sábado, 29 de julho de 2023

O Papa está bem acompanhado

A apresentadora Teresa Guilherme e a astróloga Maya "reforçam mega operação da CMTV para acompanhar visita do Papa Francisco a Portugal", anuncia o Correio da Manhã. Estou mais descansado. O Papa fica realmente em boas mãos.

Na gaveta

Foto Hernâni Von Doellinger

Bacalhau com natas

Gosto muito. Bacalhau com natas. Bacalhau recheado, da parte da asa, feito por quem sabe, isto é, por mim, conversado a par e passo com um verde branco honesto e fresco. E depois, antes do café por recomendação médica, uma natinha do Lidl, a 39 cêntimos cada, para escorropichar a garrafa. Foi o que eu disse. Bacalhau com natas.

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Sérgio Conceição, perigoso cadastrado

Foto Hernâni Von Doellinger

Sérgio Conceição, treinador da principal equipa de futebol do FC Porto, foi castigado com 30 dias de suspensão e mais de dez mil euros de multa por causa do seu "sorriso jocoso". O Senhor Conceição, é preciso que se note, é, a este respeito, um perigoso cadastrado. Ainda aqui atrasado foi expulso de um jogo derivado ao seu "olhar fulminante". Está tudo nos relatórios, e o Conselho de Disciplina da FPF não podia fechar os olhos. Ademais, 30 dias e dez mil euros é o que manda a lei, está na tabela, que contempla a existência de 19 tipos de sorriso, mas apenas seis considerados como sinal de felicidade e somente um avaliado como genuíno ou verdadeiro - o famoso sorriso de Duchenne, utilizado sobretudo no campeonato francês.
A nível de moldura penal, o uso do sorriso jocoso no futebol, com ou sem licença de porte, é, com efeito, o mais penalizado pelo nosso conspícuo Conselho de Disciplina, seguindo-se, em moderado decrescendo de punição, o sorriso de desprezo, o sorriso malicioso, o sorriso falso, o sorriso forçado, o sorriso mais ou menos, o sorriso triste, o sorriso de medo e assim sucessivamente, para terminar no sorriso coquete, que certos árbitros também não apreciam, vá-se lá saber porquê. A legislação é omissa quanto ao sorriso Pepsodent e ao sorriso da Mona Lisa. Dois sorrisos amarelos dão vermelho.

quinta-feira, 27 de julho de 2023

O concerto do Papa

Ando pelas ruas e bem ouço as queixas da juventude. A grande reclamação, de momento, tem a ver com o horário do concerto do Papa, no próximo dia 6 de Agosto, em Lisboa. Porque não é à noite, como todos os grandes concertos de todas as grandes bandas em todos os grandes festivais? Às nove da matina é que não lembraria ao Diabo, ainda por cima de directa, logo após a noitada de sábado. E também por causa do calor e do sol e assim, evidentemente...

terça-feira, 25 de julho de 2023

Por causa de uma ateima...

E aquela tradição tão fafense da ateima? Era. Em Fafe ateimava-se por tudo e por nada, sabia-se de tudo, discutia-se tudo, afirmava-se tudo, contrariava-se tudo, apostava-se em tudo e no seu oposto. Por nada, e por uma questão de princípio, mas às vezes também por dinheiro. Era mais um jogo, numa terra viciada nisso mesmo, no jogo. Um jogo como o Totobola e a Lotaria da Santa Casa da Misericórdia, o nosso jogo da ateima, como o bilhar e os flippers do Peludo ou o pilas do Serafim Lamelas ou a batota no Club e no Fernando da Sede, isto para não falar nos sorteios da itinerante associação de invisuais, ainda os invisuais não tinham vergonha de serem cegos, e nas rifas da Comissão de Auxílio. Futebol e política, Deus e o Diabo, vinhos e petiscos, carros, gajas e motorizadas, pré-congelados e piratas, caça e pesca, pistolas, espingardas e canhões de Navarone, gramática e escafandrismo, meteorologia e teoria da relatividade, grandes escritores e livros nunca lidos, países e bandeiras do mundo, chá de cidreira e actores de Hollywood, rácios bolsistas e festival da canção, bandas de música e ranchos folclóricos, a cor dos olhos de Brigitte Bardot e a cor de burro quando foge - era só escolher. Fosse qual fosse o tema, éramos teimosos, tínhamos opiniões, pontos de vista, prismas, ópticas, enfoques, perspectivas e até ângulos, cismas, birras e finca-pés, exageros de verde tinto e cerveja a copo que encorajavam certezas absolutas e desencontradas. E faltava dizer isto: a coisa passava-se realmente em tascos e cafés. Sobretudo.

