Foto Hernâni Von Doellinger |
terça-feira, 29 de abril de 2025
segunda-feira, 28 de abril de 2025
O último a sair, que acenda a luz!
Sou do tempo em que Fafe não tinha semáforos. Não existiam sequer sentidos proibidos ou obrigatórios, a circulação era à Lagardère. Até aos 13/14 anos passei as minhas férias grandes em Passos, Cabeceiras de Basto, onde não havia electricidade de espécie nenhuma, nem água canalizada em casa, e limpava-se o cu a papel de jornal. Passei mais de metade da minha vida sem computadores, internet e telemóvel - não havia e não morri. Como eu, milhões de portugueses ainda vivos nasceram e cresceram assim, porque Portugal é um país de velhos e a cibernética, embora a rapaziada nem faça ideia, é uma novidade. Portanto: o que é que deu hoje a este povo tolo para achar que era o fim do mundo derivado ao "apagão"?
Greve da CP não valeu
Desconstrução civil
Cada macaco no seu galho
Intervenção siderúrgica
domingo, 27 de abril de 2025
Violência doméstica, vamos definir
sábado, 26 de abril de 2025
Os bois chamam-se pelos nomes
Assim se chamam os bois pelos nomes.
Reservado o direito de admissão
O amigo dos animais
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Medicina Veterinária.
sexta-feira, 25 de abril de 2025
Marcelo, tão papista como o papa
quinta-feira, 24 de abril de 2025
O Governo e o 25 de Abril
Por falar em hipocrisia. O Governo estava mortinho por não celebrar o 25 de Abril. E a morte do Papa veio-lhe mesmo a calhar. Embora eu não perceba o que é que o cu tem a ver com as calças.
O Animal do Laboratório
O Silveira trabalhava no ramo da pesquisa e dos testes científicos. Quer-se dizer: era cientista, investigador, passava a vida enfiado na bata branca e em ensaios. Um génio, praticamente. E, rodeado de mulheres às vezes moças, gostava muito de levar a conversa para o picante e de meter a mãozinha onde ela não era chamada. Era conhecido, inter pares, como o Animal do Laboratório, mas essa parte ele não sabia.
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Animal de Laboratório.
quarta-feira, 23 de abril de 2025
Fafe já não tem piononos
O senhor do monteEra uma alma sensível e só. Comovia-se com a natureza. Gostava de subir ao monte para ver as vistas. E cheirar os olfactos. E ouvir as audições...
No monte de São Jorge havia um pionono. E constava que havia outro no monte de Castelhão. Fui testemunha de ambos, embora o segundo possa jamais ter existido. O pionono, para mim, era uma espécie de meco que ajudava montes de pouca monta a porem-se em bicos de pés, a chegarem-se a uma certa altura, a uma altura certa, a um número redondo de que desse jeito falar. Quero dizer: era uma espécie de sapato de salto alto para caga-tacos complexados, porém ao contrário, com o tacão virado para cima e usado na cabeça em vez dos pés, bem na crucha da cabeça. Depois tomei conhecimento do Pio IX, mas nunca percebi a relação, e acho um merecido insulto chamar-lhe marco geodésico. Ao papa. Ao sumo pontífice.
Assim com maiúscula, o Pionono era exactamente em São Jorge, é justo que se diga. Pionono era nome próprio, sítio, geografia. Era topónimo com alvará. "Vou ao Pionono". Ia-se ao Pionono. E ia-se muito. Ao Pionono ia-se ver "a paisage", ia-se aos pinheiros pelo Natal, ia-se esgaçar umas pernadas de carvalho para o trono da cascata do Santo António da nossa rua, ia-se aos fentos ou ao mato para o eido ou às giestas secas para espertar a lareira do chão da cozinha, ia-se brincar aos cobóis, ia-se cagar ao monte e ia-se dar umas trancadas, e o que eu gostava da palavra trancadas, mesmo sem ainda conseguir alcançar o que ela quereria dizer. Nem de propósito, São Jorge parece que também tinha mamoas, eu confesso que não sabia, mas fiquei a saber aqui atrasado. Portanto, pionono e mamoas, para o que lhes havia de dar...
