P.S. - Publicado originalmente no dia 10 de Janeiro de 2013. O fenomenal John Philip Sousa - compositor, maestro, militar, atirador desportivo, escritor e etc. - era de facto luso-americano, filho de pai português de origem açoriana. Os camones chamam-lhe Suza, como a da mala de cartão...
terça-feira, 31 de agosto de 2021
O Sousa dos altifalantes
P.S. - Publicado originalmente no dia 10 de Janeiro de 2013. O fenomenal John Philip Sousa - compositor, maestro, militar, atirador desportivo, escritor e etc. - era de facto luso-americano, filho de pai português de origem açoriana. Os camones chamam-lhe Suza, como a da mala de cartão...
O boleto
Posto isto, que não interessa para nada, mudemos de assunto. Falemos de uma coisa completamente diferente. Falemos do boleto.
O boleto que, pelo menos aqui há uns anos e em Fafe, era praticado pelas bandas de música e consistia numa módica quantia em dinheiro vivo que o contramestre da filarmónica distribuía pelos músicos provavelmente a título de ajuda de custo ou, talvez melhor dizendo, como subsídio de alimentação - o que salvava o dia sobretudo aos jovens aprendizes, que passeavam muito bem a farda e faziam número na procissão mas "ainda não ganhavam".
De uma certa maneira, o boleto era também uma das peças do concerto. Enfim, uma bagatela, como lhe chamariam os românticos. Peça curta e despretensiosa mas de sucesso garantido, faço questão de acrescentar, para contar tudo como deve ser contado. Se não parecesse um rematado disparate, suponho até que seriam os próprios músicos a pedir bis. O dinheiro saía em notas puídas e renitentes de um gordo envelope cada vez mais magro e era entregue em mão, uma mão atrás da outra, no dia mesmo da "festa", em pleno coreto, com o povo ao redor, durante um intervalo que desse jeito.
Posso ter inventado esta memória, mas cuido que o mais das vezes o bodo era repartido já da parte da tarde do "serviço". E que se segue? Não sei porquê (sei, sei!), a minha cabeça começou então a ligar boleto a beberete, merenda, vinho, como se fossem palavras sinónimas, e até hoje. Boleto igual a merenda, vinho. Exactamente. Merenda ao "balcão" de uma barraca beduína, periclitante e malcheirosa, espécie de estendal armado às três pancadas entre varas de choupo e toldos de pano, com bacalhau frito, orelheira salgada, frango de churrasco, milhões de moscas e sardinhas assadas que eram uma desgraça. Uma desgraça bem bebida, afogada em tinto ou branco até ao nariz.
Vinho, como quem diz. Bastas ocasiões bebia-se "receita", isto é, juntava-se cerveja e açúcar ao alegado vinho para disfarçar o pique a vinagre...
O último dos Bernardinos
Já sabem, eu não posso ver na rua bandas de música ou grupos de zés-pereiras, que me perco. Sigo-lhes os passos, esqueço-me da vida, já não sei que recado ia fazer. (Eram quatro ou cinco pães? Ou seriam bananas?) Os "trampolineiros" da minha infância alegram-me os dias da madureza, descompassam-me o bater do coração, tornam-me a Fafe e à pureza original, comovem-me. Queria que houvesse discos pedidos para poder encomendar todos os dias o "Resineiro" cantado de mansinho mas bem picada de tasco em tasco. Queria pedir desculpa por ignorantemente lhes ter chamado "trampolineiros", coisa feia. Eram, são, tamborileiros. Os tamborileiros da minha alegria triste. E portanto cá vai mais uma vez, versão refinada e aumentada:
O meu avô Bernardino Neques, que nunca aceitou copo dado e levava tudo à frente na hora da pancadaria, tinha o seu lado musical. Desunhava-se satisfatoriamente com a concertina e o acordeão, e já velhinho veio-lhe a mania do violão, lembro-me que com alguma falta de jeito, Deus me perdoe se estou a ser injusto. Esqueçamos, porém, o violão, o acordeão e a concertina, que foram só para meter conversa. Tornemos aos bombos, à caixaria.