Havia um extraordinário grupo de veteranos músicos da Banda de Revelhe que era particularmente dado à arte da ateimação. A cultura fafense deve-lhes muito, a essa meia dúzia de exímios ateimadores, mestres e guias de sucessivas gerações de jovens músicos da nossa terra, mas não é isso que aqui interessa. Estavam sempre naquilo, os velhos, nas ateimas. E uma vez que, também preguiçosos, não tinham vagar nem feitio para chegarem a vias de facto por forma a resolverem-se entre eles como adultos, precisavam amiúde de um juiz de fora, imparcial e sábio, que desempatasse as suas inumeráveis disputas, tolas e desnecessárias a maioria das vezes.
O Google ainda não tinha sido inventado, e portanto ligavam-me a mim, primeiro para o jornal e depois para o telemóvel, quando o telemóvel finalmente apareceu. Após a invenção do Google, ligavam-me na mesma, porque há coisas que eu sei e o Google não sabe. Ligavam-me, "Nane, por causa de uma ateima"...
Ligavam-me e o meu primeiro problema era perceber o que é que eles queriam. Do lado de lá havia facções, claques, vozes várias, interrupções, indisfarçáveis caralhadas. Eu já disse que aquilo passava-se principalmente em tascos e cafés, e acrescento que acontecia a certas e determinadas horas, horas cheias e bem bebidas. As palavras telefónicas dos meus estimados consulentes entaramelavam-se por norma e eu não raro também, porque quem sai aos seus a mais não é obrigado. Mas lá chegávamos. E então eu sentenciava, armado em parvo, resolvia a ateima, mas, que me lembre, por mais explicações que apresentasse, nunca consegui convencer a parte vencida, e tenho esse grande desgosto no meu currículo...

Fafe é uma terra de enormes tradições. E a ateima era uma bela tradição fafense. Não sei, porém, se ainda se pratica. Os velhos músicos deixaram de tocar na Banda de Revelhe e já não me ligam, estimo-lhes que ao menos continuem a beber. O Bertinho, meu rico menino, também já não me liga a perguntar, mas está desculpado. E eu para aqui, fafense exilado e imprestável, cheio de certezas para dar e vender, já que para mim há largos anos que não tenho nenhuma. E entretanto, em Fafe, as tradições multiplicam-se e medram, algumas tradições que não interessam a ninguém e até espantosas tradições inventadas ainda agora por uma autarquia que ostenta o gosto do croquete e a mania do novo-riquismo cultural. Sinceramente, espero e peço que a Câmara, e já nem falo em subsídio, pelo menos deite os olhos às nossas ateimas e não as deixe falecer...

Ó da guarda!

Foto Hernâni Von Doellinger

O que eu sei de Alberto Feijóo

Sobre o líder do PP espanhol, o galego Alberto Núñez Feijóo, vencedor derrotado das eleições do passado domingo no país vizinho, eu sei o seguinte: ele gosta muito da costelinha assada e do bacalhau na brasa da Casa Álvaro, em Valença, e come os dois pratos à mesma refeição. Bebe verde tinto, que traça eventualmente com uma seven up, e creio que assim fica tudo explicado. Não são de confiança os indivíduos que misturam vinho bom com seven up...

domingo, 23 de julho de 2023

Jesus, o melhor do mundo

Meditemos por momentos em Jesus. Fernando Nogueira, o famoso Bruxo de Fafe, confidente especial do jornalista Eugénio Queirós, actualmente aposentado e feliz, disse uma vez, em 2015, que o Benfica tinha naquela altura "o melhor treinador do mundo". E parecia bruxo o bruxo. Basta ver. Comparando com Jesus, quantos campeonatos ganharam até hoje treinadores como Buda, Maomé ou até o teutónico Lutero?

P.S. - Jorge Fernando Pinheiro de Jesus, aliás Jorge Jesus, ou Míster, como prefere, faz hoje 69 anos. E já vai em 28 títulos, se não estou em erro, entre campeonatos, taças, supertaças, copas, recopas, supercopas e torneios, para além de 16 prémios ou honrarias individuais. José Mourinho, por exemplo, tem mais de tudo, mas que é que isso intressa?...

