domingo, 30 de novembro de 2025

Segurança do computador

Hoje é Dia da Segurança do Computador. O meu, comprei-o há mais de 30 anos, está preso por quatro cabos de aço inoxidável 6x19, um de cada lado, profundamente cravados nas paredes de pedra maciça, e fixado à secretária com 32 parafusos classe 12.9 que me custaram os olhos da cara. Meti-lhe também dois bons calços de madeira, daqueles que estacam camiões, mais um tijolo à frente e outro atrás. De cimento, os tijolos, dentro de robustas almofadas de penas de ganso. Equipei-o com as apps universalmente consideradas essenciais ao fim em vista, isto é, capacete, botas de biqueira de aço, luvas anticorte, óculos de protecção, máscara cirúrgica, corta-unhas e colete reflector. E, pelo sim e pelo não, retirei-lhe a bateria e nunca o liguei à corrente eléctrica. Até à data, não tenho razão de queixa.

P.S. - Hoje é Dia da Segurança do Computador.

Construtores de céus e arredores

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 29 de novembro de 2025

Quem defende os defensores?

Há o Dia Internacional dos Direitos Humanos, a 10 de Dezembro, e há o Dia Internacional dos Defensores dos Direitos Humanos, que é hoje, 29 de Novembro. Eu creio que o que era mesmo preciso era um Dia Internacional dos Defensores dos Defensores dos Direitos Humanos. E ficava o assunto resolvido. Ou, pelo menos, assim sucessivamente...

P.S. - Hoje é Dia Internacional dos Defensores dos Direitos Humanos.

Puxando pela vida

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Deixe estar, que está quentinho

Hoje é Black Friday e é Dia de Não Comprar Nada. Confuso? Como o tolo no meio da ponte e sem saber para onde se virar? Então vá por mim, fique em casa, não saia sequer da cama. Está um frio do caraças e é dinheiro que poupa.

P.S. - Hoje é Black Friday e Dia de Não Comprar Nada.

Adopte um e leve dois

Ouça lá! Porque é que não adopta um elefante? Eles andam aí pelos cantos, coitadinhos, depois de terem sido despedidos do circo derivado ao politicamente correcto, modernidades. São desempregados, pobres, abandonados, sujos, aleijados, excluídos, maltratados, elefantes. E agora ninguém lhes pega, por causa da má publicidade: diz que incomodam muita gente. Homessa, Cavaco Silva também, e, mais, não falta quem ande com ele ao colo! Vá lá, hoje é o dia certo, adopte um elefante, ou, olhe, melhor ainda, adopte um casal de elefantes e sinta-se bem a respeito da sua excelente pessoa, é só uma questão de organizar o espaço em casa. E os elefantes ainda hão-se ser moda...

P.S. - Publicado originalmente a propósito do Dia Mundial do Elefante. Hoje é Black Friday e Dia de Não Comprar Nada.

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Prémio Literário A. Lopes de Oliveira


O Município de Fafe relança o Prémio Literário A. Lopes de Oliveira / Câmara Municipal de Fafe, destinado a distinguir estudos histórico-sociais de âmbito local ou regional. O prémio tem como objetivo incentivar a publicação de obras que aprofundem o conhecimento das realidades de localidades e regiões portuguesas, reforçando a valorização da identidade regional e local. Prazo de candidaturas aberto até 31 de Dezembro de 2026. Mais informação, aqui.

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

A (verdadeira) guerra das rosas

Ora bem. Como já aqui expliquei, a Guerra das Rosas decorreu lamentavelmente entre a Rosa Maria e a Rosa Beatriz, que não se dão nem à lei da bala e andam sempre à trolha uma contra a outra derivado ao Anacleto Lingrinhas, que por acaso é pintor de automóveis e aquece a cama a ambas. Esta é que é a verdade, e a verdade é só uma. A História não admite tergiversações.

Fafe: Prémio de História de Local


O Município de Fafe volta a promover o Prémio de História Local "Câmara Municipal de Fafe", que pretende distinguir o melhor trabalho original apresentado a concurso sobre aspectos da história do concelho. As candidaturas decorrem até 31 de Maio de 2026 e o prémio será entregue na sessão solene de 5 de Outubro do próximo ano. Regulamento e demais informação, aqui.

terça-feira, 25 de novembro de 2025

Os do 28 de Maio

Há os do 25 de Abril. E há os do 25 de Novembro. Uns são donos do 25 de Abril, os outros são donos do 25 de Novembro. E todos apresentam argumentos de propriedade sobre a data respectiva e coisa e tal, alguns por herança, outros por usucapião, uns tantos por revelação divina, certos e determinados por puro e simples assalto, sendo curioso notar que abundam, enfim, os que por acaso até dão para os dois lados. É a vida. Os do 25 de Abril cantam bonitas cantigas. Os do 25 de Novembro, regra geral, são do 28 de Maio. E estão de volta.

P.S. - Publicado originalmente no dia 24 de Novembro de 2024.

O defeito do 25 de Abril

O mal do 25 de Abril é ser só um dia. Uma efeméride.

Isto está perigoso

De repente parece que o 25 de Abril não presta. Parece que ser pelo 25 de Abril é defeito. Parece que fomos enganados durante estes anos todos a respeito do 25 de Abril. Parece que, afinal, o 25 de Novembro é que é bom. E parece que o 24 de Abril, que está aí outra vez, ainda é melhor. Caralho, meus senhores, isto anda realmente perigoso...

P.S. - Publicado originalmente no dia 26 de Novembro de 2023.

25 de Abril sempre!

Vinte e cinco de Abril sempre, nem que seja só às vezes. 

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

O Animal do Laboratório

O Silveira trabalhava no ramo da pesquisa e dos testes científicos. Quer-se dizer: era homem de ciência, cientista, investigador, professor doutor, passava a vida enfiado na bata branca e em ensaios extraordinários. Era praticamente um génio, nas suas próprias palavras. E, rodeado de mulheres às vezes moças, gostava muito de levar a conversa para o picante e de meter a mãozinha onde ela não era chamada. Aliás, era conhecido, inter pares, como o Animal do Laboratório, mas essa parte ele não sabia.

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Ciência e Dia Nacional da Cultura Científica.

Os cientistas, quem os inventou?

Hoje é Dia Mundial da Ciência e Dia Nacional da Cultura Científica. Os cientistas estão, portanto, em festa. E, já agora, pus-me a pensar: quem é que inventou os cientistas? Não é difícil. Evidentemente os cientistas só podem ter sido inventados por cientistas. Disso não tenho a mínima dúvida. Isto é: os cientistas foram inventados por cientistas. Mas quem é que inventou os cientistas?

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Ciência e Dia Nacional da Cultura Científica.

Tirando os cãezinhos da chuva

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 22 de novembro de 2025

Ora bolas

Mandaram-no dar a volta ao bilhar grande e ele foi. "Bati o recorde?", perguntou no final.

P.S. - Hoje é Dia de Dar Uma Volta.

Com os ursos

Mandaram-no jogar ao pau com os ursos, e ele foi. Nunca mais se soube dele. 

P.S. - Hoje é Dia de Dar Uma Volta.

