cansado pensamento, dando lugar à palavra "quilo". E voltava tudo ao princípio. E uma voz, parecia uma voz, a martelar-lhe no interior do cérebro, parecia um cérebro: - E um metro tem mesmo cem centímetros? E um litro tem sempre dois quartilhos? E um quilo só vem em pacote? Tens a certeza, Joana? Já tiraste isso a limpo? Mostra a esses gajos...
Agora, sim, era mesmo Deus a falar, não havia dúvidas. O quê?, aquilo dos "gajos"? Acham que Deus nunca usaria a palavra "gajos" ? É Deus em aggiornamento, podem crer. Joana via finalmente a luz. Apagou-a, aconchegou-se à almofada e adormeceu como uma anja.
Na manhã seguinte, na Assembleia, a deputada do 112 criou, sozinha, a comissão parlamentar de pesos e medidas e nomeou-se a si própria aferidora-mor da República Portuguesa. E pôs os pés a caminho por esse Portugal profundo adentro, porque, infelizmente, como ela costuma dizer, se queremos uma coisa bem feita, temos que ser nós a fazê-la.
Se um destes dias virem por aí, numa loja de fazendas de Cabeceiras de Basto ou de São Brás de Alportel, uma jovem toda contente a contar os centímetros ao metro, não há nada que enganar, podem pedir-lhe um autógrafo. É mesmo ela: a nossa Joana Barata Lopes.
A nova estrela parlamentar do PSD nem assim adormeceu, mas aproveitou para ver ali um sinal. E na manhã seguinte, na Assembleia da República, correu a pegar no telefone e a fazer a cagada que se sabe, com os resultados que se viram, o que quase a levou a apostatar. Ao que consta, Joana só não apostatou porque não conhecia a palavra.
E voltou aos pesadelos, aqueles de bate e foge, como decerto todos já experimentámos no incómodo de um estado febril. E era assim que Joana Barata Lopes estava, parecia uma doença. Vinha-lhe à cabeça a palavra "metro", que depois explodia em mil pedaços para se transformar na palavra "litro", que repentinamente se evaporava do cansado pensamento, dando lugar à palavra "quilo". E voltava tudo ao princípio. E uma voz, parecia uma voz, a martelar-lhe no interior do cérebro, parecia um cérebro: - E um metro tem mesmo cem centímetros? E um litro tem sempre dois quartilhos? E um quilo só vem em pacote? Tens a certeza, Joana? Já tiraste isso a limpo? Mostra a esses gajos...
Agora, sim, era mesmo Deus a falar, não havia dúvidas. O quê?, aquilo dos "gajos"? Acham que Deus nunca usaria a palavra "gajos" ? É Deus em aggiornamento, podem crer. Joana via finalmente a luz. Apagou-a, aconchegou-se à almofada e adormeceu como uma anja.
Na manhã seguinte, na Assembleia, a deputada do 112 criou, sozinha, a comissão parlamentar de pesos e medidas e nomeou-se a si própria aferidora-mor da República Portuguesa. E pôs os pés a caminho por esse Portugal profundo adentro, porque, infelizmente, como ela costuma dizer, se queremos uma coisa bem feita, temos que ser nós a fazê-la.
Se um destes dias virem por aí, numa loja de fazendas de Cabeceiras de Basto ou de São Brás de Alportel, uma jovem toda contente a contar os centímetros ao metro, não há nada que enganar, podem pedir-lhe um autógrafo. É mesmo ela: a nossa Joana Barata Lopes.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Pornográfico
O jogador de futebol Oscar Cardozo, que até tem cara de bom rapaz, quer ir trabalhar para a Turquia, porque os pornográficos 90 mil euros mensais que o Benfica lhe paga não chegam para a sopinha. "A minha idade está a avançar [o internacional paraguaio tem 28 anos] e aqui não estou a ganhar dinheiro", declarou o inesperado sem-abrigo a um jornal turco, a troco de umas moedinhas para meia de leite e um cruassã.
