sábado, 1 de julho de 2023

Aviso: a praia não é obrigatória!

Foto Hernâni Von Doellinger

A praia, é preciso que se note, não é obrigatória. Podem ser férias e não se ir à praia. Pode ser Verão e não se ir à praia. Pode ser sol e não se ir à praia. Pode ser calor e não se ir à praia. Pelo contrário: se for sol, se for calor, muito calor, o mais sensato será até ficar em casa ou procurar uma fresquinha no quintal mais próximo. Acreditem no que eu digo, há quarenta anos que moro à beira-praia e sei muito bem do que falo. E palavra de honra: não ir à praia não parece mal, não é crime e nem sequer falta de educação.

Digo isto porque hoje é 1 de Julho. E é sábado. Não percebo. O areal ali em baixo enche-se com milhares de pessoas que não têm dinheiro para alugar meia hora numa máquina de assar frangos, e portanto vêm para a praia. Atenção: eu gosto de praia, nem sequer me imagino agora a viver sem ter o mar debaixo de olho, e à praia passeio-a todas as manhãs, só eu e ela, de braço dado, as ondas a desmaiarem-me aos pés, o silêncio (aquela espécie de silêncio) a lavar-me a alma. Isto é - eu namoro a praia, mas não a "faço".
Os que "fazem praia" é que me espantam. Na fornada das duas da tarde, espreito da minha varanda e não há maneira de conseguir compreender o que vejo. O que está ali a fazer aquela multidão praticamente nua? Quem caralho teve a ideia de trazer crianças e velhos? Se ao menos houvesse a sombra de uma árvore, a frescura da erva verde, um regato cristalino e gelado onde demolhar os pés e meia dúzia de garrafas de vinho, ainda vá que não vá. Mas não, é só areia. Areia a escaldar e a voar, um sol a pique e impiedoso, o ar parado. Sua-se em bica, sufoca-se, leva-se com boladas no nariz e nos tomates, quem os tem, a pele derrete e dói, a cabeça estala, a areia cega, pica, mete-se nos dentes, incomoda o rego do cu. E aquela gente parece que gosta, guincha aparentemente de prazer. Chega mais uma ambulância também aos gritos, e eu desisto. Fujo da varanda e vou estender-me na cama, e só espero acordar lá pela fresca do próximo Inverno.

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