Por outro lado

Foto Hernâni Von Doellinger

De pé, ó vítimas da fome!

- De pé, ó vítimas da fome! - gritou o speaker-cantor, enquanto aquecia a plateia para o grande candidato de esquerda que vinha um bocadinho atrasado. O pavilhão estava cheio mas ninguém se levantou. Era uma fraqueza muito grande...

P.S. - "A Internacional" terá sido cantada pela primeira vez em público no dia 23 de Julho de 1888, numa reunião de vendedores de jornais na cidade francesa de Lille.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Era fresca e doce!...

No Verão da minha terra, no Verão antigo, umas abençoadas senhoras andavam pela caloraça das feiras e romarias vendendo copos de água de mina adoçada com açúcar amarelo e um remoto gosto a limão. Não era limonada, atenção, era exactamente o que eu digo: água fresca com duas ou três colheres de açúcar e talvez uma casca ou rodela de limão. E não havia gelo. Na vila, às quartas-feiras, dia de mercado semanal, pelos 16 de Maio ou pela Senhora de Antime, a "mina" era a bica da poça do Santo, que ficava ali à beira e era só comodidade. Em cima da cabeça, as despachadas senhoras, equilibristas que remédio, levavam uma rodilha e por cima da rodilha, consoante o uso dos sítios, uma bilha de barro ou um cântaro de lata revestido a cortiça, para conservar a frescura natural. Anunciavam "Fresca e doce!", a água, e desatavam a fugir, de socos na mão e pés descalços, mal se precatavam da presença, ainda que distante e distraída, do perigosíssimo fiscal da Câmara. E o povo, coitadinho, morria ali à sede. Ou então metia-se no vinho...
Fafe era assim. Eu, que nunca provei pirolito, por falta de coragem para assaltar o Banco, e só sabia dos gelados nas mãos dos outros, bebi uma ou duas vezes um daqueles copinhos, evidentemente mais em conta e decerto prenda extraordinária já não sei de quem nem porquê. E quereis saber? Era realmente fresca e doce, a água, como dizia a publicidade, e, palavra de honra, soube-me pela vida!

Limite de velocidade para peões

Foto Hernâni Von Doellinger

Eu evidentemente abrandei. Sou um peão encartado, respeitador, consciencioso e defensivo. Não ando aí pelos passeios armado em fângio, como certos e determinados...

quarta-feira, 19 de julho de 2023

O pirulito e o pirolito

Hoje é Dia do Pirulito. Pelo menos no Brasil. No lado de lá, pirulito é uma guloseima feita de rebuçado ou chocolate enfiada num palito e que se come chupando ou lambendo. Isto é, corresponde, no lado de cá, ao nosso chupa ou chupa-chupa. No brasileirês corrente, a palavra pirulito serve também para identificar uma pessoa muito magra, o chamado pau de virar tripas, ou o órgão sexual masculino, especialmente de criança, igualmente dito bilola, bilunga, bimba, bimbinha, pimba e pimbinha. Já pirolito era um refrigerante gasoso muito popular antigamente, e de que os da minha idade ainda se lembram, embora eu nunca tenha provado, por défice orçamental, significando, além disso, nome de um estribilho, pessoa muito pequena ou gole de água bebido sem querer, quando se está, por exemplo, a nadar.
Resumindo e concluindo, hoje é Dia do Pirulito. Festejemo-lo, pois!

