segunda-feira, 31 de julho de 2023

É hoje! É hoje! É hoje!!!

O grande Juca Chaves, menestrel brasileiro recentemente desaparecido, costumava contar mais ou menos assim, nos seus impagáveis espectáculos satírico-humorístico-musicais:

Durante um simpósio internacional de sexo, o conferencista pediu o máximo respeito da plateia e perguntou:
- Por favor, aqueles que fazem amor 30 vezes por mês, levantem a mão!
- Eu!... Eu!.. Eu!... Eu!... Eu!... Eu!... Eu!...
- Aqueles que fazem amor duas vezes por mês...
- Eu!... Eu!.. Eu!... Eu!... Eu!... Eu!... Eu!...
- Uma vez por mês...
- Eu!... Eu!.. Eu!...
- Uma vez por trimestre...
- Eu!...
- Uma vez por semestre...
- ...
- Uma vez por ano...
E um velhinho, eufórico:
- Eu!, eu!, eu!, eu!, eu!, eu!, eu!, eeeeeeeu!..
- Mas porquê tanta euforia?
- Porque é hoje! É hoje! É hoje!!!

O dia do orgasmo

Hoje é Dia Mundial do Orgasmo. Aproveite-o quanto mais possa, faça-o render, goze-o até ao fim, sem dó nem piedade. Depois, só para o ano,,,

As autoridades

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 30 de julho de 2023

O Papa está bem acompanhado

A apresentadora Teresa Guilherme e a astróloga Maya "reforçam mega operação da CMTV para acompanhar visita do Papa Francisco a Portugal", anuncia o Correio da Manhã. Estou mais descansado. O Papa fica realmente em boas mãos.

Amigo do peito

Ele tinha 36 anos e gostava muito de mamar. A namorada despediu-se do emprego para poder amamentá-lo de duas em duas horas. Palavra de honra. Veio nos jornais.

P.S. - Hoje é Dia Internacional do Amigo ou Dia Internacional da Amizade.

Na gaveta

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 29 de julho de 2023

Bacalhau com natas

Gosto muito. Bacalhau com natas. Bacalhau recheado, da parte da asa, feito por quem sabe, isto é, por mim, conversado a par e passo com um verde branco honesto e fresco. E depois, antes do café por recomendação médica, uma natinha do Lidl, a 39 cêntimos cada, para escorropichar a garrafa. Foi o que eu disse. Bacalhau com natas.

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Sérgio Conceição, perigoso cadastrado

Foto Hernâni Von Doellinger

Sérgio Conceição, treinador da principal equipa de futebol do FC Porto, foi castigado com 30 dias de suspensão e mais de dez mil euros de multa por causa do seu "sorriso jocoso". O Senhor Conceição, é preciso que se note, é, a este respeito, um perigoso cadastrado. Ainda aqui atrasado foi expulso de um jogo derivado ao seu "olhar fulminante". Está tudo nos relatórios, e o Conselho de Disciplina da FPF não podia fechar os olhos. Ademais, 30 dias e dez mil euros é o que manda a lei, está na tabela, que contempla a existência de 19 tipos de sorriso, mas apenas seis considerados como sinal de felicidade e somente um avaliado como genuíno ou verdadeiro - o famoso sorriso de Duchenne, utilizado sobretudo no campeonato francês.
A nível de moldura penal, o uso do sorriso jocoso no futebol, com ou sem licença de porte, é, com efeito, o mais penalizado pelo nosso conspícuo Conselho de Disciplina, seguindo-se, em moderado decrescendo de punição, o sorriso de desprezo, o sorriso malicioso, o sorriso falso, o sorriso forçado, o sorriso mais ou menos, o sorriso triste, o sorriso de medo e assim sucessivamente, para terminar no sorriso coquete, que certos árbitros também não apreciam, vá-se lá saber porquê. A legislação é omissa quanto ao sorriso Pepsodent e ao sorriso da Mona Lisa. Dois sorrisos amarelos dão vermelho.

Natureza de conserva

Ele era um acérrimo defensor da conservação da natureza. Em lata, mas sobretudo em frasco e em plástico.

P.S. - Exactamente. Hoje é Dia Nacional e Mundial da Conservação da Natureza.

quinta-feira, 27 de julho de 2023

O concerto do Papa

Ando pelas ruas e bem ouço as queixas da juventude. A grande reclamação, de momento, tem a ver com o horário do concerto do Papa, no próximo dia 6 de Agosto, em Lisboa. Porque não é à noite, como todos os grandes concertos de todas as grandes bandas em todos os grandes festivais? Às nove da matina é que não lembraria ao Diabo, ainda por cima de directa, logo após a noitada de sábado. E também por causa do calor e do sol e assim, evidentemente...

A menina e o cão

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 26 de julho de 2023

Por causa de uma ateima...

E aquela tradição tão fafense da ateima? Era. Em Fafe ateimava-se por tudo e por nada, sabia-se de tudo, discutia-se tudo, afirmava-se tudo, contrariava-se tudo, apostava-se em tudo e no seu oposto. Por nada, e por uma questão de princípio, mas às vezes também por dinheiro. Era mais um jogo, numa terra viciada nisso mesmo, no jogo. Um jogo como o Totobola e a Lotaria da Santa Casa da Misericórdia, o nosso jogo da ateima, como o bilhar e os flippers do Peludo ou o pilas do Serafim Lamelas ou a batota no Club e no Fernando da Sede, isto para não falar nos sorteios da itinerante associação de invisuais, ainda os invisuais não tinham vergonha de serem cegos, e nas rifas da Comissão de Auxílio. Futebol e política, Deus e o Diabo, vinhos e petiscos, carros, gajas e motorizadas, pré-congelados e piratas, caça e pesca, pistolas, espingardas e canhões de Navarone, gramática e escafandrismo, meteorologia e teoria da relatividade, grandes escritores e livros nunca lidos, países e bandeiras do mundo, chá de cidreira e actores de Hollywood, rácios bolsistas e festival da canção, bandas de música e ranchos folclóricos, a cor dos olhos de Brigitte Bardot e a cor de burro quando foge - era só escolher. Fosse qual fosse o tema, éramos teimosos, tínhamos opiniões, pontos de vista, prismas, ópticas, enfoques, perspectivas e até ângulos, cismas, birras e finca-pés, exageros de verde tinto e cerveja a copo que encorajavam certezas absolutas e desencontradas. E faltava dizer isto: a coisa passava-se realmente em tascos e cafés. Sobretudo.

