terça-feira, 11 de março de 2025

No que respeita à canalização

Hoje é Dia Mundial da Canalização ou World Plumbing Day, como se diz na versão original sem legendas. O Dia Mundial da Canalização é um dia muito importante sobretudo derivado ao canalizador propriamente dito. No que lhe diz respeito, o canalizador é um indivíduo bastante importante para as donas de casa em geral e nomeadamente para o segmento pornográfico da indústria cinematográfica. Fafe nunca teve grande tradição no palpitante nicho dos filmes pornográficos, pelo menos antes da invenção dos telemóveis com vídeo e das redes sociais. No meu tempo, ia-se a Guimarães, ao Jordão. E era para adultos. Pervertidos, mas maiores de idade. E era isto.

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Canalização.

E havia necessidade?

A gente chama a casa um técnico da tv cabo, um electricista, um picheleiro, um trolha, e o que é que nos aparece? Um homem que se aninha, que se estica, que se dobra, que se deita e que nos mostra o rego do cu. Insistentemente o rego do cu. Indecentemente o rego do cu. Havia necessidade? Porque é que as respectivas entidades patronais não lhes dão fardas recatadas, por medida, com calças de cinta alta e camisas de fralda comprida? Ou então mandem-me raparigas do sexo feminino, valha-me Deus!...

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Canalização.

Em serviço

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 10 de março de 2025

A cor da lei 2

A lei é muito clara. E é disso que se queixam as organizações anti-racistas.

P.S. - Hoje é Dia Internacional das Juízas ou Dia Internacional das Mulheres Juízas.

A cor da lei

- A lei é muito clara! - declarou o juiz. E mandou pintar num tom um bocadinho mais abaçanado.

P.S. - Hoje é Dia Internacional das Juízas ou Dia Internacional das Mulheres Juízas.

Naturalmente platinado

Li em algum lado que hoje é Dia Internacional da Peruca. E também é Dia Internacional da Gaita-de-Foles, isso é certo, e Dia do Sogro. Mas, para mim, Dia da Peruca é que é. E eu levo estas coisas muito a sério (ou muito à séria, se lido em Lisboa). Portanto, se me virem hoje, eu sou aquele loiro alto e largo, com cabeleira à Marilyn.

Ó Portugal, toca a gaita triste e faz a festa!

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 9 de março de 2025

Hoje é um dia muito importante e amanhã ainda mais

Hoje, 9 de Março, é um dia muito importante para todos nós. Hoje é o Dia Internacional do DJ, isto é, o dia do rapaz (ou rapariga) que põe a música. Amanhã, se Deus quiser, há-de ser um dia ainda mais importante para todos nós. Amanhã, 10 de Março, é o Dia da Gaita-de-Foles, da Peruca, do Telefone, das Juízas e do Sogro, isto é, o dia do pai do rapaz (ou rapariga) que põe a música, em relação à rapariga (ou rapaz) com a (ou o) qual o rapaz (ou rapariga) que põe a música se casou ou ajuntou. É extraordinário, isto realmente anda tudo ligado...

P.S. - Hoje é Dia Internacional do DJ.

sábado, 8 de março de 2025

As mulheres e eu

Raparigas e mulheres que passam por mim todos os dias, ou quase todos os dias, nas minhas caminhadas matinais. Raparigas bonitas, mulheres interessantes, todas amáveis, que me cumprimentam desembaraçadamente com um "olá!", com um "bom-dia!", com um jovial aceno de mão, com um enorme sorriso, personalizado. E alegram-me a vida. Palavra de honra, fazem-me feliz. Raparigas e mulheres de que nem lhes sei os nomes nem de onde são e param a bicicleta ou a corrida para me explicarem, sem obrigação, que estiveram meio ano a trabalhar na América, que os filhos pequenos mudaram de colégio, que tiveram um pequeno problema de saúde, que agora costumam vir mais tarde ou que agora costumam vir mais cedo, e que por isso não nos temos visto e é pena.
Mulheres e raparigas que, se por acaso me apanham a caminhar com a minha mulher, de mão dada, deitam de antecedência os olhos ao chão, zapam por nós como se não nos vissem, comprometidas, como se não me conhecessem de lado nenhum, como se eu fosse ninguém.
Quer-se dizer: o que é que elas pensam? O que é que elas pensavam? De que é que estavam à espera? Eu sou apenas o velho simpático, porra!

P.S. - Hoje é Dia da Mulher e é porreiro. A minha vai levar-me a comer fora, para eu não ter de cozinhar. Hoje. Amanhã torno ao fogão. E é a vida.

sexta-feira, 7 de março de 2025

Mais valia

Ele era o Mais-valia da empresa. Puseram-lhe o nome. Chamavam pelo Mais-valia e o Mais-valia vinha. E ia. E ia e vinha. E vinha e ia. E tornava a ir e tornava a vir. Chamavam-no a toda a hora e momento, por tudo e por nada, era Mais-valia para aqui, Mais-valia para ali, e ele, que acreditava no poder dos hífens, andava vaidoso e feliz. O trabalho do Mais-valia era ir e vir, vir e ir, o que lhe ocupava sobremaneira o dia. Sentia-se tão necessário! Ele não sabia que a alcunha lhe ficara porque toda a gente do emprego dizia que mais valia despedi-lo.

P.S. - Hoje é Dia de Apreciação do Empregado.

O silêncio de Deus

- Deus diz-lhe alguma coisa?
- Não, Deus nunca me disse nada.
- É portanto ateu, agnóstico talvez, ou digamos indiferente...
- Por acaso até sou crente, religioso e bastante praticante.
- Mas diz que Deus nada lhe diz...
- Pois é. Falo muito para o boneco...

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Oração.

Amem em vez de amém

Disse o Papa: "Proclamar o amor redentor de Deus é um dever prioritário, antes do dever moral e religioso. Mas hoje parece que muitas vezes acontece o contrário." Pois parece. Francisco falava da missão dos ministros da Igreja e eu gostei. Era um raspanete ao pessoal, mais um. E gostei também que o recado papal viesse nos jornais. Estou farto de dizer a mesma coisa, mas a mim ninguém me liga.
No fundo, o Papa apela aos cardeais, bispos e padres para que metam na devida ordem as suas próprias urgências pastorais, para que se organizem em bondade e misericórdia, para que (re)aprendam a distinguir o essencial do acessório, para que se deixem de cinismos. O Papa acorda-os para o mundo e para Deus. Pede-lhes que sobretudo amem - tão simples como isto.
O Papa quer que os cardeais, bispos e padres saiam das suas zonas de conforto, das cadeirinhas de fiscais de consciências e julgadores de comportamentos e práticas onde boloram há que séculos. E que amem o próximo, como foram ensinados a pregar aos outros. Mas podem ficar descansadas as almas mais conservadoras e sacristas. As palavras de Francisco não são senha para a revolução. Parecem-me até declarações retrógradas, reaccionárias sem sombra de dúvida: devolvem-nos ao princípio, aproximam-nos de Deus - que é Amor -, mandam-nos de volta ao que Jesus nos ensinou.
Isto foi há onze anos, o Papa está às portas da morte, e eu ainda não vi nada.

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Oração.

quinta-feira, 6 de março de 2025

O campeão

Na EN 13, subindo em direcção a Vila Nova de Cerveira, avança uma longa fila de carros, mais de vinte, e quem diz vinte, diz trinta ou quarenta. Lá à frente, em primeiro, um velho papa-reformas, sem dar hipóteses à concorrência. E ainda dizem que estes carrinhos não andam nada...

Chamam-lhe "bloco baixo"

Chamam-lhe agora "bloco baixo", cheios de ciência, mas toda a gente sabe que estão a falar do ferrolho, do grandessíssimo ferrolho. Ferrolho. Ferro corrediço com que se fecham portas e janelas. Peça metálica que trava a culatra de certas armas de fogo. Ferrolho. Ou que queriam? Chego a uma loja de ferragens ou a um armeiro e falo-lhes em "bloco baixo", é isso?...

P.S. - Publicado originalmente no meu blogue Mistérios de Fafe.

quarta-feira, 5 de março de 2025

Somos pó

"Lembra-te, ó homem, que és pó e ao pó hás-de voltar", diz a Bíblia logo na terceira página, ainda as coisas estavam a começar a compor-se. Convenhamos: a Bíblia não é lá muito inspiradora para os cocainómanos em recuperação...

Católico, abstinente e automortificante

É um católico à moda antiga: abstinente, observante, penitente e automortificante. Por isso não vai a Fátima no próximo 13 de Maio. Ir a Fátima todos os 13 de Maio seria para ele um enorme prazer, mas o prazer é pecado...
E na Quaresma? Quarta-Feira de Cinzas e todas as sextas-feiras, de castigo, come bife com batatas fritas ao almoço e bife com batatas fritas ao jantar. É que ele gosta mais de peixe. Com batatas cozidas...

terça-feira, 4 de março de 2025

Já não há mulheres com bigode

Foto Hernâni Von Doellinger

Sempre gostei de ir a Ponte de Lima por causa do arroz de sarrabulho e dos bigodes das mulheres. Mulheres feias é ali. Feias e bigodudas. Basta um raio de sol espreitar por entre as nuvens e elas saltam todas não se sabe donde para as bordas do rio a arejar as carantonhas e respectivas piaçabas. Palavra de honra, é um espectáculo digno de ser visto. Comprar um cartucho de jornal cheio de castanhas assadas e comê-las, ainda quentes, enquanto observamos o mulherio, picadeiro acima, picadeiro abaixo, como num desfile de moda mas para bigodes fêmeos, nove pontos para aquela, treze para a das suíças, há lá melhor maneira de passar um pedaço de tarde! Não sei o que a bela vila alto-minhota tem, mas é assim que as coisas são.
Cuidado. Antes de me soltarem os cães, façam o favor de perceber que eu não disse que as mulheres limianas são bigodadas e feias. Não. O que eu digo é que, sobretudo aos fins-de-semana e feriados, elas, as bigodadas e feias, concentram-se todas ali, à beira-Lima, como se fosse um congresso de camafeus ou um concurso de feieza. Numa dessas ocasiões, eu próprio fui confundido com a cantadeira de um rancho folclórico derivado às minhas barbas. De resto, não sei de onde elas vêm, as mulheres abigodadas, nunca perguntei.

