terça-feira, 30 de abril de 2019

Apertos de um 1.º de Maio

Foto Hernâni Von Doellinger

Fui ver o Dia dos Trabalhadores ao Porto. Porque, para quem não tem mais nada que fazer e é teso, o Porto é um sítio porreiro para se ver Dias dos Trabalhadores e não é preciso comprar bilhete. No Porto há muito desemprego e uma praça e uma avenida destinadas ao 25 de Abril, às greves gerais, ao Dia dos Trabalhadores, aos camones, aos carteiristas e aos vadios em geral, as quais, praça e avenida, são emprestadas pelo Pinto da Costa quando o Futebol Clube se esquece de ser campeão - o que é raro... e altamente suspeito.
O Dia dos Trabalhadores correu muito bem. Primeirodemaiou-se ali com grande pertinácia e depois acabou. Acabou, mas eu, que sou de lágrima fácil, estava com uma vontade de mijar que já não era só vontade, era uma emergência nacional, e desatei a correr como um tolinho para o WC sob as escadinhas da Rua 31 de Janeiro com a Estação de São Bento e com a polícia de choque atrás de mim como se eu levasse um engenho explosivo na braguilha. Não levava. Estava apenas à rasca. À rasquíssima. E a retrete estava de portas fechadas. Por causa do feriado.
Que se segue: eu bem não queria, mas tive de ir, com uma mão à frente e outra atrás, às casas de banho da estação propriamente dita. Às tais, às míticas, às suspeitíssimas. O que se passou lá dentro não interessa, apenas faço questão de garantir que saí daqueles apertos com a honra invicta. A polícia, entretanto, desinteressou-me de mim e passou a perseguir um casal de lavradores do Marco de Canaveses que tinha vindo a uma consulta de otorrinolaringologia, ela com a infelizmência de um xaile vermelho às costas e ele com um saco de plástico na mão, sotaque da terra e "cara de marroquino". O relógio exterior de São Bento batia as quinze e quinze. A polícia também. Após a sova da ordem, as autoridades verteram nos autos que o perigoso saco continha um cartucho com 250 gramas de sementes de pepino compradas sem guia de remessa na Casa Hortícola do velho Bolhão, um toquinho de chouriço de colorau, meia sêmea, um taparuer com uma cebola da monda rachada em quatro e metida em sal grosso e vinagre tinto, uma garrafa de cerveja quase vazia de vinho e um canivete belga com seis centímetros de lâmina. Os dois indivíduos, um do sexo masculino e o outro não, entre os sessenta e os setenta anos, foram detidos por posse de arma branca. Os peritos em minas e armadilhas fizeram explodir o resto.

P.S. - Contava-se que havia um padre, famoso pregador, que fazia sempre o mesmo sermão. Só mudava o nome do santo. Ora bem: o grosso do texto acima foi escrito para uma greve geral, adapto-o hoje mais uma vez ao 1.º de Maio e palpita-me que não vou ficar por aqui...

Só destes, tenho sete 74

Foto Hernâni Von Doellinger

Otto Lara Resende 3

Sou exatamente o menino que aos nove anos foi declamar um verso de Antero de Quental e se perdeu.

"Otto Lara Resende: A Poeira da Glória", Otto Lara Resende

(Otto Lara Resende nasceu no dia 1 de Maio de 1922. Morreu em 1992.)

Lutando pela liberdade

Foto Hernâni Von Doellinger

José de Alencar 7

Emília tinha quatorze anos quando a vi pela primeira vez.
Era uma menina muito feia, mas da fealdade núbil que promete a donzela esplendores de beleza.
Há meninas que se fazem mulheres como as rosas: passam de botão a flor: desabrocham. Outras saem das faixas como os colibris da gema: enquanto não emplumam são monstrinhos; depois tornam-se maravilhas ou primores.
Era Emília um colibri implume; por conseguinte um monstrinho.
Seu crescimento fora muito rápido; tinha já altura de mulher em talhe de criança. Daí uma excessiva magreza: quanta seiva acumulava aquele organismo era consumida no desenvolvimento precoce da estatura.
Ninguém caracterizava com mais propriedade esse defeito de Emília do que a menina Júlia, sua prima. Quando as duas se agastavam, o que era frequente, Júlia a chamava de esguicho de gente.