Havia um extraordinário grupo de veteranos músicos da Banda de Revelhe que era particularmente dado à arte da ateimação. A cultura fafense deve-lhes muito, a essa meia dúzia de exímios ateimadores, mestres e guias de sucessivas gerações de jovens músicos da nossa terra, mas não é isso que aqui interessa. Estavam sempre naquilo, os velhos, nas ateimas. E uma vez que, também preguiçosos, não tinham vagar nem feitio para chegarem a vias de facto por forma a resolverem-se entre eles como adultos, precisavam amiúde de um juiz de fora, imparcial e sábio, que desempatasse as suas inumeráveis disputas, tolas e desnecessárias a maioria das vezes.
O Google ainda não tinha sido inventado, e portanto ligavam-me a mim, primeiro para o jornal e depois para o telemóvel, quando o telemóvel finalmente apareceu. Após a invenção do Google, ligavam-me na mesma, porque há coisas que eu sei e o Google não sabe. Ligavam-me, "Nane, por causa de uma ateima"...
Ligavam-me e o meu primeiro problema era perceber o que é que eles queriam. Do lado de lá havia facções, claques, vozes várias, interrupções, indisfarçáveis caralhadas. Eu já disse que aquilo passava-se principalmente em tascos e cafés, e acrescento que acontecia a certas e determinadas horas, horas cheias e bem bebidas. As palavras telefónicas dos meus estimados consulentes entaramelavam-se por norma e eu não raro também, porque quem sai aos seus a mais não é obrigado. Mas lá chegávamos. E então eu sentenciava, armado em parvo, resolvia a ateima, mas, que me lembre, por mais explicações que apresentasse, nunca consegui convencer a parte vencida, e tenho esse grande desgosto no meu currículo...

Fafe é uma terra de enormes tradições. E a ateima era uma bela tradição fafense. Não sei, porém, se ainda se pratica. Os velhos músicos deixaram de tocar na Banda de Revelhe e já não me ligam, estimo-lhes que ao menos continuem a beber. O Bertinho, meu rico menino, também já não me liga a perguntar, mas está desculpado. E eu para aqui, fafense exilado e imprestável, cheio de certezas para dar e vender, já que para mim há largos anos que não tenho nenhuma. E entretanto, em Fafe, as tradições multiplicam-se e medram, algumas tradições que não interessam a ninguém e até espantosas tradições inventadas ainda agora por uma autarquia que ostenta o gosto do croquete e a mania do novo-riquismo cultural. Sinceramente, espero e peço que a Câmara, e já nem falo em subsídio, pelo menos deite os olhos às nossas ateimas e não as deixe falecer...

Ó da guarda!

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 25 de julho de 2023

O que eu sei de Alberto Feijóo

Sobre o líder do PP espanhol, o galego Alberto Núñez Feijóo, vencedor derrotado das eleições do passado domingo no país vizinho, eu sei o seguinte: ele gosta muito da costelinha assada e do bacalhau na brasa da Casa Álvaro, em Valença, e come os dois pratos à mesma refeição. Bebe verde tinto, que traça eventualmente com uma seven up, e creio que assim fica tudo explicado. Não são de confiança os indivíduos que misturam vinho bom com seven up...

Os jardins era uma coisa que havia antigamente

Foto Hernâni Von Doellinger

Ora vamos lá recapitular. Os jardins era uma coisa que existia antigamente. Como os castelos, as pinturas rupestres, as pirâmides e assim. Era uma coisa muito antiga, do tempo dos romanos, basta ver que Deus, quando criou o mundo, o mundo era um jardim, mais ou menos como a Madeira, mas chamava-se Éden, como o velho cinema de Lisboa, ou Jardim do Éden ou Jardim das Delícias ou Paraíso Terreal ou simplesmente Paraíso, como o novo cinema de Palazzo Adriano. O plural de Éden é édenes, convém não esquecer.
E corria tudo bem no Paraíso. Quer-se dizer: corria tudo na paz do Senhor. Poder-se-ia até afirmar, creio que sem forçar demasiado a nota, que o Paraíso era, naquele tempo, um autêntico paraíso. Estava escrito, porém, que Adão e Eva tinham de asnear. Podiam ter cometido um pecado qualquer, um pecadinho de nada, um pecado repetido, copiado, um que estivesse na moda. Mas não! - quiseram ser originais. E foram. Adão e Eva cometeram o pecado original e deu na merda que deu. Até hoje.
Eu sou desse tempo. Do tempo em que ainda havia jardins. Não se sabe bem se foi por causa dos traques dos dinossauros ou derivado ao impacto de um asteróide gigante, eventualmente do tamanho de uma cidade, a verdade é que coisas antigas como os castelos, as pinturas rupestres, as pirâmides, os jardins e assim foram regra geral varridas da face da Terra, restando hoje em dia apenas algumas amostras por assim dizer raras e razoavelmente arqueológicas.
Para que a Humanidade tenha pelo menos uma vaga ideia de como era o mundo em Portugal antes do apocalipse é que Portugal descobriu Vila Nova de Foz Côa, por exemplo. Para além das oportuníssimas gravuras rupestres, Vila Nova de Foz Côa tem também o Parque de Santo António, "parque moderno de grandes dimensões, aprazível e verdejante, com uma ampla fonte de repuxo e um parque infantil. Com um ambiente calmo e relaxante, é ideal para um passeio!", leio no folheto da internet, mas não lhe chamam jardim, eles lá sabem porquê.
Os jardins antigos, os jardins entretanto desaparecidos, foram substituídos por urbanismo, é assim que se chama a nova coisa. E como é que isso se fez? Como é que isso se faz?