Cardozo tem todo o direito a desejar ir jogar para onde lhe der na real gana, quero lá saber!, já me incomoda é que ele goze com mais de metade dos assalariados portugueses, que trabalham que se desunham para receberem ao fim do mês o salário mínimo nacional: 485 euros.
Assim de repente, Cardozo recebe num mês mais de quinze anos de salários do trabalhador tipo português. E diz que aqui não está a ganhar dinheiro. Pois não. Está a ganhar uma indecência!
Cardozo não é o primeiro nem o único. Fernando, no FC Porto, e Yannick Djaló, do Sporting, são outros que tais, e há muitos mais antes deles. Pois que procurem uma vida melhor, mas que tenham tento na língua. Fazer pouco de quem é pobre é uma coisa muito feia.
O Benfica saiu entretanto com o inevitável comunicado, em nome de Cardozo, que está no estrangeiro (é sempre assim), negando que o jogador tenha feito semelhantes afirmações. Como se nós não soubéssemos como isto funciona...
Cardozo tem todo o direito a desejar ir jogar para onde lhe der na real gana, quero lá saber!, já me incomoda é que ele goze com mais de metade dos assalariados portugueses, que trabalham que se desunham para receberem ao fim do mês o salário mínimo nacional: 485 euros.
Assim de repente, Cardozo recebe num mês mais de quinze anos de salários do trabalhador tipo português. E diz que aqui não está a ganhar dinheiro. Pois não. Está a ganhar uma indecência!
Cardozo não é o primeiro nem o único. Fernando, no FC Porto, e Yannick Djaló, do Sporting, são outros que tais, e há muitos mais antes deles. Pois que procurem uma vida melhor, mas que tenham tento na língua. Fazer pouco de quem é pobre é uma coisa muito feia.
O Benfica saiu entretanto com o inevitável comunicado, em nome de Cardozo, que está no estrangeiro (é sempre assim), negando que o jogador tenha feito semelhantes afirmações. Como se nós não soubéssemos como isto funciona...
domingo, 7 de agosto de 2011
PSD biscateiro
Nelo Barros
Tive a sorte de conhecer Nelo Barros. Manuel Coelho de Barros (1917-2007) foi um grande treinador de futebol e um mestre de treinadores de futebol que nunca fez primeiras páginas de jornais porque sempre se recusou a deixar o emprego no escritório da que era então a maior fábrica de Fafe e uma das maiores do País. Equipas da 1.ª divisão chamavam por ele, ano após ano, pediam-lhe disponibilidade total, trabalho a tempo inteiro, mas ele nunca quis ir por aí. O Nelinho era assim.
Pessoa excelentíssima, homem elegante, distinto, culto, carismático, Nelo Barros era reconhecidamente um catedrático da táctica, sabia muito de bola e dava gosto ouvi-lo falar de futebol. Ele entusiasmava-se e entusiasmava. O futebol de Nelo Barros tinha pessoas e histórias dentro. O futebol contado por Nelo Barros era simples, percebia-se à primeira, batia certo, era lindo!
Uma noite, no velho salão dos Bombeiros (Rua José Cardoso Vieira de Castro, entre os dois palacetes), o treinador encantou uma plateia à pinha que o foi ouvir falar de desporto e de futebol, de jogadores e de jogos, de treinadores e de tácticas, como nunca se tinha ouvido falar por aquelas bandas. O Nelinho falou como de costume, sem tabus, sem grandes teorias, sem peneiras. Até eu, que era um rapazola, entendi tudo. E fiquei a gostar ainda mais de futebol.
Perguntaram-lhe o que é que era preciso para se ser um bom treinador. Nelo Barros, provavelmente um dos melhores treinadores portugueses de todos os tempos, respondeu assim simplesmente, que esta cá me ficou: "Não há bons treinadores. Os bons jogadores é que fazem os bons treinadores". E depois desenvolveu, desmontou a aparente contradição, mas nem era preciso.