Vou a Ponte de Lima desde pequenino, desde o tempo das excursões ao Alto Minho organizadas pelo meu avô da Bomba, sobrevivente dos sete ofícios. Aqui atrasado tornei lá todo contente e tive um desgosto muito grande. A vila mais antiga de Portugal, Ponte de Lima monumental e histórica, bela, tradicional, está mais pobre. As mulheres continuam particularmente feias, honra lhes seja, mas deitaram abaixo os bigodes. Sentei-me no banco do costume, junto à vendedeira de castanhas, queimei os dedos a comê-las, mas bigodes de mulheres, que era ao que eu ia, nem um para amostra. É lamentável. Os cremes depilatórios estão a dar cabo do nosso património.
Não sei se volto a Ponte de Lima. Ainda por cima, o arroz de sarrabulho também não estava grande coisa. Mas as castanhas eram bem boas.

P.S. - Publicado originalmente no dia 3 de Novembro de 2011. Ponte de Lima festeja hoje os seus 900 anos de vila. Muitos parabéns!

Um dia com os dias contados

Hoje é Dia do Gordo e é um dia com os dias contados. Porque hoje em dia não se pode dizer gordo de ninguém. Nem obeso, porque obeso quer dizer gordo e gordo não se diz, que agora é proibido. A palavra gordo, aliás, está a ser tirada dos livros e até das letras das cantigas e dos iogurtes, da manteiga, do queijo, das natas e do leite. Meio gordo e gordo. E quem não diz gordo, não diz forte, cheio, pesado, corpulento, encorpado, robusto, parrudo, nutrido, fornido, gorducho, balofo, anafado, roliço, redondo, rechonchudo, arredondado, barrigudo, banhudo, gordalhão, gordalhaço, gordalhufo, rolho, rotundo, cevado, adiposo, inchado, repolhudo, trambolho, amatronado, grande, volumoso, farto, grosso, graúdo, avantajado, vultoso, avultado, alentado, abundante, generoso, considerável, rico, polpudo, enorme, imenso, vasto, excessivo, copioso, profuso, basto, lauto, gorduroso, gordurento, oleoso, engordurado, besuntado, untuoso, gordureiro, sebento, graxento, graxo, fértil, fecundo, produtivo, rico, humoso, úbere e uberoso, são palavras que vão ser apagadas como se nunca tivessem existido, porque, lá está, vai tudo dar ao gordo. E gordo foi cancelado. Diremos então, como deve ser, "indivíduo ou indivídua ou indivídue denotando cubicagem corporal talvez digna de registo". Isto é, para abreviar, gordo ou gorda ou gorde.

P.S. - Publicado originalmente no Dia do Gordo, celebrado a 10 de Setembro. Hoje é Dia Mundial da Obesidade.

É fartar, vilanagem!..

Hoje é Dia Mundial da Obesidade. Repare o estimado leitor que é, repito, Dia Mundial da Obesidade e não Dia Mundial Contra a Obesidade. Portanto, olhe, faça como eu, aproveite enquanto pode, e hoje possa muito, porque também é dia do monumental cozido à portuguesa, ou pelo menos à moda de Fafe, que ainda é maior!
Aliás, o Dia Mundial da Obesidade está obviamente condenado, por indecente e má figura. Para o ano decerto já não há. Porque a obesidade é do obeso e o obeso é gordo, e isso são palavras que hoje em dia não se dizem. Já nem nos livros. Nem nos filmes. Evidentemente.

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Obesidade.

Ao contrário

Conheço uma senhora que todas as manhãs faz exercício ali em baixo no Passeio Atlântico, à beira do mar. Entre outras habilidades atléticas, a senhora sobretudo caminha de costas, arrecua, ou seja, anda ao contrário. E isto há anos. Resultado: em vez de emagrecer, a senhora está cada vez mais gorda...

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Obesidade.

segunda-feira, 3 de março de 2025

Torna! Torna! Torna!

Dizia o povo antigo, na sua proverbial sabedoria, que os de Guimarães esfolam gatos e matam cães. Eu parece-me que devia ser proibido...

Torna! Torna! Torna! - gritava-se quando o gado fugia, implorando o socorro de quem por ali andasse e ouvisse e, de braços abertos balançantes e palavras mansas, pudesse suster, sossegar e encarreirar de volta os animais. Tornar era mandar para trás. Era como quem dizia "Cerca! Cerca! Cerca!", versão mais em uso pela moçarada para animar as hostes, convocar reforços e impedir a fuga dos da outra rua, em plena emboscada à coiada por causa do golo que não valeu, e mais ainda nem havia VAR. "Torna! Torna! Torna!" era também grito de guerra dos equívocos caça-cães fafenses, armados de redes, laços de contenção e palavrões de diversos calibres, levando a eito para o matadouro canídeos ostensivamente vadios ou, por azar, apenas sem dono à vista.
Para apanhar perigosos fujões, isto é, crianças com medo da pancada em casa ou bandidos sem medo nenhum, berrava-se igualmente "Torna! Torna! Torna!", como aconteceu daquela vez com o desgraçado oficial de justiça a correr atrás do preso que se lhe escapuliu à porta do Tribunal, de mãos algemadas mas pé ligeiro, e só foi agarrado já no nosso Santo, à força da ajuda do povo, quase em frente às Ferreira Leite e à Milinha Vaqueiro, que também saltaram para a molhada. "Torna! Torna! Torna!" era, em Fafe, o clamor de recaptura pelos tresmalhados em geral. Claro que também havia o "Toma! Toma! Toma!", que eu sabia dos robertos na televisão e uma maré, pelas feiras ou festas, vi ao vivo num biombo montado em Baixo da Arcada. E o "Tora! Tora! Tora!", mas isso, evidentemente, já é outro filme.

(Publicado originalmente no meu blogue Mistérios de Fafe)

domingo, 2 de março de 2025

sábado, 1 de março de 2025

Montenegro, tudo e nada

Na televisão, esta noite, Luís Montenegro disse tudo. Isto é, nada.

A cilada

Foto EPA

Apois, se não for antes

No português do Brasil, a palavra apois quer dizer pois, já que, pois que, visto que, como se fosse, me conte. No português de Fafe, isto é, no fafês, apois era corruptela, sinónimo e substituto popular de depois, portanto querendo também dizer após, mais tarde, posteriormente, a seguir. "Vai indo, que eu vou apois". E era assim que se contavam as histórias antigamente: - Apois, disse o rei à sua princesa...

(Publicado originalmente no meu blogue Mistérios de Fafe)

O chichi e a discriminação de género

Antigamente as mulheres urinavam de pé. Quem for de Fafe e provecto, faz uma ideia. Não vou explicar pormenores, a não ser que me peçam muito, mas urinavam de pé. De pé, como as falecidas árvores da Senhora Dona Palmira Bastos. De pé, como as vítimas da fome. De pé, como os homens em geral. De pé! Homens e mulheres eram iguais. Depois as mulheres resolveram amouchar para o acto e passaram a ir aos pares à casa de banho. Hoje em dia as mulheres queixam-se de discriminação de género.

P.S. - Hoje é Dia da Discriminação Zero.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Abençoada pastelaria

Comeu um cardeal, dois jesuítas e três seminaristas. Bebeu quatro taças de Casal Garcia, persignou-se e deu graças a Deus.

P.S. - Entretanto, longa vida ao Papa Francisco!

Havia guichos e guichas

Guicho é esperto, inteligente, arguto, atento, muito vivo, buliçoso. Guicho, em Fafe, era elogio. E havia guichos e guichas. E os "ches" de guicho e guicha eram, como sempre, carregados, robustos. "O meu neto é muito guicho", dizia-se. "Era uma velhinha toda guicha", escrevi algures a propósito de determinada fafense excelentíssima. Alguém que recuperava a olhos vistos de uma doença grave ou prolongada, também estava ou ficava guicho, isto é, saudável, com energia. Assim se falava na nossa terra. Guicho ou guicha eram igualmente palavras de uso agrícola, quintaleiro, serviam, por exemplo, para qualificar uma planta recentemente transplantada e que já se apresentava viçosa, vivaz, levantada. Sim, guicho podia ser, ainda, isso: direito, erecto, teso.

(Publicado originalmente no meu blogue Mistérios de Fafe.)

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Cachicha!

Diziam à Maria: - Tu gostas do Manel! E a Maria respondia: - Eu, do Manel? Chachicha! Exactamente, cachicha, dito com cara feia e os "ches" bem carregados, porque são "ches" de Fafe, telúricos, e não querem ser confundidos com os delicados "xes" de outros lados. Mais do que um eventual regionalismo minhoto (e transmontano, há quem o afirme), cachicha era, com efeito, um entranhado localismo fafense, com um tremendo uso ainda aqui há poucos anos. Cachicha é um designativo de repulsa, desprezo, enjeitamento, negação, asco ou repugnância e quer dizer, consoante a situação, "ui, que nojo!", "foda-se, tinha nojo!" ou, muito simplesmente, "borrava a minha cara com merda". Isso. Cachicha!

(Publicado originalmente no meu blogue Mistérios de Fafe)

Busca pólos

Era um urso bipolar. E andava em tratamento.