Assim. Pegue-se num bom pedaço de terreno relvado, com árvores e com sombras, e arrase-se tudo. O terreno, a relva, as árvores e as sombras. Encha-se o espaço de alcatrão, cimento, placas de granito e mármore, pedregulhos aparelhados fazendo de conta de bancos e estacas de alumínio a imitarem árvores ou, quem sabe, a imitarem esculturas muito inteligentes, de preferência com esguichos mas sem água derivado à seca e à poupança. Isto é urbanismo! Pegue-se no jardim da cidade, arranquem-se as flores e os arbustos, envenene-se o verde, construam-se desertos em forma de praça e mandem-se as pessoas para casa. Isto é urbanismo! Pegue-se num monte, sítio de memórias, de brincadeiras da infância, santuário de locais secretos e míticos, reserva de saúde e natureza, e corte-se-lhe a crista, cape-se, desarborize-se, desfaune-se, terraplene-se, enxote-se a bicharada, cale-se o incómodo do chilreio dos pássaros, ergam-se moradias de preferência com feitio de caixote, altas, pegadas e muitas, fechadas, e muros e portões e estradas e carros e escapes e buzinas e estampanços e atropelamentos e antenas parabólicas e fios e postes de alta ou remediada tensão. Isto é urbanismo!

Resumindo e concluindo: roubam-nos os jardins e dão-nos esplanadas desamparadas e escaldantes, arrancam-nos as árvores e impingem-nos guarda-sóis publicitários. Os senhores doutores engenheiros da Câmara chamam-lhe urbanismo. Progresso. Eu digo que é estupidez. Natural.

P.S.- Recapitulação publicada recentemente, no passado dia 25 de Maio, e creio que ficou quase tudo dito. Junto-lhe hoje a fotografia, que explica o resto, para quem gosta ou precisa de desenhos. 

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Jesus, o melhor do mundo

Meditemos por momentos em Jesus. Fernando Nogueira, o famoso Bruxo de Fafe, confidente especial do jornalista Eugénio Queirós, actualmente aposentado e feliz, disse uma vez, em 2015, que o Benfica tinha naquela altura "o melhor treinador do mundo". E parecia bruxo o bruxo. Basta ver. Comparando com Jesus, quantos campeonatos ganharam até hoje treinadores como Buda, Maomé ou até o teutónico Lutero?

P.S. - Jorge Fernando Pinheiro de Jesus, aliás Jorge Jesus, ou Míster, como prefere, faz hoje 69 anos. E já vai em 28 títulos, se não estou em erro, entre campeonatos, taças, supertaças, copas, recopas, supercopas e torneios, para além de 16 prémios ou honrarias individuais. José Mourinho, por exemplo, tem mais de tudo, mas que é que isso intressa?...

Por outro lado

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 23 de julho de 2023

De pé, ó vítimas da fome!

- De pé, ó vítimas da fome! - gritou o speaker-cantor, enquanto aquecia a plateia para o grande candidato de esquerda que vinha um bocadinho atrasado. O pavilhão estava cheio mas ninguém se levantou. Era uma fraqueza muito grande...

P.S. - "A Internacional" terá sido cantada pela primeira vez em público no dia 23 de Julho de 1888, numa reunião de vendedores de jornais na cidade francesa de Lille.

sábado, 22 de julho de 2023

Era fresca e doce!...

No Verão da minha terra, no Verão antigo, umas abençoadas senhoras andavam pela caloraça das feiras e romarias vendendo copos de água de mina adoçada com açúcar amarelo e um remoto gosto a limão. Não era limonada, atenção, era exactamente o que eu digo: água fresca com duas ou três colheres de açúcar e talvez uma casca ou rodela de limão. E não havia gelo. Na vila, às quartas-feiras, dia de mercado semanal, pelos 16 de Maio ou pela Senhora de Antime, a "mina" era a bica da poça do Santo, que ficava ali à beira e era só comodidade. Em cima da cabeça, as despachadas senhoras, equilibristas que remédio, levavam uma rodilha e por cima da rodilha, consoante o uso dos sítios, uma bilha de barro ou um cântaro de lata revestido a cortiça, para conservar a frescura natural. Anunciavam "Fresca e doce!", a água, e desatavam a fugir, de socos na mão e pés descalços, mal se precatavam da presença, ainda que distante e distraída, do perigosíssimo fiscal da Câmara. E o povo, coitadinho, morria ali à sede. Ou então metia-se no vinho...
Fafe era assim. Eu, que nunca provei pirolito, por falta de coragem para assaltar o Banco, e só sabia dos gelados nas mãos dos outros, bebi uma ou duas vezes um daqueles copinhos, evidentemente mais em conta e decerto prenda extraordinária já não sei de quem nem porquê. E quereis saber? Era realmente fresca e doce, a água, como dizia a publicidade, e, palavra de honra, soube-me pela vida!

Limite de velocidade para peões

Foto Hernâni Von Doellinger

Eu evidentemente abrandei. Sou um peão encartado, respeitador, consciencioso e defensivo. Não ando aí pelos passeios armado em fângio, como certos e determinados...

quinta-feira, 20 de julho de 2023

O pirulito e o pirolito

Hoje é Dia do Pirulito. Pelo menos no Brasil. No lado de lá, pirulito é uma guloseima feita de rebuçado ou chocolate enfiada num palito e que se come chupando ou lambendo. Isto é, corresponde, no lado de cá, ao nosso chupa ou chupa-chupa. No brasileirês corrente, a palavra pirulito serve também para identificar uma pessoa muito magra, o chamado pau de virar tripas, ou o órgão sexual masculino, especialmente de criança, igualmente dito bilola, bilunga, bimba, bimbinha, pimba e pimbinha. Já pirolito era um refrigerante gasoso muito popular antigamente, e de que os da minha idade ainda se lembram, embora eu nunca tenha provado, por défice orçamental, significando, além disso, nome de um estribilho, pessoa muito pequena ou gole de água bebido sem querer, quando se está, por exemplo, a nadar.
Resumindo e concluindo, hoje é Dia do Pirulito. Festejemo-lo, pois!

