sexta-feira, 31 de maio de 2013
Um tubarão na sopa
O título tem tudo para ser um bom título, tirando o facto de não ser. Diz o jornal: "Vale mais um tubarão no mar do que na sopa". Um tubarão na sopa? Um tubarão? Com cabeça e tudo? Ou a cabeça é para cozer à parte, com grão? Desculpem-me meter o bedelho, mas chamar a mosca ao assunto não seria mais credível? Quero eu dizer: mais vale uma mosca no ar do que na sopa. Isto é que está certo, ou não? É que os nossos pratos, ainda que sopeiros, são muito pequeninos. E cada vez mais. Por causa dos tubarões - os outros.
Descolonização de Angola na SIC Notícias
A jornalista Alexandra Marques vai esta noite ao Jornal das 9 da SIC Notícias para falar sobre o seu livro "Segredos da Descolonização de Angola". Pelas 21h15, com Mário Crespo.
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quinta-feira, 30 de maio de 2013
Os últimos retoques
Foto Hernâni Von Doellinger |
Já há música no Parque da Cidade. São testes. E último aviso aos patos - para se porem a milhas. O Optimus Primavera Sound começa esta noite, com algumas novidades e prometendo ultrapassar o retumbante sucesso do ano passado. Cá estarei em casa para ouvir.
Wenceslau de Moraes
São tão lindas, as borboletas! Quem as vê, que não lhes queira? aí
vagabundando pelo azul dos campos, rasando as corolas frescas,
amando-se, beijando-se, libertas da larva abjecta, como almas de amantes
despidas da miséria terreal, a viajarem no infinito... São tão lindas,
as borboletas!...
Mas na China são talvez mais lindas do que todas. É um deslumbramento surpreendê-las na quietação dos bosques, voejando aos pares, que se tocam, que se abraçam, e enfiando pelas sombras misteriosas dos bambus, com as suas longas asas palpitantes, lanceoladas, em matizes maravilhosos, de negros aveludados, de azuis meigos, de amarelos quentes, como se as loucas vestissem cabaias de cetim, de sedas de alto preço...
"Paisagens da China e do Japão", Wenceslau de Moraes
(Wenceslau de Moraes nasceu no dia 30 de Maio de 1854. Morreu em 1929.)
Mas na China são talvez mais lindas do que todas. É um deslumbramento surpreendê-las na quietação dos bosques, voejando aos pares, que se tocam, que se abraçam, e enfiando pelas sombras misteriosas dos bambus, com as suas longas asas palpitantes, lanceoladas, em matizes maravilhosos, de negros aveludados, de azuis meigos, de amarelos quentes, como se as loucas vestissem cabaias de cetim, de sedas de alto preço...
"Paisagens da China e do Japão", Wenceslau de Moraes
(Wenceslau de Moraes nasceu no dia 30 de Maio de 1854. Morreu em 1929.)
quarta-feira, 29 de maio de 2013
Prólogo do Lés-a-Lés 2013 em Fafe
Acabadinho de sair do forno. Para os interessados, aqui fica o mapa do prólogo do 15.º Portugal de Lés-a-Lés, que arranca em Fafe no próximo dia 8 de Junho. O traço é do inimitável Ernesto Brochado, o Senhor Lés-a-Lés, e a voltinha é bem jeitosa, profundamente minhota. Dei-a, tal e qual, faz hoje oito dias - de carro e braço de fora - e que bem que me soube.
O Portugal de Lés-a-Lés é o maior evento mototurístico da Europa. A edição deste ano conta com 1.130 inscritos e 1.000 motos. Somando os elementos da organização, estão envolvidas, no total, 1.200 pessoas e 1.060 motos. Em três dias, de 8 a 10 de Junho, serão percorridos 1.050 quilómetros por estradas, estradinhas, aldeias, vales e montanhas, grutas, monumentos e centros históricos, ao encontro de um país por descobrir. E é em Fafe, exactamente no Largo, que tudo começa.
(Para apreciar o mapa em todos os seus pormenores - e vale a pena -, recomendo o uso de uma lupa. Ou então... um clique em cima da imagem. Toda a informação sobre o Lés-a-Lés 2013, aqui.)
terça-feira, 28 de maio de 2013
segunda-feira, 27 de maio de 2013
Será de confiança?
O Benfica está a desgraçar Portugal
domingo, 26 de maio de 2013
Ruben A.
Dia 10. Estou azabumbado. Pedalo dentro da minha cabeça e sai apenas uma bílis de má disposição. A minha vida é um acidente de terreno pouco elevado. Esmigalho-me de vez em meses: é cada notícia que me alquebra os untos. Fico-me por aqui a olhar os bosques por onde caminha o Cavaleiro da Barbela a bordo do seu afamado Vilancete. E sonho nas saudades monstras que tenha da Barbela. Sítio ímpar na Ribeira Lima, solar da Torre, albergando os mais individualizados de cada século. Quase me apaixono por Madeleine Barbelat que quer perscrutar da virgindade do Cavaleiro antes de regressar a Paris. Depois ingresso novamente na chatice da renda de casa para pagar até ao dia 8, do gás e da electricidade, e eu sempre atento a apagar o que se não deve estragar de dinheiro, e o telefone a roubar-me por um contador que não está em minha casa, sou indefeso, imbecil, parvo - ainda a água caudalosa a chuvar-me o estremunhamento para não falar no pesadelo constante de padeiro, leiteiro, carniceiro, canalizador. Tudo que é novo em Portugal precisa de ser arranjado, então as canalizações já são construídas entupidas de nascença. Há tanto maquinismo de que só fabricamos os abortos. E medito que à borla só tenho o ar e o dentista amigo que é um homem bestial, boémio dos tempos de Coimbra, são de corpo e alma. Ah! Como eu queria bocejos à beira-mar. Lisboa faz-me vómitos setembrais; é a cidade mais egoísta do Ocidente. Em Lisboa é tudo difícil. Os braços caem-me pelas pernas abaixo e a cabeça de tão inclinada só olha pelos umbigos citadinos. São feios os umbigos portugueses. Têm pouca graça, parecem estrelas cadentes. Toda a minha paixão vira-se para umbigos de luxo que me arranquem dessa monotonia de contínuos problemas fiduciários.
