segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Lugares-comuns 257

                                                                                                           Foto Hernâni Von Doellinger

Guilherme de Azevedo 2

Eu quisera depois das lutas acabadas,
na paz dos vegetais adormecer um dia
e nunca mais volver da santa letargia,
meu corpo dando em pasto às plantas delicadas.

 
Seria belo ouvir nas moutas perfumadas,
enquanto a mesma seiva em mim também corria,
as sãs vegetações, em íntima harmonia,
aos troncos enlaçando as lívidas ossadas!

 
Ó beleza fatal que há tanto tempo gabo:
se eu volvesse depois feito em jasmins-do-cabo
- gentil metamorfose em que nesta hora penso; -

 
Tu, felina mulher com garras de veludo,
havias de trazer meu espírito, contudo,
envolto muita vez nas dobras do teu lenço!


"A Alma Nova", Guilherme de Azevedo 

(Guilherme de Azevedo nasceu no dia 30 de Novembro de 1839. Morreu em 1882.)

domingo, 29 de novembro de 2015

O olhar de compromisso de Gérald Bloncourt


Próxima sexta-feira, dia 4 de Dezembro, pelas 21h30, na Biblioteca Municipal de Fafe: lançamento do livro "Gérald Bloncourt - O Olhar de Compromisso com os Filhos dos Grandes Descobridores", obra bilingue (português e francês) organizada por Daniel Bastos, com tradução de Paulo Teixeira, prefácio de Eduardo Lourenço e posfácio de Maria da Conceição Tina. Apresentação a cargo de Maria Beatriz Rocha-Trindade.
Fotógrafo, pintor e poeta, Gérald Bloncourt nasceu no Haiti, em 1926. Pelos finais da década de 1940 instalou-se em Paris, onde iniciou carreira de fotojornalista. Retratou a história da nossa emigração para França nos anos 60 e 70 do século passado, quando os portugueses se atulhavam nos bidonvilles (bairros de lata), nas traseiras sombrias da cidade-luz.

A Quinta da TVI

Andava convencidíssimo de que A Quinta seria um programa de informação da TVI, tipo debate, comentário ou entrevista, transmitido à quinta-feira na ex-televisão da Igreja. Ontem explicaram-me que não, que o programa é outra coisa. Uma coisa. Sou mesmo um nabo.

                                                                                        Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 28 de novembro de 2015

Antero de Figueiredo 2

Chamo-me Ernesto, sou escritor e dobrei o cabo dos cinquenta. Há chapadas de cal nos meus parietais; rareiam-me os cabelos na fronte alta e escanteada; vincaram-se-me as rugas: - na testa, porque muito pensei; aos cantos da boca, porque muito sofri. A incandescência do meu olhar de pecado, ambição e audácia é hoje substituída, a maior parte das vezes, pela luz plácida da bonomia complacente, se não pela da piedade pelos outros e por mim... Essas mãos frenéticas que corriam pelo papel fora, à desfilada, sem parar nem emendar, aprenderam, contendo-se, a compor reflectidamente, com medida, precisão e propriedade; e, mais e melhor, religiosas, - a edificarem-se num gesto bento que desconheciam: erguerem-se a Deus para rezar.
Em tudo fui precoce: aos 19 anos, já tinha dois romances publicados! Esses livros eram relâmpagos da minha fantasia, explosões do meu temperamento de pólvora, incêndios da minha sensualidade nua e bruta, sem sombra de resguardo, sem rebuço de moralidade. Então, a Vida era para mim a vida instintiva dos meus sentidos desbocados: o sol ardia-me nas pupilas, estranha brasa me escaldava a boca voraz, o meu hausto sibilante sugava com avidez os perfumes do jardim da existência. Entendia eu que a mocidade tinha todos os direitos, todos. Deus era apenas o directo senhorio de uma propriedade - a minha alma - que eu devia usufruir exaustivamente. O meu dever de moço era um só: ser moço, isto é, gozar tudo que a vida contém e me ofeceria. E a vida gritava em volta de mim e eu gritava à vida! Meus desejos miavam como felinos, mugiam como toiros, rugiam como leões nas selvas. Uma única potência vital: o Desejo. Um único movimento: a avançada frenética para o ídolo - Mulher. Electrizado pela volúpia emanada de tudo que luz, ri e canta, no meu pequeno corpo de vime, a vibrar, a torcer-se, a contorcionar-se, ante o espectáculo desvairante da beleza feminina, os meus desejos eram bocas de vampiro, eram furiosas labaredas de línguas es carlates e bifarpadas que galopavam cúpidas e doidas. A alegria lúbrica estralejava nos meus risos de inferno; era uma prece pagã a minha súplica à carne; um hosana ímpio o meu credo e o meu hino furioso à beleza das linhas e da modelação de um maravilhoso corpo de mulher ardente.
E o meu coração indefeso andou só pelo mundo na vid'airada da tontaria humana!