Índios da minha praia

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 18 de julho de 2023

O fafense João Ubaldo Ribeiro, talvez

João Ubaldo Ribeiro morreu no dia 18 de Julho de 2014, aos 73 anos. Nasceu na Baía, mas optou-se carioca. Autor de "Sargento Getúlio", "Viva o Povo Brasileiro", "O Sorriso do Lagarto" e "A Casa dos Budas Ditosos", entre outros tantos títulos igualmente notáveis, venceu o Prémio Camões 2008. O seu avô paterno era natural de Fafe, e Ubaldo considerava-se dos nossos. É, para todos os efeitos, um fafense excelentíssimo. "[Fafe] é efectivamente minha terra, pois terra dos meus ancestrais paternos, [uma terra] da qual, de certa forma, nunca saí", afirmou um dia o famoso escritor brasileiro. E eu, à pala, enchi-me de orgulho, esbordei de vaidade.
A esse respeito. Em 2008, no foguetório pós-Prémio Camões, a Câmara de Fafe, então presidida por José Ribeiro, prometeu "futuramente" uma rua ao nome de João Ubaldo Ribeiro e ao próprio, que teve a amabilidade de agradecer antecipadamente o rapapé a haver. Sinceramente, não sei se a autarquia fafense já cumpriu a promessa, passados apenas estes quinze anos, e nove anos após a morte de Ubaldo, hoje cumpridos. Isto é, eu procurei a rua e não a encontrei. Procurei rua, avenida, praça, praceta, alameda, travessa, viela, bairro, urbanização, rotunda, campo, jardim e até sala e auditório, mas nada! Melhor dizendo, encontrei realmente a Rua João Ubaldo Ribeiro, mas em Aracaju, no Brasil, que não me dá jeito nenhum. Estarei a procurar mal? Alguém me pode ajudar?
E entretanto aqui deixo este mimo do nosso João Ubaldo Ribeiro, tirado com todo o respeito de "Viva o Povo Brasileiro":

Quando os padres chegaram, declarou-se grande surto de milagres, portentos e ressurreições. Construíram a capela, fizeram a consagração e, no dia seguinte, o chão se abriu para engolir, um por um, todos os que consideraram aquela edificação uma atividade absurda e se recusaram a trabalhar nela. Levantaram as imagens nos altares e por muito tempo ninguém mais morria definitivamente, inclusive os velhos cansados e interessados em se finar logo de uma vez, até que todos começaram a protestar e já ninguém no Reino prestava atenção às cartas e crônicas em que os padres narravam os prodígios operados e testemunhados.
Deitava-se um velho morto ao pé da imagem e, depois de ela suar, sangrar ou demonstrar esforço igualmente estrênuo, o defunto, para grande aborrecimento seu e da família, principiava por ficar inquieto e terminava por voltar para casa vivo outra vez, muitíssimo desapontado. Assim, não se pode alegar que os padres só obtiveram êxitos, mas conseguiram bastante de útil e proveitoso, apesar de tudo isso haver piorado os sofrimentos da cabeça do caboco Capiroba.
De manhã, assim que o sol raiava, punham as mulheres em fila para que fossem à doutrina. Depois da doutrina das mulheres, que então eram arrebanhadas para aprender a tecer e fiar para fazer os panos com que agora enrolavam os corpos, seguia-se a doutrina dos homens, sabendo-se que mulheres e homens precisam de doutrinas diferentes. Na doutrina da manhã, contavam-se histórias loucas, envolvendo pessoas mortas de nomes exóticos.

Quem foi que chamou a polícia?

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 17 de julho de 2023

António Costa cala os críticos

António Costa faz hoje anos, se não estou em erro. Parece que 62, se as contas, pelo menos estas, estão certas. E o primeiro-ministro faz mesmo questão de fazer anos, até para atirar à cara de todos os que dizem - no comentário, na oposição, no café, na cave do PS e em Belém - que ele não faz nada...

Matosinhos inova e mima

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 15 de julho de 2023

O empresário Hernâni, que é dele?

O empresário Hernâni Vaz Antunes, considerado braço direito do empresário Armando Pereira, patrão da Altice, ambos envolvidos, mais outros e outras, em alegadas trafulhices financeiras avaliadas em mais de cem milhões de euros, é procurado pelas polícias. Os advogados do empresário Hernâni Vaz Antunes informaram hoje a agência Lusa de que o seu freguês não está fugido nem em parte incerta, ao contrário do que consta. Os senhores doutores fazem notar, até, que já avisaram as autoridades de que o empresário Hernâni Vaz Antunes está disponível "para ser ouvido, onde e quando determinado". E está certo, assunto resolvido. Entretanto, a esta hora, o empresário Hernâni Vaz Antunes continua em parte incerta e, que se saiba, fugido.

Para mim não me convém

Hoje é Dia dos Homens. Espero não ser acusado de misandria, mas eu passo...

quinta-feira, 13 de julho de 2023

O rock e o amigo

Foto Facebook Joe Biafra

Uma noite, altas horas, saíamos da casa de má fama ali para os lados da Estação e resolvemos passear descalços pelas ruas desertas e geladas da cidade. Não sei de quem foi a peregrina ideia, mas, de tão tola, decerto foi minha. Confesso que não me lembro do que pretendíamos exactamente provar, mas gosto de pensar naquele momento insólito como um ritual de fraternidade, a celebração de uma amizade antiga e inoxidável que nos ligava desde miúdos, apesar da evidente diferença de "estatuto social" entre as nossas duas famílias. Frequentara-lhe a casa - "de rico". Dava-me o lanche, apresentou-me ao pão com manteiga e ao café com leite. Guiou-me pelos caminhos do rock. Ensinou-me os Queen, apesar das reservas. Emprestou-me "A Night at the Opera". Eu e a minha mãe deliciávamo-nos a ouvir "Bohemian Rhapsody" uma e outra vez, mais de vinte ou trinta vezes ao dia, no pequeno gira-discos francês que nos sobrara do meu pai. E ficou Queen até hoje, posto que non troppo.
Ali íamos, portanto. O Bertinho e eu. E, sim, era realmente liturgia, era festa. Glorificávamos a camaradagem desinteresseira e fiel. Éramos irmãos. Irmãos para toda a vida e depois. Ali íamos afinal iguais, ambos de pés descalços, com as botas e as meias pela mão, trocando memórias e partilhando o riso. Passávamos em frente à Câmara e parámos - éramos, penso-o agora, uma procissão, os dois. Se naquele precioso instante soltassem revoadas de pombas brancas por sobre as nossas cabeças e lançassem estrondosas girândolas de foguetes, creio que não nos espantaríamos...
Escandalosamente generoso e bom, leal e presente, chamava-me "meu rico menino", e eu gostava. Eu gostava, meu rico menino!