Banho ao cão

Mandaram-no dar banho ao cão, e ele deu. Aproveitou para limpar e lubrificar as estrias, o ferrolho e o gatilho.

P.S. - Hoje é Dia de Dar Uma Volta.

Cu de Judas

Mandaram-no para o cu de Judas, e ele foi. Era escuro...

P.S. - Hoje é Dia de Dar Uma Volta.

Pela sombra

Mandaram-no ir pela sombra, e ele foi. Era meia-noite e não lhe deu grande canseira.

P.S. - Hoje é Dia de Dar Uma Volta.

Não se faz

Mandaram-no ir num pé e vir no outro, e ele foi e ele veio. Mas há coisas que não se dizem a um perneta...

P.S. - Hoje é Dia de Dar Uma Volta.

Abaixo de Braga

Mandaram-no abaixo de Braga, e ele foi. Quando chegou a Celeirós, telefonou a perguntar se já estava bem.

P.S. - Hoje é Dia de Dar Uma Volta.

Bolinha baixa

Mandaram-no baixar a bola, e ele baixou. Mas o relvado estava uma lástima...

P.S. - Hoje é Dia de Dar Uma Volta.

Iniciação

Mandaram-no foder. E ele foi. E gostou bastante.

P.S. - Hoje é Dia de Dar Uma Volta.

Cavalinho da chuva

Mandaram-no tirar o cavalinho da chuva, e ele tirou. E no entanto estava um rico dia de sol.

P.S. - Hoje é Dia de Dar Uma Volta.

Que tem carro e barco à vela

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Grande momento de televisão

Pedimos desculpa por esta interrupção
Às vezes pergunto-me como seria o mundo sem televisão. E acho que provavelmente seria um bocadinho melhor.

Uma vez à noite, na TVI, Janeiro de 2012, como se fosse ontem. Marcelo Rebelo de Sousa pregava aos peixes, na sua habitual homilia dominical. Ele era ainda apenas comentador ou, vá lá, pitoniso oficial do regime. Falava da troika e de Cavaco Silva, que lhe estava a aquecer o lugar, de Pedro Passos Coelho e de António José Seguro, da UGT e da CGTP, da Grécia e da Alemanha, do Benfica e do Sporting, de carecas e de cabeludos, da fome e da fartura, de tudo e de nada. O costume. Como hoje em dia. De repente, lá atrás no cenário da redacção vazia, passa a dona Alice das limpezas, de aspirador pela trela, logo seguida pela dona Amélia, com um caixote de lixo na mão, e da dona Matilde, que não resiste e acaricia com o pano do pó o tampo de uma das mesas de trabalho por assim dizer. Grande momento de televisão! Esqueci-me da arenga do Professor (na verdade os seus comentários nunca me interessaram realmente), e concentrei-me no desfile em fundo. Fiquei cliente do programa de variedades, mas infelizmente elas nunca mais apareceram...

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Televisão.

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

No tempo dos codaques

Jacuzzi!
Contra a injustiça e a mentira, o indignado escritor tirou a roupa e gritou: - Jacuzzi! E entrou para a história.

A câmara Kodak foi registada pelo americano George Eastman em 1888. E alcançou tamanho sucesso que a marca rapidamente se transformou em sinónimo do próprio produto, em substantivo comum. Codaque passou a significar máquina fotográfica. Ainda hoje, para os mais antigos como eu, em Fafe e por esse mundo fora, um codaque é uma máquina fotográfica, seja de que marca for, e uma máquina fotográfica, seja de que marca for, é um codaque. Ou por outra, trabalho é trabalho e codaque é codaque.
Exactamente como se passou com o sumol, o panique, o pirex, a gilete, a chiclete, o cotonete, o jipe, o caterpílar, o cimbalino, o lego, o jacuzi, o taparuer, a vaselina, o velcro, o quispo, o curita, a lambreta, a vespa, a mobilete, a solarine, o botox, a licra, o filofax, o post-it, o x-acto, o rímel, o sonotone, a aspirina e as crocas - que eram marcas e passaram a ser coisas.
Actualmente os telemóveis também são codaques, e fazem o serviço praticamente sozinhos. Noutros tempos, cá entre nós, quando éramos turistas de pé-descalço e íamos de excursão visitar o Portugal dos Pequenitos, o nosso codaque era o garrafão de vinho. Sim, dizíamos que o garrafão era o codaque. Os japoneses lá com as máquinas fotográficas deles, sempre sorridentes e de cabeça a abanar, e nós, finos como alhos, com o de cinco litros a tiracolo ou atarraxado aos queixos, víamos tudo a dobrar e pelo mesmo preço.

(Versão revista e aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe)

Arte fafense para ver no Porto

Foto Município de Fafe

Os entrançados de palha de Fafe estão em exposição na Galeria de Artes Certificadas, um novo espaço comercial inaugurado há dias na Rua das Flores, no Porto. Os entrançados de palha são, desde 2024, o primeiro produto artesanal certificado de Fafe. Na mostra estão presentes as 27 artes certificadas portuguesas. Mais informação, aqui.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Coisa de homens

O Super-Homem
Admitiu finalmente que era o Super-Homem e, diga-se em abono da verdade, ficou bastante admirado por sê-lo.

Era o tradicional convívio natalício. Um encontro de homens. Estavam lá todos, ou quase todos. O homem-aranha, o homem-formiga, o terceiro homem, o homem elefante, o homem que é homem, o homem-rã, o homem sonha a obra nasce, o homem de gelo, o homem de ferro, o homem de lata, o homem-bala, o homem-estátua, o homem invisível, o homem-bom, o homem que sabia demais, o homem que veio de longe, o homem-sanduíche, o homem-crocodilo, o homem-tocha, o homem-máquina, o homem dos sete instrumentos, o homem de mão, o homem que mordeu o cão, o homem do leme, o homem da luz, o homem-prazol e até o homem-bata, que quase existia. Nisto entra a mulher falcão, apanhando o porteiro de costas. Ó meu Deus, foi um escândalo...

(Publicado no meu blogue Mistérios de Fafe)

terça-feira, 18 de novembro de 2025

O telefonema do padrinho

Foto Tarrenego!

