domingo, 31 de março de 2024

O ministro que foi à tropa

Nuno Melo tem tudo para correr bem como novo ministro da Defesa, porque andou na tropa. "Cumpriu o serviço militar obrigatório e foi comandante de pelotão, deu instrução como alferes e exerceu como polícia militar", leio no Expresso e ouvi numa televisão, talvez na SIC, por ser da família. Gosto das palavras "cumpriu", "comandante", "instrução" e sobremaneira "exerceu". Para além disso, João Nuno Lacerda Teixeira de Melo "sabe manejar vários tipos de armas - aliás, colecciona armas de caça e armas antigas". Portanto, ministro da Defesa, só podia. Que mais se pode pedir a um ministro da Defesa, o qual, ainda por cima, foi ó meu deus "alferes"? Nuno Melo está preparado, capacitado, sabe de ordem unida, é pelas armas, dá os seus tirinhos, é "brigão", isto é, "tem um conjunto de características que, à partida, podem agradar aos militares", assinala o articulista. Espero que, por este andar, o novo ministro da Agricultura tenha trabalhado no campo em pequenino e saiba plantar nabiças e que o novo ministro da Educação tenha andado na escola e pelo menos saiba ler e assinar o nome. E ficamos muito bem servidos.

Mudança da hora

Se mudou a hora, esta manhã, logo que se levantou, não se esqueça agora de a pôr para lavar.

Jesus Cristo, procura-se!

A polícia anda à procura de Jesus. O Ministério Público pretende acusá-l'O dos crimes de promoção de ajuntamento em Mt 15, 29-39, incentivo à violência em Jo 8, 7 e subtracção e ocultação de cadáver em Lc 24, 1-3. A CMTV está em cima.

Jesus, Jesus, o que sente neste momento?

Se fosse hoje, a CMTV transmitiria em directo a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Reportagem de Tânia Laranjo, no local, ou pelo menos o nome de Tânia Laranjo no local, e comentários e molduras penais a cargo do ex-ministro Rui Pereira, em estúdio. Ou em casa, por teletrabalho, com uma inapelável biblioteca atrás das costas.

sábado, 30 de março de 2024

O compasso

Foto Hernâni Von Doellinger

O compasso divide a música em intervalos de tempo iguais. Muitos estilos musicais tradicionais já presumem um determinado compasso: a valsa, por exemplo, usa o compasso três por quatro (ou ternário simples), enquanto o rock se serve por norma do quatro por quatro (quaternário simples), do doze por oito (quaternário composto) ou também do velho três por quatro da valsa. O compasso faz arcos de circunferência mas não de violino, é uma modesta constelação de estrelas praticamente apagadas no hemisfério sul e, aqui que ninguém nos ouve, tem qualquer coisa de maçónico. O compasso costumava sair à rua no Domingo de Páscoa.

Em Fafe de boa memória, era na Casa do Santo Velho que se reuniam todas as cruzes no fim tardeiro do compasso, seguindo depois para a Igreja Nova, em galhofeira procissão de sinetas exaustas e descompassadas, nas últimas. Rebentavam foguetes com uma violência desnecessária, desproporcional, moucando-me os ouvidos e estremecendo-me as entranhas, e a mim parecia-me que a ressurreição do Senhor podia muito bem ser melhor festejada com bichas-de-rabiar, não desfazendo, mas ninguém me ligava...

Uma questão de compasso

- Une valse à mille temps... - disse ela, prometedora e coquete, fazendo rodar a saia plissada. - Eu não! - disse ele, apressado e javardo, arriando calças e cuecas...

O mistério dos ovos da Páscoa

As coelhas, como se sabe, são malucas por truca-truca. Passam a vida naquilo. E no entanto só põem ovos por alturas da Páscoa. É um mistério...

quinta-feira, 28 de março de 2024

O carregador de piano

Era uma equipa tecnicamente evoluída, formada por jogadores habilidosos e repentistas, mágicos predestinados, futebolistas de eleição. Mas precisava evidentemente de alguém que vestisse o fato-macaco, de um carregador de piano. Aproveitando a janela de Inverno do mercado de transferências, foi contratado o Sr. Saraiva, precário da Casa da Música que costumava alombar nas deslocações da Orquestra Sinfónica do Porto.

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Piano.

A diferença

A diferença entre os centros históricos e os centros histéricos está sobretudo na compostura. E na vogal do meio.

Marcos históricos

Marco Polo, Marco Aurélio, Marco António, Marco de Canaveses, Marco do Big Brother, Marco dos Apeninos aos Andes, Marco Caneira, Marco Chagas, Marco Pantani, Marco van Basten, marco miliário, marco quilométrico, marco geodésico, marco temporal, marco do correio, Marco ni, Marco Bellini e João Simão da Silva. Isto apenas por exemplo.

Centros históricos

Os centros históricos são como os chapéus: há muitos. Ljubinko Drulovic que o diga e Mário Jardel que agradeça. Mas calcanhar de Madjer só houve um. O resto são imitações.

P.S. - Hoje é Dia Nacional dos Centros Históricos.

Com História dentro

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 27 de março de 2024

Metade de um jogador de futebol

A futura Academia do FC Porto vai custar 40 milhões de euros, soube-se hoje. Isto é, a Academia inteira do FC Porto custa metade do jogador de futebol Danny Namaso, cuja cláusula de rescisão subiu recentemente para 80 milhões de euros. 
Assim por alto, a Academia do FC Porto contará com 10 campos relvados e iluminados, quatro dos quais com bancadas até 400 espectadores, um campo de futebol de sete e um miniestádio com uma bancada de 2500 lugares, além de um edifício com 72 quartos duplos, salas específicas de lazer, descanso e de estudo, auditório para ações internas e externas, grande átrio, cantina para cerca de 500 refeições diárias, cozinha, escritórios, gabinetes vários, piscina, fisioterapia, gabinetes médicos, ginásio, áreas de apoio logístico, manutenção, rouparias e balneários. Assim por baixo, o jogador de futebol Danny Namaso é um suplente utilizado às vezes por Sérgio Conceição, um deste dias vai-se embora por tuta e meia, mas actualmente vale duas academias do FC Porto. Eu não percebo porque é que Pinto da Costa só quer fazer uma.

A última palavra do deputado

- Senhor deputado, tem vosselência direito à última palavra.
- Muito obrigado, senhor presidente. Senhor presidente, senhoras e senhores deputados: zus!

Da velha escola

Sou realmente um tipo muito antigo. Eu sou do tempo, vede lá, em que os actores tinham cê! 

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Teatro.

Sangue, suor e lágrimas

Ele era dador de sangue. De sangue, suor e lágrimas. Era realmente um dador esforçado e piegas.