"Diva", José de Alencar

(José de Alencar nasceu no dia 1 de Maio de 1829. Morreu em 1877.)

Feiras Francas de Fafe 2019

Foto Hernâni Von Doellinger

Feiras Francas de Fafe, de 15 a 19 de Maio. Zé Amaro é cabeça-de-cartaz. Mais informação e programa, aqui.

Uma gaivota, duas gaivotas, três gaivotas...

Foto Hernâni Von Doellinger

Quando o 1.º de Maio era no dia 28 do mesmo

Antigamente o 1.º Maio era no dia 28 do mesmo. Quando digo antigamente quero dizer antes do 25 de Abril de 1974, que já é antigamente que chegue - que o confirmem os deputados da nação, cujos mais de um terço ainda não tinham nascido quando a coisa se deu. Um por exemplo: o estádio do SC Braga na Ponte, antes da extraordinária Pedreira do arquitecto Souto Moura, chamava-se Estádio 28 de Maio. Por questões políticas e não de calendário litúrgico, rito bracarense: chamava-se 28 de Maio glorificando o golpe militar que naquela data, em 1926, derrubou a Primeira República e abriu caminho à ditadura do Estado Novo. De corte fascista, o Estádio 28 de Maio, que ainda está de pé, tentava aparentar-se e rivalizar com o Estádio Nacional, no Jamor, ou em Oeiras, consoante a dor de cotovelo de cada qual, e foi inaugurado, em 1950, por Salazar e Carmona, que assim dito até parecem uma alegre sociedade de costureiros. Veio a revolução dos cravos e o estádio mudou de nome, passou a chamar-se Estádio 1.º de Maio, viva o Dia dos Trabalhadores, viva a classe operária!, mais ajuizado seria que se tivesse chamado sempre Campo da Quinta da Mitra.
Em todo o caso, como já escrevi aqui, mudar o nome do velho estádio de Braga, de 28 de Maio para 1.º de Maio, só demonstra (num raciocínio assumidamente palerma e suinamente fascistóide) que a Outra Senhora levava 27 dias de avanço em relação a Esta Senhora e que as revoluções cometem-se sobretudo e quase só para mudar os nomes das ruas, praças, pontes, estádios e outro imobiliário.
Querem outro por exemplo? O Estádio 25 de Abril, de Penafiel. Antes da "política", aquele terreiro chamava-se Campo das Leiras. Que mal é que tinha o nome?

O 28 de Maio de 1926 foi praticamente como o 25 de Abril de 1974, mas em versão fascista. Começou em Braga e chegou a Lisboa atrás do cavalo branco de Gomes da Costa, uma espécie de chaimite daquele tempo. 
Antes do 25 de Abril, os 28 de Maio eram celebrados com desfiles, por assim dizer, militares: Mocidade Portuguesa, Legião Portuguesa, certamente bombeiros e escuteiros, provavelmente ranchos folclóricos e evidentemente soldados propriamente ditos. A Veneranda Figura lá estava, mas o de Santa Comba se calhar não, porque constipava muito de saísse à rua e o povo fazia-lhe espécie. Havia discursos, condecorações e sobretudo muitas fanfarras, a bem da Nação. O bom povo português assistia a tudo patrioticamente embebecido, se não me engano com aguardente, porque as cerimónias eram de manhã.
Uma vez eu também lá fui. Estava no seminário, em Braga, e os padres levaram-nos. Gostei muito, porque o meu tio Zé de Basto era corneteiro na fanfarra do Regimento de Infantaria 8 e eu já não o via há uma temporada. Pusemos a conversa em dia.
Resumindo e concluindo: Portugal continua a ser o mesmo, só o tio Zé é que já não anda na tropa...

Interlúdio fotográfico 93

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Cala-te, boca!