Eu gostava tanto de ouvir Nelo Barros, que ia assistir a todos os treinos, que eram sempre ao fim da tarde, por causa do tal emprego do treinador na fábrica. Uma vez, o jogo em preparação era contra o Riopele. E digo contra de propósito, porque aquele era um tempo de rivalidades à moda antiga, dentro e fora do campo, acabando quase sempre tudo à trolha.
Mas, voltando ao treino, o Nelinho reuniu os jogadores à sua volta e deu a táctica. E eu por perto, de radar ligado. Fiquei deslumbrado: eram indicações precisas para cada um dos jogadores, para o funcionamento da defesa, para o desempenho do meio-campo, para o trabalho dos avançados, para as movimentações da equipa como um todo, até o Berto Magalhães (um suplente muito fraquinho, mas generoso e com um pulmão se faz favor) ia jogar como médio vadio para secar os criativos riopelenses. Tudo encaixava, tudo fazia sentido. E tudo dito com uma convicção, que no domingo só podia dar certo.
Mas não deu. Do outro lado estava uma equipa poderosíssima (se a memória não me atraiçoa, no Riopele jogariam, por essa altura, o Piruta, o Vital, o Barros, o Albano, o João, o Luís Pereira), treinada por outro que a sabia toda: Ferreirinha. Saímos de Pousada de Saramago vergados a uma pesada derrota, já não sei por quantos, mas eu não perdi a fé no nosso Nelo Barros. Pelo contrário. Na humilhação da goleada, aprendi a beleza original do futebol, tal como o mestre o ensinava: onze contra onze e uma bola que é redonda. O resto é treta.
Hoje, uma nova raça de colunistas, comentadores, ex-treinadores-comentadores e ex-comentadores-treinadores, todos paineleiros enfim, quer fazer-nos acreditar que o futebol é praticamente uma ciência oculta, só percebida por uns poucos predestinados que, modéstia à parte, são eles próprios. E inventam palavras e expressões para complicar o que é simples. E já não há bola nem futebol. Eles, que sabem inglês, "inventaram" o jogo. O jogo. Pois, pela parte que me cabe, parabéns à prima. Sou um simples já com razoável uso. E tenho é saudades de ouvir o Nelinho a falar de bola. De bola simplesmente.
Pessoa excelentíssima, homem elegante, distinto, culto, carismático, Nelo Barros era reconhecidamente um catedrático da táctica, sabia muito de bola e dava gosto ouvi-lo falar de futebol. Ele entusiasmava-se e entusiasmava. O futebol de Nelo Barros tinha pessoas e histórias dentro. O futebol contado por Nelo Barros era simples, percebia-se à primeira, batia certo, era lindo!
Uma noite, no velho salão dos Bombeiros (Rua José Cardoso Vieira de Castro, entre os dois palacetes), o treinador encantou uma plateia à pinha que o foi ouvir falar de desporto e de futebol, de jogadores e de jogos, de treinadores e de tácticas, como nunca se tinha ouvido falar por aquelas bandas. O Nelinho falou como de costume, sem tabus, sem grandes teorias, sem peneiras. Até eu, que era um rapazola, entendi tudo. E fiquei a gostar ainda mais de futebol.
Perguntaram-lhe o que é que era preciso para se ser um bom treinador. Nelo Barros, provavelmente um dos melhores treinadores portugueses de todos os tempos, respondeu assim simplesmente, que esta cá me ficou: "Não há bons treinadores. Os bons jogadores é que fazem os bons treinadores". E depois desenvolveu, desmontou a aparente contradição, mas nem era preciso.
Eu gostava tanto de ouvir Nelo Barros, que ia assistir a todos os treinos, que eram sempre ao fim da tarde, por causa do tal emprego do treinador na fábrica. Uma vez, o jogo em preparação era contra o Riopele. E digo contra de propósito, porque aquele era um tempo de rivalidades à moda antiga, dentro e fora do campo, acabando quase sempre tudo à trolha.