"Páginas (V)", Ruben A.
(Ruben Alfredo Andresen Leitão nasceu no dia 26 de Maio de 1920. Morreu em 1975.)
"Páginas (V)", Ruben A.
(Ruben Alfredo Andresen Leitão nasceu no dia 26 de Maio de 1920. Morreu em 1975.)
sábado, 25 de maio de 2013
De olho no Mercado de Matosinhos
O Mercado de Matosinhos foi classificado como monumento de interesse público, e mais valia estarem quietos. Agora temo que lhe aconteça o pior. Olhem para o Senhor do Padrão: é monumento nacional - isto é, joga na Liga dos Campeões destas coisas do património - e está num abandono que é uma dor de alma.
Palhaços
Bem sacada esta campanha de promoção do novo livro do comentador Miguel Sousa Tavares. Excelente golpe publicitário, e com alto patrocínio. Bem sacado.
Já agora: o livro chama-se "Madrugada Suja" e - entre os acasos da vida, que são "o grande tema", segundo o autor - fala da corrupção na política. Em Portugal, nos últimos 30 anos.
Já agora: o livro chama-se "Madrugada Suja" e - entre os acasos da vida, que são "o grande tema", segundo o autor - fala da corrupção na política. Em Portugal, nos últimos 30 anos.
sexta-feira, 24 de maio de 2013
A parada do Parada
Foto Hernâni Von Doellinger |
Todos os dias António Parada faz alguma coisa para ser presidente da Câmara de Matosinhos. Trabalha. Faz pela vida - pela dele e ao redor. Faz ondas, enquanto os ungidos esperam sentados pela maré que não enche e pelo improvável milagre das rosas. Estes são os candidatos da preguiça, da falsa indignação e do fim do mês.
Parada é candidato de mangas e ideias arregaçadas - é político e da política, mas por linhas travessas, muito travessas. Os jotas e os "ó doutor" que façam o favor de desculpar. Derivado a esta falta de pedigree (e não só), Parada acerta muito menos no que diz do que no que faz, e a nossa sorte é que ele faz muito, quem dera que possa ainda fazer mais, a ver se fala cada vez menos.
António Parada não manda, aparece. E aparece sempre e em todo o lado, como Deus Nossa Senhor. E nunca aparece de mãos vazias. Ainda hoje desceu a minha rua com "mais de 3.000" crianças, levadas, levadas sim, numa "caminhada pelo coração". Claro que não eram nada "mais de 3.000", muitíssimo longíssimo díssimo, mas, por regra, os números das imparáveis iniciativas do ainda presidente da Junta de Freguesia de Matosinhos são exactamente como ele: generosos.
Adiante. Parada aí está. Eu bem gostava que Narciso Miranda também entrasse na corrida, isto ia ter muito mais piada, se calhar desta vez até eu levantava o cu para ir votar, mas o raio do homem não dá de si. Portanto: Parada. No actual cenário, se alguém merece ganhar a Câmara, é ele. E volto ao princípio: António Parada merece a Câmara porque há anos que todos os dias faz alguma coisa por isso. Numa palavra - trabalha.
Foto Hernâni Von Doellinger |
Ferreira de Castro
Os homens transitam do norte para o sul, de leste para oeste, de país para país, em busca de pão e de um futuro melhor. Nascem por uma fatalidade biológica e quando, aberta a consciência, olham para a vida, verificam que só a alguns deles parece ser permitido o direito de viver. Uns resignam-se logo à situação de elementos supérfluos, de indivíduos que excederam o número, de seres que o são apenas no sofrimento, no vegetar fisiológico de uma existência condicionada por milhentas restrições. Curvam-se aos conceitos estabelecidos de há muito, aceitam por bom o que já estava enraizado quando eles chegaram e deixam-se ir assim, humildes, apagados, submissos, do berço ao túmulo - a ver, pacientemente, a vida que levam outros homens mais felizes.
Alguns, porém, não se resignam facilmente. A terra em que nasceram e que lhes ensinaram a amar com grandes tropos patrióticos, com palavras farfalhantes, existe apenas, como o resto do mundo, para fruição de uma minoria. E eles, mordidas as almas por compreensíveis ambições, querem também viver, querem também usufruir regalias iguais às que desfrutam os homens privilegiados. E deslocam-se, e emigram, e transitam de continente em continente, de hemisfério a hemisfério, em busca do seu pão.
Mas em todo o mundo, ou em quase todo o mundo, vão encontrar drama semelhante, porque semelhantes são as leis que regem o aglomerado humano. Não esmorecem, apesar disso. Continuam a transitar de ingénuos olhos postos na luz que a sua imaginação acendeu, enquanto os mais ladinos, aproveitando todas as circunstâncias ou criando-as até, fazem oiro com a ingenuidade dos ingénuos.
Eles continuam a transitar com uma pátria no passaporte, mas em realidade sem pátria alguma, pois aquela que lhe é atribuída pertence apenas a alguns eleitos. Para eles, ela só existe quando nos quartéis soam as cornetas de guerra ou nas repartições públicas se recolhem tributos. É assim na Europa e é assim nos outros continentes.
Nasce o homem e, se não dispõe de riqueza acumulada pelos seus maiores, fica a mais no mundo. Entra na vida - já se disse e é bem certo - como as feras nos antigos circos - para a luta! Luta para criar o seu lugar, luta contra os outros homens, luta pelas coisas mesquinhas e não pelas verdadeiramente nobres, por aquelas que contribuiriam para maior elevação humana. Para essas quase não há tempo na existência de cada um.