Índios da minha praia

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 18 de julho de 2023

O fafense João Ubaldo Ribeiro, talvez

João Ubaldo Ribeiro morreu no dia 18 de Julho de 2014, aos 73 anos. Nasceu na Baía, mas optou-se carioca. Autor de "Sargento Getúlio", "Viva o Povo Brasileiro", "O Sorriso do Lagarto" e "A Casa dos Budas Ditosos", entre outros tantos títulos igualmente notáveis, venceu o Prémio Camões 2008. O seu avô paterno era natural de Fafe, e Ubaldo considerava-se dos nossos. É, para todos os efeitos, um fafense excelentíssimo. "[Fafe] é efectivamente minha terra, pois terra dos meus ancestrais paternos, [uma terra] da qual, de certa forma, nunca saí", afirmou um dia o famoso escritor brasileiro. E eu, à pala, enchi-me de orgulho, esbordei de vaidade.
A esse respeito. Em 2008, no foguetório pós-Prémio Camões, a Câmara de Fafe, então presidida por José Ribeiro, prometeu "futuramente" uma rua ao nome de João Ubaldo Ribeiro e ao próprio, que teve a amabilidade de agradecer antecipadamente o rapapé a haver. Sinceramente, não sei se a autarquia fafense já cumpriu a promessa, passados apenas estes quinze anos, e nove anos após a morte de Ubaldo, hoje cumpridos. Isto é, eu procurei a rua e não a encontrei. Procurei rua, avenida, praça, praceta, alameda, travessa, viela, bairro, urbanização, rotunda, campo, jardim e até sala e auditório, mas nada! Melhor dizendo, encontrei realmente a Rua João Ubaldo Ribeiro, mas em Aracaju, no Brasil, que não me dá jeito nenhum. Estarei a procurar mal? Alguém me pode ajudar?
E entretanto aqui deixo este mimo do nosso João Ubaldo Ribeiro, tirado com todo o respeito de "Viva o Povo Brasileiro":

Quando os padres chegaram, declarou-se grande surto de milagres, portentos e ressurreições. Construíram a capela, fizeram a consagração e, no dia seguinte, o chão se abriu para engolir, um por um, todos os que consideraram aquela edificação uma atividade absurda e se recusaram a trabalhar nela. Levantaram as imagens nos altares e por muito tempo ninguém mais morria definitivamente, inclusive os velhos cansados e interessados em se finar logo de uma vez, até que todos começaram a protestar e já ninguém no Reino prestava atenção às cartas e crônicas em que os padres narravam os prodígios operados e testemunhados.
Deitava-se um velho morto ao pé da imagem e, depois de ela suar, sangrar ou demonstrar esforço igualmente estrênuo, o defunto, para grande aborrecimento seu e da família, principiava por ficar inquieto e terminava por voltar para casa vivo outra vez, muitíssimo desapontado. Assim, não se pode alegar que os padres só obtiveram êxitos, mas conseguiram bastante de útil e proveitoso, apesar de tudo isso haver piorado os sofrimentos da cabeça do caboco Capiroba.
De manhã, assim que o sol raiava, punham as mulheres em fila para que fossem à doutrina. Depois da doutrina das mulheres, que então eram arrebanhadas para aprender a tecer e fiar para fazer os panos com que agora enrolavam os corpos, seguia-se a doutrina dos homens, sabendo-se que mulheres e homens precisam de doutrinas diferentes. Na doutrina da manhã, contavam-se histórias loucas, envolvendo pessoas mortas de nomes exóticos.

Quem foi que chamou a polícia?

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 17 de julho de 2023

António Costa cala os críticos

António Costa faz hoje anos, se não estou em erro. Parece que 62, se as contas, pelo menos estas, estão certas. E o primeiro-ministro faz mesmo questão de fazer anos, até para atirar à cara de todos os que dizem - no comentário, na oposição, no café, na cave do PS e em Belém - que ele não faz nada...

sábado, 15 de julho de 2023

O empresário Hernâni, que é dele?

O empresário Hernâni Vaz Antunes, considerado braço direito do empresário Armando Pereira, patrão da Altice, ambos envolvidos, mais outros e outras, em alegadas trafulhices financeiras avaliadas em mais de cem milhões de euros, é procurado pelas polícias. Os advogados do empresário Hernâni Vaz Antunes informaram hoje a agência Lusa de que o seu freguês não está fugido nem em parte incerta, ao contrário do que consta. Os senhores doutores fazem notar, até, que já avisaram as autoridades de que o empresário Hernâni Vaz Antunes está disponível "para ser ouvido, onde e quando determinado". E está certo, assunto resolvido. Entretanto, a esta hora, o empresário Hernâni Vaz Antunes continua em parte incerta e, que se saiba, fugido.