Mas, voltando ao treino, o Nelinho reuniu os jogadores à sua volta e deu a táctica. E eu por perto, de radar ligado. Fiquei deslumbrado: eram indicações precisas para cada um dos jogadores, para o funcionamento da defesa, para o desempenho do meio-campo, para o trabalho dos avançados, para as movimentações da equipa como um todo, até o Berto Magalhães (um suplente muito fraquinho, mas generoso e com um pulmão se faz favor) ia jogar como médio vadio para secar os criativos riopelenses. Tudo encaixava, tudo fazia sentido. E tudo dito com uma convicção, que no domingo só podia dar certo.
Mas não deu. Do outro lado estava uma equipa poderosíssima (se a memória não me atraiçoa, no Riopele jogariam, por essa altura, o Piruta, o Vital, o Barros, o Albano, o João, o Luís Pereira), treinada por outro que a sabia toda: Ferreirinha. Saímos de Pousada de Saramago vergados a uma pesada derrota, já não sei por quantos, mas eu não perdi a fé no nosso Nelo Barros. Pelo contrário. Na humilhação da goleada, aprendi a beleza original do futebol, tal como o mestre o ensinava: onze contra onze e uma bola que é redonda. O resto é treta.
Hoje, uma nova raça de colunistas, comentadores, ex-treinadores-comentadores e ex-comentadores-treinadores, todos paineleiros enfim, quer fazer-nos acreditar que o futebol é praticamente uma ciência oculta, só percebida por uns poucos predestinados que, modéstia à parte, são eles próprios. E inventam palavras e expressões para complicar o que é simples. E já não há bola nem futebol. Eles, que sabem inglês, "inventaram" o jogo. O jogo. Pois, pela parte que me cabe, parabéns à prima. Sou um simples já com razoável uso. E tenho é saudades de ouvir o Nelinho a falar de bola. De bola simplesmente.
sábado, 6 de agosto de 2011
Álvaro, o ministro que só mete super
O Álvaro da Economia afinal é um mãos-largas. Depois de ter metido uma chefe de gabinete a ganhar 5.821,30 euros por mês, porque é uma superchefe para um superministério, agora nomeou dois assessores que vão ter ordenado de director-geral (3.892,53 euros brutos mensais). É claro que são dois superassessores para um superministério.
É de mim, que sou uma pessoa normal, ou isto já começa a meter nojo?
É de mim, que sou uma pessoa normal, ou isto já começa a meter nojo?
PSD erótico
Grupo parlamentar do PSD ligou para uma linha erótica, só para avaliar a qualidade do serviço.
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Ó Menezes, olha o portuguezesssss...
O novel conselheiro de Estado Luís Filipe Menezes tem feito obra que só visto em Vila Nova de Gaia. Eu não vejo, mas ouço. E respeito. Não são de deitar fora, por exemplo, os empregos que Menezes deu às desamparadas pessoas chamadas da cultura ou das letras, que ali estão agora bem aviadas, e isto, nos dias que correm, é realmente obra. É bom, só lhes desejo o melhor. Quem me dera!
Agora, com tanta intelectualidade na Câmara, não haverá lá unzinho que saiba pelo menos um bocadinho de português?
Sem mais delongas, vou contar o que realmente me aflige: um bom amigo chamou-me a atenção para um pequeno texto, digamos promocional, indelevelmente colado no plástico de um quiosque de gelados (creio que da Olá), mas com as chancelas da Câmara Municipal de Gaia, da Gaianima e de mais meia dúzia de entidades de que eu não me lembro o nome, e nem sei o que são, mas que decerto vão dar ao mesmo.
O lamentável texto oficial, com o título "Convento Corpus Christi", que está ali mesmo em frente, diz o seguinte, logo no primeiro parágrafo:
"O Convento remonta ao séc. XIV, mas sofreu profundas alterações e acréscimo no século XVIII, extinto em 1834."