O Neques do meu avô Bernardino não era de baptismo. O verdadeiro nome do meu avô de Basto era Amigo Pereira - assim lhe chamava toda a gente por essas feiras e romarias ali à beira, a começar pela Lagoa, onde ele varria o terreiro com o varapau de lódão girando por cima da cabeça como ventoinha de helicóptero, e suponho que não é preciso dizer mais nada para que se perceba de que marca era o homem. (Mas vou dizer: quando fazia de jogador do pau e estava decentemente avinhado, o meu avô tinha um grito de guerra que era "Olraitecamoniésse!". E tinha um cão de pele e osso ao qual dera o nome de Tuísta, que queria dizer Twist. O meu querido avô era anglófilo americanado e não sabia. De americano, o Bô só conhecia o vinho, e talvez o João Massagista, mas desta parte não tenho a certeza.) A alcunha que ficou famosa, Neques, veio-lhe do seu tempo de moço, contava-se, quando rufava a bom rufar na caixa, honesto instrumento por onde começou na arte. E tocava naquele ritmo manso e exacto que ele gostava de explicar como neque-neque-neque, neque-neque, neque-pum. Neques, pois.
O meu avô era apaixonante. Obviamente Banda Revelhe, por causa do meu pai e por bom gosto natural. E o toque de caixa, para o Amigo Pereira, tinha ciência, solfejo. Gostava de perguntar-me, por exemplo, "Quantas pranas tem uma rana?", como se estivéssemos a elaborar sobre fusas e semifusas. Eu dizia que não sabia, que era o que o velho Neques queria ouvir, para logo a seguir me ensinar, matreiro e mais uma vez, "Conta-as, rapaz: rana-catrapana-catrapana-pana-pum; quantas são?..."
Já não há Bernardinos assim. E faz-me diferença. Pum.
P.S. - Publicado originalmente no dia 2 de Abril de 2014.
Os apaixonantes
Encostados ao coreto, de mão em concha na orelha, seguem a música com
gestos semibreves de deleite e aprovação, procurando com um sorriso de
conhecedor e olhos piscos a cumplicidade do povo todo ali à roda. E
pedem chiu!, semiconfusos e comovidos até às lágrimas, à espera dos
ribombos do grand finale,
para então se desfazerem em aplausos. Eles estão a ouvir a melhor banda
do mundo, a sua banda, e pouco importa que, na verdade, até nem tenham
bom ouvido. Não precisam dos ouvidos sequer. Eles ouvem a música com o
coração. Eles são os apaixonantes.
Regra geral, são homens, reformados e musicalmente analfabetos. Mas
também são sábios, quando conseguem reduzir a sublime arte que tanto os
apaixona à sua simplicidade essencial. "Perceber de música é gostar do
que se ouve", dizem. Eles, sim, são os verdadeiros filarmónicos,
fazendo jus à explicação da origem grega da palavra: phílos = amigo + harmonikós = de harmonia. Exactamente: eles são os amigos da música.
Eles vão ouvir os ensaios, da parte de fora, na rua, por respeito.
Trazem na carteira o calendário dos concertos. Seguem a banda para
todo o lado, se possível de boleia na camioneta que transporta o
material e os músicos. É verdade, como eles apreciam a proximidade e o
convívio com os seus artistas! Oferecem mais um copo a troco de dois
dedos de paleio, discutindo clarinetes e bombardinos, marchas e
fantasias, com demonstrativos e desafinados terululi-fá-dó-mi-rol-fé-poropopó-trró-pum!
pelo meio. Pedem "mais peso", querem "peças pesadas" para afogar sem
misericórdia a banda do outro coreto no emocionante despique que apenas
intervala. Entusiasmados, metem na conversa o Tchaikovsky e o Giménez,
num tu cá, tu lá mais próprio de quem evoca uma famosa dupla de
defesas centrais. Se eles sabem do que falam? Talvez não. E isso
interessa?
Na terra onde eu nasci há duas bandas de música. E dois grupos rivais de
apaixonantes. Qualquer observador independente dirá que,
objectivamente, uma banda é melhor do que a outra. Mas isso aqui também
não interessa para nada. Para os apaixonantes, a qualidade absoluta é
um valor irrelevante. A nossa banda é que é sempre a melhor. O ouvido
dos apaixonantes, para além de geralmente duro, é um ouvido selectivo,
faccioso: surdo às fífias da casa e inventor de desafinações na
concorrência. "Estão fraquinhos este ano"...
Portugal deve ser o único país do mundo que tem apaixonantes. E os
apaixonantes são uma raça em vias de extinção. Alguns dos poucos
sobreviventes podem ainda ser vistos numa festa ou romaria perto de si,
em grupos de dois ou três, encostados ao coreto, de mão em concha na
orelha. Se por caso os vir, respeite-os, mime-os, ajude à preservação
da espécie.