"Emigrantes", Ferreira de Castro
(Ferreira de Castro nasceu no dia 24 de Maio de 1898. Morreu em 1974.)
Alguns, porém, não se resignam facilmente. A terra em que nasceram e que lhes ensinaram a amar com grandes tropos patrióticos, com palavras farfalhantes, existe apenas, como o resto do mundo, para fruição de uma minoria. E eles, mordidas as almas por compreensíveis ambições, querem também viver, querem também usufruir regalias iguais às que desfrutam os homens privilegiados. E deslocam-se, e emigram, e transitam de continente em continente, de hemisfério a hemisfério, em busca do seu pão.
Mas em todo o mundo, ou em quase todo o mundo, vão encontrar drama semelhante, porque semelhantes são as leis que regem o aglomerado humano. Não esmorecem, apesar disso. Continuam a transitar de ingénuos olhos postos na luz que a sua imaginação acendeu, enquanto os mais ladinos, aproveitando todas as circunstâncias ou criando-as até, fazem oiro com a ingenuidade dos ingénuos.
Eles continuam a transitar com uma pátria no passaporte, mas em realidade sem pátria alguma, pois aquela que lhe é atribuída pertence apenas a alguns eleitos. Para eles, ela só existe quando nos quartéis soam as cornetas de guerra ou nas repartições públicas se recolhem tributos. É assim na Europa e é assim nos outros continentes.
Nasce o homem e, se não dispõe de riqueza acumulada pelos seus maiores, fica a mais no mundo. Entra na vida - já se disse e é bem certo - como as feras nos antigos circos - para a luta! Luta para criar o seu lugar, luta contra os outros homens, luta pelas coisas mesquinhas e não pelas verdadeiramente nobres, por aquelas que contribuiriam para maior elevação humana. Para essas quase não há tempo na existência de cada um.
(Ferreira de Castro nasceu no dia 24 de Maio de 1898. Morreu em 1974.)
quinta-feira, 23 de maio de 2013
quarta-feira, 22 de maio de 2013
terça-feira, 21 de maio de 2013
segunda-feira, 20 de maio de 2013
domingo, 19 de maio de 2013
Pílulas defeituosas e engravidadoras
O título da notícia do jornal, na secção de Saúde, diz: "40 mulheres engravidaram devido a pílulas defeituosas". Não quero levantar falsos testemunhos, mas desconfio que também deve ter havido sexo.
Mário de Sá-Carneiro
Quase
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
.........................................................
.........................................................
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
"Dispersão", Mário de Sá-Carneiro
(Mário de Sá-Carneiro nasceu no dia 19 de Maio de 1890. Morreu em 1916.)
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
.........................................................
.........................................................
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
"Dispersão", Mário de Sá-Carneiro
(Mário de Sá-Carneiro nasceu no dia 19 de Maio de 1890. Morreu em 1916.)
sábado, 18 de maio de 2013
Segredos da descolonização de Angola 2
A jornalista Alexandra Marques vai esta noite à TVI24 falar sobre o seu livro "Segredos da Descolonização de Angola", acabado de sair. A partir das 22 horas, com Henrique Garcia.
A sinopse publicitada da obra promete conversa interessante:
Que segredos poderão ser revelados sobre a descolonização de Angola? O que terá sido discutido na ilha do Sal (em Setembro de 1974) entre Spínola e Mobutu sobre as condições de transferência do Poder para a FNLA? Que facilidades concedeu o almirante Rosa Coutinho aos Movimentos de Libertação ainda antes do Acordo do Alvor? Porque insiste Almeida Santos que as reuniões de Argel (em Novembro de 1974) entre Melo Antunes e Agostinho Neto resultaram no guião da Penina? Porque quiseram os negociadores nacionais manter secreto o protocolo-anexo ao Acordo que nunca foi divulgado? E que posição assumiram em relação aos bens imóveis dos portugueses residentes no território? Qual o papel de Mário Soares enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros? Qual a razão do conflito entre a Coordenadora do Programa do MFA para Angola e o Alto Comissário Silva Cardoso?
A sinopse publicitada da obra promete conversa interessante:
Que segredos poderão ser revelados sobre a descolonização de Angola? O que terá sido discutido na ilha do Sal (em Setembro de 1974) entre Spínola e Mobutu sobre as condições de transferência do Poder para a FNLA? Que facilidades concedeu o almirante Rosa Coutinho aos Movimentos de Libertação ainda antes do Acordo do Alvor? Porque insiste Almeida Santos que as reuniões de Argel (em Novembro de 1974) entre Melo Antunes e Agostinho Neto resultaram no guião da Penina? Porque quiseram os negociadores nacionais manter secreto o protocolo-anexo ao Acordo que nunca foi divulgado? E que posição assumiram em relação aos bens imóveis dos portugueses residentes no território? Qual o papel de Mário Soares enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros? Qual a razão do conflito entre a Coordenadora do Programa do MFA para Angola e o Alto Comissário Silva Cardoso?
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sexta-feira, 17 de maio de 2013
Lições de História 4: Salomão
Salomão era muito rico e muito sábio. Ordenou a construção do Templo de Jerusalém e mandou cortar um bebé ao meio. Depois fugiu para o Brasil e entrou na telenovela "O Astro".
quinta-feira, 16 de maio de 2013
quarta-feira, 15 de maio de 2013
Aos esquecidos dos 16 de Maio
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terça-feira, 14 de maio de 2013
Feiras Francas de Fafe 2013 (programa)
Elas aí estão. As Feiras Francas de Fafe arrancam amanhã, com um programa que até mete workshopping, showcasing e showcooking. O circo chegou à cozinha e a vitela que se cuiding. Por falar em vitela, torna a não haver corrida de burros,
que desconsolo, e logo numa época de tanta fartura. Mas há largada de
perdizes, que vai praticamente dar ao mesmo. A largada é sábado. E
atenção, muita atenção: as perdizes interessadas em participar no evento
devem concentrar-se na escola de Ruivães, após almoço mas em jejum e
com as vacinas em dia. O uso de capacete é obrigatório. Mais informação,
aqui.