O meu padrinho era sempre o primeiro. Entrávamos no mês de Dezembro, logo nos dias iniciais, o telefone cá de casa tocava e eu sabia mesmo antes de atender: era o meu padrinho, para nos desejar boas festas. E confirmava-se. Eu retribuía ligando-lhe duas ou três semanas depois, ao cair da noite de 24, precisamente, já nos prolegómenos da ceia de Natal. O meu padrinho bem percebia a minha malandrice, mas fazia de conta que não. E no ano seguinte lá tornava ele à jogada de antecipaçãozíssima.
O meu padrinho era um homem muito bom. Quem o conheceu, sabe que não estou a mentir. Era tão profundamente bom, que não sabia ser mau, mesmo quando queria ou precisava de arriar a giga. Nessas ocasiões, raríssimas, faltava-lhe a voz, a fúria sumia-se como se por falta de comparência, soava a falso, creio até que funcionava ao contrário, parecia que era a mangar, e eu, se por acaso estivesse por perto, desmanchava-me a rir. E respeitava-lhe a bondade.
O meu padrinho chamava-se Américo, Tio Mérico, Américo da Bomba, Sr. Américo, Comandante, e certamente por causa dele é que carrego este extraordinário nome de Américo Hernâni, que devia ganhar um prémio pelo menos nacional de esdruxulice. Mas eu perdoo-lhe. Por outro lado, com um nome próprio assim redundante, Américo e Hernâni, naquele tempo de benfiquismo a bem da Nação, eu só podia dar portista - e dei. Foi a minha sorte. E agradeço ao meu padrinho. Felizmente, o meu coração é desde nascença de uma só cor, azul e branco, às vezes também rosa bebé, outras ocasiões amarelo desbotado, conforme o equipamento do adversário, enfim, o que for melhor para o negócio das camisolas.
O meu padrinho era o irmão do meio do meu pai, que era o mais velho. Lá em cima, no retrato antigo, estão os dois, fardados de músicos da Banda de Revelhe, suspeito que posando ao lado do então novo Tribunal de Fafe. O padrinho é o do casaco e boné, todo tirone. Depois havia o mais novo, o meu tio Zé da Bomba, a quem os amigos e colegas de estudos chamavam "Fone", mas que, no nosso caso concreto, precisava mesmo de ser "da Bomba" para o distinguirmos do meu tio Zé de Basto.
O meu pai morreu num Natal gelado e francês, muito antes do tempo e sem aviso. E os irmãos resolveram ir ter com ele, uns anos mais tarde, primeiro um, depois o outro, como se também não tivessem mais nada para fazer por cá, e estavam redondamente enganados. Os três. Ainda hoje nos fazem faltam.
Que se segue? Eu já estava afeito a ele. Sem o telefonema do padrinho, tão fiável, antecipado e cómico, como que a abrir o calendário do Advento sem o saber, os meus natais já não são o que foram, perderam muita da sua graça. O primo Miguel, filho do tio Zé e também afilhado do tio Américo, ainda agarrou a pasta, durante uma temporada, e passou a ser o primeiro. Remediava enquanto durou, sou sincero. Porque, a verdade é só uma, tinha de ser um Bomba, e dos assumidos. E eu gosto do Miguel! Mas não era a mesma coisa.

(Versão revista, actualizada e aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe)

domingo, 16 de novembro de 2025

Penso rápido

Pensei sobre o assunto. Eu penso muito, mas penso pouco. A minha é vida é feita de muitos assuntos, mas pequenos assuntos. Os meus assuntos sucedem-se uns atrás dos outros, breves, infindáveis. Por isso estou sempre a pensar, mas pouquinho de cada vez, com pensamentos curtos, instantâneos, diferentes, um para cada assunto. Isto é: penso muito, penso pouco, penso rápido.

Natal em Fafe é todos os dias


Cá em casa abrimos o Natal, este ano, na passada quarta-feira, dia 12 de Novembro, e no blogue Mistérios de Fafe também. Fafe e o Natal, o Natal e Fafe, velhas histórias, costumes antigos, o circo, a fé, a família, famílias, ilustres fafenses daquele tempo, todos os dias até ao fim do ano e talvez um pouco além, é .

sábado, 15 de novembro de 2025

O mais baixo magistrado da nação

Um homem bem apetrechado
Ele tinha uma panóplia de argumentos, uma panela de pressão, uma visão estratégica, uma caixa de pandora e carradas de razão. Era realmente um homem muito bem apetrechado.

De acordo com a constituição, o mais alto magistrado da nação deve medir para cima de 1,73 m, considerada a altura média dos portugueses homens. Se o mais alto magistrado da nação for por acaso uma mais alta magistrada da nação, então basta medir para cima de 1,63 m, considerada a altura média das portuguesas mulheres. Luís Marques Mendes, que é homem do sexo masculino, mede 1,61 m calçado e é candidato à Presidência da República, faz ele muito bem. António Vitorino, que também é homem do sexo masculino, medirá, talvez de palmilhas, mais um centímetro do que Marques Mendes, isto é, 1,62 m, e algum PS queria que ele se candidatasse à Presidência da República, mas ele fugiu. Foi pena. A campanha eleitoral prometia uma empolgante luta de titãs entre estes dois. É certo que, nas actuais circunstâncias, nem o nosso Luisinho nem o escapista Vitorino obedecem às normas. Mas era fácil de resolver. Fazia-se, a este propósito, uma revisão constitucional. Uma revisão à constituição dos portugueses. Nada de profundo ou trabalhoso, nada que implique força bruta ou possa dar ideias aos neofascistas mais ou menos hemiciclistas. Eu sugeria apenas um acerto, um ajuste directo, uma revisão constitucional por medida, por baixo. Uma revisãozinha, vá lá. Coisa talvez de doze ou treze centímetros...
Napoleão, que era Napoleão, media pouco mais de metro e meio, segundo os ingleses, ou um metro e setenta, para os franceses. Sem cunhas, saltos altos, sapatos de plataforma ou outras alcavalas, Silvio Berlusconi media 1,65 m, que é também a altura de Nicolas Sarkozy, Dmitry Medvedev mede 1,57 m, Vladimir Putin mede 1,67 m, Rishi Sunak, Emmanuel Macron, Olaf Scholz e Volodymyr Zelensky medirão todos 1,70 m, número redondo, e Kim Jong-il não se sabe bem, mas medirá entre 1,55 m e 1,65 m, sendo possível que na gloriosa versão oficial meça dois metros e quarenta, pelo menos.
Alto é o almirante. Alto e para o baile. Gouveia e Melo fez saber que mede 1,93 m bem esticadinho, mas que isso não lhe sirva de argumento, ou então que se meta com alguém do seu tamanho. Aliás, eu creio que entre nós, portugueses, o conceito de mais alto magistrado está desnecessariamente sobrevalorizado e tende até a promover uma mal disfarçada discriminação. Os tempos são outros, povo meu! Porque não aproveitarmos as próximas presidenciais para elegermos, pelo contrário, o mais baixo magistrado da nação?

(Versão revista, actualizada e aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe)

Onze contra onze? E a bola?

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Jogava-se ao tene

Alta competição
Os erres pagam-se caro. Os emes ficam muito mais em conta.