P.S. - Hoje é Dia Nacional do Dador de Sangue.

terça-feira, 26 de março de 2024

Parcídio Summavielle homenageado


Parcídio Summavielle será homenageado amanhã em Fafe, numa iniciativa da Comissão Promotora de Homenagem aos Democratas de Braga e da Comissão Executiva das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril em Fafe, com a colaboração do Município fafense. A sessão decorrerá no salão nobre do Teatro-Cinema de Fafe, a partir das 18 horas. De entre as diversas intervenções previstas, faço questão de destacar a de Ricardo Gonçalves, orador convidado.
Parcídio Summavielle, resistente antifascista, democrata, ex-presidente da Câmara de Fafe e indiscutível fafense excelentíssimo, é a figura-tema das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril em Fafe. A homenagem de amanhã coincide com o aniversário natalício do homenageado. Como já aqui expliquei, com pelo menos um ano de avanço, amanhã é que é, com toda a propriedade, o Dia do Pi.

P.S. - Mais informação, aqui e aqui.

Relativamente a essa matéria

- Relativamente a essa matéria, senhor deputado, devo esclarecer que não tenho nada a acrescentar relativamente a essa matéria.
- E relativamente à outra matéria, senhor primeiro-ministro?
- Relativamente à outra matéria, senhor deputado, devo esclarecer que não tenho nada a acrescentar relativamente à outra matéria.
- Bem me parecia, senhor primeiro-ministro!
- Ainda bem que nos entendemos, senhor deputado!

Realmente. O que seria de nós, do País, da Nação, do nosso amado Portugal, sem os nossos senhores deputados, sem os nossos senhores primeiros-ministros, gente assim de categoria, tão adulta e tão reciprocamente compreensiva?...

Eu não lhe admito, senhor deputado!

- Eu não admito que o senhor deputado diga que eu disse isso, senhor deputado!
- Então o que é que o senhor deputado disse, senhor deputado?
- Eu disse aquilo, senhor deputado.
- Aquilo, senhor deputado? E só agora é que o senhor deputado diz isso, senhor deputado?
- Eu não admito que o senhor deputado diga que eu disse isso, senhor deputado!

P.S. - E pronto. Temo-los de volta. Viva o circo!

António Rebordão quê?...


Uma vez, há coisa de treze anos, eu tive a sorte de almoçar com o escritor António Rebordão Navarro. Eu e mais três amigos e velhos camaradas de ofício, dos jornais, num acidental e feliz reencontro à beira-Douro, lá na Ribeira de Gaia. Falámos sobretudo de banalidades risíveis, como convém à mesa, mas era fatal chegarmos aos livros. Meti conversa, como quem não quer a coisa:
- Sabe que fomos praticamente vizinhos durante alguns anos? O senhor doutor ainda mora lá para a nossa Foz?...
O senhor doutor era para mim senhor doutor porque Rebordão Navarro era formado em Direito e chegou a exercer de advogado e de delegado do Ministério Público, antes de se entregar de corpo e alma à escrita, como ficcionista, poeta e editor. Já quanto à resposta, às respostas que eu, molageiro, lhe pedia, disse-me que não e que sim. Que não sabia que fôramos vizinhos, que aliás não me conhecia de lado nenhum nem isso lhe fazia falta, mas que realmente continuava pela Foz, embora já não na Praça de Liège.
Porém era ali que eu queria chegar. Com esta minha notável capacidade para fazer figuras tristes, que já então se manifestava exuberantemente, eu estava mortinho por demonstrar mais uma vez quão sólido é o cuspo com que argamasso os meus pindéricos alicerces culturais. E acrescentei, todo vaidoso:
- Sabe, eu tenho o livro, tenho "A Praça de Liège". Se soubesse que me ia encontrar com o senhor doutor, até o tinha trazido para que me fizesse o favor de uns sarrabiscos, de um autógrafo. Tenho o livro, está lá em casa...
- Ai tem o livro? Mas eu escrevi mais livros, escrevi para aí uns catorze... - cortou Rebordão Navarro, sem disfarçar o sorriso malandro como o arrozinho de feijão e legumes que lhe acompanhava os bolinhos de bacalhau com que se deliciava.
A minha primeira reacção foi largar o meu habitual "Eu sei!" com que tento sair das enrascadas em que por mania me meto, e recitar ali mesmo, de cor e salteado, da trás para a frente e da frente para trás, por ordem alfabética e depois por ordem cronológica, os outros treze títulos do reputado autor que tinha à minha frente de faca em punho, mas a verdade é esta: eu só conhecia "A Praça de Liège". Optei, portanto, por tornar pública a minha segunda reacção, que também me saiu uma boa merda e que foi "Pois faço ideia, mas lamentavelmente não tenho acompanhado a carreira do senhor doutor"...

"A Praça de Liège" foi um sucesso tremendo aquando da sua publicação, em 1988. Era o livro da moda (pois se até eu o comprei!) e ganhou o Prémio Literário Círculo de Leitores. Na altura em que me encontrei com o autor, contou-me o próprio, no Círculo de Leitores já não sabiam quem ele era, quem era o escritor António Rebordão Navarro. Alguém do Círculo contactou a irmã do escritor por uma razão qualquer, a senhora falou do irmão e do famigerado prémio e obteve como resposta um lamentável
- Quem? Rebordão quê? Não conheço...
Pois é: a memória! As empresas enxotam quem sabe da poda, despedem os funcionários pelas mãos dos quais passaram os factos e as pessoas, preferem juniores renováveis e analfabetos, verdes como os recibos, fiam-se no Google mas não vão lá. E depois ninguém sabe nada de nada.
Há anos que está a acontecer o mesmo nas redacções dos jornais portugueses e até se contam algumas saborosas anedotas a esse respeito. São de rir tanto, as anedotas, que às tantas até são verdade.

No que me diz respeito, e como penitência pela minha ignorância àquela data quanto à dimensão da obra literária de António Rebordão Navarro, que afinal era qualquer coisinha mais do que catorze títulos, aqui deixo o registo essencial, com sinceros votos de que faça também bom proveito à rapaziada do Círculo de Leitores: poesia - "Longínquas Romãs e Alguns Animais Humildes", 2005; "A Condição Reflexa", 1989; "27 Poemas", 1988; "Aqui e Agora", 1961; teatro - "Sonho, Paixão, Mistério do Infante D. Henrique", 1995; "O Ser Sepulto", 1972; crónica - "Estados Gerais", 1991; ensaio - "Juro Que Sou Suspeito", 2007; conto "Dante Exilado em Ravena", 1989; romance - "As Ruas Presas às Rodas", 2011; "A Cama do Gato", 2010; "Romance com o Teu Nome", 2004; "Todos os Tons da Penumbra", 2000; "Amêndoas, Doces, Venenos", 1998; "A Parábola do Passeio Alegre", 1995; "As Portas do Cerco", 1992; "Mesopotâmia", 1984; "A Praça de Liège", 1988; "O Parque dos Lagartos", 1981; "O Discurso da Desordem", 1972; "Um Infinito Silêncio", 1970; "Romagem a Creta", 1964.