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Quem me dera um Presidente da República
Sou republicano e acredito que Portugal seria um país se tivesse Presidente da República.
Lima Barreto
Como de hábito, Policarpo Quaresma, mais conhecido por Major Quaresma, bateu em casa às quatro e quinze da tarde. Havia mais de vinte anos que isso acontecia. Saindo do Arsenal de Guerra, onde era subsecretário, bongava pelas confeitarias algumas frutas, comprava um queijo, às vezes, e sempre o pão da padaria francesa.
Não gastava nesses passos nem mesmo uma hora, de forma que, às três e quarenta, por aí assim, tomava o bonde, sem erro de um minuto, ia pisar a soleira da porta de sua casa, numa rua afastada de São Januário, bem exatamente às quatro e quinze, como se fosse a aparição de um astro, um eclipse, enfim um fenômeno matematicamente determinado, previsto e predito.
A vizinhança já lhe conhecia os hábitos e tanto que, na casa do Capitão Cláudio, onde era costume jantar-se aí pelas quatro e meia, logo que o viam passar, a dona gritava à criada: "Alice, olha que são horas; o Major Quaresma já passou."
E era assim todos os dias, há quase trinta anos. Vivendo em casa própria e tendo outros rendimentos além do seu ordenado, o Major Quaresma podia levar um trem de vida superior aos seus recursos burocráticos, gozando, por parte da vizinhança, da consideração e respeito de homem abastado.
Não recebia ninguém, vivia num isolamento monacal, embora fosse cortês com os vizinhos que o julgavam esquisito e misantropo. Se não tinha amigos na redondeza, não tinha inimigos, e a única desafeição que merecera fora a do Doutor Segadas, um clínico afamado no lugar, que não podia admitir que Quaresma tivesse livros: "Se não era formado, para quê? Pedantismo!"
Lima Barreto, in "Triste Fim de Policarpo Quaresma"
(Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no dia 13 de Maio de 1881. Morreu em 1922.)
Não gastava nesses passos nem mesmo uma hora, de forma que, às três e quarenta, por aí assim, tomava o bonde, sem erro de um minuto, ia pisar a soleira da porta de sua casa, numa rua afastada de São Januário, bem exatamente às quatro e quinze, como se fosse a aparição de um astro, um eclipse, enfim um fenômeno matematicamente determinado, previsto e predito.
A vizinhança já lhe conhecia os hábitos e tanto que, na casa do Capitão Cláudio, onde era costume jantar-se aí pelas quatro e meia, logo que o viam passar, a dona gritava à criada: "Alice, olha que são horas; o Major Quaresma já passou."
E era assim todos os dias, há quase trinta anos. Vivendo em casa própria e tendo outros rendimentos além do seu ordenado, o Major Quaresma podia levar um trem de vida superior aos seus recursos burocráticos, gozando, por parte da vizinhança, da consideração e respeito de homem abastado.
Não recebia ninguém, vivia num isolamento monacal, embora fosse cortês com os vizinhos que o julgavam esquisito e misantropo. Se não tinha amigos na redondeza, não tinha inimigos, e a única desafeição que merecera fora a do Doutor Segadas, um clínico afamado no lugar, que não podia admitir que Quaresma tivesse livros: "Se não era formado, para quê? Pedantismo!"
Lima Barreto, in "Triste Fim de Policarpo Quaresma"
(Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no dia 13 de Maio de 1881. Morreu em 1922.)
domingo, 12 de maio de 2013
O dia em que o CDS acabou
Paulo Portas recuou. Afinal deixou passar a fronteira que "não podia deixar passar". Como quem não quer a coisa, Portas aceita que os portugueses pobres e velhos passem a comer merda, "excepcionalmente". O "cisma grisalho" é, vai-se a ver, apenas mais um belo sound byte para encaixilhar. Amanhã o ministro dos negócios submarinos irá se calhar à televisão explicar a problemática da concomitância. Estes aldrabões só não explicam Portugal. Na rua, por baixo da minha varanda, passa agora a procissão de velas do Senhor de Matosinhos, com muita gente, respeito e devoção. Reza-se o terço. E é o que nos resta - a oração: Senhor, fazei-lhes a cama. Livrai-nos dos filhos da puta, amém.
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Vítor Gaspar
A antiguidade é um posto. Um posto médico.
- Eu sou do tempo do Joselito, e isto quer dizer muito.
- Hã?
- Ok. Pensando melhor, isto não quer dizer nada. (ouvir)
- Hã?
- Ok. Pensando melhor, isto não quer dizer nada. (ouvir)
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sábado, 11 de maio de 2013
A boleia do Pizarro
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Foto ADRIANO MIRANDA |
Enquanto Portugal vê a bola, copio aqui esta foto do Público. Porque diz mais do que mil setecentas e vinte e cinco palavras e um quarto, porque é jornalismo. Eu sei que elas acontecem, isto não é propriamente a invenção da pólvora, mas é preciso fazer acontecê-las (com licença da gramática). Parabéns e obrigado, Adriano Miranda. De vez em quando reconcilio-me com a coisa. E foi isso.