Jogava-se ao tene, no nosso largo, no velho Santo Velho. Tene, esclareça-se desde já, não é singular de ténis. Nem é sapatilha desirmanada nem nome que se dê ao jogo de ténis quando jogado por uma pessoa só. Nesse caso chama-se, vá lá, squash. Não. O tene era um jogo universal, de recreio, de rua, de pobres, envolvendo quantos mais miúdos melhor, sem necessidade de outros apetrechos ou equipamentos senão o próprio corpo e muita corda nos sapatos. Embora também se jogasse descalço. Ou de chancas. Ou, há que admiti-lo, de galochas...
As regras são simples. O objectivo do jogo é fugir ou tenir, conforme o ponto de vista. Escolhe-se à sorte um desgraçado, que deve tentar apanhar, isto é, tocar com a mão, os outros participantes. Um deles. E, uma vez conseguido, troca-se de posição. Quem foi apanhado, isto é, tocado, assume então a função de apanhador, o ex-apanhador passa a normal fugidor e assim sucessivamente.
Dir-me-eis então: ora, mas isso é o jogo da apanhada, ou o pega-pega ou pique-pega, se for no Brasil. Nada disso. Era o tene, o nosso tene. Porque, lá está, basta tenir, tocar levemente com a mão, com o dedo. Quem toca levemente, tene. Básico e inofensivo. O tene. Já o arranca-cebolas, por exemplo, implicava outra, por assim dizer, dinâmica e não raras visitas ao hospital.
Dir-me-eis então, e já estais a chatear: ora, mas não é tenir, é tinir, o verbo tenir não existe na língua portuguesa. Existe, existe, basta ir a Fafe e ouvir alguém que seja do falar antigo e que se lembre, claro que se lembra, do velho jogo e deste precioso regionalismo talvez baixo-minhoto e que pegou de estaca pelo menos ali na nossa zona. Ou onde é que cuidais que o bom do Costeado foi buscar o "Nem lhe teni, senhor árbitro!"?...

P.S. - Versão publicado no meu blogue Mistérios de Fafe. "Mãe recorre à justiça para que jogo da apanhada seja declarado perigoso", diz hoje em título o jornal Público.

Banhos de acento, recomendam-se

Banho ao cão
Mandaram-no dar banho ao cão, e ele deu. Aproveitou para limpar e lubrificar as estrias, o ferrolho e o gatilho.

Era sábado, ao cair da folha, pela manhãzinha. Felizmente não chovia e faltava uma semana para as eleições autárquicas. Joel Cleto, historiador e estrela da televisão, ia falar aos seus discípulos. Estávamos no princípio do Passeio Atlântico, à beira da Anémona, o Porto ao lado, e uma pequena multidão com saquinhos com o logótipo da Câmara de Matosinhos às costas, numa mão sempre o telemóvel e noutra os auriculares, esperava a vinda. Pacientemente. Não os contei um a um, mas, assim por alto, seriam duas ou três dezenas de "irredutíveis socialistas" - foi desta forma que me apeteceu imaginá-los, tendo em conta o festival de iniciativas que naquela maré varria o País, com as câmaras e juntas, todas as câmaras e juntas, a gastarem os últimos cartuchos em excursões, passeios e passeatas, comezainas, cantorias, artistas da televisão, pão e circo para o povo, todo o tipo de iniciativas culturais ou nem por isso. Esta, segundo li depois, tinha inscrições limitadas e seria uma caminhada através da variante do Caminho Português de Santiago, pela frente marítima, até à Praia de Angeiras. Com Joel Cleto como guia, embora as explicações ao longo do percurso talvez já estivessem apalavradas numa aplicação predeterminada.
Cleto, que não é alto, chegou, empoleirou-se no pequeno muro do Passeio, pigarreou e disse: - Recomendo que liguem [a tal app]. Não demora mais do que dois segundos e é "gratuíto"...
"Gratuíto", valha-me Deus, foi o que o historiador disse. "Gratuíto" com acento no "í"! Havia necessidade?...
Eu, passando casualmente, arrepiaram-se-me os pêlos das pernas perante semelhante, e não resisti. Virei-me para trás e gritei: - É gratuito! Gratuito! A palavra gratuito não tem acento!...
Dois casais do grupo ouviram-me. Ficaram a rir-se de mim, do velho barbudo em calções e de mochila, que seguiu em frente e certamente é tolinho. A minha mãe continua a ter razão: estou sempre a destoar.

Agora. Gratuito é uma palavra grave e não leva acento gráfico. A sílaba tónica é constituída pelo ditongo ui. A pronúncia da palavra gratuito é, portanto, "gratúito" e não "gratuíto". Assim como se diz "fortúito" e não "fortuíto", "circúito" e não "circuíto", "intúito" e não "intuíto".
O bom Joel Cleto, que eu estimo, não está sozinho na gafe, infelizmente. Telejornais e noticiários radiofónicos abundam e redundam no erro, neste e noutros da mesma raça. A palavra rubrica, por exemplo, nunca se escreve com acento, mas lê-se sempre como palavra grave. A sílaba tónica é a penúltima, "bri". Isto é, e passo a fazer o desenho, diz-se sempre "rubríca", como se tivesse acento no i, e nunca "rúbrica", como se tivesse acento no u. Quer signifique assunto específico ou título de capítulo determinado, quer se refira a assinatura abreviada. É sempre rubrica, rubrica, rubrica. Dizendo-se sempre "rubríca", "rubríca", "rubríca".
E, já agora, é período que se diz e não "periúdo". Período, sempre, em todos os múltiplos significados da palavra, inclusive os mais íntimos. E diz-se medíocre, tal qual se escreve, e não "mediúcre". É medíocre.
O mesmo se aplica à palavra escrita "proíbido", mas ao contrário. "Proíbido" não existe, é proibido.

Felizmente há instrução. "Instrução" é uma palavra antiga que significava saber ler e escrever e por aí acima ou adiante. Educação era outra coisa. "Instrução", para além da tropa, era também o conjunto de aulas teóricas ou práticas para tirar a carta de condução ou para se aprender a ser bombeiro, em Fafe, mas não é isso que vem aqui ao caso. Havia quem tivesse mais ou menos instrução, havia quem não tivesse instrução nenhuma, era muita gente assim naquele Portugal ressesso, povo que nunca pôde ir à escola, os analfabetos, mais de 25 por cento da população, sobretudo mulheres, no tempo de Salazar, começavam a trabalhar aos sete/oito anos de idade, as meninas postas "a servir" pelos pais pobres e ignorantes, e assinavam de cruz. "O vinho é que induca, o fado é que instrói", dizia-se, mas os sábios do fascismo diziam muitas outras parvoíces do género e mandavam encaixilhar, como, por exemplo, "quem não é do Benfica não é bom chefe família".
A bitola da "instrução" era a Escola Primária, o Exame da Quarta e ponto final. Aprendia-se o essencial, incluindo os acentos nas palavras, os acentos faziam parte. Coisa simples, escrever e dizer as palavras como elas devem ser escritas e ditas. As novas gerações são hoje, felizmente, muito mais instruídas, tituladas, copiosas em licenciaturas, mestrados, doutoramentos e pós-doutoramentos, mas amiúde não sabem de acentos, desprezam as concordâncias, ensarilham-se nas vírgulas, confundem palavras, escrevem "exitou" quando a ideia era escrever hesitou, ainda ontem vi isso num jornal, e fartam-se de conjugar o verbo "tar".
Um bom banho de acento é o que lhes recomendo. Do fundo do coração. Se fosse herpes genital, hemorróidas, ardências, dores ou comichões nas partes, então recomendaria o outro, o velho banho de assento. De caras.

(Versão revista, actualizada e bastante aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe)

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

O roxis e o Sr. António Maneta

Fazendo pela vida
O médico deu-lhe dois anos. Ele pediu seis. O médico contrapôs três e que não podia dar mais. Ele exigiu cinco, senão nada feito. O médico disse quatro e não se fala mais nisso. Ele, negócio fechado.