P.S. - António Rebordão Navarro morreu no dia 22 de Abril de 2015. E Portugal adormecido parece que já não sabe quem é que ele foi, quem é que ele é. Hoje em dia, acho isso mal. Para ignorante, bastava eu. Em todo o caso, hoje é Dia do Livro Português.

Ai Jesus, Deus nos acuda!...

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 25 de março de 2024

Semana santa

Meteu oito dias de teletrabalho e disse: - Vai ser uma semana santa...

Sempre a dar-lhe

Esteve de baixa em Janeiro e Fevereiro, pelo seguro em Março e Abril, de quarentena em Maio, dispensado sem perda de salário em Junho, sob lay-off em Julho, chegou a Agosto e meteu férias.

domingo, 24 de março de 2024

O Emplastro e os doutores

Foto Hernâni Von Doellinger

O cidadão Fernando Alves. O Animal, chamam-lhe, ou o Emplastro, que, segundo o Expresso em 2008, foi contratado pelas agências turísticas para acompanhar os passeios pelo menos bêbados de mais de 15 mil finalistas universitários portugueses a Espanha. Quinze mil doutores, em dinheiro de hoje em dia, e as viagens de finalistas estão outra vez aí a dar que falar. O extraordinário Emplastro que até foi ao Herman SIC e teve direito a dentes novos, dados por um desinteresseiro benemérito.
As eleições já lá vão, o campeonato de futebol parou derivado à Selecção, mas a televisão regra geral não pára e o fabrico de chouriços em directo também não, portanto o nosso Fernando continua a apresentar-se ao serviço. A televisão sem ele é uma seca, e com ele também, mas o Fernando tem pinta. Tudo continua normal, normalíssimo, e cá vamos andando com a cabeça entre as orelhas, como dizia o nosso escritor de canções. O pior é mesmo o defeso futebolístico. No defeso, como o próprio nome indica, ninguém quer saber se o Fernando é filho do Pinto da Costa ou do Luís Filipe Vieira, ou pai do Frederico Varandas ou sócio do António Salvador, e então o que é que se passa? Isto: o Emplastro monta base à porta de um restaurante de Matosinhos, não sei se convidado ou somente tolerado pela gerência, e abrilhanta, à saída, copos de brutos, hic!, quero dizer, fotos de grupos, gente bem. Nos intervalos das suas pertinentes intervenções (faz cara de Emplastro, só lhe pedem isso), o Fernando deita-se na soleira da porta ao lado e então faz papel de famélico de Calcutá, o que lhe fica um bocado mal, estando ele gordo como um chino. E pede, se vê uma máquina fotográfica, "Uma moedinha, é para comer, é para comer..." - o número do costume. Não sei quem é que actualmente lhe está a cuidar da imagem e da carreira, o superagente Jorge Mendes não é de certeza, mas há ali qualquer coisa que não bate certo. Eu sei, já disse, é no defeso, mas isso não explica tudo.
O Fernando fez-se Emplastro a pulso, porque não é tolo nenhum - ao contrário do que muitas pessoas possam pensar -, mas também deu jeito a certas e determinadas televisões que ele fosse assim. E aos jornais. E às revistas. Pois se até o "entrevistavam" e lhe fizeram o "perfil"! Por outro lado, também já mete nojo, não é? Às tantas ainda o mandam para a Arábia Saudita.
Posso dar um palpite? Posso e é o seguinte: ninguém vai querer saber do Emplastro, quando o Fernando estiver deitado na soleira e for a sério (à séria, se lido em Lisboa). Nem os comensais arrotantes nem os estudantes terminais. Quem ousará sobressaltar-se quando o Animal for realmente abandonado?...

Estudantes, espermatozóides e neurónios

A ciência tem que se lhe diga e eu digo já que gosto muito daqueles estudos pândegos que me aparecem de vez em quando nos jornais. Por exemplo: uma investigação da Universidade de Aveiro concluía em Maio de 2012 que, derivado aos exageros, a qualidade do sémen dos estudantes diminui durante as chamadas semanas académicas. A pesquisa deixou de lado a sempre inquietante questão da erecção impossível, mesmo para quem consiga dar com a braguilha, e a controversa problemática do alcance máximo dos jactos de vómito, já que o mijo nem tem discussão: é pelas pernas abaixo.
Voltando ao essencial da coisa e aos números que não mentem, a realidade é esta: durante festas como, verbi gratia, a Queima das Fitas do Porto (que costuma rebentar-me aqui à porta, enchendo de vomitado o Passeio Atlântico, na beira-mar matosinhense, muito obrigado), regista-se, em média, uma diminuição de 20 por cento na concentração de espermatozóides dos estudantes afectados. No caso dos neurónios, digo eu, a redução é de cem por cento. 

Por obra e graça do espírito santo

Tenho de confessar o seguinte: como estudante, eu nunca fui. Quer-se dizer. Aluno, aulista, frequentador habitual, discípulo, discente, aprendiz ou educando, ainda vá que não vá. Mas estaria a mentir se sequer admitisse que algum dia fui estudante. Quer-se dizer, eu nunca estudei, fiei-me sempre na intuição e no espírito santo de orelha...

P.S. - Hoje é Dia Nacional do Estudante. Apesar de mim.

Gaudeamus igitur

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 23 de março de 2024

O que é que eles dão para hoje?

Os especialistas do tempo prevêem para hoje um dia com 24 horas.

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Meteorologia.

Os que dão o tempo

A meteorologia é muito importante porque a meteorologia é que dá o tempo. Se não fosse a meteorologia não teríamos tempo e morríamos todos mais cedo, regra geral, ou nem sequer houvéramos nascido, o que seria ainda pior. Hoje é Dia Mundial da Meteorologia e portanto estamos de parabéns.

O agricultor excêntrico

Ele era um lavrador um bocadinho excêntrico. Semeava ventos e colhia tempestades. E depois vendia-as ao preço da chuva...

sexta-feira, 22 de março de 2024

O dia da árvore (vir abaixo)

Foto Hernâni Von Doellinger

Afinal o dia da árvore é hoje, e não foi ontem, pelo menos para o carro do vizinho que acaba de levar com uma em cima. A prevaricadora é a árvore número 12, apenas duas adiante da minha, e finalmente começo a perceber porque é que elas agora são numeradas e etiquetadas. Assunção de responsabilidade civil. Já cá estão a polícia, os bombeiros e funcionários da autarquia, a área foi devidamente selada pelas autoridades forenses, a rua está cheia de mirones, turistas, romeiros e foliões. Há teorias e palpites. Para além das tradicionais poeiras africanas, anda por aqui uma praga de joaninhas e meia árvore desabou inopinadamente numa manhã sem vento. De podre terá caído - como o PS, por assim dizer. Já ouço as motosserras oficias. A 12 vai para lenha, e é muito bem feito. Espera-se a todo o momento a chegada da senhora presidenta da Câmara, da CMTV e da CNN. Matosinhos é uma festa!