Porque os apaixonantes e as bandas de música são como aqueles casais
antigos, em que um não vive sem o outro. Ela morre e ele vai logo
atrás. Ele morre e ela vai logo atrás. No dia em que desaparecer o
último apaixonante, as filarmónicas também não ficam cá por muito mais
tempo...
P.S. - Publicado originalmente no dia 2 de Setembro de 2011. Entretanto a correlação de forças entre as duas bandas fafenses já não será, porventura, a que era, mas isso também não importa para aqui. O que importa é: hoje, 1 de Setembro, é Dia Nacional das Bandas Filarmónicas.
segunda-feira, 30 de agosto de 2021
Apetecia-me bater-lhes...
Na mesa ao lado, um jovem casal também estava no bacalhau. Acompanhado por cerveja, uma a dividir pelos dois, logo no berço do alvarinho e do trajadura. Eu ia perdendo o apetite! Mas o pior ainda estava para vir. E veio: uma travessa de batatas fritas, porque as cozidas não lhes serviam - ficaram todas - ou então nunca tal tinham visto.
Ainda pensei desculpá-los. "Está bem, são espanhóis (não consegui sequer considerá-los galegos, era doloroso demais para mim), estes tipos não percebem nada disto". Mas não desculpei. E é preciso que se note que eu sou pela livre escolha. Para mim, cada um come do que gosta. Mas há comportamentos que, por escandalosos, devem ser guardados para o recato do lar. Eu próprio já comi bacalhau assado com feijoada à transmontana, mas foi em casa de amigos. Nunca por nunca o faria em público. Haja decoro! Para além do mais, gastronomicamente falando, a feijoada com o bacalhau na brasa é uma extravagância, enquanto que a batata frita, posto que excelentíssima, não passa de uma indigência.
Apetecia-me bater-lhes, Deus me perdoe...
Um tubarão na sopa
domingo, 29 de agosto de 2021
Há verdades que precisam de ser ditas
E permitam-me que esclareça ainda o seguinte: o bacalhau até pode ser de quarto, daquele que, inteiro, não mede mais do que um palmo e tem a espessura de uma folha de papel A4. E pode ser pouco. Não faz diferença nenhuma. O importante é o gosto que o bacalhau empresta, o equilíbrio do tempero geral, a consistência da molhanga. Quando eu era pequeno e os tempos eram de pobreza como os de agora, a minha mãe fazia um bacalhau à espanhola a que, honestamente, chamava batatas à espanhola. E vocês não fazem ideia do que perderam por nunca terem provado as batatas à espanhola da minha mãe...
E pronto, era isto. Fiz a minha parte, estou enfim de consciência tranquila. Andava com esta espinha atravessada na garganta há que tempos, depois de ter visto o que não queria aí num sítio onde fui comer. E agora, se me dão licença, vou à cozinha rectificar a feijoada com tripas do almoço e salgar uns ossinhos da suã para o jantar de logo à noite.
sexta-feira, 27 de agosto de 2021
Condutora inteligentíssima
- A passear!?...
Era domingo, duas da tarde, na ensolarada estrada à beira-mar. Condutora inteligentíssima! Sim, às tantas os velhos iam mesmo a passear...
quinta-feira, 26 de agosto de 2021
Respeitinho
Foi comprar cigarros e não voltou
Militâncias
Propunha a activista: - "O" Dia da Igualdade Feminina devia ser "a" Dia da Igualdade Feminina. E devia ser todos os dias, isto é, todas as dias!
Contrapunha o chauvinista: - Ou quando um homem quiser, como o Natal...
Já um homem não pode ser feminista
Feminista convicto, apresentou-se todo pimpão à porta do congresso, distribuindo babosos sorrisos à direita e à esquerda, para a frente e para trás. As porteiras barraram-lhe o caminho, matulonas. Que era só para mulheres, disseram-lhe...
Um bocado lésbico
Ladies first?
quarta-feira, 25 de agosto de 2021
Era uma vez um cão
O meu cão
O meu cão fica-me muito em conta. Não come mas cala, dispensa vacinas e vitaminas, nunca vai ao veterinário, não precisa de casota nem de agasalhos para o Inverno, e só me custa o preço da trela. O meu cão conhece o dono e não morde a mão que não o alimenta. Se todos fôssemos cães assim, vínhamos mesmo a calhar ao Governo da Nação.
O meu cão faz-se muito bem de morto e corre atrás de qualquer coisa que lhe atire. Só lhe falta falar. O meu cão não ladra às pessoas, não fornica as pernas transeuntes, não abocanha, não caga no passeio, não mija nos pneus do carro do vizinho, não tem pulgas nem chatos, nem anda por aí a emprenhar cadelas mais ou menos oferecidas. É como se não existisse. O meu cão é um exemplo de cidadão. O meu cão sou eu.