P.S. - Já agora: Bob Dylan, aprendi-o com o Best noite dentro, em sua casa, no Lombo. Iniciei-me com "Hurricane" e sandes, e talvez também cerveja. Hoje é Dia Mundial do Rock, e cá estamos.

segunda-feira, 10 de julho de 2023

E o PS, aqui que ninguém nos ouve?...

Foto Hernâni Von Doellinger

Comida, carros e gajas

Nós, os do Norte, somos acusados de falarmos constantemente de comida. E não é justo! Na verdade, nós, os do Norte, somos tão capazes de manter conversas interessantes e profundas sobre gajas e carros como o resto dos portugueses. Para além disso, ninguém nos bate numa boa discussão sobre motorizadas...

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Pizza.

Mana a mana

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 9 de julho de 2023

Um dia de morrer a rir

Há dias que são mais de rir do que outros. Por exemplo, hoje é Dia Mundial pelo Desarmamento, e eu, espero que não me levem a mal, penso nas bombas de fragmentação que Joe Biden, presidente dos EUA, vai mandar para a Ucrânia, e estou aqui, com as mãos na barriga, a escangalhar-me às gargalhadas...

sábado, 8 de julho de 2023

Fafe, a las cinco de la tarde

Foto Juan Carlos Cardenas/Lusa

E quem cuidava que não, pois que se desengane: Fafe também foi aos touros. No Campo da Granja, em 1963, provavelmente por ocasião das Festas da Senhora de Antime, que é o mais certo, mas também poderá ter sido por alturas das Feiras Francas, lembro-me é que era um belo dia de sol e, agora que penso nisso com mais vagar, não faço a mínima ideia de como é possível lembrar-me. Uma tourada que terá sido a primeira realizada em terras de Fafe e que, se não me engano, foi igualmente a única, até hoje, com touros propriamente ditos. O redondel não era assim tão redondo como o nome poderia indicar à partida: digamos que foi construída, com robustos troncos de madeira, uma espécie de lua cheia fanada, cortada em linha recta na zona da bancada, que era para o excelentíssimo público poder estar em cima do acontecimento. As digníssimas autoridades locais e a nossa mais distinta burguesia, orgulhosamente alapadas na bancada de cimento com tecto de zinco, quero crer que com umas discretas almofadinhas aliviando os respectivos traseiros, e o povo a pé, no meio do campo da bola, encostado às tábuas, mas seria muito pouco, meio dúzia de gatos-pingados, se tanto, e eventualmente já razoavelmente decilitrados, porque os bilhetes, mesmo os bilhetes mais baratos, eram caros como o caralho. Foram certamente ao engano e, diga-se em sua defesa, o calor era realmente muito e a situação deveras incómoda e eventualmente perigosa. Se naquele tempo já havia praças de toiros desmontáveis e alugáveis, não foi daquela vez que uma delas chegou a Fafe.
A tourada, segundo me lembro, e confesso que continuo sem perceber como é que me lembro, foi uma merda. Compreendo portanto que a autarquia fafense vire as suas modernas prioridades para outras lides. Para as chegas de bois, para as largadas de perdizes, para as montarias ao javali, para as exposições e concursos de beleza canina ou columbófila, para as corridas de cavalo a passo travado e de salto alto, para as batidas à raposa, que é o que nos faz falta. Um destes dias ainda tornaremos, se Deus quiser, à nossa ancestral porém nunca desmentida caça aos gambozinos, com organização camarária, estacionamento gratuito, pequeno-almoço, almoço, merenda, jantar e tudo. Tenho uma fé muito grande nos nossos conspícuos guiadores e guiadoras, quem dera que não chova, e olé!

Por outro lado. A malta mais nova se calhar não faz ideia da revolução que é ter espectáculos à borla, como acontece hoje em dia, nomeadamente nas Festas da Cidade, e só tenho a elogiar a autarquia por isso. Antigamente, e naquele tempo a pobreza era modo de vida, regra geral, em Fafe pagava-se por tudo e por nada. Só faltava andarem os fiscais da Câmara a passar bilhete, no Largo e em Cima da Arcada, a quem fosse apanhado a olhar para o fogo-preso do Jardim do Calvário...

P.S. - "A las cinco de la tarde", agora assunto sério, é um dos mais conhecidos textos de Federico García Lorca. "La cogida y la muerte", assim se chama de origem o poema, no livro "Llanto por Ignacio Sánchez Mejías".

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Quando os Tonys eram de Matos

Foto Hernâni Von Doellinger

Sou de Fafe e sou dum tempo. Frequentei os campos de milho do Santo e do Sabugal, vindimei e pisei uvas, fui a desfolhadas e malhadas, andei em carros de bois e na carroça do Moniz Azeiteiro, fui à merda para selar o forno de cozer broa, ajudei a matar porco, arranquei batatas, depenei frangos, montei jericos, andei aos ninhos e aos pardais, guardei cabras no monte, tínhamos quintal, galinheiro e coelheira, meia dúzia de olhos de couves no tempo delas e um céu com estrelas. Fui uma vez ao mar, à pesca da faneca, e trouxe também cavalas e respeito. Eu e a natureza sabemo-nos. Quero campo, montes e rio, se possível com o Atlântico debaixo de olho. Sou um rústico e disto não saio. A cidade é-me modo de vida, mais nada.

