segunda-feira, 30 de abril de 2012
Também acontece aos melhores
Ferreira Fernandes é um dos mais brilhantes cronistas do jornalismo português. E é o meu preferido. Todos os dias procuro o cantinho que lhe dão no Diário de Notícias e todos os dias me delicio e aprendo alguma coisa com ele. Ferreira Fernandes é informado, é culto, é estiloso, é escorreito, é claro, é corajoso, é honesto, é sensato, é sucinto, é simples, é assertivo. E também é benfiquista.
Ferreira Fernandes escreve de tudo, não por armanço idiota, mas porque verdadeiramente sabe de quase tudo. Escreve, por exemplo, de futebol, sem que lhe caiam as medalhas ao chão, e continua a ser um prazer lê-lo. O Barcelona e o Real Madrid, Messi e Cristiano Ronaldo, Guardiola e Mourinho devem-lhe se calhar os mais perfeitos textos que sobre eles foram escritos a nível mundial.
Ferreira Fernandes tornou ao tema do pontapé na bola na edição de ontem do DN, mas inesperadamente com uma cirúrgica preocupação doméstica. Na noite em que Rio Ave e Benfica entregaram ao FC Porto mais um título de campeão que, desta vez, parece que mais ninguém queria, o meu cronista favorito esqueceu-se do facto e resolveu escrever sobre os desarranjos intestinais do futebol português. É. Realmente, ninguém está livre.
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domingo, 29 de abril de 2012
1.º de Maio, Dia do Desempregado
Foto Hernâni Von Doellinger |
Amanhã é 1.º de Maio, Dia do Desempregado em Portugal. Os nossos mais de 800 mil desempregados estão todos de parabéns. E há canja na sopa dos pobres.
De que riem os Portugueses?
Diz que ontem foi o Dia Mundial do Sorriso. O humorista brasileiro Juca Chaves costuma contar mais ou menos assim, pondo as palavras na boca do guia do jardim zoológico: "E aqui temos a hiena. A hiena, que é um animal que ri muito. Alimenta-se das fezes dos outros animais e tem relações sexuais com a sua fêmea apenas uma vez por ano". "Mas, se come merda e só fode uma vez por ano, ri de quê?", pergunta o visitante.
Domingos Paciência corre para o regresso
Foto Hernâni Von Doellinger |
Escondido atrás de uns óculos de sol Ray Ban aviador (se não sabem, e eu não sabia, é assim que se diz) e misturado num grupo de para aí uns dez amigos (tantos os amigos como os anos de seca do Sporting), Domingos Paciência corria ontem pela beira-mar do Porto. Andará a manter a forma, a preparar o regresso ao trabalho. Só foi pena não ter sido na Ribeira. É que eu tinha aqui uma fotografia muito jeitosa que, sem ter nada a ver com o assunto, ando mortinho por publicar.
sábado, 28 de abril de 2012
A problemática da "radicalização discursiva"
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Um dicionário de mota-soarês é que dava jeito!
Simpatizo com Pedro Mota Soares, foi o que eu disse. Quanto ao ministro da Solidariedade e Segurança Social, desconcerta-me: não sei o que faz, não sei se sabe o que está a fazer, não percebo o que diz. De que fala Mota Soares quando fala?
Disse ele, ontem: "Importa que o Estado saiba construir com as instituições sociais um novo paradigma de resposta social". Um novo para quê? Para digma, disse o ministro, esquecendo-se que, como membro do Governo, e se tiver os microfones à frente, fala sempre para os portugueses - sobretudo para os "seus" portugueses, os velhinhos, os asilados, os reformados ou quem lhes dera, os marginalizados da vida, os analfabetos de todas as espécies, os que só foram à Universidade uma vez, naquela excursão de três dias a Fátima.
E o que é então o novo paradigma? O ministro explicou, simples e cristalino como a água das pedras com groselha, uma rodela de limão cortada em quatro, oito cubos de gelo derretido, três folhas e meia de hortelã, um ramo de salsa, um ramo de casamento, duas palhinhas e um guarda-sol fechado: "Algo que vá além do tradicional wellfair public sistem, algo a que outros já chamam um wellfair partnership sistem e é por aí que nós queremos seguir". Assim está bem. Siga para bingo.
Mota Soares é o ministro que já nos tinha dito que "o plafonamento das pensões" não deve avançar "em contraciclo" e que teve a ideia peregrina das refeições take away para os pobres. Os pobres. Isto vem tudo no jornal Público. O ministro e o Público entendem-se. Os portugueses do rés-do-chão é que não sabem do que é que eles estão a falar.
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Gestão revolucionária é que era
Olhei para a manchete do semanário Notícias de Fafe e li que o presidente da Junta faltou à sessão solene do 25 de Abril, na Câmara Municipal, assumindo "gestão revolucionária". Caramba, pensei eu, finalmente aparece neste país de treta um gajo com os tomates no sítio certo e ainda por cima andou comigo na escola. "Gestão revolucionária", assim é que é, 25 de Abril sempre nem que seja só às vezes, o Governo e a troika que metam os liberalismos pelos respectivos cus acima, que com Fafe ninguém fanfa. Ah!, grande Zé Mário, nunca me enganaste, nunca me deixaste ficar mal!
Ia-lhe ligar, dar-lhe conta da minha alegria e do meu orgulho. Do meu apoio. E foi quando reparei: o título dizia "gesto revolucionário". "Gesto revolucionário"?! Eu é que me tinha enganado na leitura, tramado por um subconsciente do reviralho. Informam-me que José Mário Silva é um grande presidente de Junta, e é essa também a ideia que eu tenho, mas gestão revolucionária é que era, pá...
Ia-lhe ligar, dar-lhe conta da minha alegria e do meu orgulho. Do meu apoio. E foi quando reparei: o título dizia "gesto revolucionário". "Gesto revolucionário"?! Eu é que me tinha enganado na leitura, tramado por um subconsciente do reviralho. Informam-me que José Mário Silva é um grande presidente de Junta, e é essa também a ideia que eu tenho, mas gestão revolucionária é que era, pá...
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quinta-feira, 26 de abril de 2012
Outra vez a mijar fora do penico
José Pedro Pereira, líder da JSD na Madeira e adepto da independência do arquipélago de Alberto João, defendeu ontem que "certos ministros do senhor Passo Coelho deviam ser investigados". E deviam. O jovem deputado regional social-democrata protestava assim contra o "folclore" das buscas efectuadas pelo DCIAP em departamentos do Governo do Funchal. Permito-me recordar, no entanto, que este é o rapaz que mijou
num carro da Polícia, na madrugada de 23 de Julho do ano passado, junto a
um estabelecimento de diversão nocturna no Molhe da Pontinha.
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quarta-feira, 25 de abril de 2012
Atenção a estes dois jovens turcos!