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Camilo José Cela
Mateo Ruecas e Soledad, ou qualquer um dos outros pares, menos Antolín e a sua turista, têm a seguinte conversa, mais ou menos: gostas muito de mim?, sim, muito, dou-te prazer?, sim, muito, juras-me que te sei dar prazer?, juro, muito prazer, vais gostar sempre de mim?, sim, sempre. Depois guardam silêncio por uns instantes, apalpam-se e continuam. Não consigo resistir ao amor que tenho por ti, nem eu, não consigo resistir ao muito que gosto de ti, nem eu, estou pronto, e eu, estou muito excitado, e eu, estou que não posso mais, nem eu, estou que nem respondo, nem eu, está dura que nem uma pedra, está sempre assim, queres que eu ta dê inteira?, não posso, porque é que não podes?, estou com o período, porque não ma chupas?, está bem, vai para o curral, está bem, queres que a tire aqui mesmo?, não, tiras as mamas pelo decote, não, só uma, está bem, na televisão estão a dar o jogo de futebol entre a Espanha e a Irlanda do Norte e o par não tem de sair para o curral porque enquanto ela tira uma mama pelo decote ele vem-se - sem a tirar da braguilha? -, sim, não lhe dá tempo, está muito calor e os rapazes, depois de se virem sem a tirarem, apoiam a cabeça no ombro da rapariga, acendem um cigarro e ficam em silêncio a olhar para a televisão. Se calhar tudo isto é mentira e ninguém a bateu a ninguém, as testemunhas dizem que não, mas o Dr. Cosme, o senhor juiz, diz que sim, que as raparigas, que são todas umas putas, estavam a masturbar os rapazes, que são todos uns viciados anti-sociais, sem excepção, isto se calhar também é mentira e nem todas o estavam a fazer a todos nem todos deixavam que todas o fizessem ao mesmo tempo, isto é muita casualidade, às vezes há algum que não quer porque lhe doem os queixais ou porque é um corte para eles, era a palavra do juiz e testemunha contra a dos actores e testemunhas, a coisa fica um pouco esquisita e além disso também não se pode meter ninguém na prisão por uma punheta a mais ou a menos, em Archidona aconteceu uma coisa parecida e as pessoas gozaram com os juízes, o pior é que aqui houve um morto.
Camilo José Cela, in "O Assassínio do Perdedor"
(Camilo José Cela nasceu no dia 11 de Maio de 1916. Morreu em 2002.)
Camilo José Cela, in "O Assassínio do Perdedor"
(Camilo José Cela nasceu no dia 11 de Maio de 1916. Morreu em 2002.)
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Os ratos são os primeiros a abandonar o navio
Manuela Ferreira Leite, ex-ministra de Cavaco Silva e de Durão Barroso, ex-líder do PSD, ex-conselheira de Estado. Disse em Janeiro de 2012 que "quem tem mais de 70 anos, e quer fazer hemodiálise, tem de pagar". Ontem acusou Passos Coelho de "perseguição", "fixação" e "crueldade" com os pensionistas.
Ângelo Correia, co-fundador do PPD de Sá Carneiro, ex-ministro de Pinto Balsemão, barão pardo do PSD e inventor de Pedro Passos Coelho. Depois de recentemente ter denunciado a "falta de estudo e preparação" do seu pupilo dilecto (desculpem, criei um monstro), acrescentou ontem que o alegado primeiro-ministro de Portugal revelou ausência de "consistência política" ao permitir que fosse tornada pública a "tensão" entre os dois partidos da coligação alegadamente governamental.
Querem agora o quê, estes dois? Limpam-se de quê?
Ratos. Ratos velhos. Ratazanas. E entretanto a orquestra toca. Portugal que se afunde, que se foda.
Ângelo Correia, co-fundador do PPD de Sá Carneiro, ex-ministro de Pinto Balsemão, barão pardo do PSD e inventor de Pedro Passos Coelho. Depois de recentemente ter denunciado a "falta de estudo e preparação" do seu pupilo dilecto (desculpem, criei um monstro), acrescentou ontem que o alegado primeiro-ministro de Portugal revelou ausência de "consistência política" ao permitir que fosse tornada pública a "tensão" entre os dois partidos da coligação alegadamente governamental.
Querem agora o quê, estes dois? Limpam-se de quê?
Ratos. Ratos velhos. Ratazanas. E entretanto a orquestra toca. Portugal que se afunde, que se foda.
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Quereis livros? Tomai lá carros!
Tenho um amigo que era um ferrinho na Feira do Livro do Porto. Para ele, aqueles quinze dias eram sagrados - reservados e ansiosamente esperados desde o fim da edição anterior. Todos os dias lá ia, o meu amigo: palestras, sessões de autógrafos, sessões de leitura, lançamentos, conferências, debates, horas do conto, teatrinhos e cantigas, topava a tudo. E todos os dias comprava um livro, pelo menos um. Não sei se também roubava, acho que já não, mas roubar livros também faz parte. O meu amigo, ele próprio praticamente escritor, era o sócio n.º 1 da Feira do Livro do Porto, de lugar cativo e ao longe, um discreto Emplastro a quem a organização do evento deveria ter singela e significativamente homenageado enquanto podia. Agora não pode, porque não há Feira do Livro do Porto.
E o meu amigo? O meu amigo comprou bilhetes para os dois fins-de-semana das corridas da Boavista. E está bem contente. Vrooom!...
E o meu amigo? O meu amigo comprou bilhetes para os dois fins-de-semana das corridas da Boavista. E está bem contente. Vrooom!...
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quinta-feira, 9 de maio de 2013
De volta à truta do Coura
Foto Hernâni Von Doellinger |
Vale a pena a viagem. Já a partir de amanhã. Sexta, sábado e domingo - Fim-de-Semana Gastronómico em Paredes de Coura e a truta é a rainha. Memórias de Aquilino e muito mais, a não perder por quem (ainda) puder. Programa e toda a informação, aqui.
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Ascenso Ferreira
Fazendeiro
- Ô Maria! Maria!