Com a mostarda no nariz

Estava piúrsico. Hercúleo. Ulíssico. Ben-húrico. Sansónico. Macístico. Spartáquico. Numa só palavra, estava ali o homem que domina a pantera.

O papel de uma vida

O velho actor entrou em palco e disse, perfeito:
- Vou sair.
E saiu.

Pedimos desculpa por esta interrupção

Hoje é Dia da Água. Amanhã voltamos ao vinho.

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Água. Em Portugal é também Dia do Teatro Amador. Na mitologia grega o dia é consagrado a Hércules ou Herácles. 

quinta-feira, 21 de março de 2024

A minha é a número 10

Foto Hernâni Von Doellinger

Hoje é Dia Mundial da Árvore. A minha, à porta do meu prédio, é a número 10. Não sei por que razão as árvores são agora numeradas e etiquetadas. Nem percebo como é que as florestas antigas conseguiram salvar-se sem serem numeradas e etiquetadas. Sou um simples: acredito que tudo tem o seu propósito e contento-me com as coisas conforme elas se me apresentam. Para além disso, o número 10 parece-me um bom número.

quarta-feira, 20 de março de 2024

Os penetras

No dia do meu aniversário, mal abre o horário de expediente, o banco, o dentista e o oculista mandam-me pressurosas mensagens de parabéns! Não gosto. Estragam-me logo o dia. Eu não os convidei, não lhes encomendei o sermão, não lhes dei sequer licença, estão a meter o nariz onde não foram chamados. Os meus anos não são segredo de Estado mas também nunca os esparramei na praça pública. São meus e só aceito partilhá-los com a família mais chegada e com os quatro ou cinco amigos que faço questão. Agora: o banco, o dentista e o oculista não são de certeza da família nem lhes tenho amizade, estão portanto a abusar da confiança. Não encontro ponta de simpatia ou bondade no seu gesto automático, que me parece obviamente interesseiro e aproveitador. Oportunista. Sorrateiro. Eles não querem dizer "Lembrámo-nos de si! Está sempre no nosso coração!", não, o que eles dizem é "Não se esqueça de nós! Temo-lo debaixo de olho!", é isso. E eu fico imediatamente com a pulga atrás da orelha. Como se as Finanças ou a agência funerária me ligassem também a dar os parabéns...

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Saúde Oral. Parabéns aos dentistas!...

Muita terra, muita terra

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 19 de março de 2024

Quem sai aos seus

Deixe de ser parvo, disse o palerma. E você deixe de ser palerma, disse o parvo. Palerma é melhor que parvo, disse o palerma. Parvo é que é melhor que palerma, disse o parvo. Quem disse, perguntou o palerma. O meu pai, respondeu o parvo. O seu pai é parvo, disse o palerma. E o seu é palerma, disse o parvo. Mas o meu pai é mais palerma que o seu, disse o palerma. E o meu é mais parvo que o seu, disse o parvo. Mas não é palerma, disse o palerma. Nem o seu é parvo, disse o parvo. Dah!, disse o palerma. Dah!, disse o parvo.

Carteira profissional

Chamado à pedra, protestou: - Eu sou carpinteiro, e vou fazer queixa ao sindicato...

P.S. - Hoje é Dia do Carpinteiro ou Dia do Marceneiro ou Dia do Carpinteiro e do Marceneiro. É também Dia do Artesão, Dia do Pai e Dia de S. José, que armou esta confusão toda.

Pais em fuga

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 17 de março de 2024

Gorilas da Bruna

Bruna é uma youtuber bastante influencer. Elegante, bonita, regularmente recauchutada, famosa por ser famosa, esbanja sensualidade por tudo e por nada e enriqueceu por causa disso. Bruna mal pode sair à rua como as outras pessoas, isto é, põe um pé fora da porta a caminho da piscina por exemplo em Ibiza e multidões de adoradores caem-lhe em cima. Bruna tem milhões de seguidores. De perseguidores. Para fazer uma vida normal, viu-se até obrigada a contratar dois possantes seguranças, ou guarda-costas, à Kevin Costner, ou gorilas, como também se diz, que não a largam um segundo e vão com ela a todo o lado, inclusive à casa de banho por exemplo nas Maldivas. São conhecidos como os gorilas da Bruna.

Dá-lhes música...

Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 14 de março de 2024

O Chega já manda

Hoje é Dia Branco. Merda de eleições! Isto já é o Chega a mandar...

Ordem unida

A incontinência urinária, tomem bem sentido, não é uma cortesia militar!

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Incontinência Urinária.

Orlando Castro no Mar de Letras

Foto RTP

O jornalista e escritor Orlando Castro é convidado do programa Mar de Letras, da RTP África, no próximo dia 20 de Março, quarta-feira, pelas 21h30. "Saiu de Angola, mas Angola não saiu dele e é a este país que regressa nos seus escritos. Orlando Castro está de regresso ao Mar de Letras com um livro de poesia, marcado pela dor dos tempos em que foi obrigado a deixar o seu país, e com um livro de vivências pessoais com a UNITA, incluindo com Savimbi. Uma conversa a não perder", recomenda a RTP.

quarta-feira, 13 de março de 2024

Capitão da areia

Foto Hernâni Von Doellinger


O Sr. José Leocádio morreu, diz o jornal. Mas decerto não. Cromos assim, tão presentes, que vazaram gerações atrás de gerações, ficam-nos para sempre. Figura emblemática do Porto, almirante por conta própria, maratonista estival das praias da Foz e Matosinhos, o velho Renault estacionado na avenida e a buzina de palhaço avisando lambões no meio do areal - Ó batata frita à inglesa, batatinha!...
Diz que tinha 82 anos, setenta dos quais no ofício de vendedor ambulante. No Inverno, estabelecia ponto de castanhas assadas, na Rotunda da Anémona, onde Porto e Matosinhos se cumprimentam com vista para o mar.
Fomos praticamente vizinhos. Isto é, morei na Rua Pêro de Alenquer, na Foz, quase em frente ao sítio onde o Sr. José tinha morado uns anos antes. Mas a minha mulher frequentara-lhe a casa, em miúda. E provava sempre as batatinhas, que eram mesmo caseiras, fritas todos os dias logo desde a manhãzinha. Que boas que elas eram, as batatas antigas! Mas quê? É como tudo: o que era bom, está-se a acabar... 