(As giestas, por falar nelas, davam umas vassouras de categoria e o Trancadas era um barbeiro mesmo ao lado do tasco do Neca do Hotel, proximidade que se revelava de uma comodidade extrema, sobretudo para os praticantes do desporto líquido, que eram naquele tempo, olimpicamente, mais de metade da população fafense. As memórias vêm umas atrás das outras, como as marias, lembro-me de descer um degrauzinho, mais cá para o centro da vila, ali entre a sombria loja da Rosindinha Catequista e a Cafelândia, mas esse era o Sr. António Grande, o segundo barbeiro do meu padrinho Américo. Eu ia lá com o meu padrinho mais o meu tio Zé da Bomba, aos sábados de manhã, que naquele tempo eram sempre de sol. Na espera lia-se "O Primeiro de Janeiro", mal eu sabia que ainda o haveria de fazer. O meu padrinho Américo e o meu tio Zé da Bomba eram irmãos do meu pai, o grande Lando Bomba, e depois foram meus pais, à falta do propriamente dito, por razão de força maior.)
São Jorge e Castelhão eram a nossa floresta, a nossa montanha, e tão ao pé da porta. Hoje os montes de São Jorge e de Castelhão são casas e é o progresso. Os montes foram capados, terraplenados, desarborizados, alcatroados, liquidados. Os montes morreram de morte matada e a culpa morreu solteira. Fafe já não tem piononos. Mas, dizem-me, tem ainda a "Garrafinha" e historiadores até dar com um pau. Um deles, quem dera que não chova, ainda há-de contar esta como deve ser.
E agora, só para que conste: pio-nono será a forma "correcta" de escrever, se nos referirmos ao meco. Mas pionono pode ser também nome de doce muito popular em Espanha, na América Latina e nas Filipinas. Por outro lado, Pio IX, que se chamava Giovanni Maria Mastai-Ferretti, teve o segundo maior pontificado da história da Igreja, logo a seguir a São Pedro. E foi o primeiro papa a ser fotografado. Foi também um sacana do piorio e o Vaticano fez dele santo. Pio IX, que tratava os judeus como "cães" e abaixo de cão, foi o responsável pelo rapto de Edgardo Mortara, um menino de seis anos baptizado em segredo e retirado à força da sua família judaica, história contada por Marco Bellocchio no filme "O Rapto".
P.S. - Publicado originalmente no meu blogue Mistérios de Fafe. Hoje é Dia de São Jorge.
O Alto das Freiras e outros pecados velhos
Fafe e os seus exageros
Fafe é uma redundância. Porque se Fafe fosse Faf, já estava tudo dito, e com três letrinhas apenas.
Chamava-se Alto das Freiras e não Monte das Freiras, como alguns lhe chamam hoje em dia, ou Monte das Freitas, como também já por aí li, Deus lhes perdoe a ignorância e o atrevimento, mas antes Freitas do que Serafão, também como quem vai para a Póvoa de Lanhoso. Isto não é resolvido por decreto, apetecimento ou alvará camarário - os sítios têm o nome que o povo lhes chama, e mais nada. E Alto das Freiras era o que o povo chamava àquele sítio lá em cima no antigo monte de São Jorge. Exactamente, quando era monte, isto é, antes de ser capado e dado como desaparecido, o monte ali existente chamava-se monte de São Jorge, e na crucha do falecido monte de São Jorge é que dominava o Alto das Freiras e era no Alto das Freiras que se acoplava o famoso pionono, quer-se dizer, a garrafinha.