Já mo quiseram comprar e eu não o vendi. Foi um vendedor de ilusões. Oferecia-me um país inteiro sem pretos em troca do meu cão. Nã! Antes quero o cão. E os pretos!
Animais de tiro e queda
Foto Hernâni Von Doellinger |
Animal ou besta de tiro: animal que puxa um carro, na definição simplificadora do dicionário. Ou, mais desenvolvido, animal utilizado como tracção para o transporte de pessoas e mercadorias, aparelhos agrícolas como, por exemplo, o arado, ou como motor de noras e moinhos (chamam-se em Espanha moinhos de sangue).
Os principais animais de tiro são os cavalos, as mulas e os burros, os bois e as vacas, os ónagros, os camelos e dromedários, os iaques, os búfalos de água, os lamas, os alces e as renas do Pai Natal, os elefantes, os portugueses, as avestruzes e... os cães. Os cães: que antigamente tiravam só praticamente no Alasca e para o cinema, e agora, na marginal do Porto e Matosinhos, também puxam por jovens ciclistas e skaters radicais e manifestamente preguiçosos.
Outros animais de tiro, mas por diversa razão, são, aqui que ninguém nos ouve: o coelho-bravo, a lebre, a raposa e o saca-rabos; a perdiz-vermelha, o faisão, o pombo-da-rocha, o gaio, a pega-rabuda e a gralha-preta; o pato-real, a frisada, a marrequinha, o pato-trombeteiro, o marreco, o arrabio, a piadeira, o zarro-comum, a negrinha, a galinha-d´água, o galeirão, a tarambola-dourada, a galinhola, a rola-comum, a rola-turca, a codorniz, o pombo-bravo, o pombo torcaz, o tordo-zornal, o tordo-comum, o tordo-ruivo, a tordeia, o estorninho-malhado, a narceja-comum e a narceja-galega; o javali, o gamo, o veado, o corço e o muflão.
Para não saberem que vão morrer, a estes animais de tiro chamam-lhes espécies cinegéticas. É preciso que se note que o melro saiu da lista dos abatíveis em 2011, por ordem de Daniel Campelo, o do queijo, então secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural. Uma medida que seguramente marcou um extraordinário mandato, posto que breve.
Já os caracóis são obviamente animais de tiro porque puxam pela própria casa, andam com a rulote às costas (o que não acontece com as primas lesmas, essas viscosas sem-abrigo e nudistas descaradas), mas, pelos vistos, gostavam de ser ainda mais. Em 2015, uma campanha em nome destes simpáticos moluscos gastrópodes terrestres foi lançada pelos seus representantes legais, uma rapaziada bem disposta que sobretudo não quer que eles, os caracóis, sejam cozidos vivos. Seria, portanto, de lhes enfiar um balázio na cabeça, aos caracóis como aos garranos, e, então sim, metê-los na panela. Aos caracóis.
Com a coitada da lagosta é que ninguém se importa. Se calhar por ela ser podre de rica e pelar-se por uma sauna bem suada. Invejosos de merda...
P.S. - Hoje, 26 de Agosto, é Dia Mundial do Cão ou Dia Internacional do Cão, cãosoante.
O poder do sabão
Maus hálitos
Tinha muitos maus hálitos. O tabaco e o vinho, por exemplo. E também coçava os testículos...
terça-feira, 24 de agosto de 2021
Dos tomates e do decoro. E vice-versa.
Foto Hernâni Von Doellinger |
Em Fevereiro de 2020 saiu à rua uma campanha publicitária ao tomate pelado Guloso. Uma desnecessidade para mim, que na cozinha sou utilizador habitual, para não dizer compulsivo, deste produto. Ora bem: há coisa de três anos o tomate pelado Guloso, como quem diz o tomate nudista, começou a aparecer-me cá em casa vestido, isto é, com pele. Seria pudor? Como já aqui contei, aproveitei a última década para passar de bovino come e cala a guerrilheiro da reclamação, e não me tenho dado mal. Dei-me até muito bem por exemplo num gramático protesto a propósito de uma alheira de caça à qual faltava a cedilha, como já aqui contei.
Que se segue: resolvi contactar o Sr. Guloso ele próprio, perguntando-lhe, preocupado e mais respeitosamente era impossível, se por acaso não estaria o Excelentíssimo passando por alguma crise de escrotal decoro (há que chamar as coisas, neste caso os coisos, pelo nome), e aproveitei para me queixar do cada vez maior verdor e da cada vez maior acidez do produto em questão. O tomate pelado, não esqueçamos.