P.S. - Hoje é Dia Internacional do Urso Polar.

Com os ursos

Mandaram-no jogar ao pau com os ursos e ele foi. Até hoje...

P.S. - Hoje é Dia Internacional do Urso Polar.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

O antipasseios

Foto Hernâni Von Doellinger

Não sei o que lhe aconteceu em pequeno, mas este senhor já de uma certa idade tem qualquer coisa contra os passeios. Todos os passeios. Estreitos ou largos, em empedrado, cimento, betão hidráulico, aglomerado asfáltico, lajedo ou calçada portuguesa, despreza-os, evita-os, foge-lhes, como o diabo foge da cruz. Anda sempre pela estrada, sempre, e se houver carros estacionados, vai-lhes rente, lado de fora, quase pelo meio da rua. Há anos que o conheço assim, sem o conhecer de lado nenhum. Assim exactamente, ele lá terá as suas razões. Desce, parece-me, a Circunvalação, pela estrada, vira para Matosinhos na Anémona, pela estrada, e vai pela estrada à beira-mar suponho que até à lota, sempre a bom ritmo, quem mo dera a mim, fazendo decerto mais tarde o caminho inverso, obviamente pela estrada e talvez com peixe fresco.
Também não sei que distúrbio será este, se é que é um distúrbio e consta do catálogo - passeiofobia, às tantas -, sei é que as coisas passam-se invariavelmente assim, logo pela manhã, dia após dia, ano após ano, e o saco plástico também faz parte.

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

O PSD e o negócio das casas

Quem é que no PSD - do Governo ao Parlamento, passando pelas autarquias - não é dono ou sócio de pelo menos uma empresa imobiliária? Se houver alguém, que se acuse.

Por outro lado. O problema da habitação em Portugal não precisa de ser tratado a nível de Governo ou na Assembleia da República. Basta convocar um congresso extraordinário do PSD, e resolve-se o assunto.

Noventa mil quilómetros quadrados

A geografia

Noventa mil quilómetros quadrados
de ousadia e sofrimento:

A oriente, a Espanha,
A norte, a terra galega.
A sul e ocidente, a dor tamanha
Do mar que já não chega,

Mas onde ainda ficaram,
Talhadas em rocha dura,
As ilhas que semearam
as pegadas da aventura.


"Recolha Poética (1954-2017)", António Arnaut

P.S. - Hoje é Dia da Geografia Portuguesa. E ontem fez anos 47 anos que António Arnault, então ministro dos Assuntos Sociais, apresentou o Serviço Nacional de Saúde. O Estado português consagrava, pela primeira vez, o acesso universal aos cuidados de saúde, de acordo com a Constituição de 1976.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

A cueca para a queca

Foto Hernâni Von Doellinger

Entrava o mês de Março e o carnaval já tinha sido. Um bando de moças desce as escadas que levam até aos bares do Molhe, na Foz, Porto fino. São seis ou sete, modernas, todas moças do sexo feminino, bem vestidas, galhofeiras. Uma das raparigas, guapa sim senhor, despe a gabardina e exibe-se com um vestido de "espanhola". Vermelho e preto, por supuesto, e com um letreiro ao peito que sai ao pai. Penso: coitadinhas, chegaram atrasadas ao carnaval; ou então são palerminhas das praxes; ou então são palerminhas das praxes que chegaram atrasadinhas ao carnaval.
Aproximo-me para proceder à competente desambiguação. O letreiro diz: "Felicita-me ou não. Vou-me casar". Percebo logo tudo, oh juventude irreverente e criativa! É um novo ritual de despedida de solteira. Só pode ser. Ou publicidade ao viagra; ou uma partida para os apanhados.
Comovem-me a simpatia e a originalidade da ideia. Esta espécie de performance, teatro de rua, em vez do tradicional striptease masculino em recinto fechado. Que coisa bem sacada! A "espanhola" apercebe-se de que eu estou na onda, aproxima-se de mim, toda gaiteira, com umas cuequinhas verdes na mão direita e umas cuequinhas cor-de-rosa na mão esquerda. Que giro! Fala em castelhano, e eu preferia que fosse em galego, nosso, mas que se há-de fazer?...
- Olá. Vou casar amanhã. Podes dizer-me que cuecas devo usar? Estas ou estas?
- Nem umas nem outras, minha senhora. Sem cuecas é que vai bem - respondo eu, sumariamente ponderado o assunto em questão.
As "amigas" riem e tiram fotografias. Eu fico no retrato.
Vermelha-e-preta e radiante, la novia insiste:
- Ningunas?
- É como lhe digo, minha senhora. Se o caso é casamento, primeiro noite e tudo, sem cuecas é que usted vai bem.
A rapariga parece-me ter ficado algo desconsolada com a minha resposta. Eu, que só quero ajudar, dou-lhe uma segunda oportunidade:
- Olhe, espere lá. Arregace aí as saias e experimente os dois pares, um de cada vez, devagarinho, muito devagarinho, posso pôr música?, a ver se eu mudo de ideias.
- ...
E desejei-lhe muitas felicidades e vivam as noivas.

Nas horas vagas, o tempo faz caretas

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Deus deve estar louco

Francisco está às portas da morte, e tão cedo não vamos ter outro assim. Trump levou um tiro de raspão na orelha, mesmo a calhar, e disse que Deus o salvou, "evitou o impensável", para ele salvar a América e o mundo - como se vê. Putin, o outro lado de Trump, afirmou hoje que Deus e o destino lhe confiaram a si e ao exército a "missão" de "defender a Rússia". Quer-se dizer. Deus, às vezes, parece tolo...

Os rapazes do Vaticano

Cada vez que há eleições para papa, sai sempre um velhinho na rifa. Um cardeal velhinho. Tem sido assim nos tempos modernos. E compreende-se: é preciso pôr na cúpula da Igreja Católica alguém com experiência, com a sabedoria da longa vida que carrega sobre os ombros, não vá repetir-se a triste história do inconsciente Jesus Cristo, que tinha apenas 33 anos e resolveu morrer por nós todos, dando origem a isto tudo. E o cardeal velhinho tem de ter muitos doutoramentos em muitas universidades gregorianas, que é só uma, mas podia ser pelo menos três, como a Santíssima Trindade, não vá sentar-se lá, na praticamente infalível cadeira, um pescador como Pedro ou um funcionário das Finanças como Mateus, dois burgessos que certamente escangalhariam isto tudo.
E já muito facilita o Vaticano, quedando-se pelos simpáticos septuagenários ou octogenários. Basta pensar que, biblicamente, Moisés viveu até aos 120 anos, Jacob até aos 147, Abraão até aos 175, Adão até aos 930, Noé até aos 950, e Matusalém, filho de Enoque, pai de Lameque e avô de Noé, faleceu inesperadamente aos 969 anos.
(Evidentemente também há João XII, que chegou a papa aos 18 anos, dormia com as prostitutas do pai, teve relações sexuais com a própria mãe, castrou um dos seus cardeais, cegou outro, torturou quem lhe desprazia e acabou por morrer com uma valente marretada na cabeça, gentilmente oferecida pelo marido cornudo de uma das suas incontáveis amantes. Mas isso não é desculpa.)
Não sei se sabem: todos os católicos são teoricamente elegíveis para papa. Basta-lhes serem, obviamente, baptizados, maiores de idade e homens, embora depois devam vestir saias. Isto é, eu posso ser papa, um sétimo de toda a população mundial pode ser papa, depois, na questão das saias, cada um seria para o lado que der.
Só que as eleições no Vaticano não são directas e universais. Votam apenas os cardeais, lacrados no chamado conclave, onde, nas horas mortas, contam anedotas picantes uns aos outros, fazem malha e jogam à sueca. E se votam apenas os cardeais (120 no máximo, "em nome" de cerca de 1272 milhões de almas), porque é que os velhinhos haveriam de escolher para patrão o Silva dos Plásticos, que, sendo embora uma pessoa estimável e comerciante respeitado, não lhes pertence de lado nenhum?
É! Aquilo é coisa entre padrinhos e afilhados, tudo bons rapazes. Como na máfia, Deus lhes perdoe...

P.S. - Publicado originalmente no dia 19 de Junho de 2016. Entretanto, longa vida ao Papa Francisco!

sábado, 22 de fevereiro de 2025

Deixai o Espírito Santo em paz

O Papa morre, longe vá o agoiro, e a Igreja sotainada apressa-se a reunir em conclave para escolher o novo Papa. Velho. Um novo Papa velho, não vá o diabo tecê-las. A Capela Sistina é preparada a todo o vapor e duas salamandras. Metidos lá dentro, fechados à chave, todos muito cardeais uns com os outros, o lóbi italiano, o lóbi canadiano, o lóbi americano, o lóbi alemão, o lóbi austríaco, o lóbi francês, o lóbi-da-alsácia, o lóbi brasileiro, o lóbi sul-americano, o lóbi africano, o lóbi africanista, o lóbi banqueiro, o lóbi antunes, o lóbi dos velhos, o lóbi dos "novos", o lóbi "conservador", o lóbi "renovador", o lóbi do silêncio, o lóbi "garganta funda", o lóbi gay e outros insondáveis lóbis vão negociar o nome do sucessor do falecido. A feira do costume. Organizam rifas, fazem apostas e jogam ao pilas. Tiram um nome à sorte e no fim dizem que a culpa foi do Espírito Santo.

P.S. - Publicado originalmente no dia 9 de Março de 2013. Entretanto, longa vida ao Papa Francisco!

Os engolidores

Engolidores, há-os. Como por exemplo engolidores de sapos, metaforicamente falando, engolidores de fogo, que na verdade não engolem mas borrifam, e engolidores de espadas. Engolidores de copas e engolidores de ouros não sei, mas engolidores de paus também há-os.