Compadre Cazuza vem almoçar
amanhã aqui em casa…
Que é que tu preparaste pra ele?!
- Eu matei uma galinha,
matei um pato,
matei um peru,
mandei matar um cevado…
- Oxente, mulher!
Tu estás pensando que compadre
Cazuza é pinto?!
Manda matar um boi!!!
Ascenso Ferreira, in "Xenhenhém"
Filosofia
Hora de comer, - comer!
Hora de dormir, - dormir!
Hora de vadiar, - vadiar!
Hora de trabalhar?
- pernas pro ar que ninguém é de ferro!
Ascenso Ferreira, in "Cana Caiana"
Sucessão de São Pedro
- Seu vigário!
Está aqui esta galinha gorda
que eu trouxe pro mártir São Sebastião!
- Está falando com ele!
- Está falando com ele!
Ascenso Ferreira, in "Cana Caiana"
Predestinação
- Entra pra dentro, Chiquinha!
Entra pra dentro, Chiquinha!
No caminho que você vai
você acaba prostituta!
E ela:
- Deus te ouça, minha mãe…
Deus te ouça…
Ascenso Ferreira, in "Xenhenhém"
(Ascenso Ferreira nasceu no dia 9 de Maio de 1895. Morreu em 1965.)
- Ô Maria! Maria!
Compadre Cazuza vem almoçar
amanhã aqui em casa…
Que é que tu preparaste pra ele?!
- Eu matei uma galinha,
matei um pato,
matei um peru,
mandei matar um cevado…
- Oxente, mulher!
Tu estás pensando que compadre
Cazuza é pinto?!
Manda matar um boi!!!
Ascenso Ferreira, in "Xenhenhém"
Filosofia
Hora de comer, - comer!
Hora de dormir, - dormir!
Hora de vadiar, - vadiar!
Hora de trabalhar?
- pernas pro ar que ninguém é de ferro!
Ascenso Ferreira, in "Cana Caiana"
Sucessão de São Pedro
- Seu vigário!
Está aqui esta galinha gorda
que eu trouxe pro mártir São Sebastião!
- Está falando com ele!
- Está falando com ele!
Ascenso Ferreira, in "Cana Caiana"
Predestinação
- Entra pra dentro, Chiquinha!
Entra pra dentro, Chiquinha!
No caminho que você vai
você acaba prostituta!
E ela:
- Deus te ouça, minha mãe…
Deus te ouça…
Ascenso Ferreira, in "Xenhenhém"
(Ascenso Ferreira nasceu no dia 9 de Maio de 1895. Morreu em 1965.)
quarta-feira, 8 de maio de 2013
terça-feira, 7 de maio de 2013
Mais uma tourada em Viana do Castelo
Há dois touros à solta em Viana do Castelo. E "um deles marra", dizem as notícias. São dois-touros-dois, com mais de 500 quilos, que fugiram ontem da freguesia de Perre e vadiam pelos montes do concelho. Da última vez que foram avistados, durante a noite, os animais, de raça galega, andavam pela freguesia vizinha de Outeiro.
Mais uma tourada à revelia, nas redondezas da única cidade oficialmente antitouradas de Portugal. Só pode ser provocação. O município vianense, estou certo, não deixará de agir em conformidade.
Mais uma tourada à revelia, nas redondezas da única cidade oficialmente antitouradas de Portugal. Só pode ser provocação. O município vianense, estou certo, não deixará de agir em conformidade.
Luiz Pacheco
Tenho pena, ah como eu tenho pena!... dos que precisam de inventar coragem para um novo dia, certezas certezinhas, obediência a religião ou partido ou rotinas, de inventar-se comodidades necessidades ou ilusórias vaidades de levar melhor vidinha (ceguetas todos eles aos limites da humana criatura que é para todos e de repente o coveiro), razões para estar e lutar além destas, tão simples afinal e misteriosas sempre, tão naturais e primitivas: uma rapariga nossa que amamenta o filho, duas crianças que pedem pão e olham para ti.
Não sei nada. Duvido de tudo. Desci ao fundo dos fundos, lá onde se confunde a lama com o sangue, as fezes, o pus, o vómito; fui até às entranhas da Besta e não me arrependo. Nada sei do futuro, e o passado quase esqueci. Li muito e foi pior. Conheci gente variada nesta Viagem. Pobre gente: estúpidos de medo, doidos espertalhões, toscos patarecos, foliões e parasitas da Vida, parasitas (os mais criminosos, estes) chulos do próprio talento desperdiçando tudo: as horas do relógio deles e dos outros, e os defeitos de todos, que tudo tem seu calor e seu exemplo; ou frustrados falhados tentando arrastar os mais para o poço onde se deixaram cair por impotência de criar, lazeira ou cobardia (mas o coveiro nada perdoa). Cadáveres adiados fedorentos viciosos de manhas e muito mal mascarados. Uma caca a respirar.
"Comunidade", Luiz Pacheco
(Luiz Pacheco nasceu no dia 7 de Maio de 1925. Morreu em 2008.)
Não sei nada. Duvido de tudo. Desci ao fundo dos fundos, lá onde se confunde a lama com o sangue, as fezes, o pus, o vómito; fui até às entranhas da Besta e não me arrependo. Nada sei do futuro, e o passado quase esqueci. Li muito e foi pior. Conheci gente variada nesta Viagem. Pobre gente: estúpidos de medo, doidos espertalhões, toscos patarecos, foliões e parasitas da Vida, parasitas (os mais criminosos, estes) chulos do próprio talento desperdiçando tudo: as horas do relógio deles e dos outros, e os defeitos de todos, que tudo tem seu calor e seu exemplo; ou frustrados falhados tentando arrastar os mais para o poço onde se deixaram cair por impotência de criar, lazeira ou cobardia (mas o coveiro nada perdoa). Cadáveres adiados fedorentos viciosos de manhas e muito mal mascarados. Uma caca a respirar.