Ora bem: lamento informar os senhores doutores, engenheiros e demais sumidades da Câmara Municipal de Gaia que o século XVIII não foi extinto em 1834. O século XVIII acabou, porque tinha mesmo que acabar, em 1800.
Mas, eu sei, não era isso que estas inteligências queriam dizer. O que eles queriam dizer, se soubessem, era, por exemplo:
O Convento remonta ao séc. XIV, mas sofreu profundas alterações e acréscimo no século XVIII. Foi extinto em 1834.
Ou
O Convento remonta ao séc. XIV, mas sofreu profundas alterações e acréscimo no século XVIII, tendo sido extinto em 1834.
Até era fácil, não era?
Agora, com tanta intelectualidade na Câmara, não haverá lá unzinho que saiba pelo menos um bocadinho de português?
Sem mais delongas, vou contar o que realmente me aflige: um bom amigo chamou-me a atenção para um pequeno texto, digamos promocional, indelevelmente colado no plástico de um quiosque de gelados (creio que da Olá), mas com as chancelas da Câmara Municipal de Gaia, da Gaianima e de mais meia dúzia de entidades de que eu não me lembro o nome, e nem sei o que são, mas que decerto vão dar ao mesmo.
O lamentável texto oficial, com o título "Convento Corpus Christi", que está ali mesmo em frente, diz o seguinte, logo no primeiro parágrafo:
"O Convento remonta ao séc. XIV, mas sofreu profundas alterações e acréscimo no século XVIII, extinto em 1834."
Ora bem: lamento informar os senhores doutores, engenheiros e demais sumidades da Câmara Municipal de Gaia que o século XVIII não foi extinto em 1834. O século XVIII acabou, porque tinha mesmo que acabar, em 1800.
Mas, eu sei, não era isso que estas inteligências queriam dizer. O que eles queriam dizer, se soubessem, era, por exemplo:
O Convento remonta ao séc. XIV, mas sofreu profundas alterações e acréscimo no século XVIII. Foi extinto em 1834.
Ou
O Convento remonta ao séc. XIV, mas sofreu profundas alterações e acréscimo no século XVIII, tendo sido extinto em 1834.
Até era fácil, não era?
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Falcao já foi
Acontece que eu vi. Vi o "Flash Porto" de terça-feira, no Porto Canal, e a cara de frete, de enjoo, com que Radamel Falcao debitou toda a cartilha de lugares-comuns futebolísticos, falando de tudo sem dizer nada. Não lhe apanhei um sorriso, ainda que esforçado, não lhe pressenti ponta de entusiasmo, ainda que falso, não lhe vi a alma. Só vi desconsolo. E ele não era assim. O ponta-de-lança portista do ano passado já cá não está.
A renovação do contrato, e consequente aumento da cláusula de rescisão, foi apenas uma manobra de Pinto da Costa para optimizar o valor da mais que provável venda do excelente avançado colombiano, que quer sair. Aí entenderam-se, mas pode ser que a castanha ainda lhes rebente nas mãos, se não aparecer o tal negócio por que ambos esperam. Fica o FC Porto sem os milhões a que já fazia contas e com um jogador apenas de corpo presente.
Outra manobra, a de ontem, com Pinto da Costa a recomprar 22,5 por cento do passe de João Moutinho, por quatro milhões de euros, quando, há menos de um ano (Outubro de 2010), tinha vendido 37,5 por cento dos direitos económicos do mesmo jogador a um fundo de investimento por... quatro milhões e 125 mil euros.
E não acredito que seja só o FC Porto a pôr a escrita em ordem, por causa das queixinhas que Luís Filipe Vieira vai certamente fazer à CMVM. Não. É Pinto da Costa a preparar o cenário para mais uma saída.
A renovação do contrato, e consequente aumento da cláusula de rescisão, foi apenas uma manobra de Pinto da Costa para optimizar o valor da mais que provável venda do excelente avançado colombiano, que quer sair. Aí entenderam-se, mas pode ser que a castanha ainda lhes rebente nas mãos, se não aparecer o tal negócio por que ambos esperam. Fica o FC Porto sem os milhões a que já fazia contas e com um jogador apenas de corpo presente.