A apoteose dos campeões de Limoges

Foto enviada por José Freitas

José Freitas teve a amabilidade de enviar-me esta extraordinária "lembrança de David", assim lhe chamou, provavelmente na sequência das minhas mais recentes publicações sobre guarda-redes, aqui no Tarrenego! e no meu outro blogue, Fafismos, onde faço questão de enfatizar a personalidade e os ensinamentos do saudoso David Alves. O David, como já contei, fez a sua formação futebolística nos juniores do FC Porto, pelo menos entre 1964 e 1966, acamaradando com craques da categoria de Pavão, Lázaro, Rendeiro, Sérgio Vilarinho, Arlindo, Ernesto, Belo, Alberto, Alípio, se não estou em erro, e Sousa, com quem dividia a baliza, entre outros. Nesta histórica fotografia, de que desconheço o autor e as circunstâncias, mas que agradeço penhoradamente ao José Freitas, o nosso David é o primeiro à esquerda, obviamente de pé.

Até aqui, já nós sabíamos. O texto acima contei-o há dias, sob o título "Lembrando David Alves". Mas há mais. Mais a dizer sobre esta icónica fotografia, que eterniza a equipa de juniores do FC Porto que venceu o prestigiado Torneiro Internacional de Limoges, França, em Maio de 1966, e que foi oferecida pelo próprio David, com dedicatória, "ao devotado portista e amigo Calvelos", isto é, ao nosso Zeca Calvelos, que é nada mais nada menos que o José Freitas que agora, quase 58 anos depois, teve a feliz ideia de no-la enviar. Ali estão, creio não haver engano, da esquerda para a direita, de pé: David, Orlando, Alberto, Bastos, Almeida, Lourenço e Sousa. E em primeiro plano, no mesmo sentido, de joelhos: Luís Pereira, Ricardo, Zé Carlos, Miranda e Lázaro. O treinador seria certamente, por aquela altura, o mítico Artur Baeta.
O FC Porto sagrou-se campeão da quinta edição do famoso torneio francês após vencer, na final, o FC Barcelona. Foi a primeira grande conquista internacional do clube no futebol de formação, e a cidade recebeu os seus rapazes como heróis. Em autêntica apoteose. Como que adivinhando o que haveria de ser o futuro normal, a Baixa encheu-se de uma multidão de adeptos portistas em delírio.
"No dia do regresso a casa, o triunfo valeu uma grande recepção na Estação de São Bento, um cortejo na Avenida dos Aliados e uma cerimónia na antiga sede do clube, onde hoje se localiza o Axis Porto Club Hotel. Tamanha celebração sublinhou ainda mais a importância da conquista dos jovens futebolistas, a quem a organização da prova complicou bastante a vida", faz notar, actualmente, a informação oficial do FC Porto. A taça arrecadada, que por acaso é um jarro certamente da mais fina porcelana, ou não fosse de Limoges o torneio, é bem bonita e pode ser visitada no museu.

Em torno da mobilidade


Maria Beatriz Rocha-Trindade vai a Fafe apresentar o seu mais recente livro, "Em Torno da Mobilidade - Provérbios, Expressões Idiomáticas e Frases Consagradas". É já amanhã, quinta-feira, dia 14 de Março, pelas 18 horas, no Auditório do Arquivo Municipal de Fafe. E a entrada é livre.
Socióloga, professora catedrática na Universidade Aberta, onde fundou, em 1994, o Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais, Maria Beatriz Rocha-Trindade é considerada a introdutora em Portugal do ensino da Sociologia das Migrações.

terça-feira, 12 de março de 2024

Artur Jorge, o circunspecto

Foto Lusa

Antigamente não havia Liga Revelação nem equipas B, tínhamos, era, às quartas-feiras à tarde, o campeonato de reservas. Nas reservas jogavam os mais fraquinhos da equipa principal, que raramente entravam em campo ao domingo, duvidosas aquisições à experiência, ex-lesionados em fase final de recuperação e jovens promessas recrutadas aos juniores para fazerem número. Não existia treinador das reservas. A equipa era, por assim dizer, orientada pelo treinador do primeiro time, que geralmente delegava num dos seus adjuntos. Lembro-me vagamente de jogos de reservas em Fafe, ainda no tempo do Campo da Granja, mas sobretudo do FC Porto, quase duas décadas mais tarde, no campo de treinos n.º 1 do Estádio das Antas, entalado entre as costas da "maratona" e a zona de pavilhões e piscina, onde passei tardadas a ensinar portismo ao meu filho recém-nascido. Muitos dos grandes craques azuis e brancos, futuras estrelas mundiais, vi-os ali em início de carreira, ou, em todo o caso, antes da afirmação definitiva, medindo forças desiguais com as poderosíssimas equipas do Senhora da Hora, do Candal, do Infesta ou, vá lá, do Salgueiros, do Leixões ou do Boavista.
Uma vez, Artur Jorge era treinador do FC Porto e foi para o banco num desses jogos de reservas. A certa altura do encontro, resolveu fazer uma substituição e deu ordens a um jogador para aquecer. O jogador, e nem lhe recordo o nome, tirou o blusão para vestir a camisola, colocou as caneleiras com adesivo e tudo, puxou as meias para os joelhos, calçou-se e estava a começar a atar os cordões das chuteiras quando o treinador olhou para trás, estendeu o dedo apontando dali para fora e mandou-o tomar banho, isto é, recolher aos balneários, assim a frio. Alteração táctica na substituição? Nada disso. Apenas castigo. Artur Jorge, que não raras vezes fazia substituições logo nos primeiros minutos de jogo, se pressentia alguém em dia não ou a dormir na forma, queria os seus homens sempre prontos para o que desse e viesse. Preparados e alerta, permanentemente disponíveis para o imediatamente. Mesmo os que ficavam no banco, que era local de trabalho. Isso. O banco de suplentes, com Artur Jorge, não era beira de piscina.

Artur Jorge era homem de poucas falas. Distante, dizia-se. Exigente, duro, mantinha realmente distância em relação aos seus jogadores, que fazia questão de só "conhecer" no emprego, isto é, no balneário e no campo. De resto, nada de convívio, nada de confianças. Cá fora, na vida real, até os cumprimentos só se fossem por telepatia. Era assim nas Antas, onde os vi chegar e sair, treinador e jogadores, tantas e tantas vezes, passando um pelos outros como se nem os visse. Tinha sido assim na sua época de Vitória de Guimarães, como adjunto ou treinador de campo de José Maria Pedroto, por volta de 1980, se não estou em erro. O Vitória ia regulamente treinar a Fafe, às vezes, na preparação de jogos nocturnos, ia ao final do dia, daqueles dias curtos e agrestes do antigo Inverno minhoto, acendia-se a iluminação que havia, fraquinha mas de boa vontade, e o Estádio ficava à média-luz, como se fosse casa de fado. Eu por acaso até gostava. Artur Jorge no meio do pelado, voz potente e rara, explicando a jogada, corrigindo posições, dando nas orelhas aos jogadores enregelados, e mestre Pedroto seguindo o treino da bancada, de pé, bem agasalhado, à civil, contando piadas finas para a corte babada à sua volta, palavra de honra. O deus Pedroto. Chamavam-lhe então manager. E eu achava que deviam ir chamar manager a outro...