O meu e-mail teve resposta em quinze dias. Uma resposta profissional, simpática e, pareceu-me descortiná-la, com uma pitada de ironia no estrugido, que foi o que melhor me soube. Fui informado de que os tomates de que eu reclamava tinham sido produzidos "na campanha de 2017, que, por condições extremas do tempo (chuvas em final de Abril e Maio), se traduziu em tomate mais ácido, com menos cor e que se separa da pele com mais dificuldade."
Como forma de "atenuar a imagem menos positiva" que em mim lamentavelmente provocara, o Sr. Guloso revelou a intenção de enviar-me "um cabaz de produtos da marca, incluindo pelado da campanha de 2018, na expetativa de" me "fazer chegar um tomate pelado mais condizente com o nome". Obviamente agradeci e recusei a oferta, hábito antigo do velho ofício.
Agora. Estamos no ano de 2021. O tomate pelado Guloso continua a chegar-me a casa com pele, verde e ácido, rigorosamente como o da famigerada e defeituosa colheita de 2017. Conclusão, das duas uma: em Portugal os anos são todos de "condições extremas do tempo (chuvas em final de Abril e Maio)", pelo menos para os tomates, ou então há quatro anos que todos os anos são 2017. O que é lamentável e vice-versa.
A minha receita de tomates aux gésiers de lapin
Homem que é homem coça-os. Mas com máscara!
A felicidade agarra-se pelos tomates
Um grande nome
A pintura do Mané
A pintura do Mané não lhe dizia grande coisa. Asseguravam-lhe que o Mané era um grande artista, falavam-lhe do impressionismo francês, até do realismo, dos jogos de luz e de sombra, dos nus, mas ele não se deixava convencer. O Mané era um gajo porreiro, isso nem se discute, pagava umas cervejas quando chegava a sua vez e desenrascava satisfatoriamente o lugar de defesa-esquerdo nos jogos das manhãs de domingo na praia, mas, quer-se dizer, era apenas um trolha regular e à beira da reforma. Como ele...
segunda-feira, 23 de agosto de 2021
O chichi do maestro
Nos grandes concertos sinfónicos, o maestro sai sempre no final de cada peça para ir à casinha mudar a água às azeitonas. Depois volta para as palmas e para as vénias, sorridente e aliviado. E os músicos? Os músicos protestam batendo nas estantes e continuam em palco de perninhas apertadas e, quem sabe, a urinarem-se por elas abaixo...
A obra-prima
A alma acústica da obra
A mim, no entanto, tocou-me muito mais o projecto "Vi:Ela Sentada", da autoria do escultor sonoro e plástico João Ricardo de Barros Oliveira. A instalação constava de 20 cadeiras e 40 camisas brancas penduradas num estendal. As camisas. As cadeiras, desta vez, não. Um trabalho sem objectivo e sem mensagem, nas esclarecedoras palavras do artista. A inspiração veio-lhe obviamente do dióspiro, numa ocasião em que passou por uma viela, ouviu uma conversa entre mulheres e uma sardinha caiu de uma varanda e escorregou num guardanapo que estava a secar, afogando-se, a sardinha, num balde de lampreias. Depois foi só pesquisar a alma acústica e a obra nasceu.
A lógica é uma batata e a arte pode ser um dióspiro. A palha é apenas palha. Abro aqui uma excepção no Tarrenego! e condescendo ao YouTube. Aproveitem estes intensos dez minutos. Até ao fim, até ao tutano. Às vezes a cultura é uma coisa muito bonita.
Serralves nunca mais
Indignação e revolução
E parabéns à prima
Lembram-se do tempo em que as pessoas não se indignavam? Pois é. Depois vieram as redes sociais...
P.S. - Hoje, 23 de Agosto, é Dia do Internauta. Parabéns à prima!
domingo, 22 de agosto de 2021
sábado, 21 de agosto de 2021
Guerra das Rosas
sexta-feira, 20 de agosto de 2021
Vida de cão, vida de cão!
Verdade como punho, ontem como hoje. Embora não gere nenhuma "onda de solidariedade", está curiosamente a acontecer o mesmo com os velhos e com os recém-nascidos, por assim dizer, humanos - cada vez mais abandonados e com cada vez menos pessoas disponíveis para os acolher. É. Vivemos realmente uma "altura do ano" filhadaputa. Mas os cãezinhos, Senhor...
