Quando me deito ao pé da minha dor,
Minha Noiva-fantasma; e em derredor
Do meu leito a penumbra se condensa,
E já não vejo mais que a noite imensa,
Ante os meus olhos intimos, acesos,
Extáticos, surpresos,
Aparece-me o Reino Espiritual...
E ali, despido o hábito carnal,
Tu brincas e passeias; não comigo,
Mas com a minha dor... o amor antigo.
A minha dor está comtigo ali,
Como outrora eu estava ao pé de ti...
Se eu fosse a minha dor, com que alegria,
De novo, a tua face beijaria!
Mas eu não sou a dor, a dor etérea...
Sou a Carne que sofre; esta miséria
Que no silêncio clama!
A Sombra, o Corpo doloroso, o Drama...
"Elegias", Teixeira de Pascoaes
(Teixeira de Pascoaes nasceu no dia 8 de Novembro de 1877. Morreu em 1952.)
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