segunda-feira, 11 de março de 2024

Salão António-Pedro Vasconcelos

Foto FafeTV

Era uma vez, há doze anos, manifestei a minha mais simplória estranheza derivada ao facto de Fafe, a minha terra, ter perfilhado o cineasta portuense Manoel de Oliveira e até lhe ter dado de prenda uma sala de cinema, isto é, ter dado o nome de Manoel de Oliveira à Sala Manoel de Oliveira do Teatro-Cinema de Fafe. Não percebi de onde é que se desencravou a extraordinária ideia, a eventual razão da coisa, que relação haveria ali, e até escrevi na altura: "ainda me hei-de rir quando (e se) conseguir perceber porquê".
Ainda não percebi. Estou há doze anos sem me rir, e tanta seriedade já me faz diferença.
O cineasta António-Pedro Vasconcelos, aliás APV, ali em Cima da Arcada na melhor companhia do mundo, com o Senhor Francisco Oliveira, nasceu em Leiria e viveu geralmente em Lisboa, mas vinha amiúde e em miúdo a Fafe, "onde tinha e tem família", segundo leio e ouço na FafeTV. Em 2015, homenageado na quinta edição do Fafe Film Fest, e a fotografia há-de ser certamente dessa ocasião, APV, o cineasta que queria que as pessoas vissem cinema, fez questão de dizer, coisa linda: "Nasci, acidentalmente, em Leiria, mas considero-me um homem do Norte e, em particular, de Fafe, terra onde vivi parte da minha infância".
Perante tamanho confessamento de fafismo, que eu, verdade seja dita, por acaso até desconhecia, a benemerente Câmara de Fafe, se deu ao outro uma sala, ao outro que não nos pertence, que não nos é nada, a este, ao António-Pedro, que se reclamava nosso, de borla, e por isso é efectivamente nosso, com todo o direito, tem de dar pelo menos um salão. Isso, um salão, nem que seja ao ar livre. Até estou a ver, com luzinhas e estrelinhas a acender e a apagar, no meio do Largo, música de John Williams, passadeira vermelha e holofotes à Hollywood apontando ao céu: "Salão António-Pedro Vasconcelos"...
Ou então que mandem o APV para a bicha, como fizeram com o escritor também nosso João Ubaldo Ribeiro.

P.S. - A sala de cinema do Teatro-Cinema de Fafe devia chamar-se, por exemplo, Sala Dona Laura Summavielle. Mas para saber disso é preciso ser-se de Fafe desde pequenino...

(Publicado originalmente no meu blogue Fafismos)

domingo, 10 de março de 2024

Cabeças brilhantes

Ele abriu um cabeleireiro para carecas. Serviço completo! Lavava, encerava e puxava o lustro.

E já agora, que estou com tempo, uma vez que votei no outro domingo, vamos ao seguinte: "Cabeleireiro masculino". Olho para o reclame, "Cabeleireiro masculino", e fico sempre naquela, coçando a cabeça. Mas quê, será masculino porque é homem? Ou será masculino porque atende homens, isto é, barbeiro? E se o cabeleireiro masculino for mulher, não deveria dizer-se, sem ofensa, cabeleireira masculina? E se o cabeleireiro for feminino, o que é que temos a ver com isso? E se o barbeiro for mulher, não vamos mais longe, porque é que não é barbeira? E em caso de indefinição ou escolha múltipla, coisa absolutamente natural, poderá ser, por exemplo, barbeire? Cabeleireire? São problemas assim, arrepiantes, de porem os cabelos em pé, que de facto me afligem - quero lá saber das eleições, do ódio, do racismo, da xenofobia, do sexismo e dos fascismos e nazismos de todos os feitios. Viva Portugal!

Naturalmente platinado

Li em algum lado que hoje é Dia Internacional da Peruca. E também é Dia Internacional da Gaita-de-Foles, isso é certo, e Dia do Sogro. Mas, para mim, Dia da Peruca é que é. E eu levo estas coisas muito a sério (ou muito à séria, se lido em Lisboa). Portanto, se me virem hoje, eu sou aquele loiro alto e largo, com cabeleira à Marilyn.

Orgulhosamente ao léu

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 9 de março de 2024

Acto irreflectido

Hoje é dia de reflexão tendo em vista o acto eleitoral de amanhã. E um dia assim não podia ser mais oportuno nem de maior utilidade. Sobretudo para as pessoas que, como eu, votaram no passado domingo.

Hoje é um dia muito importante e amanhã ainda mais

Hoje, 9 de Março, é um dia muito importante para todos nós. Hoje é o Dia Internacional do DJ, isto é, o dia do rapaz (ou rapariga) que põe a música. Amanhã, se Deus quiser, há-de ser um dia ainda mais importante para todos nós. Amanhã, 10 de Março, é o Dia da Gaita-de-Foles, da Peruca, do Telefone, das Juízas e do Sogro, isto é, o dia do pai do rapaz (ou rapariga) que põe a música, em relação à rapariga (ou rapaz) com a (ou o) qual o rapaz (ou rapariga) que põe a música se casou ou ajuntou. É extraordinário, isto realmente anda tudo ligado...

Todos os dias são dia

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 8 de março de 2024

Viva a Oposição!

Portugal devia ser governado pela Oposição. Porque na oposição é que os partidos de governo têm as melhores ideias e soluções para a saúde, para os professores, para a economia, para o ambiente, para a cultura, para a justiça, para a habitação, para as forças armadas, para a mobilidade e para os portugueses em geral. O pior que pode acontecer à Oposição é ir para a Posição. Varre-se-lhe tudo. É. O Governo é uma merda! Por isso a Oposição está muito bem onde está.

Depois queixam-se da abstenção...

Votei no passado domingo. Voto antecipado. Derivado aos resultados das últimas sondagens, que me parecem um bocado esdrúxulos, disponibilizei-me para votar também no próximo domingo. Mas dizem-me que não posso. Quer-se dizer: um homem quer, mas eles não deixam. Depois queixam-se da abstenção...

Crónica Feminina

Vieram as calças, e ela nada. Os movimentos libertários, o divórcio, o voto, a canasta, os empregos, os carros, os cigarros, as gravatas, os sapatos de salto baixo e os sapatões também vieram, e ela nada. Em casa, sempre em casa, de uma virgindade absoluta em relação ao amantíssimo esposo e demais, bordava, falava francês e tocava piano. Ouvia os discos pedidos e lia Corín Tellado. E dava alpista ao canário. E regava os vasinhos, ela própria um flor de estufa. E compunha almofadinhas e peluches por sobre o delicado leito conjugal. Muito cor-de-rosa, muita renda na roupa interior que só ela sabia, muito tafetá, muitos lacinhos e sabonetinhos. Tanto pó de talco e perfume! Queimou uma vez um sutiã, é verdade, mas foi sem querer, passando a ferro, quando a serviçal lhe faltou. Tirando isso, nada. Parecia doença. Crónica. As vizinhas, que nem lhe conheciam o nome, chamavam-lhe, por graça, Crónica Feminina.