P.S. - "Portugueses já gastam mais com cães do que com bebés", dizia a capa do semanário Expresso, em Outubro de 2011. Hoje, terceiro sábado de Agosto, é Dia Internacional do Animal Abandonado. E está certo.
O amor é como o jantar, arrefece
Vinte anos, como tão redondamente disse o tal Patxi Andión. Dávamo-nos bem, Glória, parecíamos mesmo um casal: eu não me metia contigo e tu não te metias comigo. O cuidado que eu tinha com o estore, de manhã, para não te incomodar. Os vagares com que eu andava pela casa, em pezinhos de lã, porque dizias que a minha presença te fazia corrente de ar. Fui ou não fui ao workshop de reeducação para mijadores sem ponto de mira que tanto me recomendaste? Íamos ou não íamos todos os anos aquele domingo de Agosto à Póvoa de Varzim fazer as nossas ricas férias? Tu sabes, devias saber que eu nunca te enganei, Glória, palavríssima de honríssima, desculpa-me o superlativo absoluto sintético em dose dupla, mas já estou por tudo. Fui-te fiel como só um bacalhau seco e posteriormente demolhado pode ser. Dei-te vinte anos da minha vida e tu recambias-mos resumidos e empacotados em dezassete sacos de plástico que me obrigaste a pagar e colocaste na parte de fora da porta de casa. Dezassete? Não mereço vinte, para ser conta certa? Eu sei que as coisas já não estavam como antigamente, esfriaram, mas não será essa a evolução natural de vida de casados? O amor funciona a coração e não a gás, Glória, o amor não é chama eterna, vai arrefecendo como o jantar, e deixa-me tomar nota desta, que é muito boa...
Vinte anos de uso e nem me levaste à troca. E isso é o que mais me magoa, Glória. Dizes que me mandas embora porque eu não presto e não porque encontraste melhor. Não faças assim, Glória, ao menos põe-me os cornos, ainda estás a tempo, faz-me esse favor, dá-me essa alegria, põe-me os cornos. Se não for por mim, que seja pelos nossos queridos filhos, coitadinhos, que vamos desgraçar para o resto da vida deles com esta tão unilateral quanto politraumatizante separação. O quê? Não temos filhos? Pois não, desculpa lá, Glória, às vezes entusiasmo-me um bocadinho.
quinta-feira, 19 de agosto de 2021
Quando a comida é como a vingança
Eu não sei o que é o Instagram (aliás cuidava que se chamava Instragam e só mudei de ideias ainda agora depois do computador me corrigir dezasseis vezes), e nem me aquece nem me arrefece que pensem que estou a mangar. Sei é de cozinha e de jornalismo também não.
Quem escreve sobre gastronómicas matérias no jornal da Sonae vê-se que tem inúmeros mestrados e consideráveis doutoramentos em Técnicas de Titulagem, mas também se percebe que é gente que só entra na cozinha para perguntar à mãezinha "o que é o comer". Não nego à partida que estas senhoras e estes senhores jornalistas sejam experts em lasanha pré-cozinhada do Lidl ou em rissóis e alegados bolinhos de bacalhau congelados do Pingo Doce, posto que fazem das tripas coração para que o patrão não saiba. Falta-lhes é o resto, a basezinha, como diria o nosso Eça, que, esse sim, sabia de mesa.
Vamos supor: um prato realmente "absolutamente fenomenal" como, não vamos mais longe, um arrozinho de grelos com fanequinhas fritas. Chega à mesa e tira-se-lhe fotografias em vez de se lhe garfar com toda a galhardia? Então vou explicar o que se passa entretanto: o malandro do arroz coalha, fica arroz de hospital, argamassa de atirar às paredes, e as fanecas, esse peixinho tão honesto, esfriam, perdem a graça, afeiam-se, desapetitam-nos. Uma tragédia...
E atenção que as fanequinhas frias ainda vá lá, mas no tasco e no Verão. E verão que tenho razão (esta veia poética que não me larga), quando um dia perderem a cabeça e experimentarem, o Verão e o tasco. Já o arroz segue directamente para o balde do lixo, tamanha dor de alma ainda por cima nestes tempos agrestes de cotão nos bolsos.
Também é verdade: há pratos que são como a vingança, devem ser servidos frios, e por isso até se chamam pratos frios. E estes podem ser fotografados à moda das sessões de casamento, quero dizer: entre as oito da manhã e as seis da madrugada do dia seguinte. Quanto ao resto, por amor de Deus, fiquem quietos! Creio que posso dizer melhor: respeitosamente, comam fotografias à vontade se, tipo, lhes souber bem, mas, por favor, não me instagrem a comidinha a sério (à séria, se lido em Lisboa)...