O roxis, quereis saber o que é? Então cá vai. O roxis é da família do taco, mas muito mais antigo, e é sinónimo de chapa, porque ir fazer um roxis ou ir fazer uma chapa era exactamente a mesma coisa. O Hospital de Fafe, no tempo em que quem lá mandava era a "Mamer", tinha uma máquina de roxis muito velha, numa sala muito escura ao lado da urgência, que era o banco, e da escadaria interior que levava à capela, que era também salão nobre. Por baixo das escadas, porta com porta, num quartinho para anões muito arrumadinho, morava o Toninho, ou seja, o Sr. António do Hospital, a quem também chamavam Maneta, Sr. António Maneta ou Toninho Maneta, isto dito com mais burrice do que malícia, e que era, para além de telefonista e porteiro, fumador obstinado e habilidoso, havíeis de o ter visto a manusear a caixa de fósforos, e um dos maiores apaixonantes da Banda de Revelhe, honra lhe seja. Apesar da sua estratégica localização, ali entre a vida e a morte, e mesmo em frente ao Toninho, o aparelho de roxis tinha dia certo e horário de expediente para funcionar. A sua operacionalidade dependia, se não estou em erro, da indispensável presença ou pelo menos orientação do Dr. Mota Prego, que tinha um nome assim de categoria e vinha de propósito de Guimarães para tratar destes assuntos.
Quer-se dizer, o Dr. Mota Prego era o nosso especialista em roxis, e uma vez ele e o Dr. Antero, creio, trataram-me muito bem de uma clavícula partida que era a minha vaidade na escola primária e hoje em dia ainda me dói. E o Sr. António carregava no erre quando me chamava Herrenâni...

(Versão revista e aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe)

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

O meu primo Abenedego

Mais leve que o ar
Há quem seja magro, mas Hélio realmente abusava. Um dia levantou voo...

Diz que há um australiano que detém o recorde mundial do nome mais comprido do mundo, um nome com mais de duas mil palavras, é preciso um camião para andar com o nome às costas e leva quinze dias a assinar, adeus ó vai-te embora. O nome mais comprido de Portugal é reclamado pelos admiradores do rei D. Manuel II (1889-1932), que se chamava, completamente, Manuel Maria Filipe Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugénio, e há quem acrescente, de Bragança Orleães Sabóia e Saxe-Coburgo-Gotha.
Em Itália, um casal foi proibido de dar o nome de Sexta-Feira ao filho, mas na China, aqui atrasado, havia quase seis mil pessoas que se chamam Ano Novo. Em Portugal, país de brandos costumes, parece que ainda ninguém foi tão longe, mas apenas porque não é, ou não era, permitido. No Ministério da Justiça existia mesmo uma lista negra de mais de 2.500 nomes próprios e esquisitos que já tinham sido pedidos e recusados.
E alguns deles nem lembrariam ao diabo, como, vede lá, Jesus Cristo, Deusa, Adoração, Imaculada, Cristão, Cristo ou Maria da Aleluia. Pérolas que constavam na lista de "Vocábulos Não Admitidos como Nomes Próprios" do Instituto dos Registos e do Notariado (IRN) e que estavam lá porque, exactamente, houve pais que tiveram a peregrina ideia de chapá-los da testa dos respectivos filhos. Não sei se ainda existe tal lista, que já estava há alguns anos sem qualquer tipo de actualização.
Os pais italianos queriam ser "originais", disseram aos jornais, mas o tribunal considerou, talvez acertadamente, que Sexta-Feira traria uma carga de "vergonha" e de "ridículo" à criança que fosse marcada para toda a vida com semelhante nome.
Ora, se os portugueses têm muitos defeitos, um deles não será certamente a falta de originalidade. E também aqui, no ramo dos nomes mais ou menos patetas, não ficamos a dever nada a ninguém.
Duvidais? Tomai então nota dos seguintes: Abenedego, Brilhantina, Consolino, Divinando, Estaline, Girina, Ismanuel, Jacquelino, Magnífica, Maxfredo, Ovnis, Paliologo, Romã, Sete, Togarma, Viking ou Zuzidine. Tudo nomes que alguém quis pôr aos filhos, mas que o bom senso da lei proibiu.

A sorte, para nós, fafenses à moda antiga, é que não há, nunca houve, norma para a atribuição de alcunhas, que nisso somos campeões. Ninguém nos bate na arte de crismar o parceiro, às vezes famílias inteiras, com apodos porventura espertos e patuscos, quando não carregados de desprezo e maldade, inveja e vingança, quase sempre explorando acintosamente particularidades físicas ou morais dos indivíduos em questão. Eu, por herança, sou "Perna-de-Pau" e "Bomba", amiúde "Dezassete", e também "Neques", mas pela costela de Basto. E, se quereis saber, tenho muito gosto!

Quando, há uns anos, fiz um pequeno trabalho jornalístico sobre nomes, o IRN esclareceu-me, cheio de a propósito, que o nome próprio das "crianças nascidas em Portugal que sejam portuguesas" deve ser "português, de entre os constantes da onomástica nacional ou adaptados graficamente à língua portuguesa, não devendo suscitar dúvidas quanto ao sexo". Filhos de jogadores de futebol e de artistas da televisão são casos à parte, foi o que então concluí.
Por outro lado, e voltando ao princípio, à questão do tamanho, o IRN informou-me que o nome completa de cada pessoa deve compor-se, no máximo, de seis vocábulos, isto é, até dois nomes próprios e quatro apelidos. Como, por exemplo, Duarte Nuno Fernando Maria Miguel Gabriel Rafael Francisco Xavier Raimundo António de Bragança. Não é?...

(Versão revista e aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe)

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Estava-se bem ao lume

Pensamento
- Gosto muito de pensar.
- O mundo?
- O gado.

Vêm-me à cabeça palavras assim, antigas, palavras que cheiram a terra, a chuva, a fumo, a infância. Engaço, ancinho, mangual, malho, arado, grade, enxada, sachola, forquilha, alvião, picareta, sacho, foice, gadanha, gadanho, padiola, rodo, espadela, roca, dobadoira, pipa, dorna, lagar, eira, eido, meda, braseira, lareira, cântaro, infusa, malga, pote, forno. Sem mais nem menos, não sei o que me dá, lembro-me delas, sou um rústico e pronto. Vêm-me palavras como roçada, vessada, monda, debulha, esfolhada, segada, pisada, merenda, presigo, penso, estrume, lavadura, sulfato. Acordo de mim, bruscamente, estão a atirar-me palavras como streaming, bullying, mainstream e primetime, empoderamento, visualizar, experienciar, vivenciar, recepcionar, percepcionar, metaverso, impactante, resiliência ou ecoansiedade - e escangalham-me tudo. Estafermos! Que bem que eu estava ao lume...

(Publicado no meu blogue Mistérios de Fafe)

E um bacalhauzinho na brasa

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

As beatas e os anões

Não há milagres
Abençoados os que não acreditam em milagres. Que sensação maravilhosa, que deslumbramento devem experimentar quando eles acontecem!