Pedro Passos Coelho, recatado porém histórico estadista, com mais calo no cu do que o falecido macaco do Palácio de Cristal, emérito punheteiro, é que lhes vai fazer a folha. Os casamentos e baptizados não perdem pela demora, acabam em Portugal antes do Verão, só falta a nota de encomenda da troika, e é mais uma despesa que se desarrisca. A Sport TV passa a fazer reportagens sem som nem imagem, mas aqui com a desculpa do pedido de milhares de assinantes, entre os quais eu me incluo. E quanto aos feriados, que são "datas especiais" da pior espécie e os dias em que os dois jovens emplastros mais gostam de atacar, o assunto há que tempos que está a ser tratado. Quatro sabe-se que vão ao ar, se Deus quiser, e os outros, assim sozinhos, estão prontos a desistir.
Cá entre nós, convenhamos: o alegado primeiro-ministro de Portugal tem razão. Vamos lá pensar como deve ser, agora que passam dois minutos da meia-noite e tornámos à normalidade do 24 de Abril: mas há algum motivo para mantermos, por exemplo, um abcesso como o 25 de Abril no calendário nacional? Ainda por cima, só por causa de um Real Madrid-Bayern de Munique?
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Cavaco voltou a falar demais
Título danado para a brincadeira
Pergunta o jornal Público: Passaram trinta anos. Já digerimos Tomás Taveira e as Amoreiras? Bem, quanto à digestão das Amoreiras, é uma coisa como outra qualquer. Vai lá com bicarbonato. Agora quanto ao outro... Quer-se dizer, minha senhora...
terça-feira, 24 de abril de 2012
25 de Abril: se perguntarem por mim, não estou
Foto RICARDO CASTELO |
Os militares do 25 de Abril não vão ao 25 de Abril. Solidários, Mário Soares e Manuel Alegre também não vão. Pedro Passos Coelho, alegado primeiro-ministro de Portugal, diz que assim ainda é melhor, até porque já está farto destas "figuras políticas" que o que querem é "assumir protagonismo em datas especiais". A marcha da desobediência civil avança até à Assembleia da República, onde conta chegar cerca das 0h20 - e as manifestações e concentrações estão proibidas por lei a partir das 0h30. No Porto, o projecto Es.Col.A ameaça tentar reabrir e reocupar a antiga escola primária da Fontinha, de onde foi despejado pela polícia na passada quinta-feira, com feridos e detenções. Ainda sob o efeito da adrenalina da greve de 22 de Março, a PSP avisa que agirá com tolerância zero em relação a todos os desfiles e acções de rua que não estejam "devidamente autorizados". Dito de outra forma: serão impedidos e desbaratados à nascença.
Caros amigos: a homenagem póstuma ao 25 de Abril promete. Se me dão licença, eu vou ali e venho já. Vinte e cinco de Abril sempre, nem que seja só às vezes!
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O meu tio Al Pacino
Foto Tarrenego! |
Eu tenho um tio que se parece com o Al Pacino quando o Al Pacino parece bem. O meu tio Zé de Basto não é actor e nunca foi a Hollywood. É um mestre pedreiro de mão cheia, arte que herdou do pai, o meu avô Bernardino, e tentou duas vezes a emigração, em Inglaterra e em França, mas não se deu. As saudades matavam-no. Saudades da mulher, a querida tia Margarida, do sino da igreja de Passos, das leiras suadas mas generosas, da comida feita à lareira, dos amigos do peito, de uns tiros às perdizes, de umas boas malgas de vinho verde e sobretudo dos filhos, duas "moças" e dois "moços" que lhe enchem o coração.
Eu e o meu tio Zé de Basto, que trato por você e a quem peço a bênção, fazemos pouca diferença de idade. Ainda fomos parceiros de aventuras durante os dias das férias grandes que eu, em miúdo, passava na aldeia. Ele era já um rapazola. E juntos éramos um desastre.
O meu tio largava-me carreiro abaixo e ao fim de dois metros eu já tinha deixado a mota para trás, enrodilhado em séries de espectaculares e descontrolados vira-cus que só acabavam lá no fundo da ribanceira, com as costas espetadas numa árvore e a mota a cair-me em cima e em cheio, de rodas para o ar, a girarem, a girarem, como nos filmes...
Eu punha-me a pé no meio de uma nuvem de pó, zonzo, pronto a chorar, com a boca cheia de sangue e de terra, os joelhos a discutirem com os cotovelos quem é que estava mais esfolado, e o meu tio só se ria lá de cima. O que é que eu havia de fazer? Ria-me também. Vinham buscar a mota para o local de partida e lá ia eu outra vez de cangalhas até bater na árvore que já me conhecia de ginjeira, e quando íamos dois ainda era pior.
O Al Pacino não conhece o meu tio Zé de Basto. Calha bem, porque o meu tio Zé de Basto também não conhece o Al Pacino. Por aí, estão ela por ela. Onde o meu tio fica a ganhar ao americano é no alambique. Exactamente. O meu tio tinha um extraordinário alambique, onde queimava o vinho estragado da vizinhança, e fazia uma aguardente tão medonha que era um sucesso. As autoridades fecharam-lhe o alambique. Acho que mais do que uma vez. E sendo certo que, no seu tempo, Al Pacino também não destilava nada mal, a verdade é que não me consta que tivesse um alambique.
Ao contrário do outro Al Pacino, o meu tio Zé de Basto nunca ganhou um Óscar. Mas merece o Nobel. Foi ele quem inventou uma talhadura de infalibilidade papal para curar bebedeiras, sejam elas de que tamanho forem. O revolucionário método, experimentado e comprovado pelo meu próprio tio, consiste basicamente em arriar as calças e chapinar o traseiro na água fresca de uma levada. A versão urbana, descartado o uso do rio Douro ou do oceano Atlântico, por questões de segurança, passará inevitavelmente pelo bidé, devendo juntar-se gelo à água do cano, para recriar as condições naturais do tratamento original. E é remédio santo.
O meu tio Zé de Basto é um homem geralmente feliz, às vezes austero e honrado sempre. Teve sorte com os filhos que tem. Ele e eu também somos compadres, baptizei-lhe o rapaz mais velho: é "o nosso Nane" como eu. E é como compadres que gostamos de nos abraçar, "Eeehhh compaaaaaaaadre!!!...", com umas valentes palmadas no lombo, quando nos reencontramos. E eu gosto muito de abraçar o meu tio Al Pacino.
(Publiquei este texto em 15 de Outubro de 2011. Junto-lhe hoje esta foto.)
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segunda-feira, 23 de abril de 2012
domingo, 22 de abril de 2012
Luís Filipe Menezes, o Porto e blablablá
Foto Hernâni Von Doellinger |
Luís Filipe Menezes deu "uma grande entrevista" ao DN, que por acaso foi a entrevista que deu ao programa Gente que Conta, da rádio TSF. E, a fazer fé no jornal de Lisboa, o presidente da Câmara de Gaia falou sobretudo do Porto, pondo tudo em pratos limpos. Terá dito, com mais clareza era impossível: "Acho que o País não se pode dar ao luxo de prescindir de uma opção estratégica fundamental, que é ter dois grandes centros urbanos de primeira linha mundial na frente atlântica, virado para o papel que tem de desempenhar na entrada da Península Ibérica e da Europa, para quem olha da América e de África". Para arrumar a questão, definitivamente e em título: "O Porto é um projecto de liderança política com estratégia". Na muche. Profundo. Isto dá que pensar, meus senhores, dá que pensar. E eu pensei: está bem, abelha.