Agora, Alto das Freiras porquê, isso é que eu já não sei. E não é que não me lembre, que se calhar me tenha esquecido, não, na verdade nunca soube, nunca fiz nem faço a mais pequena ideia. Cheguei a imaginar que era dali que saíam as irmãzinhas que tomavam conta do Hospital in illo tempore, incluindo a "Mamer", a primeira dona daquilo tudo, ainda hoje suspeito que sim, mas nunca ninguém mo confirmou capazmente nem alguma vez vi documento que o garantisse, e portanto continuo neste impasse. Em todo o caso, um sítio assim chamado Alto das Freiras, e ainda por cima com pionono e garrafinha, punha-me a cabeça às voltas. Eu sempre fui um bocado tolo e, confesso, bastante dado a elucubrações amiúde lúbricas e libidinosas, desculpem-me a expressão, porque ele há palavras que realmente nos levam por maus caminhos, e "elucubração", "lúbrica" e "libidinosa" são dessas tais, sugestivas até mais não, gráficas como nem era preciso, palavras estuporadas, descaradas e fonéticas, das que dizem logo ao que vão, xô diabo vem cá toma!
Que se segue. O busílis nem estava bem no alto das freiras, que, no entanto, por si só, bem trabalhadinho, já daria pano para mangas. O problema era meter na mesma frase, no mesmo pensamento, as palavras freiras, alto, pionono e garrafinha. E agora dizem que também tem mamoas. Estão a ver o filme? Estão a ver onde é que ia parar a minha cabeça-de-alho-chocho?
Ademais, a fama do monte andava pelas ruas da amarguras. Ou pelas alamedas dos prazeres, consoante o ponto de vista. Naquele tempo não havia motéis, os carros eram poucos e as quelhas e os montes prestavam-se ao necessário, eram albergue de amores ilícitos, clandestinos, era ali que tudo acontecia. E ia-se ao monte. Ia-se ao monte esgaçar umas pernadas de carvalho para o trono da cascata do Santo António da minha rua, ia-se aos fentos ou ao mato para o eido ou às giestas secas para espertar a lareira do chão da cozinha, ia-se brincar aos cobóis, ia-se ver as vistas, ia-se cagar ao monte e ia-se ipso facto dar umas trancadas, e o que eu gostava da palavra trancadas, mesmo sem ainda conseguir alcançar o que ela quereria dizer, não desfazendo do Trancadas propriamente dito, que era um barbeiro estabelecido na vila, mesmo ao lado do tasco do Neca do Hotel.
E hoje? Hoje as antigas quelhas são avenidas e os velhos montes são urbanizações. Resumindo e concluindo, não sei como é agora do amor em Fafe.
terça-feira, 22 de abril de 2025
Ligeiramente chateada nos pólos
Foto Hernâni Von Doellinger |
Agora é que está tudo estragado. Agora é que a Terra está ligeiramente chateada nos pólos. Derivado ao aquecimento global e consequentes degelos, que são sempre desagradáveis. Um destes dias o rio de Calvelos vem por aí acima e eu ainda me quero rir. E isto é científico.
Por outro lado. Já repararam como o hemisfério norte encaixa tão bem no hemisfério sul, e ficam ali os dois hemisférios hermeticamente atarraxados no equador e às voltas ao Sol, sem uma folga, e sem entornarem a respectiva água dos oceanos, apesar do supracitado amuo da Terra? É um mistério. O mistério dos hemisférios. Penso muito nisto, sobretudo por causa dos peixes, coitadinhos...
Abana mas não cai
De volta à terra
P.S. - Hoje é Dia da Terra ou Dia Mundial da Terra ou Dia do Planeta Terra ou Dia da Mãe Terra. É também Dia Nacional do Património Geológico.
domingo, 20 de abril de 2025
Os portugueses divididos
De acordo com as sondagens, "serviço militar obrigatório e privatização da TAP são os temas que mais dividem os portugueses". As sondagens têm, como sempre, razão. Basta andar na rua, nos transportes, ir ao café, ao mercado, à missa ou à bola, e realmente não se fala de outra coisa: tropa e TAP.
As aparições
sábado, 19 de abril de 2025
A esfera armilense
Carlota Joaquina, Teolinda Joaquina de Sousa Lança (aliás, Linda de Suza), Joaquina de Vedruna, Mariana Joaquina Apolónia da Costa Pereira de Vilhena Coutinho, Joaquina Lapinha, Joaquininha, a minha sogra, e a Quininha "Varandas", de Fafe. Sete Quinas, como dizia o outro.