Quando a boca lhe foge para a verdade, ele vai atrás dela e mete-lhe o açaime.

Também faço isto muito bem 187

Foto Hernâni Von Doellinger

Carlos Lacerda 3

O pessoal dos subúrbios investia sobre os trens. Era como tomada da Bastilha nas estampas da época. Era a fuga de uma população esbaforida - tudo que se possa imaginar. Não me empurre, oh! Não deixe entrar na fila! Que fila, sua besta? - quem foi ao vento perdeu o assento. Está tirando o ar da criancinha.

"21 Contos Inéditos de Carlos Lacerda", Carlos Lacerda

(Carlos Lacerda nasceu no dia 30 de Abril de 1914. Morreu em 1977.)

Só destes, tenho sete 73

Foto Hernâni Von Doellinger

Amador Montenegro 4

Por qué canto

[...]
Deprendín a cantar adimirando
Os feitizos que gard'a pátrea miña:
Ise sol esprendente,
Cuyos rayos, n-a terra, vai dourando
As espigas d'o pan n-o vran ardente;
Isa brisa lixeira e remorosa
Que xogando antr'as frores,
O cheiro rouba ô caravel y-â rosa,

O confidente sendo en seus amores.

Deprendín á cantar n-as carballeiras
A múseca escoitando d'os xilgueiros,
Y-en noites feiticeiras
D'o mes d'as frores, d'o surrente mayo,
Aquel perpeuto ensayo,
Aquel subrime cántico de amor,
Paseón ardente, sin igoal tenrura,
Qu'ô lado d'a sua femia o reiseñor
Entona n-a espesura.

[...]

"Muxenas", Amador Montenegro 

(Amador Montenegro nasceu no dia 30 de Abril de 1864. Morreu em 1932.)

Caminho 653

Foto Hernâni Von Doellinger

Alda do Espírito Santo 3

Lá no "Água Grande"

Lá no "Água Grande" a caminho da roça 
negritas batem que batem co'a roupa na pedra.  
Batem e cantam modinhas da terra.

Cantam e riem em riso de mofa 
histórias contadas, arrastadas pelo vento.
Riem alto de rijo, com a roupa na pedra 
e põem de branco a roupa lavada.

As crianças brincam e a água canta. 
Brincam na água felizes...
Velam no capim um negrito pequenino.

E os gemidos cantados das negritas lá do rio 
ficam mudos lá na hora do regresso... 
Jazem quedos no regresso para a roça.
 

"É Nosso o Solo Sagrado da Terra", Alda do Espírito Santo 

(Alda do Espírito Santo nasceu no dia 30 de Abril de 1926. Morreu em 2010.)

Os meus cromos 61: Ventura

Foto Hernâni Von Doellinger

A dúvida dos conspiradores

Os conspiradores tinham apenas uma dúvida: marcar para quando o 25 de Abril?

Senhor de Matosinhos 2019



Romaria do Senhor de Matosinhos, de 24 de Maio a 16 de Junho. Blaya e GNR são cabeças-de-cartaz. Mais informação, aqui.

Interlúdio fotográfico 92

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 28 de abril de 2019

O seu melhor pé

O seu melhor pé era o esquerdo. O direito cheirava bastante a chulé.

Também faço isto muito bem 186

Foto Hernâni Von Doellinger

Francisco Bandeira de Mello 3

Sintaxe

Sentir
o eixo
da palavra

sentir
o valor
axial
de tudo

e não
achar
nada

 Francisco Bandeira de Mello

(Francisco Bandeira de Mello nasceu no dia 29 de Abril de 1936. Morreu em 2011.)

Cabecinha pensadora...

Foto Hernâni Von Doellinger

João Penha 5

Lamúrias

"Que pena! Tenho o corpo tão bonito,
E nenhum amoroso me procura!
E, quem sabe?, talvez à sepultura
Eu me vá, de capela e de palmito!


"Em tempos, um rapaz muito esquisito,
Inda imberbe mas lindo de figura,
Passava, mas fugiu! Que desventura:
Era da raça dos Josés do Egipto!