25 de Abril: quando o telefone toca no Parlamento
sábado, 21 de abril de 2012
A Festa da Bomba
Quando eu era pequeno, Fafe tinha três grandes festas e eram as maiores festas do mundo: a Senhora de Antime, a Festa da Bomba e a cascata do Santo António na minha rua. Quanto à enormeza da Senhora de Antime, sobretudo da sua incomparável e pungente procissão, suponho que estamos conversados. Do nosso Santo António já aqui dei um lamiré, e é preciso não esquecer que até tínhamos foguetes e altifalantes que o Zé da SIF arranjava e metíamos raivinha às outras ruas todas, incluindo avenidas, rampas, quelhas e largos como o nosso. O Zé da SIF é irmão do Armando Perrinha, e eles mais o Zé Maria, que foi comando no Ultramar, a Dina e a Luísa são filhos do Agostinho Cachada e da Senhora Laura, família quase minha, vizinhos do coração e gente do melhor que pode haver. Mas as festas. Faltava a festa de anos dos Bombeiros Voluntários de Fafe - a Festa da Bomba -, e vamos a isso.
A Festa da Bomba, um bocadinho acima e dois meses antes do Santo António, era de arrebenta. Só de altifalantes - sempre os altifalantes! - eram dois dias, quase três, e coisa profissional, a encher de som fanhoso o ar da vila e arredores: "Amplificações sonoras de João Baptista Gonçalves, de Antime, Fafe, deslocam-se a qualquer localidade, haja ou não haja corrente eléctrica", levando atrás a discografia completa do António Mafra e da Maria Albertina, com o Tom Jones e o alemão Freddy Breck a emprestarem um toque de classe aos "trabalhos". E no domingo era povo que só visto. Havia bailarico no terraço do quartel e na parada, havia discos pedidos - "E o disco que se segue é dedicado à menina de camisola vermelha que está encostada à parede na varanda do segundo andar, por um seu admirador", e saía "O Carrapito da Dona Aurora" -, havia os tremoços da minha avó e o verde tinto do meu avô, que era quarteleiro mas não era tolo, havia capacetinhos de folheta dourada e alfinete torcido para enfiar nas lapelas dos generosos pobretes mas alegretes que davam "qualquer coisinha para a ajuda". (Se calhar foram os primeiros pins de que há memória. Os lacinhos furta-cores e os autocolantes de mão estendida ainda não tinham sido inventados.) Arranjaram-se ali namoros, casamentos. Era uma festa popular, sim. Mas a minha Festa da Bomba era a festa dos bombeiros.
Começava uns dias mais cedo, a distribuir pelas montras o programa do aniversário e a puxar pelo corpo para pôr os carros e o quartel como brincos, que naquele tempo eram só para mulheres e piratas. Depois ia na "Carrinha", uma velha Austin da II Grande Guerra, ajudar a recolher garrafões de vinho oferecidos pelos ricos da terra e amigos da Bomba: os Summavielles, o Zé de Freitas, o João do Sal, o Senhor Fernandes do Retiro (não por acaso, um quase eterno presidente da associação), que são os que me recordo.
O meu ponto alto, porém, era o içar das bandeiras, logo pela manhãzinha do dia grande. Eu fazia questão, tomava conta da bandeira dos Bombeiros, bela, azul e branca, passada a ferro pela minha querida tia Laura, feita num linho que dava gosto tocar, com a águia que afinal era a fénix renascida, as chamas e os machados no meio. Içava-a a compasso, orgulhoso, solene, tremente e, confesso, a chorar por mim abaixo como um madaleno arrependido nunca soube de quê.
Tinha mais que fazer no quartel, mas ia ao Largo ver o desfile engrossado pelas corporações convidadas e amigas. Caíam-me os olhos para os carros, todos mais modernos do que os nossos, mas isso não chegava para me desmoralizar. Eu sabia que os bombeiros de Fafe eram muito melhores do que os outros, nem que tivessem de ir a pé para o fogo. E às vezes iam.
Lembro-me sobretudo dos amigos de Vizela, que eram mais do que amigos, eram irmãos (futebol à parte), e, depois da obrigação feita, decilitravam com quase tanto gabarito como os bombeiros de Fafe, campeões mundiais da decilitragem. Era: após a cerimónia das medalhas é que começava a verdadeira festa. Cada um que se amanhasse para o almoço, e já voltavam todos bem bons, mas a meio da tarde havia o "beberete" no salão de festas transformado em refeitório. O "beberete" constava de uns bijus e de uns bolinhos de bacalhau feitos pela minha avó e metidos em sacos plásticos de doses individuais e sumárias, acompanhados à fartazana pelo tal vinho dado pelos beneméritos da corporação e que era bebido como se só voltasse a haver Festa da Bomba dali a um ano. O que até nem estava mal visto.
Conclusão: era beberete demais para tão pouco comerete. Passavam-se ali carraspanas iglantónicas. Os de Vizela ficavam até ao fim, num taco-a-taco que chegou a ser histórico, mas o nosso Joãozinho do Opel levava sempre a taça para casa. E levavam-no sempre a casa. De padiola. E eu pensava que não fazia mal, que os nossos bombeiros voluntários mereciam demais aquele dia sem medida e só para eles, derivado ao resto do ano em que eles eram só para os outros. Pensava que, às tantas, a Festa da Bomba era essencialmente aquilo - aquela bebedeira geral, eucarística, redentora e uniformizada, em descompassada ordem unida. E achava bem. E quero acreditar que nunca mais na vida tive pensamentos tão acertados.
(Os Bombeiros de Fafe fizeram 122 anos na passada quinta-feira. A Festa da Bomba é hoje.)
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Os bispos e a pedofilia: mais um pequeno passo
Eurico Dias Nogueira, antigo arcebispo de Braga, é da minha opinião: a Igreja Católica portuguesa "esteve demasiado calada" sobre os casos de pedofilia que aconteceram no seu seio. Em entrevista à rádio Antena 1, o prelado confirma ter informações de casos de abusos sexuais de menores dentro da instituição, que critica por ter tentado "abafar" as situações, sem "resolver" o problema. "Fazia-se isso secretamente", diz.
E querem saber como é que a Hierarquia "abafava" os casos? Por exemplo, mudando os padres pedófilos de paróquia em paróquia e de escola em escola, assim multiplicando o número de vítimas.
E querem saber como é que a Hierarquia "abafava" os casos? Por exemplo, mudando os padres pedófilos de paróquia em paróquia e de escola em escola, assim multiplicando o número de vítimas.
Sexo em grupo?
Foto Hernâni Von Doellinger |
Não se sabe onde é que nasceu, se na Muralha da China ou em Itália. A moda chegou ao Porto em finais do ano passado. Casais começaram a pendurar aloquetes (seriam cadeados em Lisboa) na Ponte de Luís I, lançando depois as chaves ao Douro, numa simbólica jura de amor eterno. Eterno enquanto dura.
quinta-feira, 19 de abril de 2012
Quando a memória é de plástico
Tornei a Fafe e fui à minha procura. Queria revisitar e mostrar o sítio exacto de onde a extraordinária matriarca dos Summavielles me atirava o retrato de Salazar, que na verdade era o "burro" de um baralho de cartas, como já aqui contei. Queria registar a frontaria que sei de cor da casa principal da família rica, um belíssimo palácio brasileiro que eu conheci por dentro e de boca aberta numa Páscoa em que fiz calos com a sineta do compasso. (Leio num interessante texto do blogue Sala de Visitas do Minho que o edifício da Rua Monsenhor Vieira de Castro foi construído em 1862. Idade de respeito.)
