Capitão das ilhas
Morreu hoje o capitão de um navio das ilhas.
Não foi porque ele era bom
e puxava afectuosamente o fumo do seu cigarro
quando falava comigo
que fui ao seu enterro.
Nem tão pouco porque conheci
as tragédias náuticas
que serviram de alicerce ao único poema,
entre flores e caiado de branco,
que ele escreveu nesta vida.
Fui ao seu enterro porque sou caçador de heranças
e queria confessar a minha gratidão
pela riqueza que ele me deixou,
pela sua dimensão desmesurada do mundo
e pela incorporação no veleiro em que todos navegamos.
"Cântico da Manhã Futura", Baltasar Lopes
(Baltasar Lopes, que também assinava Osvaldo Alcântara, nasceu no dia 23 de Abril de 1907. Morreu em 1989.)
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