"O Último Olhar de Jesus", Antero de Figueiredo

(Antero de Figueiredo nasceu no dia 28 de Novembro de 1866. Morreu em 1953.)

Lugares-comuns 256

                                                                                                                            Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Simplesmente João

Se há um consenso nacional é este: de presidente da câmara para cima, os nossos políticos são todos doutores. Doutores ou engenheiros, mas doutor engloba tudo, porque dá muito mais jeito e outro sainete. E como gostam eles de ser doutores, mesmo que não sejam. E como gostam eles que lhes chamem doutores, e nunca se desmancham. E como gostam eles de se tratarem uns aos outros por "ó doutor", naquele mundo que é só deles e de onde não conseguem sair. E, ipso facto, o primeiro nome deles fica a ser Doutor, não há volta a dar.
Mas conheci um que destoava, e apenas um. Uma honrosa excepção, de que hoje me lembrei, nem sei bem porquê. Para que conste, chama-se João Soares, tem 62 anos, é ex-eurodeputado, ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, ex-candidato à liderança do PS contra José Sócrates, deputado à Assembleia da República e presidente da Assembleia Parlamentar da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
Às vezes, por dever de ofício, tive de lidar com a fauna política. E quando contactei João Soares com o, achava eu, indispensável "senhor doutor" na ponta da língua, levei logo para tabaco (se não me engano, o assunto até era mesmo esse, tabaco). "Não me chame doutor, eu não sou doutor", interrompeu-me ele, para princípio de conversa. Fiquei à rasca. - Ó diabo, já fiz merda. O gajo será engenheiro? Professor doutor? Professor doutor arquitecto? - pensei. E disse: - Mas se não lhe chamo doutor, então como é que eu o trato, senhor doutor?
A resposta que então recebi, e que me serviu de emenda daí para a frente, foi exactamente esta: - João. Trate-me por João. É o meu nome.

(Escrevi e publiquei este texto no dia 1 de Fevereiro de 2012. O João agora é ministro.)

Soares dos Passos 3

 Desejo

Oh! quem nos teus braços pudera ditoso
No mundo viver,
Do mundo esquecido no lânguido gozo
D'infindo prazer.

Sentir os teus olhos serenos, em calma,
Falando d'além,
D'além! duma vida que sonha minha alma,
Que a terra não tem.

Eu dera este mundo, com tudo o que encerra
Por tal galardão:
Tesouros, e glórias, os tronos da terra,
Que valem, que são?

A sede que eu tenho não morre apagada
Com tal aridez:
Pudesse eu ganhá-los, e iria seu nada
Depor a teus pés.

E só desejando mais doce vitória,
Dizer-te: eis aqui
Meu ceptro e ciência, tesouros e glória:
Ganhei-os por ti.

A vida, essa mesma daria contente,
Sem pena, sem dor,
Se um dia embalasses, um dia somente,
Meu sonho d'amor.

Isenta do laço que ao mundo nos prende,
A vida que vale?
A vida é só vida se o amor nela acende
Seu doce fanal.

Aos mundos que eu sonho pudesse eu contigo,
Voando, subir;
Depois que importava? depois no jazigo
Sorrira ao cair.


Soares dos Passos 

(Soares dos Passos nasceu no dia 27 de Novembro de 1826. Morreu em 1860.)