Outra manobra, a de ontem, com Pinto da Costa a recomprar 22,5 por cento do passe de João Moutinho, por quatro milhões de euros, quando, há menos de um ano (Outubro de 2010), tinha vendido 37,5 por cento dos direitos económicos do mesmo jogador a um fundo de investimento por... quatro milhões e 125 mil euros.
E não acredito que seja só o FC Porto a pôr a escrita em ordem, por causa das queixinhas que Luís Filipe Vieira vai certamente fazer à CMVM. Não. É Pinto da Costa a preparar o cenário para mais uma saída.
O PSD está parvo?
O PSD fez hoje, do Parlamento, uma chamada falsa para o 112, o que, por acaso, até pode ser crime. E gabou-se. Muito orgulhosa, a jovem deputada social-democrata Joana Barata Lopes explicou que o objectivo da tropelia era testar a rapidez de resposta do INEM. E revelou, com escândalo, que, da marcação do número ao atendimento, demorou para aí... 14 segundos!
Não há ninguém que tenha mão nestes miúdos?
Não há ninguém que tenha mão nestes miúdos?
E os zeros interessam para alguma coisa?
O Benfica diz agora que afinal recebeu do Saragoça 86 mil euros pela "venda" de Roberto e não os 8,6 milhões que atirara antes cá para fora, com todo o estrondo. Que fique claro, o Benfica não quis enganar ninguém. Foi tudo uma questão de zeros, e os zeros, como a própria palavra indica, não valem nada. Vendo bem o contrato, olhando à lupa as letras pequeninas, até me parece que o azarado guarda-redes foi recambiado para Espanha por apenas 86 euros, a serem pagos ao portador.
Memória
- O senhor doutor (Rebordão Navarro é formado em Direito e chegou a exercer como advogado e delegado do Ministério Público, antes de se entregar de corpo e alma à escrita) ainda mora lá para a Foz?
Mora. Mas já não na Praça de Liège e era aí que eu queria chegar. Com a minha notável capacidade para fazer figura de parvo, eu estava mortinho por demonstrar mais uma vez quão sólido é o cuspo com que argamasso os meus pindéricos alicerces culturais. E disse, todo vaidoso:
- Sabe, eu tenho o livro, tenho "A Praça de Liège". Se soubesse que me ia encontrar com o senhor doutor, até o tinha trazido para levar uns sarrabiscos. Tenho o livro, está lá em casa...
- Ai tem o livro? Mas eu escrevi mais livros, escrevi para aí uns catorze... - cortou-me a vaza Rebordão Navarro, sem disfarçar o sorriso malandro como o arrozinho de feijão e legumes.
A minha primeira reacção foi largar o habitual "Eu sei!" com que tento sair das enrascadas em que me meto, e recitar ali mesmo, de cor e salteado, da trás para a frente e da frente para trás, por ordem alfabética e depois por ordem cronológica, os outros treze títulos do autor que tinha à minha frente de faca em punho, mas a verdade é que... eu só conhecia "A Praça de Liège". Optei, portanto, por tornar pública a minha segunda reacção, que também me saiu uma boa merda e que foi "Pois faço ideia, mas lamentavelmente não tenho acompanhado a carreira do senhor doutor"...
"A Praça de Liège" foi um sucesso tremendo aquando da sua publicação, em 1988. Era o livro da moda (pois se até eu o comprei!) e ganhou o Prémio Literário Círculo de Leitores. Hoje, no Círculo de Leitores não sabem quem é António Rebordão Navarro. Alguém do Círculo contactou a irmã do escritor, a senhora falou do irmão e do prémio e obteve como resposta um lamentável
- Quem? Rebordão quê? Não conheço...
Pois é: a memória! As empresas enxotam quem sabe da poda, despedem os funcionários pelas mãos dos quais passaram os factos e as pessoas, preferem juniores renováveis, fiam-se no Google mas não vão lá. E depois ninguém sabe nada de nada.