"E os dias vão passando, sem que veja
A mais ligeira mutação de cena!
Por sobre mim uma ave negra adeja!

"De corpo tão bonito, alta e morena
À própria Vénus causaria inveja,
E assim tão bela... durmo só! Que pena!"


"Ecos do Passado", João Penha

(João Penha nasceu no dia 29 de Abril de 1838. Morreu em 1919.)

Amarelo, pois!

Foto Hernâni Von Doellinger

A guerra dos queijos (ou dos fromages, em francês)

Era um encontro previsto para ser diplomático e discutido em três sets: quando Mister Cheddar, pela Inglaterra, e Monsieur Camembert, pela França, reuniram em Sherwood, sob os auspícios do Robin dos Bosques e a bênção de Frei Tuck, tendo sobre a mesa, já naquele tempo, a delicada questão das quotas leiteiras. Estava tudo a correr bem, entre uísques e champanhes bem bebidos, mas era um cheiro a chulé que não se podia. Foi então que o inglês, já com um grãozinho na asa e uma mola de roupa no nariz, não aguentou mais e questionou o francês, com a ajuda do Carlos Fino, que fazia as traduções: - Porque é que o caro amigo (old chap, no original) não vai mas é lavar os pés no Sena?
E foi assim que começou a Guerra dos Cem Anos. Até hoje. 


P.S. - O textinho acima chamava-se "E assim começou a Guerra dos Cem Anos", quando o escrevi e publiquei no dia 6 de Janeiro de 2016. O DN informa hoje que a França, que insiste em chamar fromage a uma coisa que todos nós sabemos que é queijo, está em pé de guerra, mas civil, com camembert de um lado e roquefort do outro, e uma imensa terra de ninguém entre ambos por causa do pivete. Eu avisei, mas ninguém se me acredita nas metáforas.

Só destes, tenho sete 72

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 27 de abril de 2019

Microcontos & outras miudezas 137

A minha mãe ouviu um too
Liguei esta manhã à minha mãe, para a bênção semanal, e a minha mãe disse-me que estava um frio de rachar em Fafe, daquele frio que parece que "já passou por muita neve", portanto fora de prazo, e que por volta das seis, sete horas ouviu um too. Não um tolo sem éle - um too. A minha mãe ficou muito admirada por ser só um. Ainda admitiu, a rir-se com os botões, que fosse uma bomba, mas não, o que ouviu foi mesmo um too, tinha a certeza.
É este falar antigo, escorreito, musical, tão galego nosso, que me apaixona tanto, e suspeito e lamento que sejam já poucos os que o guardam em Fafe. Atenção: a minha mãe falou bem. A minha mãe fala sempre bem. Toar é sinónimo de trovejar e portanto um trovão é um too. Lê-se e diz-se tôo e não tu, à estrangeira. A minha mãe ouviu um too e deram-me umas saudades desgraçadas...

Filmes
Não vá em fitas! Máscara de ferro é uma coisa, testa-de-ferro é outra.

Vademetro!
Disseram-lhe - Vá de metro, Satanás! E ele foi. Saiu na estação do Bolhão e apanhou o 401 para São Roque.

Santinho!
Viva!
Viva Portugal!
Viva a República e a Monarquia!
Viva a Igreja e a Maçonaria!
Viva a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila Real de Santo António, não desfazendo de todas as outras associações humanitários de bombeiros voluntários do resto do País que têm nome mais curto, como, por exemplo, Fão ou inclusivamente Freixo de Espada à Cinta!
Viva!

Viva císsimo!
Viva mente!
Viva quente!
Vá para dentro!

Viva! Viva!
Viva quem tem pêlos na barriga
e quem os abaixo tem
que viva também!

Viva cidade!
Viva Villa!
Viva Zapata!
Viva México!
Arriba, arriba! Ándale, ándale!
Viva Las Vegas!
Ó Elvis, ó Elvis, bisavós à vista!
Viva!

Santinho!

Vida de cão 437

Foto Hernâni Von Doellinger

Les bourgeois

Mercedes tinha um defeito: aqueles ares de nova-rica...