Mas nem todos têm a minha sorte. Os lisboetas, por exemplo. Os lisboetas são uns infelizes, uns desgraçados, não sabem da vida, não sabem da terra, não sabem sequer de que terra são. Aqui atrasado, o Continente, esse, o dos supermercados, fazia de velho mestre-escola e, uma vez por ano, tomava conta dos lisboetas, assim ditos, e levava-os em gaiteira excursão de volta às suas raízes mais profundas. Às berças. Aos campos do Minho, de Trás-os-Montes, das Beiras, do Alentejo ou dos Algarves de onde eles partiram há duas ou três gerações, com a saca da merenda enfiada no cajado ao ombro, os pés descalços e as chancas nas mãos. Quer-se dizer: embora o ignorem, os lisboetas são tão parolos como os outros parolos todos à volta. Lisboa já não diferencia. Faz cada vez mais parte do resto que é paisagem neste país que não existe.

Naquele dia, os lisboetas, que são parolos mas não se lembram, aprendiam ou reaprendiam, por exemplo, que o leite não nasce em pacotes, que as galinhas estão vivas antes de estarem mortas (a senhora dona Lili Caneças saberá ainda explicar o fenómeno), que os ovos só podem ser produzidos com aquele feitio ou que o bife não é um animal, pelo menos um animal completo. E, com um bocadinho de sorte, até talvez pudessem descobrir o mais extraordinário segredo da vida, que é: a vaca não dá leite. Isso, a vaca não dá leite, ao contrário do que consta. A vaca não dá leite, não dá carne que serve para a nossa alimentação, não dá pele que serve para fazer sapatos nem dá chifres que servem para fazer pentes, como nos exigiam nas redacções da escola primária.  A vaca não dá nada, porque a vida não é de graça. É preciso ir lá, à vaca, e dar-se ao trabalho e tirar e tratar e transformar e fazer - é assim que o Lopes ensina os netos.
Mas então, o Continente oferecia aos lisboetas uma espécie de circo rural onde não faltavam as vacas e os cavalos, os patos e os gansos, as ovelhas e os porcos, as avestruzes e os burros. E enfartava-os com um megapiquenique a que o analfabetismo vigente não se cansava de chamar "Mega Pic Nic". Um arraial dos antigos para recriar, em plena Avenida da Liberdade e no Parque Eduardo VII, o "espírito do campo", o "ambiente de uma grande quinta", com o patriótico desiderato - acrescentava a propaganda do Continente - de "chamar a atenção dos portugueses para a importância do apoio à produção nacional". Pois se calhar.
E os lisboetas juntavam-se aos milhares, aos milhares de milhares, de boca aberta, entusiasmados até mais não com a novidade, fresquinha e ao vivo, das cores, dos sabores e dos aromas do campo, como se o campo fosse aquilo. Mas, sobretudo, os lisboetas do país inteiro, do país que não existe, iam ao cheiro do concerto do Tony Carreira. À borla. Tony Carreira apresentado aos lisboetas como "o melhor da música portuguesa".
Ora bem. Honra lhe seja, Tony Carreira, isto é, António Manuel Mateus Antunes, 59 anos, natural de Pampilhosa da Serra, é um profissionalão, provavelmente o melhor do seu ofício, mas não é "o melhor da música portuguesa". Entendamo-nos: por mais multidões que congregue, por mais corações que despedace, por mais sutiãs ou cuecas de senhora que lhe atirem ao palco, Tony Carreira é apenas um cantor romântico com imeeeeeenso sucesso. Mas a música portuguesa, desculpem-me a expressão, é outra coisa. E felizmente.

Depois o Continente trouxe o arraial para o Porto, para os lisboetas do Norte. O estardalhaço chama-se cá em cima Festival da Comida e continua a atafulhar o martirizado Parque da Cidade, aproveitando parte da parafernália montada para o já de si devastador Primavera Sound. E com Tony Carreira sempre!
Este ano, isto é, amanhã e domingo, é a quinta edição da coisa, e eu, fidelíssimo, mais uma vez não vou. Já disse. Sou de Fafe e doutro tempo. Do tempo em que os Tonys eram de Matos.

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Contra a ditadura do biquíni

Hoje é Dia Mundial do Biquíni. Nas cidades de Lisboa e Porto, milhares de nudistas prometem sair à rua em protesto.

Os dias da Senhora de Antime

Foto blogue Morgado de Fafe

Fafe vive por estes dias os seus dias mais extraordinários. É tempo de Senhora de Antime. São as Festas da Cidade, que já foram da Vila e do Concelho. Os da Câmara podem chamar-lhe o que quiserem, mas toda a gente sabe que é a Senhora de Antime. Toda a gente, quero eu dizer, os fafenses do rés-do-chão. O programa promete. Xutos & Pontapés, Karetus, Matias Damásio e D.A.M.A., anunciados como cabeças de cartaz. E há despique entre as nossas duas bandas de música, e folclore, e fado de Coimbra, nunca percebi porquê, e espero que muitos bombos, cabeçudos e gigantones, não sei se pilas, mas matrecos certamente, e até encerra com um desfile alegórico, que também a mim me parece uma boa ideia.
A Senhora de Antime, no entanto, é a procissão. E isto é tão básico, valha-me Deus! Há anos que o digo, a procissão é que é cabeça de cartaz das nossas festas, mas não adianta. Domingo é a Senhora de Antime, a Senhora de Antime é domingo, o nosso domingo mais fafense, o domingo mais esperado do ano. O dia único de ir "ver a Senhora". O domingo da procissão que me leva às lágrimas. Não tem nada a ver com fé ou religião, é sentimento, fafismo tão-somente, fafismo puro, e fafismo não se explica, vive-se, e nem é preciso ter nascido em Fafe. A procissão e o encontro das duas senhoras, das Dores e da Misericórdia, no Lombo. A sirene que toca à paragem dos pesados andores no cruzamento do Santo Velho, junto ao Palacete, o nosso sítio combinado, como se os Bombeiros antigos ainda ali estivessem ao pé. E a sirene não toca, é um pranto. As pombas atordoadas e os salamaleques e foguetes escusados à porta da Câmara. A procissão da Senhora de Antime, costumo ensinar a quem não sabe, é provavelmente a melhor procissão do mundo. É o povo que desce inteiro com as duas senhoras até à vila a que agora chamam cidade, não vejo com que vantagem. É uma procissão tremenda e comovente, multitudinária e única, uma procissão a sério - A Procissão -, como tenho a mania de explicar aqui aos meus vizinhos que ficam banzados com a meia dúzia de almas penadas e a dúzia e meia de cabeçudos autárquicos e outras autoridades civis, militares e religiosas, assim catalogadas, que todos os anos acompanham a imagem do Senhor de Matosinhos pelas ruas desta cidade que me acolhe, num deserto que só visto.
Dias extraordinários, dizia, e domingo da nossa procissão, o próximo. E na segunda-feira, se não for antes, lá estarão nos sítios do costume as fotografias e os vídeos dos da Câmara mailos que são sempre os mesmos, como se a Senhora de Antime fosse só deles e Fafe também.