"Comunidade", Luiz Pacheco
(Luiz Pacheco nasceu no dia 7 de Maio de 1925. Morreu em 2008.)
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Malba Tahan
Todos os dias, ao nascer do sol, levava para o campo o grande rebanho e era obrigado a trazê-lo ao abrigo antes de cair a noite. Com receio de perder alguma ovelha tresmalhada e ser, por tal negligência, severamente castigado, contava-as várias vezes durante o dia.
Fui assim adquirindo, pouco a pouco, tal habilidade em contar que, por vezes, num relance calculava sem erro o rebanho inteiro. Não contente com isso, passei a exercitar-me contando os pássaros quando, em bandos, voavam pelo céu afora. Tornei-me habilíssimo nessa arte.
Ao fim de alguns meses - graças a novos e constantes exercícios -, contando formigas e outros pequeninos insetos, cheguei a praticar a proeza incrível de contar todas as abelhas de um enxame! Essa façanha de calculista, porém, nada viria a valer, diante das muitas outras que mais tarde pratiquei! O meu generoso amo possuía, em dois ou três oásis distantes, grandes plantações de tâmaras e, informado de minhas habilidades matemáticas, encarregou-me de dirigir a venda de seus frutos, por mim contados nos cachos, um a um. Trabalhei, assim, ao pé das tamareiras, cerca de dez anos. Contente com os lucros que obteve, o meu bondoso patrão acaba de conceder-me quatro meses de repouso e vou, agora, a Bagdá, pois tenho desejo de visitar alguns parentes e admirar as belas mesquitas e os suntuosos palácios da cidade famosa. E, para não perder tempo, exercito-me durante a viagem, contando as árvores que ensombram esta região, as flores que a perfumam, os pássaros que voam no céu entre nuvens.
E, apontando para uma velha grande figueira que se erguia a pequena distância, prosseguiu:
- Aquela árvore, por exemplo, tem duzentas e oitenta e quatro ramos. Sabendo-se que cada ramo tem, em média, trezentas e quarenta e sete folhas, é fácil concluir que aquela árvore tem um total de noventa e oito mil, quinhentas e quarenta e oito folhas! Estará certo, meu amigo?
- Que maravilha! - exclamei atônito. - É inacreditável possa um homem contar, em rápido volver d’olhos, todos os galhos de uma árvore e as flores de um jardim! Tal habilidade pode proporcionar, a qualquer pessoa, seguro meio de ganhar riquezas invejáveis!
- Como assim? - estranhou Beremiz. - Jamais me passou pela idéia que se pudesse ganhar dinheiro contando aos milhões folhas de árvores e enxames de abelhas! Quem poderá interessar-se pelo total de ramos de uma árvore ou pelo número do passaredo que cruza o céu durante o dia?
"O Homem que Calculava", Malba Tahan
(Júlio César de Mello e Souza, conhecido pelo heterónimo Malba Tahan, nasceu no dia 6 de Maio de 1895. Morreu em 1974.)
Fui assim adquirindo, pouco a pouco, tal habilidade em contar que, por vezes, num relance calculava sem erro o rebanho inteiro. Não contente com isso, passei a exercitar-me contando os pássaros quando, em bandos, voavam pelo céu afora. Tornei-me habilíssimo nessa arte.
Ao fim de alguns meses - graças a novos e constantes exercícios -, contando formigas e outros pequeninos insetos, cheguei a praticar a proeza incrível de contar todas as abelhas de um enxame! Essa façanha de calculista, porém, nada viria a valer, diante das muitas outras que mais tarde pratiquei! O meu generoso amo possuía, em dois ou três oásis distantes, grandes plantações de tâmaras e, informado de minhas habilidades matemáticas, encarregou-me de dirigir a venda de seus frutos, por mim contados nos cachos, um a um. Trabalhei, assim, ao pé das tamareiras, cerca de dez anos. Contente com os lucros que obteve, o meu bondoso patrão acaba de conceder-me quatro meses de repouso e vou, agora, a Bagdá, pois tenho desejo de visitar alguns parentes e admirar as belas mesquitas e os suntuosos palácios da cidade famosa. E, para não perder tempo, exercito-me durante a viagem, contando as árvores que ensombram esta região, as flores que a perfumam, os pássaros que voam no céu entre nuvens.
E, apontando para uma velha grande figueira que se erguia a pequena distância, prosseguiu:
- Aquela árvore, por exemplo, tem duzentas e oitenta e quatro ramos. Sabendo-se que cada ramo tem, em média, trezentas e quarenta e sete folhas, é fácil concluir que aquela árvore tem um total de noventa e oito mil, quinhentas e quarenta e oito folhas! Estará certo, meu amigo?
- Que maravilha! - exclamei atônito. - É inacreditável possa um homem contar, em rápido volver d’olhos, todos os galhos de uma árvore e as flores de um jardim! Tal habilidade pode proporcionar, a qualquer pessoa, seguro meio de ganhar riquezas invejáveis!
- Como assim? - estranhou Beremiz. - Jamais me passou pela idéia que se pudesse ganhar dinheiro contando aos milhões folhas de árvores e enxames de abelhas! Quem poderá interessar-se pelo total de ramos de uma árvore ou pelo número do passaredo que cruza o céu durante o dia?
"O Homem que Calculava", Malba Tahan
(Júlio César de Mello e Souza, conhecido pelo heterónimo Malba Tahan, nasceu no dia 6 de Maio de 1895. Morreu em 1974.)
domingo, 5 de maio de 2013
Matosinhos: a campanha está na rua 2
Foto Hernâni Von Doellinger |
Para já, a recolha de assinaturas. Ontem à porta do Mercado, hoje junto à praia. É Guilherme Pinto à procura da onda. Porque ele também quer...