Já agora: um tasco é um tasco. Uma tasca ou uma tasquinha são outra coisa...
P.S. - Publicado originalmente no dia 22 de Janeiro de 2017. De acordo com a mitologia grega, hoje, 20 de Agosto, é dia do Festival de Némesis, deusa da vingança. Némesis era, dito com mais rigor, a divindade grega que personificava a justiça implacável. Concedendo a cada um o que merecem as suas obras, era o símbolo do equilíbrio e da equidade. Punia especialmente a arrogância e a transgressão dos limites impostos à natureza humana.
E o número da máquina fotográfica?
- Quando for assim, ligue-me para a máquina fotográfica.
No tempo em que
A primeira selfie
A minha cara
quarta-feira, 18 de agosto de 2021
Era um homem muito antigo 2
O rapaz do sorriso de plástico
Era um homem muito antigo
terça-feira, 17 de agosto de 2021
Desce, desce, balão desce
- Aonde?, aonde?... - perguntou o patego.
Mais leve que o ar
As grandes decisões devem ser tomadas em cuecas
Quando se tem queda para a queda
segunda-feira, 16 de agosto de 2021
Os candidatos remax
Assassinado por formigas
Um Tales de Mileto
A mão que cumprimentou Agostinho da Silva
O despertar do filósofo
- Chega-me o açúcar - disse a mulher do filósofo.
domingo, 15 de agosto de 2021
Parti pris
Eu pessoalmente não tenho nada contra a Coca-Cola, mas não gosto. E nunca provei.
P.S. - O americano John Stith Pemberton, químico farmacêutico inventor da Coca-Cola, morreu no dia 16 de Agosto de 1888.
Ó Elvis, ó Elvis
Quando Elvis não morreu
As pombinhas da catrina
As pombinhas da catrina andaram de mão em mão. Acabaram por casar, é certo, mas da fama não se livram...
Maria já não vai com as outras
Foi comprar tabaco e não voltou
Nunca por amor
sábado, 14 de agosto de 2021
Cavalheiro de posição
- E qual é exactamente a posição de vosselência?...
- Defesa central. Mas também faço o lado direito...
P.S. - Hoje, 15 de Agosto, é Dia do Solteiro. E do Fotógrafo. E da Informática. E da Gestante. E de Nossa Senhora Achiropita, da Abadia, da Ajuda, da Assunção, da Boa Morte, da Boa Viagem, da Candelária, da Ponte, da Saúde, da Vitória, de Begoña e Desatadora dos Nós. Sobretudo de Nossa Senhora Desatadora de Nós, amém!
Oh, my dicky ticker!
Eu tinha um cardiologista e visitava-o de quatro em quatro meses.
Falávamos de jornais, de jornalistas, de política, de restaurantes
secretos e fora de mão e sobretudo do FC Porto. E media a tensão, o que é
extraordinário! Deixei. Deixei também o urologista e fiquei-me apenas com o dentista,
que me sevicia de meio em meio ano, fora os inopinados. É a crise, é a
vida. Um destes dias morro e vão dizer que foi por por causa de eu ter
deixado de falar de jornais, de jornalistas, de política, de
restaurantes secretos e fora de mão e sobretudo do FC Porto com o meu
ex-cardiologista.
P.S. - Hoje, 14 de Agosto, é Dia do Cardiologista. Pelo menos no Brasil...
Pegada ecológica
sexta-feira, 13 de agosto de 2021
Há 636 anos que ninguém vê a padeira
Esta padeira nunca existiu. Ainda assim, a lenda liga-a à Batalha de Aljubarrota e ao massacre que se lhe teria seguido, mas que também nunca aconteceu. Brites seria a líder de um grupo de populares, tipo claque de futebol, que perseguiu os castelhanos em fuga. Brites emboscou-se, fez-lhes espera, aos desgraçados dos espanhóis, e matou com as próprias mãos uns tantos, se por acaso fosse verdade e o Benfica tivesse claques.
Nessa noite de 14 de Agosto de 1385, a padeira chegou a casa e descobriu sete espanhóis escondidos no forno onde costumava cozer o pão. Ela percebeu logo que eles eram espanhóis porque diziam muito "qué rico!", "vale, vale!", "qué tal, qué tal?" e outros nomeadamentes. Sem pestanejar, ou ainda que pestanejando derivado à farinha, Brites pegou na pá e bateu-lhes até os matar, um a um, à medida que os infelizes iam saindo do forno.