Sem desculpa

Errar é próprio do homem. A mulher não tem desculpa!

Ladies first?

Ele disse, força do hábito, "As senhoras primeiro". Ui!, caíram-lhe todos em cima - feministas, machistas e indiferenciados -, derivado àquilo da igualdade de género...

É hoje! É hoje!

Um: - Hoje é dia da mulher.
O outro: - Eu vou primeiro...

quinta-feira, 7 de março de 2024

Os telejornais

Imagem RTP

A RTP iniciou as suas emissões regulares, nos Estúdios do Lumiar, em Lisboa, no dia 7 de Março de 1957, faz hoje anos. E o primeiro Telejornal, o original e verdadeiro, cujo alinhamento está ali em cima, foi para o ar no dia 18 de Outubro de 1959. Os telejornais eram uma coisa porreira, feitos os devidos descontos, porque davam telenotícias - o que era então extraordinário. Agora os telejornais são uma treta. São a telenovela antes da telenovela. E eu não vejo. Há anos!

quarta-feira, 6 de março de 2024

A bela foda

Iam receber visitas e ela não sabia o que lhes havia de dar. "E se lhes déssemos uma boa foda?", sugeriu ele. Eram, com efeito, uma família tradicional, monçanenses dos quatro costados.

P.S. - A Feira da Foda realiza-se entre os próximos dias 15 e 17 de Março, na freguesia de Pias, Monção.

terça-feira, 5 de março de 2024

Lembrando David Alves

Foto enviada por José Freitas

José Freitas teve a amabilidade de enviar-me esta extraordinária "lembrança de David", assim lhe chamou, provavelmente na sequência das minhas mais recentes publicações sobre guarda-redes, aqui no Tarrenego! e no meu outro blogue, Fafismos, onde faço questão de enfatizar a personalidade e os ensinamentos do saudoso David Alves. O David, como já contei, fez a sua formação futebolística nos juniores do FC Porto, pelo menos entre 1964 e 1966, acamaradando com craques da categoria de Pavão, Lázaro, Rendeiro, Sérgio Vilarinho, Arlindo, Ernesto, Belo, Alberto, Alípio, se não estou em erro, e Sousa, com quem dividia a baliza, entre outros. Nesta histórica fotografia, de que desconheço o autor e as circunstâncias, mas que agradeço penhoradamente ao José Freitas, o nosso David é o primeiro à esquerda, obviamente de pé.

segunda-feira, 4 de março de 2024

Já não há mulheres com bigode

Foto Hernâni Von Doellinger

Sempre gostei de ir a Ponte de Lima por causa do arroz de sarrabulho e dos bigodes das mulheres. Mulheres feias é ali. Feias e bigodudas. Basta um raio de sol espreitar por entre as nuvens e elas saltam todas não se sabe donde para as bordas do rio a arejar as carantonhas e respectivas piaçabas. Palavra de honra, é um espectáculo digno de ser visto. Comprar um cartucho de jornal cheio de castanhas assadas e comê-las, ainda quentes, enquanto observamos o mulherio, picadeiro acima, picadeiro abaixo, como num desfile de moda mas para bigodes fêmeos, nove pontos para aquela, treze para a das suíças, há lá melhor maneira de passar um pedaço de tarde! Não sei o que a bela vila alto-minhota tem, mas é assim que as coisas são.
Cuidado. Antes de me soltarem os cães, façam o favor de perceber que eu não disse que as mulheres limianas são bigodadas e feias. Não. O que eu digo é que, sobretudo aos fins-de-semana e feriados, elas, as bigodadas e feias, concentram-se todas ali, à beira-Lima, como se fosse um congresso de camafeus ou um concurso de feieza. Numa dessas ocasiões, eu próprio fui confundido com a cantadeira de um rancho folclórico derivado às minhas barbas. De resto, não sei de onde elas vêm, as mulheres abigodadas, nunca perguntei.

Vou a Ponte de Lima desde pequenino, desde o tempo das excursões ao Alto Minho organizadas pelo meu avô da Bomba, sobrevivente dos sete ofícios. Aqui atrasado tornei lá todo contente e tive um desgosto muito grande. A vila mais antiga de Portugal, Ponte de Lima monumental e histórica, bela, tradicional, está mais pobre. As mulheres continuam particularmente feias, honra lhes seja, mas deitaram abaixo os bigodes. Sentei-me no banco do costume, junto à vendedeira de castanhas, queimei os dedos a comê-las, mas bigodes de mulheres, que era ao que eu ia, nem um para amostra. É lamentável. Os cremes depilatórios estão a dar cabo do nosso património.
Não sei se volto a Ponte de Lima. Ainda por cima, o arroz de sarrabulho também não estava grande coisa. Mas as castanhas eram bem boas.

P.S. - A vila de Ponte de Lima festeja hoje os seus 899 anos de existência. Muitos parabéns!

Ao contrário

Conheço uma senhora que todas as manhãs faz exercício ali em baixo no Passeio Atlântico, à beira do mar. Entre outras habilidades atléticas, a senhora sobretudo caminha de costas, arrecua, ou seja, anda ao contrário. E isto há anos. Resultado: em vez de emagrecer, a senhora está cada vez mais gorda...

É fartar, vilanagem!..

Hoje é Dia Mundial da Obesidade. Repare o estimado leitor que é, repito, Dia Mundial da Obesidade e não Dia Mundial Contra a Obesidade. Portanto, olhe, faça como eu, aproveite enquanto pode!
Aliás, o Dia Mundial da Obesidade está obviamente condenado, por indecente e má figura. Para o ano decerto já não há. Porque a obesidade é do obeso e o obeso é gordo, e isso são palavras que hoje em dia não se dizem. Já nem nos livros. Nem nos filmes. Evidentemente.

Outros tempos, outra limpeza...

Foto Hernâni Von Doellinger

Os matraquilhos foram inventados pelo galego Alexandre Campos Ramires ou Alexandre de Fisterra, que também era editor e escritor. O nome mais bonito dos matraquilhos é, digo eu, pseberico. Assim se falava pelo menos em Fafe.
Por outro lado, hoje é dia de ir outra vez ao psiquiatra, à terapiazinha...

domingo, 3 de março de 2024

Agora, estragai!