Ouvi dizer que está a acontecer o mesmo nas redacções dos jornais e até me contaram algumas anedotas. São de rir tanto que às tantas até são verdade.
No que me toca, e como penitência pela minha ignorância quanto à globalidade da obra literária de António Rebordão Navarro, que afinal é qualquer coisinha mais do que catorze títulos, aqui deixo o registo essencial, com sinceros votos de que faça também bom proveito à rapaziada do Círculo de Leitores:
Poesia
"Longínquas Romãs e Alguns Animais Humildes", 2005
"A Condição Reflexa", 1989
"27 Poemas", 1988
"Aqui e Agora", 1961
Teatro
"Sonho, Paixão, Mistério do Infante D. Henrique", 1995
"O Ser Sepulto", 1972
Crónica
"Estados Gerais", 1991
Ensaio
"Juro Que Sou Suspeito", 2007
Conto
"Dante Exilado em Ravena", 1989
Romance
"As Ruas Presas às Rodas", 2011
"A Cama do Gato", 2010
"Romance com o Teu Nome", 2004
"Todos os Tons da Penumbra", 2000
"Amêndoas, Doces, Venenos", 1998
"A Parábola do Passeio Alegre", 1995
"As Portas do Cerco", 1992
"Mesopotâmia", 1984
"A Praça de Liège", 1988
"O Parque dos Lagartos", 1981
"O Discurso da Desordem", 1972
"Um Infinito Silêncio", 1970
"Romagem a Creta", 1964
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segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Vá à Galiza e não pague
Exactamente ontem, o galego Xóan Vasquez Mão, secretário-geral do Eixo, teve a peregrina ideia de desafiar todos os espanhóis a passarem pelas nossas ex-scuts sem pagar portagens e sem medo de multas, dando a entender que o Governo português lhe prometeu que vai continuar a fechar os olhos a esse tipo de infracções quando praticadas por nuestros hermanos. E foi a partir daí que tudo se precipitou.
Numa corrida contra o tempo, uma intensa campanha publicitária está a ser preparada de ambos os lados da fronteira, para explicar às respectivas populações os exactos contornos desta inovadora operação de permuta. Foram imediatamente lançados dois slogans, embora o objectivo seja um só: para cima do rio Minho a campanha tem por título "Portugal é de rir", de Valença para baixo a campanha denomina-se "A Galiza é de graça".
Cá, os espanhóis têm à borla as auto-estradas que nós pagamos, mas lá, em contrapartida, os portugueses passarão a dispor de um interessante portefólio de fiados sem cobrança que inclui, entre outras notáveis instituições galegas, a Zara, o Corte Inglés, as bombas da Cepsa em Tui (logo a seguir à ponte velha), o Hostal de los Reyes Catolicos, o polbo á feira, o lacón con grelos, a empanada, os pementos de Padrón, o albariño e até missas de sétimo dia na Catedral de Santiago de Compostela.
É vestir, abastecer, dormir, comer, beber, rezar e vazar. Português não paga! É tudo para o tecto, para o calo. E, se houver galegos desinformados que não gostem, que vão receber ao Totta! Ou, então, que façam o favor de passar pelo posto de turismo mais próximo. Está tudo previsto no protocolo.
Mas atenção, portugueses: as portagens nas auto-estradas espanholas são para continuar a pagar. O contrário seria uma ilegalidade. E uma imoralidade.
Os espreitas do Parque
Os espreitas do Parque são uma espécie de tertúlia de alarves que às vezes acomoda também, em amena cavaqueira e descontraída camaradagem, funcionários do próprio Parque, funcionários da empresa de segurança do Parque e até agentes da Polícia Municipal.
Mas as forças da autoridade têm uma desculpa. O miradouro está ali mesmo a pedi-las. É praticamente um forte, uma posição alcantilada de vigilância e defesa. E as forças da autoridade sempre gostaram disto. Desde o tempo dos romanos.
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