Lugares-comuns 255

                                                                                       Foto Hernâni Von Doellinger

Adonias Filho 2

Comera fartamente, a corcunda deformando o dorso. Depois, sentando-se, acendeu o cachimbo. Disse, a voz pairando no ar como uma lástima: "Eu não posso sair, ficarei aqui durante muitos anos." Calou-se, sacudindo a cabeça como um tonteado, embuçado no solilóquio que se revelava pelo cochicho dos lábios. Paulino Duarte, alegre por encontrar alguém que lhe fizesse companhia, ouvindo o latejar das próprias têmporas, julgou fosse ele um pouco doido. Perguntou-lhe: "Mas, como foi isso? De onde vem seu conhecimento com meu pai? Por que Juca Pinheiro nunca me falou nisso?" Ele interrompeu: "Espere, espere, eu conto." E, já na sala, trajando uma roupa enxuta que Paulino Duarte lhe emprestara, a luz empalidecendo o seu rosto como se fosse de cera e um escultor o houvesse feito naquela hora, começou a narrar a sua história. Paulino Duarte não o interrompeu uma única vez.
- Coisas existem, na nossa vida, infalíveis como a própria morte. Tarde ou cedo, acabam por chegar um dia. Precisamos aguardá-las com insensibilidade, quase com desprezo, para vencê-las ou por elas sermos vencidos. A desgraça que me esperava era uma coisa assim. Eu sabia que ela chegaria. Juro, pela minha honra, que sabia. Aguardei-a, prevenido, dizendo a mim mesmo, aconselhando-me naqueles ermos de Duas Barras: "O difícil, Emílio velho, não é vencer, o difícil é saber fracassar."

"Os Servos da Morte", Adonias Filho

(Adonias Filho nasceu no dia 27 de Novembro de 1915. Morreu em 1990.)

Aqui há gato 24

                                                                                       Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Mário Lago 3

Gosto e preciso de ti,
Mas quero logo explicar:
Não gosto porque preciso.
Preciso, sim, por gostar.

Mário Lago 

(Mário Lago nasceu no dia 26 de Novembro de 1911. Morreu em 2002.)

A ver navios 62

                                                                                                                 Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O princípio de Peter

O princípio de Peter (leia-se Piter) é a letra Pê. E o fim de Peter (continue a ler-se Piter) é a letra erre. O resto é conversa.

Vida de cão 108

                                                                                       Foto Hernâni Von Doellinger

Eça de Queirós 3

A estação de Ovar, no caminho-de-ferro do Norte, estava muito silenciosa pelas seis horas da tarde, antes da chegada do comboio do Porto.
A uma extremidade da plataforma, um rapaz magro, de olhos grandes e melancólicos, a face toda branca da frialdade fina de Outubro, com uma das mãos metida no bolso dum velho paletó cor de pinhão, a outra vergando contra o chão uma bengalinha envernizada, examinava o céu; de manhã chovera; mas a tarde ia caindo clara e pura; nas alturas laivos rosados estendiam-se como pinceladas de carmim muito diluído em água e, longe, sobre o mar, para além duma linha escura de pinheirais, por trás de grossas nuvens tocadas ao centro de tons de sanguínea e orladas de ouro vivo, subiam quatro fortes raios de sol, divergentes e decorativos - que o rapaz magro comparava às flechas ricamente dispostas de um troféu luminoso.
Na estação havia apenas um passageiro esperando o comboio: era um mocetão do campo, que não se movia, encostado à parede, com as mãos nos bolsos, os olhos inchados de ter chorado duramente cravados no chão, e ao lado, sentadas sobre uma arca de pinho nova, estavam duas mulheres, uma velha, e uma rapariga grossa e sardenta, ambas muito desconsoladas, tendo aos pés, entre si, um saco de chita e um pequeno farnel de onde saía o gargalo negro de uma garrafa.
O chefe da estação, um gordo com os queixos amarrados num lenço de seda preta, o boné de galão sujo muito posto ao lado, apareceu então à porta da sala das bagagens, de charuto nos dentes. O rapaz magro dirigiu-se timidamente para ele, disse:
- Creio que o comboio vem atrasado...
O chefe afirmou silenciosamente com a cabeça; e depois de uma fumaça:
- Vem sempre atrasado aos sábados... É a demora em Espinho.


"A Capital", Eça de Queirós

(Eça de Queirós nasceu no dia 25 de Novembro de 1845. Morreu em 1900.)

Lugares-comuns 254

                                                                                      Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 24 de novembro de 2015

António Gedeão 3

Poema da auto-estrada

Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta.
Vai na brasa, de lambreta. 

Leva calções de pirata,
vermelho de alizarina,
modelando a coxa fina,
de impaciente nervura.
Como guache lustroso,
amarelo de idantreno,
blusinha de terileno
desfraldada na cintura. 

Fuge, fuge, Leonoreta:
Vai na brasa, de lambreta. 

Agarrada ao companheiro
na volúpia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
que o receio não é com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pela cintura.
Vai ditosa e bem segura. 