Pronto! Está feito. Já votei. Eu e a minha mulher, em menos de três minutos, num ambiente organizado, simpático, agradável, uma mesa só com malta nova, bem disposta, competente, vantagens decerto do voto antecipado, como costumamos. Votei. Em consciência e devidamente informado. Isto é, sem a desinformação dos programas, dos debates, das entrevistas, dos comentários, das sondagens, dos tempos de antena, das arruadas, dos comícios, das redes sociais - que não vi, que não li, que não ouvi, que não acompanhei, que não sei, que não quero saber. Votei por um país que olha por todos e onde cabem todos, não o consigo dizer de forma mais simples e sincera. Por mim, está feito, e gostaria que agora me deixassem em paz. E não vos esqueçais de ir lá no próximo domingo e dar cabo disto tudo. Do país que vos deixei...

Hidráulico e selvagem

Ele andava com um macaco no carro. Hidráulico, para mudança de pneus. Mas foi apanhado pela GNR numa operação stop. A autoridade procedeu à competente identificação, tendo sido elaborado o respectivo auto de contraordenação por violação do Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção.

Mal comparando

O polvo é um octópode. Dois linces da Malcata também.

A montanha pariu um rato

A montanha pariu um rato. Que miséria, realmente. Se ainda ao menos parisse um elefante! Ou dois - que incomodam muito mais...

Como as cobras

Era mau como as cobras. E como as moscas tsé-tsé e como os cães domésticos e como os escorpiões e como os crocodilos e como os hipopótamos e como os elefantes e como os tigres e como os leões. Era realmente do piorio.

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Vida Selvagem.

sexta-feira, 1 de março de 2024

Não mexam na nossa vitela assada!

 

Sobre a arte de estragar comida. Comecemos pela lampreia, para terminarmos na vitela assada à moda de Fafe. A lampreia é, para mim, o supra-sumo da gastronomia alto-minhota. Uma gastronomia apurada, robusta, variada, generosa, com personalidade, como eu gosto e como é, no geral, toda a honesta cozinha tradicional portuguesa. Há o arroz de lampreia, há a lampreia à bordalesa. E até admito mais duas ou três bem intencionadas variantes (como a lampreia fumada, a lampreia recheada ou a lampreia assada), mas que, não desmerecendo, já não me são a mesma coisa. Eu fico-me pela arrozada a fugir do prato a todo o vapor e pela bordalesa intensa e substancial - embora, como a maioria dos portugueses, já só coma lampreia de memória.
No Alto Minho, a lampreia é justamente considerada "um prato de excelência" e de tradição. Sim, de tradição. "Para confeccionar um produto de qualidade com paixão e arte, nada melhor que as mãos de afamadas cozinheiras que receberam os testemunhos e segredos de gerações passadas, com raízes na ancestral tradição culinária do Vale do Minho", lia-se num opúsculo editado aqui há uns anos pela Adriminho para chamar visitantes e promover o consumo do apreciado ciclóstomo nos melhores restaurantes dos concelhos de Caminha, Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença e Vila Nova de Cerveira.
Não percebi com que segunda intenção, a Adriminho resolveu, naquela ocasião, amaricar a apresentação da sua lampreia, bem à moda de Lisboashire ou Cascais County, colocando na capa do dito prospecto a fotografia de um empratamento aguado e triste, obra certamente de um daqueles famosos jovens chefs da televisão que não cozinham nada mas têm muito jeito para as artes plásticas. Resultou assim uma coisa de snack-bar cantineiro, algures entre Nova Iorque e Bogotá, espécie de nouvelle cuisine pretensiosa e escusada que envergonha a velha lampreia e a tradição gastronómica alto-minhota.
Vede bem o retrato que vos apresento: então aquilo ali em cima agora é que é a lampreia do rio Minho? Que mal é que tinha a outra, a verdadeira?

Derivado a estas e a outras é que eu às vezes temo pelo futuro da nossa vitela assada - a vitela assada à moda de Fafe. A existência da confraria respectiva não me sossega e por acaso até me preocupa. Isto é, não sei se a nossa vitela assada está em boas mãos. O circo chegou à cozinha. Lembro-me das Feiras Francas de 2013 e de uma programação toda modernaça que até meteu workshopping, showcasing e showcooking, e esta parte afligiu-me desde logo. Anunciava-se "a tradição e a inovação de mãos dadas", prometia-se a "elaboração de pratos tradicionais recriando com inovação", e eu, à rasca, só pedia aos Céus: - Com a nossa vitela, não! Senhor, fazei com que eles deixem estar tudo como está, que está tão bem, graças a Deus! São Lourenço, padroeiro dos cozinheiros, segundo uns, rogai por nós! São Benedito, padroeiro dos cozinheiros, segundo outros, rogai por nós! Minha rica Senhora de Antime, livrai-nos dos estragadores e salvai a nossa vitela assada, amém!
É. Eu sou muito religioso, embora amiúde não pareça, e levo a comida muito a sério, mas isso já se sabe. A vitela assada à moda de Fafe até poderá ter os dias contados, porque os comedores de rúcula e outros tofus ainda nos vão proibir o consumo de carne, mas, enquanto não é crime, eu faço questão que a deixem em paz.
E por isso digo e redigo: não mexam na nossa vitela assada! A vitela assada à moda de Fafe é o que é. É à moda mas não há modas. É, sem tirar nem pôr. Não tem variações, não admite inovações, dispensa recriações ou até interpretações. É vitela assada à moda de Fafe. Assim.

Agora que estamos entendidos, tomai então nota aí na agenda, com tempo. De 15 a 17 de Março (sexta, sábado e domingo) ide e Fafe e aproveitai mais um dos Fins de Semana Gastronómicos promovidos pelo Turismo Porto e Norte de Portugal, neste caso um fim de semana integralmente dedicado à nossa vitela assada. "A jóia da coroa gastronómica de Fafe" - informa a Câmara Municipal - poderá ser apreciada nos restaurantes A Cabana, A Desportiva, Adega Popular, Aldeia do Pontido, Casa de Pasto Reis, Desigual, Dom Egas, Feira Velha, Porto Seguro, Quinta das Vinhas e Vice Versa. Diz que estão disponíveis pacotes de oferta turística com alojamentos e experiências incluídas.

Mal agradecidos

O homem-estátua foi despedido. Por falta de produtividade. Logo ele que tinha sido contratado para não mexer uma palha.

P.S. - Hoje é Dia de Apreciação do Empregado.

Votos inúteis

Votos de confiança, votos de louvor, votos de vencido, votos de qualidade, votos de silêncio, votos de boas festas, votos felizes, votos infelizes, votos de parabéns, votos de melhoras, votos de casamento, o que eu lhe estimo é o que lhe desejo, votos de pesar, votos de medir, ex-votos e sobretudo votos de castidade. Inutilidades, nos dias que correm. 

De pequenino...

Foto Hernâni Von Doellinger