A famosa sacada ainda lá está. O meu passeio também. O resto não. Não sei há quanto tempo nem porquê e não me interessa por culpa de quem, a casa-mãe dos Summavielles está tapada por duas telas pintadas ao mau gosto dos piores cenários de teatrinho de escola do século passado. E mesmo em frente à nova jóia da coroa cultural da autarquia, o renovado Teatro-Cinema.
Se pensam que é uma crítica, estão enganados. Até porque, repito, não sei o que se passa e os gostos são relativos, como os pronomes. Só tive pena. Também pena de não poder fazer o retrato. Fiz isto:
A famosa sacada ainda lá está. O meu passeio também. O resto não. Não sei há quanto tempo nem porquê e não me interessa por culpa de quem, a casa-mãe dos Summavielles está tapada por duas telas pintadas ao mau gosto dos piores cenários de teatrinho de escola do século passado. E mesmo em frente à nova jóia da coroa cultural da autarquia, o renovado Teatro-Cinema.
Se pensam que é uma crítica, estão enganados. Até porque, repito, não sei o que se passa e os gostos são relativos, como os pronomes. Só tive pena. Também pena de não poder fazer o retrato. Fiz isto:
Foto Hernâni Von Doellinger |
Os nossos bispos, a pedofilia e a hipocrisia deles
José Policarpo, cardeal patriarca de Lisboa, garantia em Dezembro do ano passado, meia dúzia de dias antes do Natal, que não conhecia casos de pedofilia
na Igreja portuguesa. Mas também dizia que o melhor era não "deitar foguetes antes da festa, porque um caso pode sempre aparecer". Pois pode e é preciso ter cuidado. Não faltam por aí manetas, por eles, os foguetes, lhes terem rebentado nas mãos - avisei eu.
Ontem, José Policarpo anunciou que os bispos portugueses querem que as vítimas de abusos sexuais por parte de membros do clero participem os casos "às autoridades civis competentes".
Não sei se o cardeal arrepiou caminho apenas para salvar as mãozinhas ou se teve um rebate de consciência. Mas este desafio dos bispos, tal como foi lançado cá para fora, enrodilhado em alegadas questões legais (e não morais, valha-nos Deus), é uma indecência e de uma hipocrisia e crueldade para as vítimas que envergonham o Jesus Cristo que as excelências reverendíssimas deviam pregar e viver.
Quem é esta gente que fala em nome da minha Igreja e já não sabe o que é o amor ao próximo e a caridade cristã? O que é que acontece a esta gente quando se veste de vermelho, para tão escandalosamente desdenhar dos mais fracos e indefesos, dos estropiados?
E, no entanto, José Policarpo e os seus bispos (não sei quem os empurrou) deram um passo em direcção à verdade: há pedófilos e vítimas de pedofilia na Igreja portuguesa. A Hierarquia anda muito devagar e por isso eu só lhe peço que tente, para já, mais um passo. Um pequeno passo até ao enorme tapete para baixo do qual tem varrido, pelo menos ao longo dos últimos quarenta anos, os diversos casos de abusos sexuais sobre menores que conhece e a que fecha os olhos. E que tenha a dignidade mínima de expor, expurgar e fazer castigar os violadores e não as vítimas.
Ontem, José Policarpo anunciou que os bispos portugueses querem que as vítimas de abusos sexuais por parte de membros do clero participem os casos "às autoridades civis competentes".
Não sei se o cardeal arrepiou caminho apenas para salvar as mãozinhas ou se teve um rebate de consciência. Mas este desafio dos bispos, tal como foi lançado cá para fora, enrodilhado em alegadas questões legais (e não morais, valha-nos Deus), é uma indecência e de uma hipocrisia e crueldade para as vítimas que envergonham o Jesus Cristo que as excelências reverendíssimas deviam pregar e viver.
Quem é esta gente que fala em nome da minha Igreja e já não sabe o que é o amor ao próximo e a caridade cristã? O que é que acontece a esta gente quando se veste de vermelho, para tão escandalosamente desdenhar dos mais fracos e indefesos, dos estropiados?
E, no entanto, José Policarpo e os seus bispos (não sei quem os empurrou) deram um passo em direcção à verdade: há pedófilos e vítimas de pedofilia na Igreja portuguesa. A Hierarquia anda muito devagar e por isso eu só lhe peço que tente, para já, mais um passo. Um pequeno passo até ao enorme tapete para baixo do qual tem varrido, pelo menos ao longo dos últimos quarenta anos, os diversos casos de abusos sexuais sobre menores que conhece e a que fecha os olhos. E que tenha a dignidade mínima de expor, expurgar e fazer castigar os violadores e não as vítimas.
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Sabença, senhor abade!
Foto Hernâni Von Doellinger |
No tempo em que havia padres em Portugal, Fafe tinha um senhor abade. Uma vez por semana, o nosso senhor abade descia a minha rua de terra e tílias para ir dizer missa na capela de ricos da Casa do Santo Velho, e a minha mãe mandava-me ir ter com ele para lhe pedir sabença. Eu interrompia os deveres da escola primária e ia a correr, todo contente. Fazia fila atrás dos outros miúdos todos e, quando chegava a minha vez, lá dizia, com o respeito que me fora ensinado, "Sabença, senhor abade!", beijando a mão branca que me era estendida. O senhor abade fazia-me uma pequena festa na cabeça, com a mão que tinha de vago, e respondia-me "Deus te abençoe, meu filho", que era o que eu queria ouvir. O senhor abade seguia o seu caminho e eu tornava a casa num sino. Acreditam que aquilo é das coisas mais felizes da minha infância?
O senhor abade cheirava bem, a tabaco e perfume. Andava sempre de batina e, no Inverno, usava uma capa negra revoante que parecia de filme de espadachins. Com o correr dos anos, o senhor abade subiu a senhor arcipreste, pendurou a sotaina e começou a sair à rua de fato preto e cabeção de gola alta, passou a cumprimentar-me de mãozada e fizeram-no senhor cónego, uma desfeita, no meu modesto ponto de vista. Cónego Leite de Araújo. Era um homem elegante, distinto, culto, bom e pobre. Dava. E tinha um sorriso. Era um ser humano com defeitos e extraordinário. E foi meu amigo. Não sei se Fafe tem a contabilidade em dia com a sua memória.
No tempo em que havia padres em Portugal, o senhor abade de Fafe tinha consigo ao serviço da paróquia, para além do padre Adélio que ensaiava o orfeão, dois jovens coadjutores, palavra que eu não sabia dizer mas que me fazia rir, porque imaginava que, com um título assim, aqueles dois eram padres de acender e apagar. Tanto quanto sei agora, apagaram-se quase todos os que por lá passaram. Apagaram-se como padres, quer-se dizer. Tiveram muitos filhos, foram muito felizes e casaram, geralmente por esta ordem. Em todo o caso, a esses já eu não beijava a mão, mas pedia sabença. Tínhamos isso combinado. E eu ganhava o "Deus te abençoe" que me dava tanto jeito.