Com um rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.
Urrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte,
enfia pelo horizonte
como um punhal que se enterra.
Tudo foge à sua volta,
o céu, as nuvens, as casas,
e com os bramidos que solta
lembra um demónio com asas. 

Na confusão dos sentidos
já nem percebe Leonor
se o que lhe chega aos ouvidos
são ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor. 

Fuge, fuge, Leonoreta
Vai na brasa, de lambreta.

"Máquina de Fogo", António Gedeão

(António Gedeão nasceu no dia 24 de Novembro de 1906. Morreu em 1997.)

A ver navios 61

                                                                                        Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Herberto Helder 2

Aos amigos

Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
- Temos um talento doloroso e obscuro.
construímos um lugar de silêncio.
De paixão.


"Lugar", Herberto Helder 

(Herberto Helder nasceu no dia 23 de Novembro de 1930. Morreu em 2015.)

Lugares-comuns 253

                                                                                        Foto Hernâni Von Doellinger

D. Francisco Manuel de Melo 2

Mas adonde irei eu, que este não seja,
Se a causa deste ser levo comigo?
E se eu próprio me perco, e me persigo,
Quem será que me poupe ou que me reja?

Porque me hei-de queixar do Tempo e Inveja,
Se eu a quis mais fiel ou mais amigo?
Fui deixado em si mesmo por castigo:
Triste serei em quanto em mim me veja.

Esta empresa que em mim tanto em vão tomo,
Esta sorte que em mim seu dano ensaia,
Esta dor que minha Alma em mim cativa.

Vós só podeis mudar. Mas isto como?
Como? Fazendo que a minha alma saia
De mim, senhora, e dentro de vós viva.


"Obras Métricas", D. Francisco Manuel de Melo

(D. Francisco Manuel de Melo nasceu no dia 23 de Novembro de de 1608. Morreu em 1666.)

domingo, 22 de novembro de 2015

Lugares-(in)comuns 127

                                                                                                             Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 21 de novembro de 2015

O supra-sumo da conversa de chacha

O supra-sumo da conversa de chacha é aquela frase tão nossa - "Temos de dizer alguma coisa para não estarmos calados". Convenhamos que se trata de uma proposição silogisticamente inatacável: com efeito, para não estarmos calados, basta-nos "dizer alguma coisa". Ou chorar. Ou arrotar, vá lá. Isso é verdade sem desmentido. Mas não "temos de", valha-me Deus, não é imposição divina ou paisana "dizer alguma coisa" só porque. Então o silêncio não é de ouro? Caros amigos, estar calado não é obrigatoriamente defeito e pode até ser, quem sabe, a refinadíssima expressão gourmet da sabedoria, da eloquência complacente. Por isso é que eu digo que, quando é apenas para "dizer alguma coisa", mais vale estar calado.
Como exemplarmente fica demonstrado, creio, nas nove linhas anteriores.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

"Lagareiro" octopus, of course

                                                       Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

O meu avô da Bomba, designer de calçado

aqui contei que o meu avô da Bomba, apesar de quarteleiro dos Bombeiros de Fafe, nunca se apartou completamente do velho e honrado ofício de sapateiro com que se iniciara na vida. Enquanto pôde, num cantinho por baixo das escadas que subiam para "o salão" do quartel da Rua José Cardoso Vieira de Castro, ele manteve banca e fez, com desenho próprio, as sandálias e sapatos que calçavam a família. A família lá de casa, quero dizer, mulher e filhos, porque o meu avô não era de dar. E se dava, eram os bons-dias, mas pedia o troco e recibo com número de contribuinte.
Em todo o caso, fui semanticamente injusto quando chamei sapateiro ao meu avô da Bomba. Nestes tempos em que nem os cegos são cegos - são invisuais -, agora que já nem há mentirosos - mas inverdadeiros -, nos dias em que nem os bois são chamados pelos nomes - têm números -, chamar sapateiro ao meu avô da Bomba é praticamente um insulto, e estou muito arrependido.
Se escrevesse hoje, eu diria que o meu avô da Bomba era um mestre do artesanato, um artista do calfe, uma Joana Vasconcelos por antecipação, e fazia-lhe um museu; diria que era um criador de sapatos e dava-lhe um subsídio do QREN; diria que era um caso exemplar do empreendedorismo nacional e pendurava-lhe mais uma medalha no 10 de Junho; diria que era um designer de calçado e acompanhava-o à Feira de Milão. É isso, se escrevesse hoje, eu diria que o meu avô da Bomba era um designer de calçado.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Aqui há gato 23