sexta-feira, 14 de julho de 2023

quinta-feira, 13 de julho de 2023

O rock e o amigo

Foto Facebook Joe Biafra

Uma noite, altas horas, saíamos da casa de má fama ali para os lados da Estação e resolvemos passear descalços pelas ruas desertas e geladas da cidade. Não sei de quem foi a peregrina ideia, mas, de tão tola, decerto foi minha. Confesso que não me lembro do que pretendíamos exactamente provar, mas gosto de pensar naquele momento insólito como um ritual de fraternidade, a celebração de uma amizade antiga e inoxidável que nos ligava desde miúdos, apesar da evidente diferença de "estatuto social" entre as nossas duas famílias. Frequentara-lhe a casa - "de rico". Dava-me o lanche, apresentou-me ao pão com manteiga e ao café com leite. Guiou-me pelos caminhos do rock. Ensinou-me os Queen, apesar das reservas. Emprestou-me "A Night at the Opera". Eu e a minha mãe deliciávamo-nos a ouvir "Bohemian Rhapsody" uma e outra vez, mais de vinte ou trinta vezes ao dia, no pequeno gira-discos francês que nos sobrara do meu pai. E ficou Queen até hoje, posto que non troppo.
Ali íamos, portanto. O Bertinho e eu. E, sim, era realmente liturgia, era festa. Glorificávamos a camaradagem desinteresseira e fiel. Éramos irmãos. Irmãos para toda a vida e depois. Ali íamos afinal iguais, ambos de pés descalços, com as botas e as meias pela mão, trocando memórias e partilhando o riso. Passávamos em frente à Câmara e parámos - éramos, penso-o agora, uma procissão, os dois. Se naquele precioso instante soltassem revoadas de pombas brancas por sobre as nossas cabeças e lançassem estrondosas girândolas de foguetes, creio que não nos espantaríamos...
Escandalosamente generoso e bom, leal e presente, chamava-me "meu rico menino", e eu gostava. Eu gostava, meu rico menino!

P.S. - Já agora: Bob Dylan, aprendi-o com o Best noite dentro, em sua casa, no Lombo. Iniciei-me com "Hurricane" e sandes, e talvez também cerveja. Hoje é Dia Mundial do Rock, e cá estamos.

segunda-feira, 10 de julho de 2023

E o PS, aqui que ninguém nos ouve?...

Foto Hernâni Von Doellinger

Comida, carros e gajas

Nós, os do Norte, somos acusados de falarmos constantemente de comida. E não é justo! Na verdade, nós, os do Norte, somos tão capazes de manter conversas interessantes e profundas sobre gajas e carros como o resto dos portugueses. Para além disso, ninguém nos bate numa boa discussão sobre motorizadas...

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Pizza.

domingo, 9 de julho de 2023

Mana a mana

Foto Hernâni Von Doellinger

Um dia de morrer a rir

Há dias que são mais de rir do que outros. Por exemplo, hoje é Dia Mundial pelo Desarmamento, e eu, espero que não me levem a mal, penso nas bombas de fragmentação que Joe Biden, presidente dos EUA, vai mandar para a Ucrânia, e estou aqui, com as mãos na barriga, a escangalhar-me às gargalhadas...

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Fafe, a las cinco de la tarde

Foto Juan Carlos Cardenas/Lusa

E quem cuidava que não, pois que se desengane: Fafe também foi aos touros. No Campo da Granja, em 1963, provavelmente por ocasião das Festas da Senhora de Antime, que é o mais certo, mas também poderá ter sido por alturas das Feiras Francas, lembro-me é que era um belo dia de sol e, agora que penso nisso com mais vagar, não faço a mínima ideia de como é possível lembrar-me. Uma tourada que terá sido a primeira realizada em terras de Fafe e que, se não me engano, foi igualmente a única, até hoje, com touros propriamente ditos. O redondel não era assim tão redondo como o nome poderia indicar à partida: digamos que foi construída, com robustos troncos de madeira, uma espécie de lua cheia fanada, cortada em linha recta na zona da bancada, que era para o excelentíssimo público poder estar em cima do acontecimento. As digníssimas autoridades locais e a nossa mais distinta burguesia, orgulhosamente alapadas na bancada de cimento com tecto de zinco, quero crer que com umas discretas almofadinhas aliviando os respectivos traseiros, e o povo a pé, no meio do campo da bola, encostado às tábuas, mas seria muito pouco, meio dúzia de gatos-pingados, se tanto, e eventualmente já razoavelmente decilitrados, porque os bilhetes, mesmo os bilhetes mais baratos, eram caros como o caralho. Foram certamente ao engano e, diga-se em sua defesa, o calor era realmente muito e a situação deveras incómoda e eventualmente perigosa. Se naquele tempo já havia praças de toiros desmontáveis e alugáveis, não foi daquela vez que uma delas chegou a Fafe.
A tourada, segundo me lembro, e confesso que continuo sem perceber como é que me lembro, foi uma merda. Compreendo portanto que a autarquia fafense vire as suas modernas prioridades para outras lides. Para as chegas de bois, para as largadas de perdizes, para as montarias ao javali, para as exposições e concursos de beleza canina ou columbófila, para as corridas de cavalo a passo travado e de salto alto, para as batidas à raposa, que é o que nos faz falta. Um destes dias ainda tornaremos, se Deus quiser, à nossa ancestral porém nunca desmentida caça aos gambozinos, com organização camarária, estacionamento gratuito, pequeno-almoço, almoço, merenda, jantar e tudo. Tenho uma fé muito grande nos nossos conspícuos guiadores e guiadoras, quem dera que não chova, e olé!