Os anéis e as alianças...

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 4 de julho de 2023

O princípio de Pascal

O princípio de Pascal é o pê. Isto é, a letra pê. Mas pê de Paul, isto é, de Paul Victor Henri Pascal (1880-1968). O pê, como se sabe, é também o princípio de Peter, o princípio de Pareto e o princípio de Premack. Está provado. Já o princípio do outro Pascal, o da mecânica dos fluidos, é o bê. Isto é, a letra bê. Bê de Blaise. Blaise Pascal (1623-1662), o qual, por princípio, ficou com a fama.

P.S. - O físico, químico, matemático, mineralogista e metalurgista francês Paul Pascal nasceu no dia 4 de Julho de 1880.

O rádio de Madame Curie

O rádio, diz a Wikipédia, é um elemento químico de símbolo Ra, número atómico 88 e massa atómica 226, pertencendo à família dos metais alcalino-terrosos, grupo 2 ou IIA da classificação periódica dos elementos. À temperatura ambiente, o rádio encontra-se no estado sólido. É um metal altamente radioactivo encontrado em minerais de urânio como na pechblenda. As suas aplicações são derivadas do seu carácter radioactivo. Foi usado em medicina e depois substituído por radioisótopos mais eficientes. Foi descoberto por Marie Curie e seu marido Pierre, em 1898, na pechblenda/uranita. O rádio era um sucesso absoluto, até que apareceu a televisão, isto ainda antes da internet e das chamadas redes sociais. Mas cá se vai safando....

P.S. - Marie Skłodowska-Curie morreu no dia 4 de Julho de 1934, aos 66 anos. Foi a primeira mulher a ganhar o Prémio Nobel, sendo também a primeira pessoa e a única mulher a ganhá-lo duas vezes, além de ser a única pessoa a ser premiada em dois campos científicos diferentes, Física e Química.

domingo, 2 de julho de 2023

Ia-se ao tasco como quem vai à missa

Hoje é, se não me engano, Dia Nacional do Vinho. Parece impossível, mas eu tinha de tornar ao assunto. O vinho, como sabem os mais antigos, já deu de comer a um milhão de portugueses. Beber chegou a ser um honesto modo de vida, à falta de acesso a outros afazeres igualmente honrados. Hoje, esquecida a propaganda salazarista, o vinho só dá de beber e, suponho, a mais não é obrigado. Mas eu sou daquelas memórias...

Durante muito tempo eu cuidei que se chamavam assim por causa das vacas que ficavam cá fora presas pela soga às argolas da parede, ruminando uma pouca de palha ou erva, enquanto os donos enchiam a mula lá dentro. "Casa de Pasto - Bons Vinhos e Petiscos", dizia a tabuleta, geralmente de madeira, numa letra desenhada às três pancadas e desbotada pelo uso do olhar. Já lá vão tantos anos, mas juro que até hoje ainda não encontrei coisa mais linda de se ler. Nas décadas de sessenta, setenta e um cheirinho de oitenta do século passado, a vila de Fafe era o céu na terra para os devotos dos comes e bebes. Tascos, tabernas, casas de pasto, pensões e outros arraçados de restaurante, havia-os de vários feitios e para todos os gostos e bolsos, quase porta sim, porta não. O Escondidinho, o Alberto Coveiro, a Silvina Monteiro, na Rua Montenegro, o Sanica, o Marinho, o Guarda-Fios, o Vale D'Estêvão, o Manel Bigodes, da Granja, o Quinzinho e o Tanoeiro, ambos em Santo Ovídio, a Rapa e o Ferrador, os dois na Feira Velha, o Feira Velha, na Rua Visconde Moreira de Rei, o Jaime Biró, da Rua de Baixo, o Toninho da Ponte do Ranha, o Neca do Hotel, o Toninho Pires, o Zeca Batata, o Magalhães da Olímpia e o Matazana, só estes são mais do que as estações de uma via-sacra e havia quem entrasse para molhar a palavra em todos eles. Religiosamente.
Mais ou menos no meu raio de acção, centrado ali no Santo Velho, havia ainda o Peludo, o Zé Manco e o Paredes, mesmo ao pé da porta, o Chupiu, as pataniscas do Miranda, a Quiterinha, ou Texas, a Adega dos Vasinhos e as mãos de ouro da Juditinha, o vinho branco e bacalhau frito (há lá melhor mata-bicho!) no Lameiras da Rua de Baixo, o bolo com sardinhas da Brecha, a Dinâmica, o insubstituível Nacor, a Peninsular, o Zé da Menina, que também fazia sandes da famosa vitela e aviava umas quartilhadas avulsas fora do horário das refeições, a Esquiça, que ainda faz das tripas coração, a Adega Popular, ou Fernando da Sede, e o Manel do Campo, onde uma vez o meu querido tio Américo, que me iniciou nestas vidas, me levou a comer um arroz de ervilhas de quebrar com fanecas fritas que estava de se lhe cantar um Te Deum.
O Manel do Campo propriamente dito era um homem imenso, o homem mais gordo do mundo aos meus olhos de miúdo. Mas, de casa para o trabalho e do trabalho para casa, ia e vinha de bicicleta e suspensórios, naquela pedalada lenta e pesada que parece que estás aqui estás a malhar, cantando a plenos pulmões, numa voz grave porém afinada, o "Marina, Marina, Marina" do Rocco Granata. Quem se lembra, que levante o braço.