                                                                                    Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Rachel de Queiroz 3

Na parede caiada se desenhava, enorme, o emblema azul da Virgem Maria. Ao centro do pátio ficava o caramanchão cheiroso do jasmineiro e dentro dele, no fresco e no sombrio do verde, a imagem de uma moça de vestido branco e pés nus - uma Nossa Senhora bonita e triste.
Em redor do pátio as classes vazias, mudas, fechadas. O ruído dos passos crescia, ressoava pelos corredores, o terço da cintura da irmã tilintava, cheio de medalhas.
E eu tinha medo. A irmã era velha, de olhar morto, fala incolor e surda. Parecia feita de papel pálido, ou de linho engomado semelhante à corneta que trazia à cabeça e que se agitava a cada movimento seu, como uma ave. Parecia uma boneca de cera, uma figura, uma santa, só não parecia gente. Também não parecia gente a porteira seca, toda osso e nervo, nem a outra irmã que passou silenciosa e de cabeça baixa, sem um interesse, sem um olhar. Moça, jovem, só a Virgem Mãe adolescente do caramanchão; e, sendo de louça, tinha mais ar de vida e humanidade que aquelas outras mulheres de carne, junto de mim.
Papai, comovido e pálido, fora embora. Madrinha fora embora. O parlatório, onde eu esperava, estava àquela hora vazio e silencioso; ouvia-se apenas, através dos corredores, como um ruído abafado de mar distante.

Acheguei-me mais à irmã, quis lhe pegar na mão, não tive coragem, perguntei de onde vinha o barulho, lá de longe.
Vinha do recreio da noite que começava nos alpendres do fundo do colégio; e para lá nos fomos dirigindo, a irmã e eu.
Pelas varandas imensas espalhavam-se às centenas meninas de todos os tamanhos, com todas as caras deste mundo, vestidas de azul-marinho. Um grupo delas acercou-se de nós, sorridente, curioso. A mim me pareceram logo malvadas, escarninhas, hostis. Encolhi-me mais junto à irmã. Lá para trás outras meninas vinham chegando, e ouviam-se gritos:
- Novata! Uma novata!
A irmã me pôs a mão no ombro, mandou que me fosse reunir a elas, procurasse brincar, fazer amigas.
Eu resisti. Sentia cada vez mais medo e me agarrei resolutamente ao hábito grosso da freira:
- Queria ir para junto da minha mala.

"As Três Marias", Rachel de Queiroz

(Rachel de Queiroz nasceu no dia 17 de Novembro de 1910. Morreu em 2003.)  

Lugares-comuns 252

                                                                                       Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

José Saramago 3

Demissão

Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo de mais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos, se dependentes.


"Os Poemas Possíveis", José Saramago

(José Saramago nasceu no dia 16 de Novembro de 1922. Morreu em 2010.)

domingo, 15 de novembro de 2015

Aqui há gato 22

                                                                                     Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 14 de novembro de 2015

Júlio Dinis 3

Os boatos! Aí temos um desses problemas que desafiam toda a ciência humana. Donde partiram estas, deixem-me assim chamar-lhes, emanações subtis que aspiramos todos, os crédulos e os espíritos fortes, os ignorantes e os ilustrados, como todos contraímos a epidemia, cujo foco se desconhece?
Suscita-se às vezes sobre qualquer indivíduo uma opinião que se diz pública, somente porque cada qual em particular se não atreve a reconhecê-la por sua; os factos conhecidos da vida desse homem parece desmentirem-na, todas as aparências lhe são contrárias, é humanamente impossível encontrar algures os fundamentos dessa crença, nascida não se sabe onde, propagada não se sabe como; e contudo persiste. Por quê? Quem o pode dizer? É, a meu ver, um facto da ordem de outros que observa o naturalista na história dos animais. E um fenómeno de instinto.

Na aproximação do Inverno, as aves viajoras reúnem-se em bandos para desertarem das paragens que parecia oferecerem-lhes ainda por algum tempo os últimos calores de uma estação favorável. Que indício lhes revelou o perigo? Quem lhes apontou o caminho de mais amenas regiões? O instinto: respondem os filósofos; e a mesma resposta obtereis, se os interrogardes sobre tantos outros maravilhosos actos que nos surpreendem nos costumes de certas famílias zoológicas.
Concedam pois também ao povo instintos, instintos que o fazem adivinhar factos ocultos, como a ave pressente o Inverno; instintos sobre os quais se elevam juízos, que a razão prudente repele ao princípio, mas que tantas vezes o futuro vem confirmar mais tarde.
O povo tem uma fisiologia especial, que ainda está por escrever; esse concurso de individualidades tão heterogéneas dá uma resultante, cuja noção não nos pode vir só do conhecimento isolado dos componentes. 