Enquanto não chovem estrelas
Foto Hernâni Von Doellinger |
O espectáculo está prometido para logo à meia-noite. Dando-se o caso de correr mal, tomem lá esta e não têm nada que agradecer.
sábado, 4 de maio de 2013
Conselho de Estado, disse Marques Mendes
Luís Marques Mendes anunciou a convocação do Conselho de Estado. Foi esta noite, na SIC, "em primeira mão". Amanhã, Marcelo Rebelo de Sousa anuncia na TVI os saldos da Zara, em segunda mão, e Cavaco Silva, como já tem o trabalho adiantado, vai fazer uma espera ao Sócrates à saída da RTP. Portugal é o que dá na televisão e o Luisinho é o nosso presidente.
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Portanto, a culpa é do Portas
Passos Coelho, alegado primeiro-ministro de Portugal, vai entrar nos livros apenas por isto: inventou o melhor pior elogio envenenado de todos os tempos. Diz ele que várias das medidas que anunciou na sexta-feira para escarafunchar os bolsos exangues dos trabalhadores e reformados portugueses se devem ao "empenho pessoal" e ao "talento" de Paulo Portas. Portanto...
A poesia é uma coisa muita linda
Lua
Gritam Céus Choram
Olhos Cegos
A noite baixou sobre a Noite
(Translucidez insustentável necrotério clamorosamente profético)
Trazes-me nada
Dizes-me amplexo
Sexo Nexo Tacho
A Lua caiu
Partiu(-se)
Era da Vista Alegre
(1994)
Gritam Céus Choram
Olhos Cegos
A noite baixou sobre a Noite
(Translucidez insustentável necrotério clamorosamente profético)
Trazes-me nada
Dizes-me amplexo
Sexo Nexo Tacho
A Lua caiu
Partiu(-se)
Era da Vista Alegre
(1994)
sexta-feira, 3 de maio de 2013
Segredos da descolonização de Angola
A jornalista Alexandra Marques sai com um livro no próximo dia 14 de Maio. Assunto: a descolonização de Angola. A obra estará já na Feira do Livro de Lisboa, e a autora também.
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Onomástico 8
Circuito da Boavista: eles aí estão outra vez
Para o bem e para o mal, os carrinhos de Rui Rio estão aí outra vez. De 21 a 23 de Junho, os históricos; de 28 a 30 de Junho, o WTCC. E este ano as corridas são trilingues: os automóveis aceleram em português, em inglês e em espanhol (eu sei que é castelhano), como se pode verificar no cartaz arriba. O galego estava aqui muito mais à mão, mas o que é que se há-de fazer?
Programa e toda a informação, aqui.
quinta-feira, 2 de maio de 2013
quarta-feira, 1 de maio de 2013
Deixemos os entretantos e vamos aos finalmentes
Gosto da pinta deste papa. Dá-me esperança. E gosto mais de ciclismo do que da política de Israel para o Médio Oriente. Ainda assim, considero razoavelmente importante a audiência vaticana ao presidente Shimon Peres e acho um manifesto desperdício a bênção papal à camisola rosa da Volta à Itália. Quer-se dizer: o nosso Francisco já lá está há mês e meio - e os tapetes à espera de quem os levante. The show must go on, acredito, mas tretas não bastam para remediar a Igreja.
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Parece que este ano há 16 de Maio em Fafe
As Feiras Francas de Fafe foram apresentadas ontem. Vão de 15 a 19 de Maio. A coisa só não é segredo porque o Notícias de Fafe estava lá e colocou a notícia em linha. Não sei, de resto, se contra a vontade da Câmara Municipal, da Naturfafe e da Cofafe - que provavelmente não querem que se saiba. Os sites destes três alegados co-responsáveis pelo evento ainda não deram uma nota sobre o assunto. Quando derem, se derem, eu aviso. Entretanto, só acredito que este ano vai haver 16 de Maio em Fafe porque o jornal disse. O Notícias de Fafe fez o seu trabalho, outros não.
José de Alencar
Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba;
Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios do Sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros.
Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.
Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense, aberta ao fresco terral a grande vela?
Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano?
Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando veloce, mar em fora;
Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue americano; uma criança e um rafeiro que viram a luz no berço das florestas, e brincam irmãos, filhos ambos da mesma terra selvagem.
A lufada intermitente traz da praia um eco vibrante, que ressoa entre o marulho das vagas:
- Iracema!...
O moço guerreiro, encostado ao mastro, leva os olhos presos na sombra fugitiva da terra; a espaços o olhar empanado por tênue lágrima cai sobre o jirau, onde folgam as duas inocentes criaturas, companheiras de seu infortúnio.
Nesse momento o lábio arranca d'alma um agro sorriso.
Que deixara ele na terra do exílio?
"Iracema", José de Alencar
(José de Alencar nasceu no dia 1 de Maio de 1829. Morreu em 1877.)
Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios do Sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros.
Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.
Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense, aberta ao fresco terral a grande vela?
Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano?
Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando veloce, mar em fora;
Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue americano; uma criança e um rafeiro que viram a luz no berço das florestas, e brincam irmãos, filhos ambos da mesma terra selvagem.
A lufada intermitente traz da praia um eco vibrante, que ressoa entre o marulho das vagas:
- Iracema!...
O moço guerreiro, encostado ao mastro, leva os olhos presos na sombra fugitiva da terra; a espaços o olhar empanado por tênue lágrima cai sobre o jirau, onde folgam as duas inocentes criaturas, companheiras de seu infortúnio.
Nesse momento o lábio arranca d'alma um agro sorriso.
Que deixara ele na terra do exílio?
"Iracema", José de Alencar
(José de Alencar nasceu no dia 1 de Maio de 1829. Morreu em 1877.)
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