P.S. - Publicado originalmente, assim, no meu blogue Mistérios de Fafe.
Bombeiros de Fafe, 135 anos
Foto Hernâni Von Doellinger |
Os Bombeiros de Fafe fazem hoje 135 anos. As cerimónias do aniversário estão marcadas para 27 de Abril, domingo, de amanhã a oito dias. Era aquilo a que antigamente se chamava a Festa da Bomba, que eu recordo aqui.
sexta-feira, 18 de abril de 2025
A capital do stand up
Mistérios de Fafe
Como já aqui anunciei, desde o início do ano que tenho em funcionamento um novo blogue - Mistérios de Fafe, título que pedi emprestado à obra de Camilo Castelo Branco, quando se assinala o bicentenário do nascimento do escritor. É lá que estou a compilar, rever e "passar a limpo", com importantes acrescentos, versões optimizadas dos meus textos sobre Fafe, sobre vidas, pessoas, usos, falares e acontecimentos do meu tempo de Fafe e após, isto é, sobre o modo como o recordo ou quero recordar. Histórias e memórias pessoais, juvenis e profissionais, velhas amizades, cromos e admirações, cenas gagas ou desgraçadas, peripécias, é o que conto. Exclusivamente.
terça-feira, 15 de abril de 2025
A pintura do Mané
A pintura do Mané não lhe dizia grande coisa. Asseguravam-lhe que o Mané era um grande artista, falavam-lhe do impressionismo francês, até do realismo, dos jogos de luz e de sombra, dos nus, mas ele não se deixava convencer. O Mané era um gajo porreiro, isso nem se discute, pagava umas cervejas quando chegava a sua vez e desenrascava satisfatoriamente o lugar de defesa-esquerdo nos jogos das manhãs de domingo na praia, mas, quer-se dizer, era apenas um trolha regular e à beira da reforma. Como ele...
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Arte.
Desenhos mais ou menos
O maneirismo
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Arte.
Poesia a peso
- Era dois poemas de trinta gramas, se faz favor!
- Os dois?
- Cada.
- Sessenta gramas de poemas...
- Exactamente.
segunda-feira, 14 de abril de 2025
Corre, Caixinha, corre!
Foto Hernâni Von Doellinger |
"O português Pedro Caixinha é treinador do Santos, no Brasil, desde alturas do Natal. Neymar, a estrela cadente, vai voltar ao Santos, está prevista a apresentação para amanhã, e Caixinha diz que sabe muito bem "onde Neymar vai jogar e como vai chegar". Eu prevejo que os dois não vão ficar muito tempo juntos. E um por causa do outro. Escreve-se que Neymar só assinou ou vai assinar para 24 jogos, mas, ainda assim, parece-me que será o treinador o primeiro a sair."
domingo, 13 de abril de 2025
Dava-te um beijo, mas não tenho...
Dizemos "Beijinhos", dizemos "Abraço", dizemos olá de boca, e assim ficamos. Pelas palavras. Beijos e abraços são só vocábulos, paleio. Mantemos uma distância alegadamente higiénica entre nós, os alegados amigos uns dos outros. Amigos por computador. Dizemos. Enviamos. Remetemos. Aproveitamos a oportunidade para. Ao telefone, por escrito, ao vivo na pressa da rua, na patetice dos emojis. Dar a sério (à séria, se lido em Lisboa) é que não. Ninguém dá nada a ninguém - nem sequer beijos, nem sequer abraços. Fazemos votos de. "O que lhe estimo é um magnífico beijo", "Desejo-lhe um excelentíssimo abraço". E nisto estamos.