No tempo em que havia padres em Portugal, não havia Paula Bobone, graças a Deus. Por isso o beija-mão era uma coisa, por assim dizer, pouco higiénica. Porque o beijo era mesmo beijo e não a mariquice do beijo de faz de conta, a "simulação de beijo" recomendada pela etiqueta da treta. Eu pedia sabença com beija-mão também ao meu avô e à minha avó da Bomba e ao meu avô e à minha avó de Basto, gente de trabalho que tinha as mãos como calhava quando eu lá esparramava o reverencial ósculo. Sim, seria talvez pouco higiénico, mas era verdadeiro. E ainda cá estou.
Durante toda a minha vida pedi sabença. Ao meu pai, à minha mãe, ao meu padrinho, à minha madrinha, aos meus tios e às minhas tias. Até às tias chegadas à família por casamento, que no princípio achavam aquilo um bocado estranho, mas que depois se habituaram e creio que gostam. Aos poucos fui desfazendo a corruptela, passei pela "sabênção" até chegar ao que peço há anos: "a sua bênção". É verdade, continuo a pedir a bênção à minha mãe e aos meus tios e tias, alguns apenas um pouco mais velhos do que eu. E não é só por respeito ou porque me ensinaram em pequenino. Eu acredito nas bênçãos. Por falar nisso: sabença, senhor abade!
(Texto publicado no dia 26 de Outubro de 2011)
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Mais vale ser quase do que ser
A família é uma coisa muito estranha. Já repararam que o mais forte laço familiar acaba por ser aquele que une as pessoas que "é como se fossem da família"?
Finalmente todos focados no essencial: os feriados
E de repente fez-se luz. Ontem, como se estivessem combinados mas isso era o que faltava, Igreja, Bloco de Esquerda, PS, PCP e Ribeiro e Castro atiraram-se todos ao mesmo assunto, àquele do qual verdadeiramente depende a salvação dos portugueses: a problemática da eliminação dos feriados. A Hierarquia católica diz que não há pressa, os socialistas, os comunistas e os bloquistas querem que tudo fique como está, que está muito bem, e o desalinhado deputado do CDS apresentou três-propostas-alternativas-três para manter o 1.º de Dezembro, o qual, na ideia dele, é mais feriado do que os outros.
Cá no rés-do-chão, a nossa preocupação era mesmo os feriados. Agora estamos todos muito melhor, obrigado. A crise, assim, já não é mais do que uma embirrenta corrente de ar. Por falar nisso, e se não for pedir de mais à Igreja, ao Bloco de Esquerda, ao PS, ao PCP e ao Ribeiro e Castro do 1.º de Dezembro: o último a sair que feche a porta. E apague a luz.
Cá no rés-do-chão, a nossa preocupação era mesmo os feriados. Agora estamos todos muito melhor, obrigado. A crise, assim, já não é mais do que uma embirrenta corrente de ar. Por falar nisso, e se não for pedir de mais à Igreja, ao Bloco de Esquerda, ao PS, ao PCP e ao Ribeiro e Castro do 1.º de Dezembro: o último a sair que feche a porta. E apague a luz.
Anoréctica, 17 anos, 25 quilos e os pais não sabiam
terça-feira, 17 de abril de 2012
Planeta dos macacos
Uma equipa de cientistas britânicos descobriu que os ninhos dos orangotangos são autênticas obras de engenharia. E de "engenharia complexa", é preciso que se note. Em retaliação, uma equipa de engenheiros argentinos descobriu que um casal de chimpanzés do Uganda está a trabalhar numa nova vacina contra a febre aftosa.
Entretanto, na pacata vila de Borneo Apes, na Indonésia, chora-se baba e ranho pela partida de Pony, a prostituta preferida que durante anos a fio satisfez os, por assim dizer, homens da população. Pony é uma orangotanga, se me permitem a expressão, estrela da casa de putas da terreola e finalmente resgatada pela Associação Protectora dos Orangotangos, após um ano intenso de tentativas frustradas de salvamento.
Darwin tinha razão. O que ele certamente não sabia é que era tanta e tão retorcida.
Entretanto, na pacata vila de Borneo Apes, na Indonésia, chora-se baba e ranho pela partida de Pony, a prostituta preferida que durante anos a fio satisfez os, por assim dizer, homens da população. Pony é uma orangotanga, se me permitem a expressão, estrela da casa de putas da terreola e finalmente resgatada pela Associação Protectora dos Orangotangos, após um ano intenso de tentativas frustradas de salvamento.
Darwin tinha razão. O que ele certamente não sabia é que era tanta e tão retorcida.
O meu cinema paraíso
Foto Hernâni Von Doellinger |
Parece o reclame de um salão de cabeleiro unissexo. "Sansão & Dalila". Desinteresso-me primeiro, mas ele está ali mesmo à minha frente, colado na carruagem do metro, e de repente começa a exercer sobre mim um fascínio inesperado e misterioso. Olho melhor, a ver se percebo o que se passa comigo. Ah!, afinal é a ópera de Camille Saint-Saëns, que vai à cena no Coliseu do Porto. É "Sansão e Dalila". O e não é comercial, é apenas truque gráfico, modernice. Pronto, está tudo esclarecido.
Mas não estava. O anúncio continuava a chamar por mim. Que raio de poder hipnótico poderia ter aquele pedaço de papel plastificado? As palavras mágicas não paravam de ecoar na minha cabeça, "Sansão e Dalila", "Sansão e Dalila", "Sansão e Dalila"... Resolvi-me, levantei-me do meu lugar, dei dois passos em frente, tirei os óculos, semicerrei os olhos e tentei espreitar para dentro do reclame. O metro apitou, uma, duas, três vezes, e o reclame abriu-se num clarão como se fosse o meu espelho de Alice, puxando-me pelos colarinhos e levando-me aos confins do meu passado, numa viagem instantânea até ao tempo em que
eu era um miúdo. Éramos todos uns miúdos. E íamos em bando até à porta da D. Laura Summavielle, filha, que morava à beira da Igreja Nova. Os Summavielles (Sumaviéis, na versão fafense) eram os donos do Teatro-Cinema de Fafe, do Cinema. E nós íamos pedir à D. Laura, que devia ser o melhor coração da família e para mim era o melhor coração do mundo, que nos levasse a ver o filme de graça. E a boa senhora levava.
A coisa tinha o seu ritual. Esperar à porta do cinema não valia, tínhamos que ir mesmo a casa da D. Laura, que também não era longe. Éramos para aí uns seis ou sete, às vezes menos, consoante o lado para que tinham acordado os pais de cada qual, e devíamos lá chegar pelo menos com uma boa meia hora de avanço em relação à hora de saída prevista da senhora. Chegávamos e esperávamos. Não se batia à porta, não se tocava na campainha, esperávamos apenas, calados como ratos, porque o mais pequeno ruído podia deitar tudo a perder.