"Serões da Província", Júlio Dinis

(Júlio Dinis nasceu no dia 14 de Novembro de 1839. Morrem em 1871.)

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Lugares-comuns 251

                                                                                       Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Bruno Tolentino 3

Lamento de Caim

No estreito labirinto,
as hienas do vento
e teu corpo caído.

Tento acordar e sinto
que me persegues, lento
como no sonho um grito.

Ladrão do amor paterno,
que à procura do ninho
incurável do eterno

escalaste sozinho
as mais altas escarpas
sem volta nem caminho,

viraste a estátua fria
indiferente às farpas
monótonas do dia,

circundaste o meu peito
dos espinhos de um horto
penitente e perfeito.

Sei que estás morto, morto,
máscara mortuária
das mutações de um rosto.

Sou eu que não consinto
que escape a solitária
sombra no labirinto.

Sou eu que enterro, a sós
com aquela sombra amarga,
o que sobrou de nós

como faca na ilharga.

"O mundo como Ideia", Bruno Tolentino

(Bruno Tolentino nasceu no dia 12 de Novembro de 1940. Morreu em 2007.)

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Há horas felizes 5

                                                             Foto Hernâni Von Doellinger

- São horas?
- São.
- Pensei que fosse mais cedo...

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Um homem preocupado com a saúde dos outros

                                                                                       Foto Hernâni Von Doellinger

Cidadão exemplar, o homem da direita, preocupado, respeitador da saúde alheia, rigoroso observante da legislação em vigor. Fumar no interior da loja da estação de serviço? Nem pensar! O cidadão exemplar veio cá para fora, encostou-se placidamente às botijas de gás e, todas as precauções tomadas, então, sim, acendeu o cigarrinho em segurança máxima. Fumou até ao filtro e depois foi para casa. A pé.
Agora, repare-se, por outro lado, no gesto negligente do indivíduo da esquerda: a abastecer o seu automóvel numa bomba de gasolina. Numa bomba de gasolina, valha-nos Deus! Há lá sítio mais perigoso para meter combustível!?...

Dinah Silveira de Queiroz 3

Caminhava-se através de pequeninas casas que se apoiavam umas às outras e em breve se chegava a um retiro de caravanas. Mas naquele dia, junto a uma aguada no centro, o número de forasteiros, que ali haviam chegado, era enorme. Faziam pequenos círculos nessa hospedaria a céu aberto, sob a luz das estrelas; muitos cantavam alto sua ascendência, no encarreiramento de nomes ressoantes, como se afiassem a língua para, no dia seguinte, diante de um copista e do rolo de pele de carneiro, tornarem presentes suas linhagens de Davi. Havia cameleiros encostados a enormes animais indormidos que bafejavam o ar com seu hálito quente. Burricos relinchavam; eram presos junto a seus donos, que se envolviam em mantos e tentavam dormir a céu aberto. Perto da entrada um velho solitário cruzava as pernas encostando-se ao muro e repetindo orações, imóvel e meio desfalecido. Agarrava-se às preces, quando soavam os gritos alegres das gentes nômades que ralhavam por motivos de cargas. Lá atrás, havia outros pequenos espaços murados, feitos de pedra mas também a céu aberto. Comprimiam-se pessoas ali dentro, sob mantos, carga humana mais rica. Estas divisões agora custavam bom dinheiro e quase só as mulheres as haviam ocupado, enquanto os maridos, irmãos ou pais ficavam lá foram no envolvimento daquela noite ruidosa, em que uns se roçavam a outros, em que seria possível até morrer, agonizando aos gritos, como poderia ser o fim do velho em preces, e talvez não houvesse ouvidos, pela grande confusão entre as vozes humanas e a dos animais, a chegada de novas carroças, a oferta orgulhosa de ricos comerciantes que tomavam as câmaras - se é que assim se podia dizer daquelas separações em pedra - para as suas famílias, no tinir da moeda mais cara.
Maria esperava, olhando com curiosidade ferida, todas as vezes que o largo portão se abria, para aquela gente ali amontoada, cheirando à banha de carneiro e acendendo suas pequeninas fogueiras nos quatro cantos dos muros. Depressa voltou José amargurado, mas escondendo os cuidados:
- Se quiseres, encontramos algum lugar, lá no fundo, depois dos cameleiros.