É. Olhem bem à volta: as palavras estão em alta, navegam de vento em popa. As palavras. O falatório. Nunca tanto se palavrou. Nunca se falou tanto, nunca se mentiu tanto. Isso. O que verdadeiramente está em crise é a palavra, a palavra singular e definitiva, essa vaga memória de uma honra démodée que se arrasta pelas ruas da amargura - abandonada, pobre, cega e nua. Mas isto, claro, sou eu a dizer e são apenas... palavras, palavras, palavras.
sábado, 12 de abril de 2025
"O Encantador de Sereias", de Augusto Baptista
sexta-feira, 11 de abril de 2025
A vida era uma fotonovela
Recuemos. À década de oitenta do século passado e ao cimo da mui portuense Rua de 31 de Janeiro, onde havia uma casa de jogos de máquinas de flippers e afins que tinha uma cave com um altifalante fanhoso que, de uns quantos em quantos minutos, gritava cá para fora a curiosa frase "Mudança de modelo". Lá em baixo parece que havia umas raparigas muito jeitosas e nuas a fazerem não sei o quê e umas cabinas individuais e sebentas com ranhura para a clientela meter a moeda como nas velhas jukeboxes de feira e espreitar por um vidro e fazer também não sei o quê. Sei muito pouco do assunto porque, palavra de honra, nunca lá pus os pés. Ou se calhar pus, lembro-me vagamente da situação, não juraria em tribunal, mas isso também não vem ao caso.
Informei-me. "Mudança de modelo", logo a seguir ao ding-dong de uma campainha de aeroporto, queria dizer, por exemplo, que a morena mamuda passava a pasta à loura pernalta e ia para os bastidores ler a Corín Tellado, e assim sucessivamente e vice-versa, mas decerto queria dizer também que os clientes tinham de fechar a braguilha e limpar as mãos o mais rapidamente possível e dar a vez a outros, que eram mais que as mães, sobretudo no intervalo de almoço. O speaker de serviço dizia "Mudaaaança de modeloooo" com um garbo só comparável ao do mestre-de-cerimónias do Circo Merito quando anunciava na Feira Velha de Fafe a sensacional "Maribelaaaa no seu rrrrrola-rolaaaa". Eu gostava: "Mudaaaança de modeloooo"! Parava em frente para ouvir, uma e outra vez, até à hora de voltar ao trabalho. E ria-me. Quase quarenta anos depois, leio e ouço a moderna lengalenga da "mudança de paradigma". "Mudança de paradigma" acima, "mudança de paradigma" abaixo. "Mudança de paradigma" para aqui, "mudança de paradigma" para ali. E também me faz rir, confesso, mas não me arrebita. Falta-lhe sustância, ao paradigma...
Já agora, sobre Corín Tellado, espanhola que se chamava Maria del Socorro Tellado Lopez e morreu no dia 11 de Abril de 2009, aos 82 anos. Escritora, autora mais lida na língua de Cervantes logo atrás do próprio, publicou mais de quatro mil romances cor-de-rosa ao longo de uma carreira de quase 56 anos, vendendo acima de 400 milhões de exemplares, o que lhe valeu a entrada no Guiness em 1994. Em Portugal, e pelo menos em Fafe, antes do 25 de Abril, a senhora Corín Tellado ficou famosa pela melosíssima revista de fotonovelas a que emprestava o nome. As revistas eram disputadas, partilhadas, emprestadas, trocadas, rompiam-se de mão em mão, iam de casa em casa como a Sagrada Família mas com outros interesses. A televisão era a RTP e o mais parecido com uma telenovela era o TV Rural do engenheiro Sousa Veloso, "despeço-me com amizade até ao próximo programa". Na rádio, o "Simplesmente Maria", folhetim radiofónico, chegou à Renascença apenas em Março de 1973, e o país desfez-se em lágrimas, como se houvera inundações. Já disse: era assim em Portugal e pelo menos em Fafe. A parte de Fafe do rés-do-chão, da esfregona e da costura. A parte de Fafe de que sou. Era triste mas era isto: a vida era uma fotonovela.
quinta-feira, 10 de abril de 2025
quarta-feira, 9 de abril de 2025
Um gajo para o escrete
"O treinador Mano Menezes foi despedido da selecção brasileira. O substituto deverá ser anunciado no início de Janeiro e entre os principais candidatos ao lugar parece que estão Muricy Ramalho (técnico do Santos), Tite (do Corinthians) e Luiz Felipe Scolari (sem clube, depois de ter mandado o Palmeiras para a segunda divisão).