Li no jornal, com estupefacção e náusea, que "atirar beatas para o chão passa a custar entre 25 e 250 euros de multa". Eu não sabia disto, palavra de honra: mas quem é que anda para aí a atirar beatas ao chão? Desde a história do lançamento de anões que eu não via tamanha estupidez. Por amor de Deus, deixai as mulherzinhas em paz! A religião é coisa de cada um...

domingo, 9 de novembro de 2025

Tramado pelos socos

Dores artroses
Ele padecia de "dores artroses". E também de evidente analfabetismo.

Fafe tinha tudo. Fafe até teve um anão que esteve quase a ir para Lisboa e ser famoso. Não foi por pouco, lá nos meados do século passado, mas só em 2011 é que eu soube da história, em boa hora recuperada pelo blogue Falaf - Revista Cultural de Fafe, creio que de Jesus Martinho e que entretanto encerrou actividade ou mudou de instalações. O homem em foco, o nosso pequeno grande herói, como se diz agora, chamava-se José Nogueira, era natural da freguesia de Golães e teve direito a prosa e retrato na edição de 1947 do Almanaque Ilustrado de Fafe.
Num artigo muito à época, com o desajeitado título de "Um exemplar raro", o Almanaque falava do "petiz de 59 anos" que passou ao lado de uma grande carreira derivado a dois pormenores que hoje não teriam importância nenhuma: a ignorância e o calçado. O anão de Fafe, que "nos seus tempos fazia serenatas, mas não casou", nasceu lamentavelmente com pelo menos 80 anos de avanço. Fosse ele do nosso tempo e ninguém sabe se não estaria, por exemplo, à frente de um partido e a dar todos os dias nas televisões.
Porque faltou muito pouco para que o nosso José Nogueira se tivesse transformado numa espécie de atracção de feira a nível nacional, numa celebridade, e é preciso que se note que na altura não havia reality shows nem CMTV, nem TVI, nem Now, nem CNN Portugal, nem comentadores, nem paineleiros, nem YouTube, nem influencers. O "petiz" era mesmo o máximo por si próprio, era sucesso garantido. E Paulo Portas, não vamos mais longe, também foi pelas feiras que começou.
Segundo rezava o Almanaque, o ilustre fafense José Pinto Bastos "andou para levar" o nosso anão "ao grande Coliseu dos Recreios de Lisboa, pelo que teve entendimentos com o benemérito Empresário Ricardo Covões". A coisa, tomai nota, só não foi avante por causa de José Nogueira, tornando ao Almanaque, "ser analfabeto e estar afeito a usar socos e, lá, precisar de usar calçado de polimento, fraque e luvas."
Os socos... Os socos é que o lixaram. O analfabetismo foi desculpa, pelo menos é o que eu acho.

(Versão revista e aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe)

Nunca digas

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 8 de novembro de 2025

O jeito que me faz o Armand Assante

Sensibilidade e bom gosto
Eleutério tinha um desgosto muito grande no nome que lhe deram. Mudou para Adalsindo e agora é um homem feliz.

Eu tenho um querido amigo de infância que se chama... que se chama... coiso. Tenho também este pequeno problema: hoje em dia, com a idade e tão raras as saltadas a Fafe, nunca me lembro do nome do meu querido amigo de infância. Então inventei o seguinte truque de memória, que me tem ajudado imenso: quando quero falar com ou do meu querido amigo de infância, penso no Assante. Sim, no actor americano Armand Assante. Estais a ver? Armand, tão quase igual ao portuguesíssimo Armando. Por exemplo, de Armando Baptista-Bastos. E pronto, já descobristes e não era difícil, pois não? O meu querido amigo de infância chama-se, evidentemente, Armindo. Isso. Armindo.

(Publicado no meu blogue Mistérios de Fafe)

Arrumadinho

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

De vaquinha

De vaquinha para o emprego? No campo, isto é, na lavoura, estou como o outro, faz algum sentido, é a ordem natural das coisas. Agora, na cidade não me parece nada prático. Nem higiénico, verdade seja dita.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

O Sr. Moura era de filme

Como um passarinho
Morreu como um passarinho. Abatido a tiro.

Chega o tempo das gripes, das constipações, da tosse, do nariz entupido, das febres e das dores de garganta, e eu lembro-me do Quinzinho da Farmácia, que tantas vezes me acudiu na minha infância e juventude. O Quinzinho da Farmácia Moura, em Fafe. É. Lembro-me logo do Quinzinho, sorrio, vejo-o como se fosse hoje, ouço-lhe a voz, perfeitamente, as recomendações, mas depois apanho-me a pensar: que estúpido, que injusto que sou, e então o Sr. Moura propriamente dito? Sim. O Sr. Moura da Farmácia Moura, em Fafe. O que pensar e dizer dele?
E então puxo a fita atrás. O Sr. Moura tinha mais de 200 anos e uns óculos muito pândegos e parecia uma figura dos filmes da Walt Disney para crianças. Eu gostava muito de o ver lá ao fundo, na mesa grande do laboratório, a inventar remédios e talvez perfumes, a tomar notas, a fazer contas, a conferir apontamentos em folhas manuscritas e desencontradas, amarelecidas, no meio de uma babilónia de balões, provetas, tubos de ensaio, pipetas, espátulas, pinças, lâminas, balanças, funis, almofarizes e pilões, serpentinas, condensadores, quem dera que também bicos de Bunsen, isso, porque estou a imaginá-los, rodeado por uns armários enormes e antigos, altos do chão até ao tecto, a toda a volta, cheios de frascos, frasquinhos e campânulas, garrafas, garrafões, caixas e caixinhas, sacos, sacas, saquinhos e saquetas que eu adivinhava abundantes de matérias-primas preciosas, fluidos insondáveis, pomadas da casa e a granel, pós de perlimpimpim, pétalas delicadas de flores exóticas, especiarias do fim do mundo, sementes, raízes e plantas raras e milagrosas, aromas intensos e contraditórios, e ao canto, estou em crer, uma vassoura encantada, aprendiza e ajudante, trabalhadeira, à espera das ordens do velho mestre. A mesa e os armários, em madeira, escura, pesada, eram da idade do Sr. Moura. Aquilo dos óculos esquisitos seria decerto obrigatório para os farmacêuticos naquela época, porque o Quinzinho também tinha. O Sr. Moura, parecendo que não, ditava a moda.
Ainda para mais, o bom do Sr. Moura, que morava por cima do estabelecimento, na Rua Montenegro, atendia durante a madrugada, se lhe tocassem à campainha para acudir a uma aflição inopinada, no tempo em que não havia farmácias de turno nem intercomunicadores ou videoporteiro. Com aquele aspecto de velhinho precoce, sábio ancestral, feiticeiro, alquimista, eterno príncipe dos manipulados, o Sr. Moura assomava ao patiozinho do 1.º andar, informava-se do que era, descia as escadas em chinelos de quarto ou enfiado nos sapatos três números acima, com o pijama a espreitar por baixo das calças vestidas à pressa e às vezes embrulhado no roupão, só lhe faltavam a candeia na mão e o barrete de dormir, resmungava por todos os lados, mas, a verdade é só uma, salvava o povo. E essa é que é essa.