P.S. - Hoje é Dia do Engolidor de Espadas.

Quem com ferros ferros, com ferros ferros

O grande problema do engolidor de espadas era a azia. Mudou de ofício, por indicação médica...

P.S. - Hoje é Dia do Engolidor de Espadas.

O sobrevivente

- Que grande tragédia, meu senhor: morreram todos e só fiquei eu para contar...
- E então como é que foi?
- Matei-os.

P.S. - Hoje é Dia Europeu da Vítima de Crime.

Uns para os outros

José deu uma facada a António. António deu um tiro a José. É a vida! Temos de ser uns para os outros.

P.S. - Hoje é Dia Europeu da Vítima de Crime.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Grazie verigude!

A inglesinha abeirou-se-me sorridente e de mapa aberto na mão, meio perdida, pedindo-me que eu lhe dissesse onde é que ela estava, questão assim a modos que existencial. Indiquei-lhe, com todo o gosto: estávamos, ela e eu, em Matosinhos, exactamente no cruzamento da Rua do Godinho com a Avenida de Serpa Pinto, que, por sorte, era mesmo o sítio que ela queria. Estava lá marcado. Alargando o sorriso, bonito, a inglesinha simpática fez "Hã... hã... hã...", à procura da palavra certa, e, no seu melhor português, muito bem aprendido, bem treinado, saiu-se finalmente, toda satisfeita: - Grazie!
Vá lá, podia ter sido pior. Se me tivesse atirado por exemplo "Muchas gracias!", abanando castanholas e rebolando as ancas, eu ficaria realmente fodido...

P.S. - Hoje é Dia Internacional do Guia-Intérprete.

Pela estrada plana, tuk, tuk, tuk

Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Os bois chamam-se pelos nomes

O porco é Ruço. A porca Vadia. A vaca Amarela. O boi Barrão. O touro Osborne. A turina Malhada. A vitela À Moda de Fafe. O cão Bobi. O elefante Branco. A cadela Laika. A Santa preguiça. O cachorro Kent. O gato Maltês. A gata Borralheira. A cabra Cega. A ovelha Dolly. O cabrito Montês. O cavalo Silva. O burro Velho. O rato Mique. O coelho Anão. O macaco Adriano. O leopardo Negro. O urso Teddy. O teddy Boy. A chinchila Mila. O furão Furão. A tartaruga Ninja. A cobra Dora. A mulher Alheia. O homem Erecto. O peixe Dourado. O surfista Prateado. A sardinha Biba. A pita Arisca. A periquita Alegre. A parreca Molhada. A pomba Branca. O crocodilo Dundee. A lontra Badocha. O pato Patola. O galo Badalo, a galinha Balbina, o pinto Jacinto e o peru Gluglu.
Assim se chamam os bois pelos nomes.

P.S. - Hoje é Dia do Animal de Estimação. E Dia Mundial da Justiça Social.

E as pessoas de estimação?

"Portugueses já gastam mais com cães do que com bebés", dizia uma vez a capa do semanário Expresso. Acontece no tempo e no país certos. Um tempo e um país em que os animais são de estimação, mas as pessoas não.

P.S. - Hoje é Dia do Animal de Estimação. E também Dia Mundial da Justiça Social.

No tempo das recularias

Ia-se às compras, por exemplo. Encontrava-se uma pechincha, coisa escandalosamente barata, e dizia-se que custava uma recularia. Era-se chamado a casa de alguém para ajeitar o telhado, levava-se preço de amigo, de vizinho, só para beber um copo, o arranjo ficava, então, por uma recularia. Isso, recularia. Pouco, poucochinho, coisa de nada, sem importância, quantia ou coisa mínima, de pouco valor, insignificância, ninharia, quer-se dizer, ridicularia. Sim, ridicularia. Talvez a nossa recularia não passasse, não passe, de facto, de uma habilidosa corruptela e simplificação de ridicularia, para evitar vergonhas com acrobacias vocais. Talvez. Na Madeira, segundo julgo saber, há quem diga ricularia. Mas recularia soa-me bem. O povo pode ser linguisticamente preguiçoso, mas não é tolo: e, em Fafe e arredores, recularia ficou.

P.S. - Publicado originalmente no meu blogue Mistérios de Fafe.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

A sorte do Benfica foi a baleia

Jonas era profeta com escritório em Israel e Deus mandou-o a Nínive passar umas gáspeas aos assírios, que eram maus como as cobras e de uma crueldade bíblica para com inimigos e povos vencidos em geral. Jonas acagaçou-se com os perigos da demanda e tentou desobedecer a Deus, fugindo, disfarçado de Hercule Poirot, numa viagem de cruzeiro pelo Mediterrâneo. Bons tempos! Deus levou a mal tamanha manifestação de cobardia e diletantismo, caiu-lhe em cima com uma tempestade de criar bicho e atirou-o borda fora. Jonas foi engolido por uma baleia e por lá se acomodou durante três dias e três noites. Ao fim da terceira noite, isto é, ao quarto dia, depois do pequeno-almoço, a baleia deu à Costa da Caparica e o resto da história é bem conhecido: Jonas assinou pelo Benfica e em cinco épocas e muitas lesões fez 183 jogos e marcou 137 golos. O que convenhamos.

Jonas, o pistoleiro, pendurou as botas aos 35 anos e com as costas num frangalho. Tipo raro este Jonas, que também me incomodou bastante. Estimo-lhe as melhoras.
Por outro lado. Hermann Melville, autor do romance "Moby Dick", nasceu no dia 1 de Agosto de 1819 e morreu no dia 28 de Setembro de 1891, aos 72 anos. Dois interesses muito especiais do meu pai: clássicos da literatura mundial e o Benfica, Deus lhe perdoe.

O apontamento acima foi publicado aqui, no Tarrenego!, em Junho de 2018 - muito à frente! Numa entrevista ao canal de Youtube Cartoloucos, replicada recentemente na nossa imprensa mais ou menos desportiva, Jonas, o jogador de futebol, recorda o fim no Benfica e conta: "A questão da saúde passa-me muito pela cabeça, principalmente a coluna, porque hoje não consigo ficar de pé mais do que 40 minutos, uma hora... Terminar a carreira? Para mim, não foi tão difícil por causa dessas questões de lesão. Houve um ano em que levei 42 injeções de Voltaren. Isso aqui está tudo corroído por dentro". No Brasil, Jonas é actualmente dono de uma farmácia, e só lhe faz bem.

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Baleia.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

O saco de gatos

Em Fafe, no meu tempo, as pessoas gostavam muito de animais, como por exemplo gatos. Quase todos os lares tinham o seu gato ou a sua gata de companhia, principalmente derivado aos ratos, que também eram muitos e caseiros, mas recebiam visitas. Evidentemente estou a falar da parte de Fafe que me diz respeito e conheço, Fafe dos pobres. Ora, havendo gatos e gatas, havia também ninhadas, porque as coisas são como são e até os bichinhos gostam. Mas alimentar um ou dois gatos, mesmo com sobras, é uma coisa, outra coisa é sustentar uma família inteira de tarecos, ainda por cima largam pêlo como o caralho e nos primeiros tempos, antes de levarem naquele focinho para aprenderem, coitadinhos, cagam e mijam em todo o lado sem respeito nenhum. Que se segue? As pessoas gostavam muito de animais e pegavam na ninhada, deixavam um gatito de reserva, o mais bonito e esperto, e enfiavam os outros todos numa saca de sarapilheira bem fechada e bem atada a uma pedra bem pesada e pegavam na pedra, na saca e nos gatos e atiravam tudo ao rio, que eram vários e lingrinhas. Não sei se Fafe conserva esta curiosa tradição. E quem diz Fafe, diz Portugal regra geral...

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Gato ou Dia Internacional do Gato. Que também é na próxima quinta-feira, 20 de Fevereiro, no dia 8 de Agosto e no dia 29 de Outubro...

E as gatas?

Hoje é Dia do Gato. Mas Dia do Gato é todos os dias, é quando o gato quiser. Parabéns, Pantufa! Parabéns, Félix! Parabéns, Tareco! Parabéns, Zé Albino! Quanto às gatas, aguardam uma vigorosa tomada de posição por parte do Bloco de Esquerda, do PAN e das Capazes.

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Gato ou Dia Internacional do Gato. Que também é na próxima quinta-feira, 20 de Fevereiro, no dia 8 de Agosto e no dia 29 de Outubro...

Aqui há gato

"Aqui há gato", avisava o papel colado na janela escangalhada da velha casa de pasto. Isto às segundas. Às quartas eram iscas e às sextas caracóis.

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Gato ou Dia Internacional do Gato. Que também é na próxima quinta-feira, 20 de Fevereiro, no dia 8 de Agosto e no dia 29 de Outubro...

Gato-sapato

Faziam dele gato-sapato. Quarenta e dois, biqueira larga.

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Gato ou Dia Internacional do Gato. Que também é na próxima quinta-feira, 20 de Fevereiro, no dia 8 de Agosto e no dia 29 de Outubro...

Sete vidas

Cada vez que morria, o gato sabia que era a brincar. Chegou à sétima e fodeu-se!

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Gato ou Dia Internacional do Gato. Que também é na próxima quinta-feira, 20 de Fevereiro, no dia 8 de Agosto e no dia 29 de Outubro...

Esfola gatos e mata cães

Diz o povo antigo, na sua proverbial sabedoria, que quem é de Guimarães esfola gatos e mata cães. Eu parece-me que devia ser proibido...

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Gato ou Dia Internacional do Gato. Que também é na próxima quinta-feira, 20 de Fevereiro, no dia 8 de Agosto e no dia 29 de Outubro...