A senhora saía, encarava-nos sempre com um grande sorriso e nós continuávamos sem dizer nada, nem era preciso. Púnhamo-nos atrás dela, em fila, como pintainhos seguindo a mãe galinha, e, agora que penso nisto, acho que devia ter sido uma coisa bonita de se ver, aquele extraordinário grupo a atravessar o Largo da Igreja e a descer até ao Cinema, na máxima compostura e no mais religioso silêncio.
A D. Laura entrava e nós ficávamos cá fora, bem guardados pelo Sr. Leitão porteiro, que era mau como as cobras e vestia um capote castanho, com botões dourados e gola vermelha, que até parecia um general soviético, embora na bilheteira é que estivesse o Sr. Castro, comunista, alfaiate e bom amigo.
Perdíamos os desenhos animados, perdíamos os "documentários", mas na horinha do arranque do filme a sério vinha a ordem da D. Laura e imediatamente desatávamos a correr Cinema acima, dois andares a bater chancas em chão de soalho com escarradores, numa trovoada que quase deitava a casa abaixo, até chegarmos ao nosso sítio. Só ali voltávamos a portar-nos bem, sempre perante o olhar bondoso e compreensivo da nossa benfeitora, que, do seu camarote ao lado da cabina de projecção do Sr. Reinaldo Pires, nos lançava mais um sorriso, com o dedo de chiu sobre os lábios finos.
O nosso sítio era uma frisa e cheirava a veludo velho e tabaco. Quase que pertencíamos ao filme. O som dos altifalantes entrava-nos pelo corpo dentro, estremecia-nos, eu era do tamanho dum buraco do nariz do Maciste e tinha que me afastar para não ser sugado. Foi ali que eu conheci pessoalmente o Ursus, o Spartacus, o Ben-Hur e o Hércules e podem crer que aqueles cenários de papelão só pareciam de papelão. Eu sei, porque estive nos filmes. Fui eu que ajudei o Sansão a dizer "morra Sansão e todos os que aqui estão", para eu e ele nos vingarmos da traidora da Dalila e acabarmos com o filme logo ali, porque aquilo não se faz, e não me venham dizer que ele não disse nada disto.
Perguntassem ao "Sandim". Ele é que ia à estação de comboios "buscar os artistas", num carrinho com rodas de madeira. Mas não trazia os beijos todos. Não cabiam nas bobinas, decerto. As cópias dos filmes eram velhas, cheias de cortes, no melhor e mais quentinho passavam sempre à frente. Como o Jornal da Igreja Nova trazia uma sinopse das películas do fim-de-semana, nós achávamos que o Sr. Arcipreste fazia um visionamento prévio e culpávamo-lo por aquele imperdoável acto de censura. Mal eu sabia que ainda havia de ser feito um filme sobre esta história, mas em italiano.
No meu Cinema, no tempo em que o que eu queria era crescer para ver filmes "para maiores de 17", havia também umas senhoras da Rua de Baixo e de Santo Ovídio que faziam de arrumadoras e tomavam conta do buffet, onde serviam gasosas, laranjadas, café de cafeteira e rebuçados mulatos. Ao intervalo, enquanto o ardina entrava plateia dentro com a edição do Norte Desportivo de domingo à noite, já com os resultados e relatos dos jogos todos, os espectadores recebiam umas senhas para irem lá fora tomar café em condições.
No meu Cinema liam-se as legendas em voz alta para os analfabetos. O respeito e a, como hoje se diria, segurança eram zelados pelo Senhor Barroco, pelos Sr. José e Sr. António do Santo e pelo Sr. António Quim, que eu sempre confundi com o outro, o de "Zorba, o Grego". Foi na companhia desta gente que eu cresci. Mal comecei a ganhar, passei a ter bilhete reservado para todas as sessões e, depois do 25 de Abril, até vi o "Último Tango em Paris". Duas vezes.
Deixei Fafe no início da década de 1980 e o meu Cinema entrou em ruína. Pensei que outros tivessem ficado a tomar conta, mas enganei-me. Depois de 25 anos de inactividade, muita politiquice e um impressionante trabalho de recuperação, o Teatro-Cinema de Fafe reabriu portas em 2009, sem Maciste, sem Sansão nem Dalila, sem o Sr. José do Santo e sem a D. Laura Summavielle. Já lá não estão, já cá não estão. O novo Teatro-Cinema de Fafe, que só conheço por fora, funciona agora como entreposto cultural camarário. O que é certamente aplaudível e tem muito mais cagança, mas não é a mesma coisa.
(Texto publicado no dia 26 de Setembro de 2011. Acrescentei-lhe agora a foto.)
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SIEV, o outro serviço secreto
O SIEV foi criado em 18 de Maio de 2009, no reinado de José Sócrates. O Ministério da Obras Públicas, Transportes e Comunicações atribuiu-lhe "o exclusivo de exploração e gestão do sistema de identificação de veículos" para pagamento de portagens. Mas isto é só fachada. Já em Junho de 2010, nas vésperas de começarmos a ser obrigados a pagar as auto-estradas gratuitas, o semanário Expresso se referia ao SIEV, em título, como "a empresa fantasma que gere as portagens". "A sociedade pública criada em Maio do ano passado pelo Governo para autorizar, gerir e fiscalizar todo o sistema de chips de matrículas e de portagens nas SCUT é uma pequena sala vazia no Paço do Lumiar", escrevia então o jornalista Micael Pereira.
E pouco deve ter mudado desde então. O site do SIEV, tal como naquela altura, continua "sem um número de telefone para onde se possa ligar" ou sem nomes de directores a quem nos possamos dirigir. É um serviço secreto. Há apenas uma "morada provisória" e um endereço de e-mail que, como se verá a seguir, também não serve para nada.
Há quase meio ano que me dirijo ao SIEV, por e-mail, solicitando uma simples informação. Tão simples, que a resposta até pode ser resumida a um sim ou a um não. Fiz o primeiro contacto no dia 5 de Abril de 2011 e procedi ao reenvio da minha missiva a 14 de Abril, 5 de Maio, 2 de Junho, 5 de Julho, 22 de Julho, 1 de Agosto, 7 de Agosto, 16 de Agosto, 22 de Agosto, 29 de Agosto, 5 de Setembro, 12 de Setembro e hoje. Sim, há dois meses que contacto o SIEV todas as segundas-feiras. Contacto, é uma forma de dizer, porque fico sempre a falar sozinho. O fantasma do SIEV não se digna sequer acusar a recepção dos meus e-mails ou mandar-me bater a outra porta.
Eu e o SIEV estamos, portanto, praticamente a festejar o nosso primeiro meio aniversário. Se vou desistir? Não! Se este é o texto da minha capitulação? Não! De hoje a oito há mais.