(Publicado no meu blogue Mistérios de Fafe)

Íamos todos ficar bem

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

O problema da habitação

As rendas estão cada vez mais caras. Quanto aos bordados, já ninguém lhes liga.

Os Foda e o Kagawa

Vivinho da Silva
Chamava-se Vivinho da Silva e era gozado por toda a gente. Quando morreu, então, foi uma risota...

Isto dos nomes, palavra de honra. Os nomes que me atiram, os nomes de que me esqueço, os nomes que me fazem rir. Eu ligo muito aos nomes, gosto de brincar com eles, escrevo compulsivamente sobre nomes, chamai-me o que quiserdes. Ora bem. Os Foda, por exemplo, pai e dois filhos, pelo menos, todos ligados ao futebol, dou-lhes valor ao apelido. Sandro Foda, 35 anos, joga no SV Wildon, da Áustria, e é irmão de Marco Foda, 33 anos, que jogou no Sturm Graz, também do campeonato austríaco, onde foi treinado pelo seu próprio pai, Franco Foda, 59 anos, actual seleccionador do Kosovo. Os Foda, Deus me perdoe, fazem-me lembrar, deixai cá ver, o internacional japonês Kagawa - Shinji Kagawa -, 36 anos, que alinha, quiçá em final de carreira, no Cerezo Osaka, do Japão. Por estes dias, em Portugal, consta que debutou um jovem Fode, 20 anos, no SC Braga, mas o presidente António Salvador mandou chamar-lhe Pascoal, e por isso não conta para o totobola.
Eu faria muito gosto que estes nomes valentes fossem nossos, de gente fafense, ou pelo menos de jogadores da AD Fafe, como já tivemos o Ricoca e o Zebras, o Machica, o Riga, o Piré, o Rates, o Estafete, o Mulato, o Caganito, aliás dois Caganitos, ou talvez mais, o Trolas, o Feira Velha, o Esparrinhento, o Pescoça, o Ferradeira ou o Mofo, para só elencar povo aqui nascido e criado, nomes formidáveis e telúricos, símbolos de um tempo extraordinário. Hoje em dia temos um Picas, um Vigário, um Nico... e é um pau. Foi o que se pôde arranjar.

Na bola como na vida, os nomes interessam-me. "Diz-me o teu nome, dir-te-ei quem és" - acredito neste ancestral provérbio chinês que acabo de inventar agora mesmo, e não no outro, bem intencionado e de autor incerto, "Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és", até porque, como lembrava Millôr Fernandes, Judas andava com Cristo e Cristo andava com Judas, ficando assim cabalmente explicado, embora por interposta pessoa, o meu inatacável ponto de vista.
Portanto, dou-me ao trabalho dos nomes. Quando eu era miúdo, em Fafe, marcava nos restos do JN do Bô da Bomba os nomes dos jogadores de futebol que me pareciam esquisitos. Ainda não tínhamos chegado à babel que agora é, mas o Marreca, o Camelo, o Cansado, o Repolho, o Chouriça, o Torto, o Maneta, o Sacristão, o Mouco e o Aguardente enchiam-me de alegria as segundas-feiras. Também gostava muito do Araponga, do Alhinho e do Manaca, que uma vez vi em Guimarães a marcar um magnífico autogolo que não tem nada que se lhe aponte. O Penteado, o Careca, o Metralha e o Cascavel já me apareceram fora de tempo, mas isto é tudo nomes só por exemplo.
Com os nomes sublinhados, eu fazia equipas que jogavam umas contra as outras, num campeonato de partir a moca, porque eu imaginava os jogadores exactamente conforme o nome, não sei se estais a ver o Marreca a driblar o Sacristão e o Repolho a entrar de pé em riste ao Camelo. Eu estou, quero dizer, estava, e, cá para comigo, à falta de outras brincadeiras e alegrias, ria-me como um perdido...

(Versão revista, actualizada e muito aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe)

terça-feira, 4 de novembro de 2025

O troglodita e os poliglotas

Ele diz que é troglodita, isto é, que fala várias línguas, e até pôs no currículo. Poliglotas, costuma explicar, eram os gajos dos dinossauros, com uma moca ao ombro e as mulheres arrastadas pelos cabelos.

A última folha

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Sete minutos e quatro centímetros

Um pé assim e outro assado
Ele tinha um pé de laranja lima. O outro era normal, perfeitinho graças a Deus: cinco dedos, tarso e metatarso, planta ou sola, peito ou dorso, calcanhar e tornozelo, num total de 26 ossos em razoável estado de conservação. E era bom nas bolas paradas.

Eu não vi. Àquela hora tenho habitualmente mais que fazer, como por exemplo dormir, coisas de velho. Mas ouvi dizer, logo pela manhã, enquanto fazia a minha caminhada pelo Passeio Atlântico, ali em baixo, à beira do mar. Não se falava de outra coisa. Que passavam sete minutos e faltavam quatro centímetros, diziam, e eu fiquei deslumbrado com a descrição da "jogada", tão precisa, tão matemática, tão literária, tão fácil de imaginar, tão bela, tão diferente do tempo em que era uma bola a pinchar e onze contra onze, coisa de moços, de gente simples! Ó, a beleza do futebol moderno! Mas qual dominou com o peito e rematou sem deixar cair. Mas qual "ripa na rapaqueca", mas qual "vai buscá-la, Tibi", mas qual drible, ginga, revienga, trivela, cueca, frango, calcanhar, chapéu, fífia, rasteira, ressaca ou sarrafada, finta um, finta dois, finta três e dispara por cima do guarda-redes, sem hipótese, ao ângulo, na gaveta, "lá onde a coruja dorme!", mas qual "passa a bola!", como dizia o nosso Aníbal, mas qual golo de bandeira, estádio de pé, orgasmo do povo! Isso já não interessa. Não. Passavam sete minutos e faltavam quatro centímetros, isso sim, era disso que falavam no "pós-match" de café, foi isso que aconteceu para a história, minutos e centímetros, tempo e espaço, VAR. Compensação de neutralizações e linha virtual de fora-de-jogo. Tecnologias. Tácticas e habilidades não são assunto, a fantasia é dispensável, omitida, discute-se o relógio e o tamanho da chuteira, quarenta e três biqueira larga. Sete minutos e quatro centímetros. O futebol hoje em dia é de contar pelos dedos.

(Versão revista e aumentada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe)

domingo, 2 de novembro de 2025

Uma frase enigmática

Agora é assim. Uma pessoa famosa por ser famosa, equilibrada ou tola, por sistema ou em episódio, isso para o caso não interessa, escreve uma palermice qualquer sem sentido nem gramática nas redes sociais, os jornais apressam-se a "noticiar" que essa pessoa famosa por ser famosa, isto é, por dar nos jornais, publicou "uma frase enigmática". E publicam a "frase enigmática". Não se sabe o que é, ninguém sabe nem precisa de saber o que é, mas os jornais "metem" cá para fora. E nisto estamos.

Era tão fácil a morte em Fafe

O testamento
O notário vacilou. Mas leu. O defunto deixava beijos e abraços. Distribuídos pelos inúmeros herdeiros em fracções de zero a 145, consoante o julgado merecimento de cada qual. Dinheiro não havia. Tinha ido todo em putas e vinho verde. Isto é, em beijos e abraços.