O melhor amigo da mulher

O cão é o melhor amigo do homem. Da mulher, há quem diga que é o gato.

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Gato ou Dia Internacional do Gato. Que também é na próxima quinta-feira, 20 de Fevereiro, no dia 8 de Agosto e no dia 29 de Outubro...

O gativista

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Rangel, o descompostor

Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros, terá dado uma descompostura "semipública" a quatro deputados do PSD, chamando-lhes "terroristas anti-Hamas". O episódio é contado pela revista Sábado, que recorda outro momento em que o governante exprimiu "desagrado de forma enfática", em Outubro do ano passado, numa cena gaga com militares, incluindo altas patentes, na base de Figo Maduro.
O ministro dos Negócios Estrangeiros é, por antonomásia e dever de ofício, o chefe da diplomacia. E o diplomata é, por definição, um homem reservado e de fino trato, um indivíduo circunspecto, grave, cortês, cauteloso, prudente, ponderado, sensato, distinto, elegante, delicado, conciliador. "Ser diplomata é discordar sem ser discordante", sentenciou um dia Millôr Fernandes.
Posto isto, tenho de partilhar o seguinte, em defesa do ministro dos Negócios Estrangeiros: eu creio que Paulo Rangel não é descompostor por opção, malícia ou ódio, sequer por delírio de poder, agora que está no Governo. É-o por feitio, está-lhe no sangue. Em boa verdade, Rangel é um descompostor que vem de longe.
Algures pelos primeiros anos deste século, outro Paulo, Paulo Portas, veio ao Salão Árabe da Bolsa do Porto, convidado para fazer uma importante conferência sobre não sei quê. E fez. Uma conferência que objectivamente não ficou para a História, uma vez que, tirante a minha memória, não encontro na internet (desculpai-me o antiguismo) um único registo a esse respeito. Mas a coisa aconteceu, porque eu estive lá. Foi à noite. E Paulo Rangel fez questão de marcar presença e dar nas vistas.
Portas foi apresentado, lá disse o que achou que tinha a dizer, terminou, ouviram-se os aplausos da ordem, educados e bem medidos, não fosse haver malévolas interpretações, e Rangel, agasalhado entre os jornalistas, sentenciou, sem que alguém lhe tivesse perguntado: - Que fraquinho! Se fosse meu aluno, dava-lhe negativa, reprovava...
Se ficou por aí? Não! Paulo Rangel, levantou-se, pegou na imprensa e foi ter com o conferencista, dando-lhe conta do seu desconsolo e das suas mais veementes discordâncias, derivado ao que acabara de sair daquele púlpito. Paulo Portas ouviu-o distraidamente e respondeu-lhe "já estou atrasado", como quem ouve e responde a um molho de palha de aço, virou costas e foi-se embora. E é assim que eu me lembro.

No tempo em que os animais falavam

Foto Gaspar de Jesus

Houve um tempo em que os presidentes dos maiores clubes de futebol falavam com os jornalistas e até convidavam os directores dos jornais para jantar. Todos eram tratados por igual e quem tivesse unhas que tocasse viola. Mas isso foi muito, muito antigamente, no tempo em que os animais falavam e não havia telemóveis. Depois, conta-se que os presidentes dos maiores clubes resolveram dividir os jornalistas em dois grandes grupos: os que levavam recados e os que levavam pancada - e deixaram de falar aos restantes. Mais tarde, os presidentes dos maiores clubes criaram as suas próprias televisões e passaram a ser "entrevistados" pelos seus próprios assalariados. E agora, quando se dignam descer até ao ecrã das televisões ditas generalistas, exigem tratamento de primeiro-ministro. São outros tempos! E entretanto já não sobramos todos daquela mesa...

P.S. - Publicado originalmente no dia 30 de Maio de 2014.

Forever young

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 15 de fevereiro de 2025

E hoje é o quê?...

Ontem foi o Dia dos Namorados. E hoje? Com a velocidade a que os tempos correm e mudam as vontades, nunca sei como é que se diz: se hoje é o ex-Dia dos Namorados ou o Dia dos ex-Namorados.

P.S. - Para que conste, hoje é Dia Internacional da Criança com Cancro.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Biblioteca pública

Foto Hernâni Von Doellinger

Os livros, nossos amigos

Gosto de afagar os livros que leio. Aliso-os. Cheiro-os. Protejo-os. Guardo-os com mil cuidados. E deixei de emprestá-los!

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Doação de Livros.

Apocalypse Now

Atenção, muita atenção! Emprestei o meu "Apocalypse Now" não sei quando nem a quem nem porquê. Não me lembro! Sei é que o estupor do DVD nunca mais me tornou a casa, e, aos anos que vai, já deve andar no liceu, senão na universidade. Ao sacrista que se está a aproveitar de mim e da minha franqueza,digo apenas o seguinte: não foi uma doação, pá, devolve-me essa merda, pá, devolve, e até pode ser sob anonimato, porque, se te descubro, se te adivinho sequer - não sei se estás a ver o filme...

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Doação de Livros.

Nunca por amor 2

Casou pelo civil e casou pela Igreja. Por amor é que não!

P.S. - Hoje é Dia do Amor. E Dia dos Namorados.

Nunca por amor

Já ia no oitavo matrimónio e garantia que nunca casara por amor. Por dinheiro então?, perguntavam-lhe. Que não. Por conveniência ou solidão? Também não. Explicava que casou sempre por... acaso.

P.S. - Hoje é Dia do Amor e Dia dos Namorados.

On Valentine's day

Foto Tarrenego!

Os meus dias de Valentim eram porreiros. Sempre. Recebesse ele quem recebesse, Presidente da República, primeiro-ministro, ministros disto ou daquilo, fossem quiçá o Papa, Cicciolina ou até a rainha de Inglaterra, ele, Valentim Loureiro, em funções de presidente da Câmara de Gondomar ou da Metro do Porto, ultrapassava tudo e todos, tomava conta do protocolo e das operações, comandava as tropas e... armava barraca. Sempre. Era um regalo para mim e para o meu jornal de então, o 24horas, que me mandava atrás do Major à procura das partes gagas. Eu era o enviado-especial, o especialista em Valentim Loureiro, e o homem nunca me deixou ficar mal. Ele era, como eu então lhe chamava, o meu cromo da sorte. Trabalhávamos a meias. O meu papel consistia em transformar depois a notícia em anedota, e creio que também não me saía nada mal.
Desconfio que isto não me elogia, mas Valentim Loureiro gostava de mim. E ria-se do que eu escrevia. Quero dizer, ria-se dele próprio, o que só lhe enaltece a inteligência. Não éramos amigos, nada disso, mas desaguisámo-nos apenas uma vez, se bem me lembro, em privado, e por causa da Fábrica do Ferro, de que ele entretanto destomara conta em Fafe...
Quando os putos de Lisboa que rebentaram com o 24horas resolveram primeiro fechar a redacção do Porto, a ver se salvavam as suas próprias pessoas, Valentim Loureiro disse-me que fosse ter com ele, que me arranjava emprego. Agradeci, naturalmente, mas nunca mais lhe apareci. Prezo inegociavelmente a minha liberdade e a minha independência pessoal e profissional, ou vice-versa, mas registei. E continuo grato. Foi um dos poucos.
Valentim Loureiro, o nosso Valentim, não era santo nenhum, antes pelo contrário. Tinha um feitio filho da puta, e espero que ainda tenha, que é bom sinal. Teimoso, virulento, desbocado, vendedor de banha de cobra e de retroescavadoras com luzinhas, de pares de sapatos só direitos ou só esquerdos, oferecedor de varinhas mágicas e outros electrodomésticos, desinformado, voluntarista e amiúde irresponsável e talvez trafulha, o Major trocava sistematicamente as voltas aos seus desgraçados e bem pagos assessores, que não conseguiam ter mão nele e escondiam-se pelos cantos (já que não conseguiam esconder o patrão), chorando baba e ranho e arrepelando os cabelos de incompetência. Estes, sim, é que tinham paciência de santo, mais ordenado chorudo e garantido no fim do mês, fora as mordomias e as abébias, mais reforma de político instantânea e garantida. Coitados. 
Dirigente desportivo carismático e afável trampolineiro, visionário construtor do Boavista moderno, Valentim presidiu aos destinos do clube do Bessa durante 19 anos. Oficialmente. Não oficialmente, foram, são, muitos mais. O treinador Manuel José, que orientou os axadrezados durante a primeira metade da década de noventa do século passado, teve talvez a melhor tirada acerca de Valentim Loureiro. Disse um dia o míster, na televisão, resumindo tudo: - Às vezes, aturar o Major é pior do que ir a pé a Fátima...
E decerto era, mas eu nunca fui a Fátima a pé, e na única vez que tentei ir a São Bentinho, sem promessa ou compromisso, desisti parece-me que por alturas das Cerdeirinhas, para grande desgosto do saudoso Agostinho Cachada, que era o nosso guia. Mas Valentim Loureiro, o cromo, faz falta. Faz-me falta. Que isto Portugal está uma tristeza, um desconsolo. Uma perigosa pasmaceira...

P.S. - Hoje é Dia de São Valentim ou Dia dos Namorados. E Dia do Amor. E Dia Nacional do Doente Coronário. E Dia Internacional da Doação de Livros.

Ó pra eles, todos coradinhos!

Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Grândola é na Galiza

Houve quem ficasse muito admirado, mas sem razão. No último sábado, em Vigo, na Galiza, num jogo de futebol da primeira divisão espanhola, adeptos do Bétis, de Sevilha, entoaram cânticos fascistas e fizeram a saudação nazi. À saída, para além da derrota por 3-2 com o Celta, levaram também com "Grândola, Vila Morena" e a voz de Zeca Afonso ecoando no Estádio de Balaídos.
Não foi por acaso. Para começar, é tido como certo que a canção "Grândola, Vila Morena" foi estreada por Zeca Afonso, isto é, cantada em público pela primeira vez, exactamente na Galiza, em Santiago de Compostela, no Burgo das Naçons, no dia 10 de Maio de 1972. O Zeca, é também assim que ele é conhecido e referido pelos galegos de média cultura, passou largas temporadas na Galiza, deu por lá inúmeros concertos, andou e cantou por Lugo, Ourense, Pontevedra, Vigo e outros adiantes, fez imensos amigos, tinha e tem uma legião de fiéis admiradores, as comemorações e homenagens sucedem-se ainda hoje. Em Compostela há o Parque José Afonso e mantém-se em actividade a AJA Galiza - Associaçom José Afonso. Nos bares e ruas de Compostela canta-se e festeja-se "Grândola" como quem canta e festeja a "A Rianxeira". Não sei como é agora, mas ainda aqui há uns anos havia um pub lá para as traseiras da famosa catedral, a Casa das Crechas, que passava constantemente a música de Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Francisco Fanhais, Luís Cília, Fausto, Vitorino e por aí fora, mas Zeca Afonso sempre! Porque na Galiza pensa-se e sente-se que o 25 de Abril também lhes pertence.

A vida sem internet

Os jovens criativos da Rádio Renascença, e devem ser mesmo muito pequeninos, perguntam, num anúncio de promoção a um programa: - Já imaginou a vida sem internet? E quer-se dizer: eu já, isto é, sou desse tempo, lembro-me muito bem, e por acaso até nem se estava mal...

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Rádio.

Aproveite para namorar...

Antena 1, a nossa rádio pública, pouco depois das 21h15 de um Dia de São Valentim, Dia dos Namorados, que por acaso é outra vez amanhã. O locutor, voz excelentíssima, põe ao lume os chouriços do costume, prepara a entrada de Sérgio Godinho mas escorrega na burilada bucha de ligação. "Se vai na estrada, conduza com cuidado. Olhe, aproveite para namorar!..." - diz ele. E realmente. Se conduzir, namore! Há lá melhor maneira de morrer num acidente de viação...

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Rádio.

A fama tem um preço

Na rádio, Renascença por acaso, o reclame a uma telenovela da SIC avisa: - A fama tem um preço! Pois tem. E o arroz carolino também. E a massa-cotovelo e as batatas e os alhos e o azeite, que está pela hora de morte. As próprias pessoas, diz-se, também têm um preço. Algumas, melhor colocadas na vida, têm dois ou três...

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Rádio.

Continue connosco...

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Fazendo pela vida

O médico deu-lhe dois anos. Ele pediu seis. O médico contrapôs três e que não podia dar mais. Ele exigiu cinco, senão nada feito. O médico disse quatro e não se fala mais nisso. Ele, negócio fechado.
 
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Doente.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Vademetro!

Disseram-lhe - Vá de metro, Satanás! E o Diabo foi. Saiu na estação do Bolhão e apanhou o 401 para São Roque. 

P.S. - O Diabo, semanário português, foi lançado no dia 10 de Fevereiro de 1976.

O advogado do Diabo

Acusavam-no de ser amiúde advogado do Diabo. Ele defendia-se alegando que tinha porta aberta, que por princípio nunca recusava um clientes, por mais Mafarrico que fosse, e que não queria problemas com a Ordem. Mas negava o pacto.

P.S. - O Diabo, semanário português, foi lançado no dia 10 de Fevereiro de 1976.

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Ray Charles morreu?

É a minha vida. Divido-me aqui entre o computador e o fogão. Ainda há pouco, bateu-me a lembrança e larguei de repente o teclado para ir a correr lá ao outro lado da casa ver o ponto de um caldo de nabos que por acaso tinha em andamento. O rádio da cozinha estava a dar, sem mais nem menos, a esta hora, Ray Charles. Era, como sempre, a rádio nacional, oficial, a Antena 1, Ray Charles cantava "Hit the road Jack" e eu pensei "ó carago, morreu o Ray Charles, coitadinho..."
Mas não morreu, foi impressão minha. Embora me pareça que Ray Charles (1930-2004) precise de morrer todos os dias para dar na rádio. Mesmo na rádio nacional, oficial, a da necrologia e das efemérides.

(Outro dia foi tal e qual. Cheguei à cozinha e o rádio, na velha Antena 1, para o que lhe havia de dar, falava de Maria Teresa Horta nas notícias da hora de almoço. Coisa estranhíssima. E eu pensei "já fostes"...
Felizmente, também não se confirma.)

Contra fatos não há argumenctos

Eu tenho um fato. Um. Comprei-o pronto a vestir em 1987, se não me engano, para um casamento, isso é certo, e ficava-me muito bem. O casamento para o qual eu comprei o meu fato já teve pelo menos dois divórcios, só do lado do noivo, e outras complicações. O meu fato, não. Mantém-se fiel e simples. Eu tenho um fato que é um facto à moda antiga. E nem sei se ainda me serve, sequer se estará em condições de ser vestido. Mas é o meu fato. E contra fatos não há argumenctos.

Sou esbraguilhado por opção. Ao longo de quase quarenta anos, usei o meu fato mais quatro ou cinco vezes nos casamentos de mais quatro ou cinco amigos, sobrinhos e primos, e deram também já quase todos em divórcios, num par de ocasiões solenes em Fafe, para agradar à minha mãe, numa excursão copofónica a Lisboa para acompanhar a entrega do Prémio Gazeta ao nosso Agostinho Santos pelo Presidente Mário Soares e numa ida à televisão para aparecer bem por dever de ofício. É, portanto, um fato praticamente novo, mas ando preocupado: quando eu morrer, o casaco de trespasse estará outra vez na moda?...

P.S. - Para quem se interesse por estatísticas: também tenho um par de sapatos. Um. De resto, é botas e sapatilhas. E quatro bonés e três mochilas. Hoje é Dia Mundial do Casamento.

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Jornais, eram bons mas acabou-se?

"Público vence 11 prémios European Newspaper Award", anunciou o jornal Público. "Expresso vence 14 prémios no European Newspaper Award", anunciou o jornal Expresso. "Diário vence dois prémios no European Newspaper Award", anunciou o Diário de Notícias, da Madeira. Quer-se dizer. Eu não sei se prémios distribuídos urbi et orbi e à dúzia são mesmo para levar a sério, mas, se por acaso forem, não é uma peninha que os jornais portugueses, regra geral assim tão bons, estejam todos para fechar?...

A mulher de Matheus Reis

"Mulher de Matheus Reis "ataca" João Pinheiro", escreve em título o jornal desportivo O Jogo. Eu não sei quem é a mulher de Mateus Reis, mas chama-se, segundo leio, Jack Rodrigues. Matheus Reis é jogador do Sporting, mas, se eu o vir na rua ou mesmo na televisão sem o nome às costas, também não sei quem é. João Pinheiro é árbitro de futebol e apitou o último FC Porto-Sporting e, tanto quanto percebi, expulsou Matheus Reis já no esgotar do jogo. 
Eu parece-me muito importante que o jornal desportivo O Jogo nos vá informando a respeito dos "ataques" e de todas as outras posições sobre o mundo moderno da mulher de Matheus Reis. O futebol é mesmo assim, as notícias são o que são. E o João Pinheiro, entretanto, que se ponha a pau...

A saudação nazi

A saudação nazi que o impagável deputado Arruda fez ontem no Parlamento não foi, como dizem, uma saudação nazi. Foi, isso sim, uma saudação nazi, disse ele, quando repetiu.

Zatamente, mano, "já mais"!...

Foto Hernâni Von Doellinger

Dores artroses

Ele padecia de "dores artroses". E também de evidente analfabetismo.

P.S. - No dia 8 de Fevereiro de 1888, a "Cartilha Maternal", de João de Deus, foi reconhecida pela Câmara dos Deputados como projecto de interesse para a Instrução Pública.

Mistérios de Fafe, a desvendar


Como já aqui anunciei, desde o início do ano que tenho em funcionamento um novo blogue - Mistérios de Fafe, título que pedi emprestado à obra de Camilo Castelo Branco, quando se assinala o bicentenário do nascimento do escritor. É lá que estou a compilar, rever e "passar a limpo", com importantes acrescentos, versões optimizadas dos meus textos sobre Fafe, sobre vidas, pessoas, usos, falares e acontecimentos do meu tempo de Fafe e após, isto é, sobre o modo como o recordo ou quero recordar. Histórias e memórias pessoais, juvenis e profissionais, velhas amizades, cromos e admirações, cenas gagas ou desgraçadas, peripécias, é o que conto. 
Se Fafe lhe interessa, se é habitual leitor do Tarrenego!, ou parou aqui por acaso, se gosta do que leu, então dê também uma saltada a Mistérios de Fafe, porque, estou em crer, poderá gostar ainda mais. Os títulos, alguns, parecerão os mesmos, mas os conteúdos apresentam-se substancialmente melhorados, pelo menos é o que eu pretendo. E os originais também já começam a sair.