Os tascos e casas de pasto de Fafe eram lugares de culto e devoção. Templos, igrejas, capelas. Instituições de serviço público, monumentos de interesse nacional, património da humanidade. Ali praticava-se a fraternidade. Ali, do doutor ao sapateiro, como então se dizia, com os queixos numa caneca que passa de mão em mão, os homens (e as mulheres, que também as havia) eram todos iguais. O vinho unia-os. Eram irmãos. O coitado que levava a caneca ao fim, mandava vir a próxima...
Nenhum recém-chegado começava a beber sem antes erguer a caneca aos presentes:
- São servidos, meus senhores?
- Estamos no mesmo - respondiam, à volta.
Este cerimonial, creio, ainda se pratica.
O vinho, a qualidade do vinho, era a pedra-de-toque para o sucesso de uma casa de porta aberta. Um sucesso traidor, de ida e volta. Sabia-se que em certo sítio havia pipa nova, de pinga de estalo, um "assombre", e era a invasão. A pipa chegava às últimas e todos lhe viravam costas, mesmo antes de ela exalar o derradeiro suspiro. Os apreciadores procuravam novo poiso, onde a história de amor e traição se repetia.
Era inevitável. Claro que também se apanhavam umas cardinas. E de caixão à cova. Eu não vou dizer nomes, mas podem acreditar no seguinte: por causa das coisas, havia uns bebedores muito conhecidos e prevenidos que, consoante os casos, tinham burro, bicicleta e até motorizada de tal maneira amestrados que podiam ir para casa de olhos fechados. E iam. Os bichos, incluindo os de duas rodas, já sabiam o caminho...

Isto é a minha memória, a memória dos meus. E a minha homenagem sumária e porque sim. Os tascos da minha terra têm uma história e histórias que deviam ser contadas ao detalhe por quem as saiba procurar e contar, com o rigor e a graça que os ilustres nomes dos tasqueiros de antanho justificam e merecem. No meio de tanta treta que se edita, patrocina, apresenta e promove em Fafe, ora cá está um livrinho que até eu era capaz de ler. Enquanto espero, sentado, venha mais um quartilho para a mesa do canto, e era a continha, se faz favor...

(Se ainda vou a tempo, aqui que ninguém nos ouve nem vê: as quartas-feiras, as sextas-feiras, os sábados, os domingos, os 16 de Maio, a Senhora de Antime e até o Corpo de Deus eram épocas particulares de procissão e visita pastoral obrigatória pelos inumeráveis tascos de Fafe, como se fosse preciso pretexto. Havia quem tentasse batê-los a todos, mas não conseguia, soçobrando a meio, num desgosto que só visto. As bebedeiras eram mais que as mães e realmente de se lhes tirar o chapéu - mas faziam parte. Era assim naqueles dias especiais. Quanto às segundas, terças e quintas e outras festividades mais pataqueiras, também.)

sábado, 1 de julho de 2023

Aviso: a praia não é obrigatória!

Foto Hernâni Von Doellinger

A praia, é preciso que se note, não é obrigatória. Podem ser férias e não se ir à praia. Pode ser Verão e não se ir à praia. Pode ser sol e não se ir à praia. Pode ser calor e não se ir à praia. Pelo contrário: se for sol, se for calor, muito calor, o mais sensato será até ficar em casa ou procurar uma fresquinha no quintal mais próximo. Acreditem no que eu digo, há quarenta anos que moro à beira-praia e sei muito bem do que falo. E palavra de honra: não ir à praia não parece mal, não é crime e nem sequer falta de educação.

Digo isto porque hoje é 1 de Julho. E é sábado. Não percebo. O areal ali em baixo enche-se com milhares de pessoas que não têm dinheiro para alugar meia hora numa máquina de assar frangos, e portanto vêm para a praia. Atenção: eu gosto de praia, nem sequer me imagino agora a viver sem ter o mar debaixo de olho, e à praia passeio-a todas as manhãs, só eu e ela, de braço dado, as ondas a desmaiarem-me aos pés, o silêncio (aquela espécie de silêncio) a lavar-me a alma. Isto é - eu namoro a praia, mas não a "faço".
Os que "fazem praia" é que me espantam. Na fornada das duas da tarde, espreito da minha varanda e não há maneira de conseguir compreender o que vejo. O que está ali a fazer aquela multidão praticamente nua? Quem caralho teve a ideia de trazer crianças e velhos? Se ao menos houvesse a sombra de uma árvore, a frescura da erva verde, um regato cristalino e gelado onde demolhar os pés e meia dúzia de garrafas de vinho, ainda vá que não vá. Mas não, é só areia. Areia a escaldar e a voar, um sol a pique e impiedoso, o ar parado. Sua-se em bica, sufoca-se, leva-se com boladas no nariz e nos tomates, quem os tem, a pele derrete e dói, a cabeça estala, a areia cega, pica, mete-se nos dentes, incomoda o rego do cu. E aquela gente parece que gosta, guincha aparentemente de prazer. Chega mais uma ambulância também aos gritos, e eu desisto. Fujo da varanda e vou estender-me na cama, e só espero acordar lá pela fresca do próximo Inverno.

Campos de férias

Todos os meses de Julho de todos os anos, o aviso lá está bem visível à porta de entrada, para orientação de pessoal, clientes e público em geral: Campos de férias! E faz todo o sentido, porque a verdade é só uma - o Campos é a alma daquela empresa, passava-lhe tudo pelas mãos. Na sua ausência, o serviço ressente-se...

Há ir e voltar, porra!

Foto Hernâni Von Doellinger

Hoje é Dia Mundial do Salvamento. Portugal registou 27 mortes por afogamento só no primeiro trimestre deste ano. Na maioria dos casos, as vítimas tinham idades superiores a 45 anos.