"Memorial de Cristo I, Eu Venho",  Dinah Silveira de Queiroz

(Dinah Silveira de Queiroz nasceu no dia 9 de Novembro de 1911. Morreu em 1982.)

Lugares-(in)comuns 126

                                                                                      Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 8 de novembro de 2015

Teixeira de Pascoaes 4

De noite

Quando me deito ao pé da minha dor,
Minha Noiva-fantasma; e em derredor
Do meu leito a penumbra se condensa,
E já não vejo mais que a noite imensa,
Ante os meus olhos intimos, acesos,
Extáticos, surpresos,
Aparece-me o Reino Espiritual...
E ali, despido o hábito carnal,
Tu brincas e passeias; não comigo,
Mas com a minha dor... o amor antigo.

A minha dor está comtigo ali,
Como outrora eu estava ao pé de ti...

Se eu fosse a minha dor, com que alegria,
De novo, a tua face beijaria!

Mas eu não sou a dor, a dor etérea...
Sou a Carne que sofre; esta miséria
Que no silêncio clama!

A Sombra, o Corpo doloroso, o Drama...

"Elegias", Teixeira de Pascoaes

(Teixeira de Pascoaes nasceu no dia 8 de Novembro de 1877. Morreu em 1952.)

Caminho 66

                                                                                      Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 7 de novembro de 2015

Cecília Meireles 3

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

- e um dia me acabarei.


"Viagem", Cecília Meireles

(Cecília Meireles nasceu no dia 7 de Novembro de 1901. Morreu em 1964.) 

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Francisco Assis e a tendência PSD do PS

Francisco José Pereira de Assis Miranda aderiu ao Partido Socialista em 1985, e à pala disso mamou consideráveis benesses e empregos bastante simpáticos. Trinta anos depois, e ainda mamando, Assis descobriu que o Partido Socialista é, por assim dizer, socialista - isto é, um partido praticamente de esquerda -, zangou-se com a inoportuna epifania e, como forma superior de protesto, organizou uma tainada. Ele e, ao que alvitram as notícias, mais trezentos outros pê-esse-dês do Partido Socialista que também gostam muito de leitão.
Eu não critico esta malta, palavra de honra. Na verdade, eu sou como o Assis e os trezentos da corda: também gosto muito de leitão e também quero que o Partido Socialista se foda.

A ver navios 60

                                                                                          Foto Hernâni Von Doellinger

Sophia de Mello Breyner Andresen 3

Camões e a tença

Irás ao Paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce

Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou seu ser inteiramente

E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto

Irás ao Paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência

Este país te mata lentamente


"Grades", Sophia de Mello Breyner Andresen


(Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no dia 6 de Novembro de 1919. Morreu em 2004.)

A ver navios 59

                                                                                       Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Rui Barbosa

Mas, senhores, os que madrugam no ler, convém madrugarem também no pensar. Vulgar é o ler, raro o refletir. O saber não está na ciência alheia, que se absorve, mas, principalmente, nas idéias próprias, que se geram dos conhecimentos absorvidos, mediante a transmutação, por que passam, no espírito que os assimila. Um sabedor não é armário de sabedoria armazenada, mas transformador reflexivo de aquisições digeridas. Já se vê quanto vai do saber aparente ao saber real. O saber de aparência crê e ostenta saber tudo. O saber de realidade, quanto mais real, mais desconfia, assim do que vai apreendendo, como do que elabora.
Haveis de conhecer, como eu conheço, países, onde quanto menos ciência se apurar, mais sábios florescem. Há, sim, dessas regiões por este mundo além. Um homem (nessas terras de promissão) que nunca se mostrou lido ou sabido em coisa nenhuma, tido e havido é por corrente e moente no que quer que seja; porque assim o aclamam as trombetas da política, do elogio mútuo, ou dos corrilhos pessoais, e o povo subscreve a néscia atoarda. Financeiro, administrador, estadista, Chefe de Estado, ou qualquer outro lugar de ingente situação e assustadoras responsabilidades, é, a pedir de boca, o que se diz mão de pronto desempenho, fórmula viva a quaisquer dificuldades, chave de todos os enigmas.

"Oração aos Moços", Rui Barbosa

(Rui Barbosa nasceu no dia 5 de Novembro de 1849. Morreu em 1923.)