Por outro lado. A malta mais nova se calhar não faz ideia da revolução que é ter espectáculos à borla, como acontece hoje em dia, nomeadamente nas Festas da Cidade, e só tenho a elogiar a autarquia por isso. Antigamente, e naquele tempo a pobreza era modo de vida, regra geral, em Fafe pagava-se por tudo e por nada. Só faltava andarem os fiscais da Câmara a passar bilhete, no Largo e em Cima da Arcada, a quem fosse apanhado a olhar para o fogo-preso do Jardim do Calvário...

P.S. - "A las cinco de la tarde", agora assunto sério, é um dos mais conhecidos textos de Federico García Lorca. "La cogida y la muerte", assim se chama de origem o poema, no livro "Llanto por Ignacio Sánchez Mejías".

terça-feira, 4 de julho de 2023

Os anéis e as alianças...

Foto Hernâni Von Doellinger

O princípio de Pascal

O princípio de Pascal é o pê. Isto é, a letra pê. Mas pê de Paul, isto é, de Paul Victor Henri Pascal (1880-1968). O pê, como se sabe, é também o princípio de Peter, o princípio de Pareto e o princípio de Premack. Está provado. Já o princípio do outro Pascal, o da mecânica dos fluidos, é o bê. Isto é, a letra bê. Bê de Blaise. Blaise Pascal (1623-1662), o qual, por princípio, ficou com a fama.

P.S. - O físico, químico, matemático, mineralogista e metalurgista francês Paul Pascal nasceu no dia 4 de Julho de 1880.

domingo, 2 de julho de 2023

Ia-se ao tasco como quem vai à missa

Hoje é, se não me engano, Dia Nacional do Vinho. Parece impossível, mas eu tinha de tornar ao assunto. O vinho, como sabem os mais antigos, já deu de comer a um milhão de portugueses. Beber chegou a ser um honesto modo de vida, à falta de acesso a outros afazeres igualmente honrados. Hoje, esquecida a propaganda salazarista, o vinho só dá de beber e, suponho, a mais não é obrigado. Mas eu sou daquelas memórias...

Durante muito tempo eu cuidei que se chamavam assim por causa das vacas que ficavam cá fora presas pela soga às argolas da parede, ruminando uma pouca de palha ou erva, enquanto os donos enchiam a mula lá dentro. "Casa de Pasto - Bons Vinhos e Petiscos", dizia a tabuleta, geralmente de madeira, numa letra desenhada às três pancadas e desbotada pelo uso do olhar. Já lá vão tantos anos, mas juro que até hoje ainda não encontrei coisa mais linda de se ler. Nas décadas de sessenta, setenta e um cheirinho de oitenta do século passado, a vila de Fafe era o céu na terra para os devotos dos comes e bebes. Tascos, tabernas, casas de pasto, pensões e outros arraçados de restaurante, havia-os de vários feitios e para todos os gostos e bolsos, quase porta sim, porta não. O Escondidinho, o Alberto Coveiro, a Silvina Monteiro, na Rua Montenegro, o Sanica, o Marinho, o Guarda-Fios, o Vale D'Estêvão, o Manel Bigodes, da Granja, o Quinzinho e o Tanoeiro, ambos em Santo Ovídio, a Rapa e o Ferrador, os dois na Feira Velha, o Feira Velha, na Rua Visconde Moreira de Rei, o Jaime Biró, da Rua de Baixo, o Toninho da Ponte do Ranha, o Neca do Hotel, o Toninho Pires, o Zeca Batata, o Magalhães da Olímpia e o Matazana, só estes são mais do que as estações de uma via-sacra e havia quem entrasse para molhar a palavra em todos eles. Religiosamente.
Mais ou menos no meu raio de acção, centrado ali no Santo Velho, havia ainda o Peludo, o Zé Manco e o Paredes, mesmo ao pé da porta, o Chupiu, as pataniscas do Miranda, a Quiterinha, ou Texas, a Adega dos Vasinhos e as mãos de ouro da Juditinha, o vinho branco e bacalhau frito (há lá melhor mata-bicho!) no Lameiras da Rua de Baixo, o bolo com sardinhas da Brecha, a Dinâmica, o insubstituível Nacor, a Peninsular, o Zé da Menina, que também fazia sandes da famosa vitela e aviava umas quartilhadas avulsas fora do horário das refeições, a Esquiça, que ainda faz das tripas coração, a Adega Popular, ou Fernando da Sede, e o Manel do Campo, onde uma vez o meu querido tio Américo, que me iniciou nestas vidas, me levou a comer um arroz de ervilhas de quebrar com fanecas fritas que estava de se lhe cantar um Te Deum.
O Manel do Campo propriamente dito era um homem imenso, o homem mais gordo do mundo aos meus olhos de miúdo. Mas, de casa para o trabalho e do trabalho para casa, ia e vinha de bicicleta e suspensórios, naquela pedalada lenta e pesada que parece que estás aqui estás a malhar, cantando a plenos pulmões, numa voz grave porém afinada, o "Marina, Marina, Marina" do Rocco Granata. Quem se lembra, que levante o braço.