Mas do que é que o Brasil está à espera para contratar um treinador português? Não percebo a hesitação. Os brasileiros são os melhores jogadores do mundo? Também os portugueses são os melhores treinadores do mundo, como Jorge Jesus ainda ontem voltou a dizer.
É certo que, quando assim fala, o míster do Benfica é para o espelho que olha, e nem é bem ele a falar, é apenas o umbigo, are you talking to me?, you talking to me? Mas o umbigo de Jesus não deixa de ter razão. E o Brasil só ganhava se se deixasse descobrir de novo."
Vistes? Exactamente, Novembro de 2012, ó santa clarividência! Sete anos depois, em Junho de 2019, Jorge Jesus foi contratado pelo Flamengo e teve o sucesso que se sabe. Foi Jorge Jesus, Abel Ferreira e agora são uns atrás dos outros, qualquer dia não há treinadores portugueses a treinar em Portugal, foram todos para o Brasil.
terça-feira, 8 de abril de 2025
A munha e o munho
domingo, 6 de abril de 2025
O bebé que era sedentário
Estacionaram o carro junto à praia. A mulher saiu, morena e roliça, num refrescante vestido branco comprido à mãe-de-santo. O homem foi ao banco de trás buscar o filho e pousou-o no chão. O miúdo não gostou. Era ainda um bebezinho dos primeiros passos que quase não se tinha em pé. Se calhar por isso, sentou-se no empedrado, abriu as goelas e chorou o seu protesto. A mãe procurou por quem passava, era eu, e ralhou pedagógica e mansamente ao petiz, naquele português doce do Brasil: - Rodinei Uaxinton, chega! Que sedentarismo, minino!...
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Actividade Física.
sábado, 5 de abril de 2025
Ó Montenegro, e se fosses...
As misses do PS
Quando Ben-Hur foi impedido de entrar no Presépio
A sarça ardente
Lotário, príncipe e partenaire
Lotário era neto de Carlos Magno e, primeiro, foi o terceiro imperador do Sacro Império Romano-Germânico, isto pelos inícios do século nono. Só muitos muitos anos depois, exactamente em 1934, é que se tornou ajudante do mágico Mandrake dos livros aos quadradinhos.
P.S. - Lotário I, o príncipe romano-germânico e não o príncipe e hércules africano, foi coroado rei de Itália pelo papa Pascoal I no dia 5 de Abril de 823.
sexta-feira, 4 de abril de 2025
O rato roeu a rolha
Revoltaram-se portanto os ratos. Organizaram-se. Chegada a horinha, meteram-se na fila, esperaram pela vez respectiva, marcaram o ponto e abandonaram ordeiramente o navio. Foram os últimos a sair. E apagaram a luz. Já em terra firme, os ratos dirigiram-se sem mais delongas à montanha que os pariu e roeram a rolha da garrafa do rei da Rússia. Todos, menos o Alcides, que era um rato de biblioteca e foi para o Café Avenida beber um dedal de rum e ler com todos os vagares "A Saga/Fuga de J.B.", de Gonzalo Torrente Ballester.
Reescrevendo a história
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Rato. E Dia Internacional da Ratazana Doméstica.
É de homem
Homem que é homem não teme leão. Os ratos são outro assunto...
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Rato. E Dia Internacional da Ratazana Doméstica.
quinta-feira, 3 de abril de 2025
Salgueiro Maia, por Sophia
respeitou o vencido
Aquele que deu tudo e não pediu a paga
Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite
Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a sua ignorância ou vício
Aquele que foi "Fiel à palavra dada à ideia tida"
como antes dele mas também por ele
Pessoa disse
Sophia de Mello Breyner Andresen
P.S. - Salgueiro Maia morreu no dia 3 de Abril de 1992. Aos 47 anos.