(Mistérios de Fafe pode ser visto e lido em - https://misteriosdefafe.blogspot.com/)

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Fulanos, sopranos e beltranos

Os sopranos têm, por definição, o tom de voz mais agudo e com mais alcance de mulher ou de rapaz muito novo. Se os sopranos forem homens, os puristas preferem chamar-lhes contratenores, que há quem confunda com contentores. Os sopranos dividem-se essencialmente em sete partes: soprano ligeiro, soprano lírico-ligeiro, soprano lírico, soprano lírico-spinto, soprano lírico-dramático, soprano dramático e soprano ultraligeiro. Também podem ser saxofones ou clarinetes, por exemplo, amiúde utilizados no jazz. Nos Estados Unidos, os Sopranos ainda piam mais fino: são mais que as mães, maus como as cobras e convictos frequentadores de meretrizes. São extremamente mafiosos e profundos conhecedores, estes sim, de contentores, blocos de cimento, peixes e rios, para além de cabeças de cavalo, que há quem confunda com cabeças de cavala. De escabeche. Quando inadvertidamente apanhados por famílias inimigas, liquidados e desmembrados como manda a lei, os Sopranos são chamados, por divertimento, meios-sopranos. Os Sopranos americanos fizeram uma excelente série de televisão e posteriormente derem em filme, que deveria ter por título, corrigido, digo eu, "Os Contratenores". O melhor Soprano do mundo (portanto, o pior) chamava-se Tony e padecia de ansiedade.

Como já aqui contei, o meu pai era músico e tocava saxofone na Banda de Revelhe. Isto antes de ir para França. O que não tinha contado é que o meu irmão Orlando também. Também foi músico e também tocou saxofone na Banda de Revelhe. Isto antes de se dedicar a outros consertos.

P.S. - Adolfo Sax, musicólogo alemão, construtor de instrumentos e criador do saxofone, morreu no dia 7 de Fevereiro de 1894. John Patterson, realizador americano de televisão, director da série "Os Sopranos", morreu no dia 7 de Fevereiro de 2005.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Milagre de Fafe

Foto Ivo Borges / O Minho

"Um espetacular halo solar foi avistado, na manhã desta quinta-feira, a partir de Fafe, anunciando a aproximação da chuva", informa o jornal O Minho. Atenção, muita atenção! Aconteceu hoje, quinta-feira, 6 de Fevereiro de 2025, dia em que Luís Marques Mendes apresenta a sua candidatura à Presidência da República. E a apresentação é exactamente em Fafe, o que me apraz registar. Melhor augúrio, creio, não podia haver. Em Fátima foi o milagre do Sol, em Fafe é o halo solar. Depois, quando forem as eleições, daqui a um ano, não fiquem admirados com o resultado, não cuidem que é milagre espontâneo, mesmo que não chova amanhã. Estava escrito nos astros...

O mês do amor

Fevereiro é, segundo dizem, o mês do amor. Talvez por ser mais curto.

Que seja infinito enquanto dure

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

O apoio de Ângelo Correia

Ângelo Correia declarou ontem o seu apoio "convicto" à candidatura presidencial de Gouveia e Melo. O que me leva a suspeitar que existirão muitas e profundas razões para não votar no almirante.

A mijinha do maestro

Nos grandes concertos sinfónicos, o maestro sai sempre no final de cada peça para ir à casinha mudar a água às azeitonas. Depois volta para as palmas, para as vénias e para as flores, sorridente e aliviado. E os músicos? Os músicos protestam batendo nas estantes e continuam em palco de perninhas apertadas e, quem sabe, a urinarem-se por elas abaixo...

P.S. - A Orquestra Sinfónica Portuguesa estreou-se, com 110 músicos, no dia 5 de Fevereiro de 1993, no Teatro Tivoli, em Lisboa. 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Hugo Viana, o gentleman

Estou extremamente vaidoso com este acontecimento de uma pessoa que me conhece ir para director desportivo do importante clube de futebol Manchester City, de Inglaterra. Note-se, eu não conheço o Sr. Hugo Viana de lado nenhum, senão como figura pública, mas ele diz que me conhece. Ou pelo menos disse que me conhecia lá pelos primeiros anos deste século, estando ele como jovem jogador do Sporting e eu como velho jornalista do jornal 24horas, no Porto. O rapaz tinha uma questão familiar qualquer, que eu não quero trazer agora aqui ao caso, e o meu jornal mandou-me explorar a coisa. Do meu ponto de vista, o assunto era irrelevante e sobretudo particular, íntimo, tipo ninguém tem nada com isso, mas as minhas chefias, de Lisboa, invocaram o sagrado "interesse público e jornalístico" para me encostar à parede.
Fiz alguns contactos exploratórios, falei com duas ou três pessoas mais ou menos envolvidas ou sabedoras, e de repente recebi uma chamada do próprio Hugo Viana, que tinha e tem idade para ser meu filho, e atirou-se assim: - Ouve lá, estás avisado! Eu conheço-te, pá, sei onde trabalhas e os teus horários, sei onde moras e onde comes. Se escreves alguma coisa sobre mim, estás lixado comigo, faço-te a folha, pá!...
Eu, se querem saber, ri-me. Aquilo era tão infantil, tão coisa de miúdo, que não só não levei a sério como nem sequer levei a mal. A verdade é que, naquela altura, nem eu sabia os meus horários e amiúde não acertava com a porta de casa. Trabalhava pelo menos treze ou catorze horas por dia, sem hora de entrar ou de sair, muitas vezes na rua, e comer era só depois do serviço arrumado e onde calhasse...
Em todo o caso, não cheguei a escrever o artigo, que, repito, realmente não interessava nem ao Menino Jesus, era essa definitivamente a minha opinião, e ainda é. Mas não foi por causa do telefonema pândego e das ameaças de Hugo Viana que a "notícia" não saiu. Não. Acontece que, por aquela maré, as camisolas do Sporting (e do Benfica e do FC Porto) eram patrocinadas pela PT - Portugal Telecom, que por acaso era também a dona do grupo de comunicação que detinha, entre outros títulos, o jornal 24horas. Quer-se dizer: era como se eu e o Hugo Viana, deixem-me exagerar um bocadinho, tivéssemos o mesmo patrão. O Sporting mexeu-se. O imbróglio foi tratado ao nível das mais altas esferas, disseram-me, e os meus ilustres chefes, sempre sábios e cheios de razão, mandaram imediatamente às malvas o inefável "interesse público e jornalístico" e recebi ordens expressas para abortar um trabalho que, em bom rigor, nem sequer tinha começado. O jornalismo, quer queiram quer não, meus amigos, era e ainda é, se o houvesse, uma coisa muito bonita.

Resumindo e concluindo: se precisarem de alguma coisa do Sr. Hugo Viana, agora que ele é gentleman por geografia e está no topo do mundo, digam, que eu trato disso. Ele conhece-me.

P.S. - Publicado no dia 14 de Outubro de 2024.

Quem não tem cão...

O cão é, desde tempos imemoriais, uma das mais consistentes artimanhas do homem para a queca. Quem tem tesão compra um cão, diz o povo e com razão. Porque o animal - aflito, ziguezagueante, ganinte, de orelhas, rabo e tudo arrebitado -, parecendo embora que sai à rua em busca desesperada por parceira ou parceiro de quatro patas onde possa aliviar o stresse, vem mas é tratar do cio do dono. Ou da dona. Por procuração.
Largado à frente, sem trela, "Vai, Corisco, vai, arranja-me uma gaja! Um gaja boa!", o cão é um batedor sexual para prazeres alheios. Evidentemente tem de se entender com o outro animal, mas isso é truque, pretexto para o dono chegar à dona, como todos sabemos, e depois eles, dona e dono, ou dono e dono, ou dona e dona, depois de conversarem resumida ou detalhadamente sobre raças e rações, que se entendam e se acamem. E muitas vezes entendem-se e acamam-se. Olhemos à nossa volta, sem falsos pudores: quantos namoros e casamentos, que nós tenhamos conhecimento ou desconfiemos, não foram intermediados por cães? Quantos engates e quantas pinocadas avulsas?!...
Passear o cão, é assim que se diz, mas querendo dizer outra coisa. Há até quem dê treino específico ao cão, para loiras ou morenas, gordas ou magras, inteligentes ou burras, e assim sucessivamente e vice-versa. É verdade, ele há cães especialistas. Cães de um certo tipo, de uma determinada caça.
O cão é, portanto, um alcoviteiro. Mas já foi mais, no tempo em que não havia Facebook. No tempo em que se mandava uma cadela ao espaço e a cadela chamava-se Laika. Hoje chamar-se-ia Like. É. As chamadas redes sociais na internet são agora, particularmente para casados, o principal móbil do engate, o menu do sexo à mão de semear, e esta nova realidade veio prejudicar sobremaneira os cães, cada vez mais substituídos, abandonados e abatidos, por aparentemente já não serem precisos.
Correndo o risco de fazer um título à Correio da Manhã, eu diria que o Facebook está a matar o cão. Aos poucos. E, todavia, acho que compreendo esta paulatina porém irreversível substituição do "animal doméstico" pela "aplicação social", porque a verdade é só uma: comprar ou adoptar um cão dá provavelmente mais trabalho e despesa do que criar um perfil no Facebook, sendo que o resultado final é o mesmo. Nestes tempos conturbados, o meu mais descarado elogio vai, pois, para as almas caridosas, afogueados adúlteros, que acumulam cão e Facebook, pelo sim e pelo não, e só temos de lhes agradecer, em nome dos animais.
Salvemos o cão! Porque ainda há algumas diferenças a considerar entre o cão e o Facebook, a não ser que Facebook seja o nome do cão. Para além de que o Facebook, o da internet, tem aquele perigo (há casos!) de a mulher andar a pôr os cornos ao marido e o marido andar a pôr os cornos à mulher - cada qual com o seu perfil secreto, mais ou menos falso e sobretudo deveras criativo -, até ao dia em que se engatam como desconhecidos e depois se encontram para o que já sabemos. É então que marido e mulher reciprocamente infidelíssimos descobrem que afinal foram feitos um para o outro.

P.S. - Hoje é Dia do Amigo no Facebook ou Dia do Amigo do Facebook - os especialistas não se entendem. O Facebook foi lançado no dia 4 de Fevereiro de 2004. E foi aí que começou a amizade...