Os tascos e casas de pasto de Fafe eram lugares de culto e devoção. Templos, igrejas, capelas. Instituições de serviço público, monumentos de interesse nacional, património da humanidade. Ali praticava-se a fraternidade. Ali, do doutor ao sapateiro, como então se dizia, com os queixos numa caneca que passa de mão em mão, os homens (e as mulheres, que também as havia) eram todos iguais. O vinho unia-os. Eram irmãos. O coitado que levava a caneca ao fim, mandava vir a próxima...
Nenhum recém-chegado começava a beber sem antes erguer a caneca aos presentes:
- São servidos, meus senhores?
- Estamos no mesmo - respondiam, à volta.
Este cerimonial, creio, ainda se pratica.
O vinho, a qualidade do vinho, era a pedra-de-toque para o sucesso de uma casa de porta aberta. Um sucesso traidor, de ida e volta. Sabia-se que em certo sítio havia pipa nova, de pinga de estalo, um "assombre", e era a invasão. A pipa chegava às últimas e todos lhe viravam costas, mesmo antes de ela exalar o derradeiro suspiro. Os apreciadores procuravam novo poiso, onde a história de amor e traição se repetia.
Era inevitável. Claro que também se apanhavam umas cardinas. E de caixão à cova. Eu não vou dizer nomes, mas podem acreditar no seguinte: por causa das coisas, havia uns bebedores muito conhecidos e prevenidos que, consoante os casos, tinham burro, bicicleta e até motorizada de tal maneira amestrados que podiam ir para casa de olhos fechados. E iam. Os bichos, incluindo os de duas rodas, já sabiam o caminho...

Isto é a minha memória, a memória dos meus. E a minha homenagem sumária e porque sim. Os tascos da minha terra têm uma história e histórias que deviam ser contadas ao detalhe por quem as saiba procurar e contar, com o rigor e a graça que os ilustres nomes dos tasqueiros de antanho justificam e merecem. No meio de tanta treta que se edita, patrocina, apresenta e promove em Fafe, ora cá está um livrinho que até eu era capaz de ler. Enquanto espero, sentado, venha mais um quartilho para a mesa do canto, e era a continha, se faz favor...

(Se ainda vou a tempo, aqui que ninguém nos ouve nem vê: as quartas-feiras, as sextas-feiras, os sábados, os domingos, os 16 de Maio, a Senhora de Antime e até o Corpo de Deus eram épocas particulares de procissão e visita pastoral obrigatória pelos inumeráveis tascos de Fafe, como se fosse preciso pretexto. Havia quem tentasse batê-los a todos, mas não conseguia, soçobrando a meio, num desgosto que só visto. As bebedeiras eram mais que as mães e realmente de se lhes tirar o chapéu - mas faziam parte. Era assim naqueles dias especiais. Quanto às segundas, terças e quintas e outras festividades mais pataqueiras, também.)