Canção do Salgueiro (Maia)
Esta recebi-a do Jaime Froufe Andrade. Foi num Abril, no tempo dela, e vale a pena lembrá-la hoje. E amanhã. E sempre! No blogue Campainha Eléctrica, li que "o tema "Canção do Salgueiro" tem música e letra de Carlos Tê, que também assegura a produção ao lado de Mário Barreiros e Pedro Vidal. Barreiros é responsável pela mistura e masterização, pela bateria, guitarra eléctrica e teclados, cabendo a Pedro Vidal, director musical de Jorge Palma e parceiro dos Blind Zero e Wraygunn, outra guitarra acústica e eléctrica e também o banjo. Na canção participam ainda Rui David na voz, Patrícia Lestre na voz e violino, Paulo Gravato, saxofonista de Pedro Abrunhosa ou dos Azeitonas, e Rui Pedro Silva no trompete. A voz principal é de Carlos Monteiro." A canção pode ser ouvida aqui. E a letra do Tê diz assim:
Canto agora ao salgueiro
Que um dia abriu os olhos
E viu reinar o vampiro
Sobre a lezíria cansada
De tanto choro e suspiro
E gente tão aviltada
Saiu em fúria da margem
E foi bradar ao terreiro
No seu cavalo de ferro
Pediu contas ao vampiro
E ali lhe fez o enterro
Sem disparar um só tiro
Ai ó meu velho salgueiro
Dá-me a tua sombra amiga
Se há bom tronco lusitano
És da cepa mais antiga
Ai ó meu velho salgueiro
Estás aí tão mudo e quedo
És filho dum ferroviário
Que fez um manguito ao medo
E depois voltou à margem
E ficou a salgueirar
Junto ao Tejo em Santarém
Onde as Tágides vão dançar
Quando a lua harpeja as águas
Certas noites de luar
No poleiro da capital
Cantiga logo esquecida
Mas tu estás de pedra e cal
Mesmo em terra batida
Alto é teu pedestal
Ai ó meu velho salgueiro
Dá-me a tua sombra amiga
Se há bom tronco lusitano
És da cepa mais antiga
Ai ó meu velho salgueiro
Estás aí tão mudo e quedo
És filho dum ferroviário
Que fez um manguito ao medo
Poema a Salgueiro Maia, de Manuel Alegre
E dentro dele uma voz
Ele ia de Santarém
Ele ia de Santarém
Era um cavaleiro andante
Manuel Alegre
quarta-feira, 2 de abril de 2025
A Esquiça e a efeméride
Ora bem. Andava eu, ontem, à procura das "Efemérides Lusa" para hoje, 2 de Abril, quando, por engano na busca, coisas da idade, dou de caras, no jornal Sol, com as "Efemérides de 2 de Março" de 2021. E para esse dia, no ano de 2017, o Sol aponta, resplandecente: "A taberna do pai de Jorge Ferreira, árbitro que tinha apitado o Estoril-Benfica, foi vandalizada há 4 anos, durante a noite."
Caramba! Fafe nas "Efemérides"! Eu não fazia ideia da importância para a Humanidade da ocorrência em questão, mas talvez mereça. Merece certamente. Não, de caras, no que diz respeito à façanha pífia da claque antiportista Super Dragões, mas, por outro lado, quanto à Esquiça instituição, a taberna do pai do filho, ela, sim, um acontecimento digno de registo, sobretudo derivado às tripinhas e à vitela, que já lá não vou há que tempos, caseiras, honestas e acessíveis, merecedoras realmente de figurarem nos anais da História. E, até à próxima, daqui vai um abraço para o Armindo!
Manicómicos
Foto Hernâni Von Doellinger |
Por falar nisso. O Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, foi inaugurado no dia 2 de Abril de 1942. Ali estava, segundo a imprensa da época, um "manicómio", um lugar para "assistência a alienados", um "pavilhão para loucos", um sítio "esplêndido" e "simpático". E ainda bem. A imprensa da época vai entretanto ser corrigida com termos mais mansos, porque há coisas que hoje em dia realmente não se dizem. Nomeadamente "assistência", "pavilhão", "esplêndido" e sobretudo "simpático", que é uma palavra filha da mãe. Uma palavra, numa palavra, manifestamente suspeita e aliás indecente, direi até cancelável.
Branca e radiante
terça-feira, 1 de abril de 2025
Brincar em serviço
P.S. - Hoje é Dia Internacional da Diversão no Trabalho.