Que seca, primo!

Foto Hernâni Von Doellinger

O clube do meu coração

Os jogadores de futebol têm um grave problema com o clube do seu, deles, coração: imediatamente por cima do dito coração, no casaco de marca, o bolso da carteira...

Os meus cromos 60: Tónio Moleiro

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 26 de abril de 2019

O bom do 25 de Abril

O bom do 25 de Abril é que calhou no dia certo. Imaginem que tinha sido a 24...

Também faço isto muito bem 185

Foto Hernâni Von Doellinger

Cassiano Nunes 3

Como posso queixar-me
de solidão
se possuo a noite
e a sua canção?

A noite é tão vasta
que me perco nela!
Amor! Acende a estrela
da tua janela!

Cassiano Nunes

(Cassiano Nunes nasceu no dia 27 de Abril de 1921. Morreu em 2007.)

Yin e Yang

Foto Hernâni Von Doellinge

E contigo também

Prazeres entrou para o convento e nunca mais lá houve sossego...

Os meus cromos 59: Salazar (o bom)

Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Geralmente bem informados

Conspiravam. Viviam numa satisfatória clandestinidade, numerados de Um a Doze. Mas tinham as suas fontes. Geralmente bem informadas. Na reunião de Março, pela noute, em absoluto respeito pelas cautelas catacumbais religiosamente estabelecidas, desligaram o aparelho de televisão por alturas do TV 7, ligaram a telefonia no relato de um Espanha-Portugal em hóquei em patins, colocaram os óculos e apagaram a luz, esbarraram-se uns nos outros, partiram meia dúzia de chávenas e três copos, e os óculos, juntaram as múltiplas informações recolhidas à socapa no mundo exterior, assopraram-lhes cerimoniosamente o pó, decantaram-nas, apreenderam as entrelinhas, montaram o Puzzle, que era um cavalo malhado que dava para todos, mas à vez, pediram mais uma rodada de finos e quatro pires de tremoços, e concluíram que estavam prontos e imperiosos. "É preciso fazer um 25 de Abril", anunciou o Número Um. "E para quando é que marcamos isso?", perguntou o Número Dois.

Vida de cão 436

Foto Hernâni Von Doellinger

Caetano da Costa Alegre 3

Quando eu morrer

Não quero! Tenho horror que a sepultura
mude em vermes meu corpo enregelado.
Se no fogo viveu minha alma pura,
quero, morto, meu corpo calcinado.

Depois de ser em cinzas transformado,
lancem-me ao vento, ao seio da natura...
Quero viver no espaço ilimitado,
no mar, na terra, na celeste altura.

E talvez no teu seio, ó virgem linda,
tão branco como o seio da virtude,
eu, feito em cinzas, me introduza ainda.

E no teu coração, pequeno e forte,
(ó gozo triste!) viva eu na morte,
já que na vida lá viver não pude!

Caetano da Costa Alegre 

(Caetano da Costa Alegre nasceu no dia 26 de Abril de 1864. Morreu em 1890.)

Só destes, tenho sete 71

Foto Hernâni Von Doellinger

Godofredo Filho 3

Soneto do vinha da Madeira

O olhar castanho e morno das panteras
tens às vezes na cor. Mas entontece
é teu perfume: a ronda de quimeras
voltando a meu caminho escurece.

Ao meu caminho que escurece… Esferas
de ébrio torpor no céu que agora desce
sobre a fluidez enorme do que eras
no chamalote do ar, que empalidece.

Das chípreas uvas roxas de onde o mosto
espúmeo flui, e a perfeição alcança,
de sumarento e sazonado gosto.

Derramas-te em meus lábios como um cântico
de saudade da vida (e de esperança),
vinho de lava ardente e vento atlântico.

"Sete Sonetos do Vinho", Godofredo Filho

(Godofredo Filho nasceu no dia 26 de Abril de 1904. Morreu em 1992.)

Os passarinhos, tão engraçados 81

Foto Hernâni Von Doellinger