(Publiquei este texto no passado dia 19 de Setembro de 2011. E continuei a escrever ao SIEV. Escrevi nos dias 26 de Setembro, 3 de Outubro, 10 de Outubro, 17 de Outubro, 31 de Outubro, 7 de Novembro, 14 de Novembro, 21 de Novembro, 28 de Novembro, 5 de Dezembro, 12 de Dezembro, 19 de Dezembro e 26 de Dezembro, 2 de Janeiro de 2012, 9 de Janeiro, 16 de Janeiro, 23 de Janeiro, 30 de Janeiro, 6 de Fevereiro, 13 de Fevereiro, 20 de Fevereiro, 27 de Fevereiro, 5 de Março, 12 de Março, 19 de Março, 26 de Março e 5 de Abril, na comemoração do nosso primeiro aniversário. E nada se alterou. Portanto, há um ano e quarenta e uma tentativas que espero por um sinal de vida do SIEV! Voltarei ao assunto proximamente, para falar também da Via Livre, concessionária da A28).
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Deus os guie, já que o motorista não sabe
Mais rápido que uma bala! Mais potente que uma locomotiva! Passou por mim, há bocado, na marginal de Matosinhos, voando para o fim do mundo. Seria um pássaro? Seria um avião? Seria o Super-Homem? Não! Era uma carrinha cinzenta. Uma carrinha cinzenta de transporte de crianças. Em excessíssimo de velocidade.
domingo, 15 de abril de 2012
Marcelo manda Passos Coelho fechar a matraca
Marcelo sabe do que fala: de falar demais. E diz que Passos "não pode" andar por aí a bitaitar "de manhã, à tarde e à noite". Mas, ó valha-me Deus!, então o que é que o Pedro vai fazer durante o horário de serviço? Croché? Afinal de contas, quem governa Portugal é a troika, não é?
sábado, 14 de abril de 2012
Banho de cultura, mas apenas molhando os pés
A derrota vende-se. E a vitória compra-se?
A semântica desportiva é amoral e injusta com os fracos no futebol. Mas às vezes eles põem-se a jeito. Ainda agora: os vinte do autodenominado Movimento dos Clubes de Fátima, ou confraria dos emprestados, anunciaram ontem que ou a Federação lhes dá o alargamento que lhes apetece ou então tomarão "medidas drásticas". Tomem, tomem! Vejam lá onde.
Três cá para casa, se faz favor
Pedro Mota Soares anunciou hoje que a Segurança Social pode transformar-se num sistema misto. Encarrego-me de informar o senhor ministro de que, nas actuais circunstâncias, os portugueses preferem que a Segurança Social se transforme numa sande mista.
Como é que os netos não hão-de dar tiros nos pés?
O rei Juan Carlos de Espanha, 74 anos, foi submetido a uma intervenção cirúrgica, na última madrugada, em Madrid, depois de ter fracturado a anca numa queda durante um safari no Botswana. Dizem as notícias que esta é a oitava cirurgia a que o monarca espanhol é submetido desde a década de 1980, "três das quais realizadas após acidentes sofridos durante actividades desportivas". Esta mais recente actividade desportiva incluía a caça ao elefante.
Na passada segunda-feira, o neto mais velho de Juan Carlos enfiou um balázio no próprio pé, "quando fazia prática de tiro", na casa de campo da família, em Sória. Felipe Juan Froilán Marichalar, de 13 anos (falta-lhe um para a idade legal do uso de armas no país vizinho), é o filho mais velho da infanta Elena e de Jaime de Marichalar. É o quinto na linha de sucessão do trono espanhol, depois da sua mãe, mas já demonstrou que está pronto para tomar o lugar do avô.
Na passada segunda-feira, o neto mais velho de Juan Carlos enfiou um balázio no próprio pé, "quando fazia prática de tiro", na casa de campo da família, em Sória. Felipe Juan Froilán Marichalar, de 13 anos (falta-lhe um para a idade legal do uso de armas no país vizinho), é o filho mais velho da infanta Elena e de Jaime de Marichalar. É o quinto na linha de sucessão do trono espanhol, depois da sua mãe, mas já demonstrou que está pronto para tomar o lugar do avô.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Quando a "puta" tocava
Foto VICTOR FOTÓGRAFO |
A "puta" tocava e Fafe desatava a correr em direcção aos Bombeiros. Os homens largavam tudo: trabalho, mesa, cama, mulher e até os socos pelo caminho. Havia os que iam de bicicleta e os que apanhavam boleia de motorizada. Carros paravam para levar desgraçados vindos das lonjuras da Cumieira ou dos campos do Sabugal e já com os bofes de fora. Depois, havia o Casimiro das Caixas, que começava o dia a fazer as palavras cruzadas no jornal do Café Chinês e chegava na sua velha furgoneta. Mas quando ela tocava era para todos. Tocava também para os curiosos, para os que iam apenas ver, saber onde era o fogo. E faziam-se úteis. Apanhavam e arrumavam as bicicletas e as motorizadas que os bombeiros largavam em pleno andamento ao chegarem ao quartel e um mirone encartado ainda tinha de estacionar em condições a carrinha do Casimirinho, deixada sempre à frente dos portões a estorvar a saída dos carros de incêndio. O Casimiro da Caixas tinha vindo de Guimarães, onde decerto nascera, como talvez Portugal, e nunca se descolou daquela pronúncia carregada que nos fazia rir a todos.
Ela tocava e eu, miúdo, lá estava. O fogo era uma aflição. Olhava para aqueles homens, esbaforidos, trementes, brancos como a cal, a entrarem na "primeira viatura" apenas meio vestidos, a enrodilharem-se nas calças que não enfiavam ou nas galochas que levavam ainda nas mãos, cheios de urgência para enfrentarem as labaredas, e via heróis. Exactamente: heróis, muito melhores do que os dos livrinhos de cobóis e dos filmes, nem que fosse o Steven McQueen anos mais tarde na "Torre do Inferno". Os meios eram escassos, a formação era elementar, Fafe era uma terra pequena, mas aqueles homens tinham um coração bombeiro do tamanho do mundo. E o seu maior medo, que eles não confessavam, era chegar lá e o fogo já estar apagado...
Tão grande era o coração, grande demais para um homem só, que depois tinha de ser repartido. Ser bombeiro era coisa sanguínea, "doença" de família. Irmãos, pais e filhos, netos, tios e sobrinhos, primos, todos sofriam do mesmo bem. Creio que hoje ainda é um bocado assim.
Naquele tempo, eram os do Santo, os do António Quim (sim, o do cinema...), os Moleiros, os Costas do Assento, os Feira Velha, os Funileiros, os Quintos. Eram também o Agostinho Cachada, o Augusto Susana, o Frescaragem, que tinha lábia de leiloeiro, o Nogueira da Ponte do Ranha, que "fardava muito bem", o Zé dos Alhos, o Zé Sacristão, o Nelo Chapeleiro, o Chaparrinho, o Ferreira "Puta Velha", o Armando "Salazar", que era o viagra em pessoa, o enorme Sr. Humbertino, que trabalhava para os Summavielles e já só se apresentava no dia da Festa dos Bombeiros, tal como o Sr. Matias e como o Joãozinho motorista, que conhecia como ninguém as manhas do Opel descapotável e apanhava todos os anos uma carraspana de tal ordem que era preciso levá-lo a casa.