O nosso dia e o dia deles

Hoje é Dia Internacional da Fraternidade Humana. Evidentemente no próximo dia 8 de Abril será Dia Internacional do Cigano ou Dia Internacional dos Ciganos ou, mais aprazível ainda, Dia Internacional das Pessoas Ciganas. Isto é, um dia para a Fraternidade Humana, quer-se dizer, para nós, e outro dia à parte para os ciganos, só para eles, nada de misturas. E creio que é assim, com gestos mansos e amiúde cheios de boas intenções, que começam a discriminação, o racismo, a xenofobia, a intolerância e outras filhadaputices do género.

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Fraternidade Humana.

Melhores dias verão

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Alcovitagem municipal

Confesso: eu às vezes espreito o Facebook. Espreito o Facebook do Município de Fafe, por razões de força maior, puro fafismo, mas só consigo ver duas ou três coisinhas durante uns segundos, entretanto aquilo apaga-se-me de repente se quero ir mais abaixo, porque, a verdade também é esta, eu não sou sócio. Nem deste nem de outros Facebooks. Aliás, eu sou contra todos os Facebooks, e mais sou uma pessoa que não sou contra nada.
Ora bem. E então o que é que eu vi ontem, sem querer, no Facebook do Município de Fafe? Uma senhora, toda catita e repimpada, conduzindo na prise seu magnífico automóvel, comentava a "notícia" da inauguração de certa e determinada exposição, mandando muitos parabéns e beijinhos e também admiração ao artista expositor, grande mestre, profissional e por acaso amigo, com três carinhas amarelas, redondinhas e amorosas e a seguir um coraçãozinho vermelhinho, coitadinho. Acto contínuo, um cavalheiro entrou em linha, um cavalheiro certamente também apreciador de exposições e de arte num sentido geral, e disse à senhora: "Olá, como estás? estava a navegar na minha página e encontrei o seu lindo perfil como suposto amigo. Tentei enviar-te um pedido de amizade, [duas carinhas redondinhas e amarelas e amorosas, sem coraçãozinho a seguir] mas não resultou. [duas carinhas redondinhas e amarelas e amorosas, sem coraçãozinho a seguir] não sei porquê se não se importa, pode enviar-me um...", e fiquei sem saber o resto, porque, lá está, acabaram-se-me as moedas, terminou-se-me a abébia.
O cavalheiro - sou jornalista e portanto fui à procura - é um rapaz todo janota, havíeis de ver as fotografias, muito bem formado e com enorme sucesso na vida. Estudou no "Imperial College London" e na "University of Pennsylvania" e trabalha actualmente na "empresa Doctor Waseem Cardiologist" - quem é que pode pedir mais?
Não sei em que pé é que ficaram as coisas, se houve avanços ou não. Se alguém souber, por favor não me diga. Não me interessa. O Facebook, suspeito, é basicamente isto. E, se quereis saber, acho giro que o Município de Fafe, mesmo passivamente, preste este serviço aos seus fregueses.

P.S. - Publicado originalmente no meu blogue Fafismos. Entretanto alguém se encarregou de fazer a limpeza no Facebook do Município de Fafe.

O Magalhães da Circunvalação

O que mais se ouve dizer por estes dias jubilares, entre o Porto e Matosinhos, à porta dos liceus, nas galerias de arte, nos cafés, nas esquinas, nas praias à espera das ondas, nos autocarros, no metro e até nas trotinetas partilhadas, é: - Mas afinal quem foi esse Fernando Magalhães?...

Esclareça-se. O navegador Fernão de Magalhães, nascido provavelmente em Ponte da Barca, Alto Minho, no dia 3 de Fevereiro de 1480, morreu no dia 27 de Abril de 1521, nas Filipinas. Entre uma coisa e outra, descobriu a Circunvalação, e a Circunvalação, minhas senhoras e meus senhores, passo por lá todos os dias, é realmente um mundo.

Prò maneta

Mandavam-lhe: - Espirre ou tussa para a dobra do cotovelo ou, de preferência, para um lenço de papel, e depois deite-o fora! Ele não fazia nem uma coisa nem outra. Era muito distraído e tinha medo de se enganar.

P.S. - Hoje é Dia de São Brás. São Brás é padroeiro para as doenças da garganta. Quando alguém se engasga ou tosse, não faz mal nenhum dizer-lhe, como os antigos: - São Brás! Os rebuçados de mentol e eucalipto S. Braz estão a bombar no mercado desde 1928.

domingo, 2 de fevereiro de 2025

Empresta a borracha, ó Rocha

Foto Hernâni Von Doellinger

Será do tempo?

- Está vento?
- Estou.

A emigração como nunca se viu

Foto Município de Fafe

A Estação Memória, em Fafe, inaugurou exposição. "Odisseia Migratória", do pintor Orlando Pompeu, 12 aguarelas que, esclarece o Município, "homenageiam os nossos emigrantes". De acordo com Orlando Pompeu, a mostra "dignifica, reconhece e valoriza as sucessivas gerações que saíram de Portugal em busca de uma vida melhor". Os 12 quadros estarão patentes ao público até ao final do mês de Agosto. E que não pense o incauto leitor, logo à primeira, que meio ano é muito para uma dúzia de pinturas. Não. A coisa, parece-me, demanda estudo aturado, paciente e vagarento, epifânico, e se calhar o tempo nem vai chegar. Eu pelo menos, palavra de honra, nunca tinha visto a emigração assim...

P.S. - Publicado originalmente no meu blogue Fafismos.

sábado, 1 de fevereiro de 2025

A palavra apartir é como a palavra porcausa

Foto Hernâni Von Doellinger

Há muita gente que não sabe como é que se escreve a palavra apartir. Exactamente, apartir. E é fácil. A palavra apartir escreve-se da mesma forma que as palavras asseguir e afeder. Tal como porcausa. A palavra porcausa escreve-se da mesma forma que as palavras porexemplo, poracaso e porfavor. Todas estas palavras obedecem ao mesmo princípio - o da ignorância.

P.S. - Hoje é Dia do Publicitário.

O leitor

Ele era um leitor compulsivo. De contadores de água, luz e gás.

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Leitura em Voz Alta.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Firme e hirto como uma barra de ferro


Não sei se foi pelos 16 de Maio ou pela Senhora de Antime, talvez fosse pelo Natal ou então ocorreu num dia qualquer, anónimo, um dia sem atributos que o destaque ou recomende. Mas aconteceu. Uma vez, um artista hipnotizador, quiçá mentalista e certamente ilusionista veio dar um espectáculo ao nosso Cinema e eu, que era mocico e pobre, não entrei, não vi, porque era preciso pagar bilhete para entrar. E era uma bonita tarde de sol. Para chamar povo como no Poço da Morte dos 16 de Maio e da Senhora de Antime, o artista hipnotizador, quiçá mentalista e certamente ilusionista fez cá fora, na Rua Monsenhor Vieira de Castro, o famoso número de conduzir um carro com os olhos vendados, naquele bocado de estrada entre a esquina do Santo Velho e o ateliê do Zé Manel Carriço, exactamente nesse sentido, que era permitido na altura, nem cem metros sempre em linha recta, assim também eu, foi o que então pensei, e no entanto ainda hoje não sei conduzir nem tenho carta de condução, com os olhos abertos ou fechados. O mirabolante número da condução em braille terá sido feito cá fora de mais a mais porque lá dentro decerto não daria jeito, cheguei também a essa importante conclusão aqui atrasado, quando finalmente percebi que o bonito Teatro-Cinema de Fafe, apesar de realmente glorioso e frequentemente "icónico", é muito mais pequeno do que eu o supunha no meu tempo.
Esperei pelas horas à sombra, no passeio em frente, fazendo malha com o cotão dos bolsos, discretamente, encostado à histórica casa-mãe dos Summavielles, como já lhe chamei, e que era habitual sítio de estar. No final da função, os ilustres que pagaram para entrar e ver disseram-me que aquilo lá dentro não prestou, que não valera o dinheiro. Felizmente para eles, a saída era de graça...
O artista talvez fosse o Professor Karma, esse extraordinário e irrefutável hipnotizador de galinhas, lembrei-me agora, mas de momento não estou em condições de o afiançar sem correr risco de levar com um par de desmentidos no focinho. Era, em todo o caso, "um" Professor Karma, ainda que vestisse outro nome mais ou menos estrambólico. O grande Zandinga, haveria eu de conhecê-lo pessoalmente, alguns anos mais tarde, numa noitada para lá de estranha, no Porto, e Alexandrino, o cromo do "firme e hirto como uma barra de ferro" a quem Herman José deu fama, é muito mais recente.
Em Fafe apareciam de vez em quando uns fenómenos assim, prontos a facturar sem serem convidados, e uma ocasião até nos quiserem impingir espectáculos de luta livre nos antigos Bombeiros, com cartazes sugestivos, os sensacionais Tarzan Taborda, José Luís, Carlos Rocha e tudo, vindos directamente do Coliseu dos Recreios, do Parque Mayer e do Pavilhão dos Desportos de Lisboa. Eu conto falar proximamente de mais algumas dessas extraordinarices fafenses, antigas, na linha do artista hipnotizador, quiçá mentalista e certamente ilusionista armado em cego que nos veio enganar a preço eventualmente módico numa bonita tarde de sol. Os fafenses de hoje em dia não fazem ideia da sorte que têm com a programação que lhes colocam actualmente ao dispor, do melhor que pode ser visto e ouvido em Portugal, e digo isto apenas por inveja retroactiva e, por uma vez, sem ponta de cinismo.

P.S. - Este texto tem truque. Já assinalou o Dia Mundial do Hipnotismo e o Dia Mundial do Braille. Hoje é Dia Mundial do Mágico, et voilá...