Um folheto que me foi metido na caixa do correio convidava-me a escolher "um Plano Funerário adequado". Adequado a quê e para quem?, se conto estar morto quando for o meu funeral e quero lá saber de mordomias póstumas - foi o que então pensei, e já lá vão alguns anos. O papel dizia que havia um "Plano Magno", praticamente como o gelado, um "Plano Essencial", que não faz bem nem mal, e um "Plano Popular", como o ex-CDS. Em qualquer dos casos, eram garantidos "serviço personalizado a partir de 995 euros" e uma vasta "experiência", o que também deixa muito mais descansado o defunto mais exigente. "Florista, Campas e Lápides, Documentação Oficial, Serviço Internacional, Música na Cerimónia, Medalha Impressão Digital, Cinzas ao Mar, Financiamento sem Juros, Contrato de Funeral em Vida", estava trudo previsto.
A caixa do correio mete-me medo. Não tanto pelas contas da luz, da água ou do condomínio, tampouco pelos avisos das Finanças ou do Tribunal, mas principalmente pelos que me perguntam pelo meu ouro e eu não os conheço de lado nenhum, pelos que me pedem o meu voto e não me conhecem de lado nenhum, pelos que querem comprar a minha casa que eu não quero vender, pelos que me querem vender uma casa que eu não quero comprar, pelos que querem que eu mude de Deus, e agora até pelos que me querem vender a minha morte como se soubessem alguma coisa da minha vida que eu não sei, ainda por cima aliciando-me com extras e regalias redundantes, luxos próprios para defuntos vaidosos, como se por acaso eu estivesse mortinho por fazer figura.
Vamos lá com calma. Eu sei que ninguém fica cá para a semente e que se alguém ficar sou eu (mas não é isto que aqui interessa). Sei que fatalmente já por cá andei mais tempo do que aquele que me resta para andar. Mas, com franqueza, a vida é tão boa e dá-me tantas consumições, que tenho mais que fazer do que pensar na morte, do que organizar a minha morte. Quando eu morrer (se morrer), logo se verá. Eu é que já não verei, e não me faz diferença nenhuma. Que se amanhem! Essa é a herança que deixo de bom grado a quem me sobreviver. Se alguém houver.

Era tão fácil a morte em Fafe. Morria-se e tínhamos logo à porta, como se estivessem à espera, de fita métrica na mão, patrões ou emissários, o Albano da Costa ou o Damião Monteiro, que dividiam o mercado talvez ela por ela, cada qual já sabia quem eram os seus, e, mais tarde, também o Baptista de Antime, que alugava altifalantes e fazia funerais "de categoria", como afiançava o Zé Maria Sapateiro, e nunca ninguém o desmentiu. Na hora da morte, a escolha da funerária, para os fafenses, era simples: baseava-se nas amizades, nas ligações familiares e, definitivamente, em favores devidos a este ou àquele cangalheiro, homens importantes, influentes, e com negócios e interesses vários e poderosos na vida da vila antiga.
Às vezes, para enterros nas aldeias à volta, algumas delas, por aquela altura, ainda sem estradas de lei ou sequer caminhos transitáveis, os agentes funerários requisitavam a carreta dos Bombeiros, puxada e manobrada à mão por um piquete fardado de gala, com luvas brancas e capacetes dourados reluzindo ao sol, coisa bonita de se ver. Nestas infaustas e solenes ocasiões, os bombeiros de serviço recebiam uma pequena gratificação, a bem dizer simbólica, decerto saída do pagamento da funerária à corporação, e, após as exéquias, no regresso do cemitério, eram amiúde agraciados pela família enlutada com uma generosa merenda, que constava, regra geral, de bacalhau frito, broa e umas boas malgas de verde tinto, evidentemente, nem que fosse apenas manhãzinha.
Publicidade a respeito de funerais, naquela maré, em Fafe, a única que havia era a do gato-pingado biscateiro e apressado que andava de loja em loja, de café em café, de tasco em tasco, a deixar o tradicional aviso em papel do falecimento e do enterro, para colocar nas montras, mas explicando sempre de viva voz, em todos os locais, quem era exactamente o morto, o seu enquadramento familiar, irmãos, pais ou filhos, se fossem mais conhecidos, uma ou outra nota biográfica, empregos, alcunhas, se as houvesse, hora e morada, porque naquele tempo os defuntos saíam de casa, tudo dito muito rapidamente, entrada por saída, uma e outra vez, numa espécie de lengalenga previamente ensaiada, porém aberta a perguntas, e eu gostava muito de ouvir aquilo, como se fosse um teatro, uma récita, eu dava realmente valor ao trabalho do homem. O gato-pingado, para mim, era um artista.

Devo confessar, já agora, que o prospecto que me enfiaram na caixa do correio acabou por aguçar a minha curiosidade. Esse é, afinal, o truque do marketing, mesmo do marketing de trazer por casa. Porta a porta. Admito que estou a pensar pedir um orçamento para a minha morte. Seduziu-me aquela coisa da "Medalha Impressão Digital", que não sei o que é mas deve ser muito bom para o morto. E também quero que me expliquem muito bem explicadinho o "Contrato de Funeral em Vida". Isso é legal? E é saudável? Funeral em vida? Dasse!...

(Publicado ontem no meu blogue Mistérios de Fafe)

Novos Mistérios de Fafe


É no blogue Mistérios de Fafe que eu publico, desde o início do ano, os meus textos sobre Fafe, sobre vidas, pessoas, usos, falares e acontecimentos do meu tempo de Fafe e após, isto é, sobre o modo como o recordo ou quero recordar. Histórias e memórias pessoais, juvenis e profissionais, velhas amizades, cromos e admirações, cenas gagas ou desgraçadas, pilhérias, peripécias, é o que por lá conto. Entretanto, mantenho activos os blogues Fafismos e Tarrenego!, este, mais generalista e "nacional".

(Mistérios de Fafe pode ser visto e lido em - https://misteriosdefafe.blogspot.com/)

sábado, 1 de novembro de 2025

Os dias trocados

A Igreja Católica tem mais de vinte mil santos e beatos com cartão passado e as quotas em dia. Santos populares, que são apenas três, nossos, e os outros todos. Muitos deles de uma santidade nefasta ou pelo menos altamente duvidosa, mas paciência, agarremo-nos então aos vinte mil. E hoje é dia deles todos. Dia de Todos os Santos. É portanto dia de festa de arromba, a romaria maior da Igreja inteira. Seria de multiplicar por vinte mil, digo eu, o pagode sem fim de um São João, de um Santo António, de uma Senhora de Antime, de um Senhor de Matosinhos, de uma Senhora da Agonia, de uma Senhora dos Remédios, até de um Corpo de Deus, mas não, o povo pega no feriado e vai chorar para o cemitério. Chorar os seus mortos, os Finados, os Fiéis Defuntos. Mas isso é só amanhã, criaturas!...

P.S. - Hoje é Dia de Todos os Santos.

Construindo o Natal

Foto Hernâni Von Doellinger