(E havia os espontâneos, que afinal não eram tão espontâneos assim. Moravam ali à porta e estavam sempre de prevenção para uma emergência que o fosse realmente. Faltava um motorista, a saída estava a atrasar-se? - era só chamar por eles e eles avançavam: lembro-me do Fredinho Bastos e do irmão Quinzinho, do Varinho Dantas ou do Toninho da Luísa, que tinha piada fina e eu gostava de imaginar DaLuísa derivado ao comediante americano Dom DeLuise, mas isso já é outro filme. Se calhasse, enfiavam um blusão e um bivaque, só para despaisanar, e avançavam a todo o gás, bombeiros como os de exame feito e papel passado e ainda mais voluntários, mas qual seguro qual carapuça! Ser-se bombeiro era efectivamente um estado de alma. E estes eram bombeiríssimos de primeira.)
Mas a pinga. Naquele tempo, ser bombeiro dava muita sede e a água era toda para apagar incêndios. De modo que, conscienciosos, os voluntários fafenses, regra geral, decilitravam no verde tinto com apreciável pertinácia. O meu avô da Bomba, que era quarteleiro e videirinho, até montou um pequeno tasco que foi um sucesso. O meu vizinho Agostinho Cachada era um dos principais clientes, mas tinha um porém: pelava-se por bagaço e quando ia para casa nunca mais lá chegava, porque, mesmo depois de o meu avô fechar o tasco, o bom do Sr. Agostinho voltava sempre para trás para beber mais um. Era certinho. Uma noite, para lhe evitar a canseira e apressar o sono, o meu avô foi atrás dele até ao Paredes, já a meio caminho, com a garrafa da aguardente escondida debaixo do capote...
Quando a sirene tocava, também as mulheres de Fafe se sobressaltavam. Era a "puta" que lhes tirava os maridos de casa, da cama. E eles iam para os braços da "outra". Os Bombeiros eram uma tremenda paixão, a "amante" perigosa que levava tudo o que queria. E elas tinham medo que um dia os seus homens não voltassem. Tolices de mulheres. Então os heróis não voltam sempre?
Às vezes, não. Às vezes o herói faz o que tem de fazer, isto é, faz o que fazem os heróis, e depois desaparece em direcção ao sol poente. Desaparece e nunca mais.
(Texto publicado no dia 11 de Setembro de 2011)
O que é verdade ao domingo pode não ser à sexta
Sexta-feira, 13 de Abril de 2012 - Pedro Passos Coelho, alegado primeiro-ministro, garante que o Governo não irá interferir no preço dos combustíveis, justificando que o contrário criaria "défices tarifários" que teriam de ser compensados com os impostos dos contribuintes.
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Cada um é para o que nasce
Foto Hernâni Von Doellinger, com edição de GASPAR DE JESUS |
Publiquei há dias esta foto. Digo melhor: uma foto vagamente parecida com esta. O meu amigo Gaspar de Jesus fez-me o favor de lhe dar a volta de quem sabe. Um presente, que sinceramente agradeço. E eu dou por mim a pensar: quem te manda a ti sapateiro...
A problemática do plafonamento
O ministro da Solidariedade e Segurança Social, Pedro Mota Soares, disse ontem que vai promover este ano o debate sobre o plafonamento das pensões. E eu acho muito bem. O plafonamento é absolutamente fundamental na política de um Governo que, também de acordo com o jornal Público, vai dar aos pobres refeições take away, mas só aos pobres que saibam inglês e o que é o plafonamento. Isto já para não falar do ministro da Saúde, Paulo Macedo, que, a propósito da ordem de encerramento da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, deixou bem claro que "um hospital monovalente não tem razão de existir". Quem tem razão é o ministro: monovalente, só se for um monovalente caralho!
Melhor do que estes dois, só A Bola do costume, que garante pela duocentésima quadragésima quinta vez que o "Chelsea vai mesmo avançar para Hulk". Agora é que é, a sério, estão-se a rir de quê?, palavra de honra, vocês vão ver, vai vai! E se for nem admira, é preciso que se note: o Chelsea é um clube consideravelmente plafonado, tem um presidente que se não é mono valente deve andar por lá perto e A Bola quer muito.
Melhor do que estes dois, só A Bola do costume, que garante pela duocentésima quadragésima quinta vez que o "Chelsea vai mesmo avançar para Hulk". Agora é que é, a sério, estão-se a rir de quê?, palavra de honra, vocês vão ver, vai vai! E se for nem admira, é preciso que se note: o Chelsea é um clube consideravelmente plafonado, tem um presidente que se não é mono valente deve andar por lá perto e A Bola quer muito.
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Incêndio no Porto de Leixões 2
Foto Hernâni Von Doellinger |
Foto Hernâni Von Doellinger |
Foto Hernâni Von Doellinger |
Foto Hernâni Von Doellinger |
Foto Hernâni Von Doellinger |
Um trabalhador morreu no incêndio, precedido de uma grande explosão, que deflagrou no molhe sul do Porto de Leixões, em Matosinhos. O acidente provocou ainda um ferido grave e um número indeterminado de feridos ligeiros. O incêndio terá tido origem na queda de uma peça do enorme guindaste Titã, que está a ser desmantelado desde o dia 3, sobre a conduta de gás que liga o local de atracagem dos petroleiros a um depósito de armazenamento de combustível da Repsol, já no interior da cidade.
quarta-feira, 11 de abril de 2012
Este país afoga-se
Foto Hernâni Von Doellinger |
Há gente que está a morrer por já não ter dinheiro para ir ao médico. O acesso aos cuidados de saúde está a ser barrado às pessoas que vivem do seu trabalho honesto ou da reforma de pobre e têm cada vez mais cotão nos bolsos e desespero na cabeça. Reduzem-lhes os salários, aumentam-lhes o custo de vida, roubam-lhes os subsídios de férias e de Natal, proíbem-lhes a aposentação e a esperança - tudo em nome do tal "interesse nacional" sem portugueses dentro.
Este país está a afogar-se e o Governo atira-nos o champô. É champô alemão, para a caspa. Socorro! Alguém que nos salve, por amor de Deus!
Já me tinhas dito 5
E diz o comentador, no final do jogo do campeonato inglês: "Vitória mais que justa da equipa que não reunia qualquer tipo de favoritismo". Sim, é verdade, ele há favoritismos das mais variadas espécies. Mas quase nunca reúnem.
Acidente com ambulância do INEM no Porto
Foto Hernâni Von Doellinger |
Foto Hernâni Von Doellinger |
Foto Hernâni Von Doellinger |
Foto Hernâni Von Doellinger
O tripulante
de uma ambulância do INEM ficou ferido com gravidade quando o veículo de
emergência se despistou e foi embater contra uma árvore. O acidente ocorreu cerca da 8h30, na Estrada
da Circunvalação, em frente ao Queimódromo e ao Parque da Cidade do Porto.
Por razões
desconhecidas até ao momento, a ambulância passou o separador em terra e, após
o embate, imobilizou-se em contramão na via do lado de Matosinhos. De acordo
com as últimas informações, o "pendura" foi transportado para o
Hospital de São João, com suspeita de traumatismo cranioencefálico. A condutora
também ficou ferida, embora sem gravidade. A operação de assistência e socorro,
que incluiu desencarceramento, foi conduzida pelos Sapadores do Porto.
(Informação
acrescentada às 10h23)
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