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Há horas felizes 4

                                                                                      Foto Hernâni Von Doellinger

- Tem horas?
- Tenho, tenho...
- E são horas boas?
- São horas extraordinárias...

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

João Verde 2

Do conto

A noite escura baixava.
De cantarinha na mão,
A pequenita chorava
Que cortava o coração.

É que entre o lugar e a fonte
Há muito causava horrores
O extenso pinhal do monte,
Povoado de malfeitores.

E a noite escura baixava.
De cantarinha na mão,
A pequenita chorava
Que cortava o coração.

Foi quando a madrinha sua,
A Virgem, vendo-a chorar,
Mandou acender a lua
Para lhe vir alumiar.

"Obra Poética", João Verde

(João Verde nasceu no dia 2 de Novembro de 1866. Morreu em 1934.)

Caminho 65

                                                                                     Foto Hernâni Von Doellinger

Jorge de Sena 2

Rígidos seios de redondas, brancas,
frágeis e frescas inserções macias,
cinturas, coxas rodeando as ancas
em que se esconde o corredor dos dias;


torsos de finas, penugentas, frias,
enxutas linhas que nos rins se prendem,
sexos, testículos, que inertes pendem
de hisurtas liras, longas e vazias


da crepitante música tangida,
húmida e tersa na sangrenta lida
que a inflada ponta penetrante trila;


dedos e nádegas, e pernas, dentes.
Assim, no jeito infiel de adolescentes,
a carne espera, incerta, mas tranquila.


"As Evidências", Jorge de Sena

(Jorge de Sena nasceu no dia 2 de Novembro de 1919. Morreu em 1978.)

domingo, 1 de novembro de 2015

Lições de História 9: D. Afonso Henriques

                                                                 Foto Hernâni Von Doellinger

A verdade é esta: Afonso Henriques usava saias e morava geralmente no austero Castelo de Guimarães. Tinha também o Paço dos Duques, um abastado triplex onde passava férias, recebia amigos e, de quinze em quinze dias, gostava de empossar governos.

P.S. - O jovem Afonso ficou, aliás, para a história da moda como o verdadeiro criador da maxissaia.

Campos de Carvalho 2

O vento fustiga as velas, corre-me pela nuca e pelos cabelos, e volta para o mar alto.
Aqui em cima, no alto da Gávea, as estrelas cintilam mais perto: houvesse lua e eu talvez nela pudesse banhar as mãos de luz, no seu bacio de cristal - não como Pilatos mas como um cirurgião que se apresta para um parto difícil, o mais difícil da história, arrancando das entranhas do Desconhecido todo um mito e a sua verdade, séculos e séculos de mal-assombrados e equívocos.
Estou lírico como um teatro de ópera, e é bom que assim seja, que assim esteja, nesta noite tão rica em presságios, tão próxima do abismo dos céus e dos abismos do mar. Colombo devia sentir o mesmo quando pela vez primeira arremeteu contra as Índias e foi descoberto por indígenas a que chamou de índios e índios continuaram até hoje; e Marco Polo com suas verdadeiras patranhas, suas patranhas verdadeiras, ao descobrir que para ter vivido vinte anos no país do tártaros teria que pelo menos ter atravessado um dia o país do búlgaros, e se pôs então a escrever ou a ditar o
Livro das maravilhas; e Amundsen ao conquistar a duras penas o pólo Sul para nele depositar uma carta dirigida ao rei da Noruega, quando lhe seria muito mais fácil metê-la logo no correio ou entregá-la pessoalmente; e ainda e finalmente o primeiro homem a pisar e a mijar na Lua, ou o primeiro selenita a mijar e a pisar na Terra, deslumbrados um e outro com a hipótese de um dia ainda virem a mijar em outros planetas, em outras galáxias e em todo o universo, transformando assim o espaço cósmico nesse sonho de todos que é um mijadouro universal.

Mas vejo que me perco em divagações que só interessam aos cursos de história e não ao curso da história, e esta é e tem que ser para mim uma hora de definições (a hipotenusa é o lado oposto ao ângulo reto, no triângulo retângulo) e de pulso forte - embora eu esteja no momento com a pressão baixa e mal tenha conseguido outro dia dizer 32 e meio ao meu médico.

"O Púcaro Búlgaro", Campos de Carvalho 

(Campos de Carvalho nasceu no dia 1 de Novembro de 1916. Morreu em 1998.)