O professor catedrático e historiador Francisco Ribeiro da Silva contou-me uma vez que a Padeira de Aljubarrota pertence à classe dos "mitos simpáticos que sublinham muito justamente o importante papel de algumas mulheres na História de Portugal", ela por ela com, por exemplo, a nossa Maria da Fonte.
Portugal, país de doutores e bastardos
Inquéritos de Verão
quarta-feira, 11 de agosto de 2021
Se um elefante
- E tive assim tipo uma reacção pélvica, passei-me...
- Reacção quê?
- Pélvica. Tipo à flor da pele, tás a ver? Pélvica.
- Queres dizer epidérmica?
- Não, essa cena é dos elefantes. Pélvica. Diz-se pélvica. Dããããã!...
P.S. - Hoje, 12 de Agosto, é Dia Mundial do Elefante.
terça-feira, 10 de agosto de 2021
A sério? E há quem goste?
O homem e o cão (e vice-versa)
Todas
as manhãs o homem e o cão passeiam pela praia, naquela incerta linha de
sobe e desce onde o mar enrola na areia e acaba Portugal. Par pândego,
haviam de ver. O homem atira a bola de ténis e o cão, dez-réis de cão,
rasteirinho e de raça que não sei, corre e salta, como uma bala, como
uma mola, abocanhando-a, à bola, ainda no ar. Cão danado para a
brincadeira. E habilidoso. "Bem, muito bem, espectáculo!", diz o homem. E
o cão regressa e larga a bola, e corre e salta à volta do homem, e
ladra no verdadeiro ladrar que não morde, e abana o rabo, abana, que
quer dizer "Obrigado, estou muito contente, mais, quero mais!...", e põe a
língua de fora, que quer dizer "Ainda havemos de fazer isto ao
contrário".
Um
quadro enternecedor. Homem e cão, numa simbiose perfeita. O amigo dos
animais e o melhor amigo do homem. Fossem eles polícias, o homem e o cão
da bola de ténis, matinais frequentadores de oceanos, e estaríamos na presença de um binómio exemplar e
definitivo. Decerto já viram nas notícias: binómio é um polícia e um cão
que são colegas de trabalho. Já um carteiro e um cão são um perónio. Um
perónio partido e o fundilho das calças esgaçado.
Todas
as manhãs, portanto. Eu também por ali ando comigo pela trela e por
isso é que sei o que estou a contar. Ontem desatei a rir com o raio do
cão, que realmente tem jeito, parece do circo o lingrinhas. (Não é que
isto interesse, mas fez-me lembrar o Kelvin, o outro brinca-na-areia, e
se calhar por isso é que me ri). Entre uma acrobacia e outra, o cão
tendia a enfiar-se na água, coisa de cão certamente, e o homem dizia
"Sai daí, Rex, anda cá, Rex, já vais levar, Rex!...", nem de propósito Rex,
eu seja cão se estou a inventar. O homem, que tomara nota do meu riso,
resolveu pôr-me ao corrente, "É todos os dias a mesma merda, ele gosta, o
caralho do cão mete-se no mar e eu depois é que tenho de lhe dar banho,
secar e escovar, trabalho filho da puta, olha, lá vai ele outra vez, ó
corno!, fode-me sempre..."
O
cão resolveu apanhar a última, mas sem boca. Estava-se a armar para
mim. Dominou a bola com o peito e, sem deixar cair, rematou em grande
estilo e foi golo, palavra de honra que foi golo. Depois colocou o
açaime ao homem e levou-o para casa.
P.S. - Publicado originalmente no dia 2 de Junho de 2013.
Cautelas e caldos de galinha
O meu avô da Bomba era um homem muito desconfiado. Segurava as calças com cinto e suspensórios.
segunda-feira, 9 de agosto de 2021
É de homem
Homem que é homem não teme leão. Os ratos são outro assunto...
P.S. - Hoje, 10 de Agosto, é Dia Mundial do Leão.
É preciso dizer alguma coisa
Como exemplarmente fica demonstrado, creio, no parágrafo anterior.
A diferença entre um vigarista e um vigarista
Faustino foi ao banco pedir um empréstimo. Quantia avultada. Pretendia construir e montar de raiz uma fábrica de papel canelado, investimento para cima de milhões de euros e emprego garantido para cerca de 23 pessoas, talvez vinte e duas e meia ou vinte e três e meia, ainda não sabia bem. O senhor do banco riu-se: "Fábrica de cartão canelado? Vê-se logo que é golpe, vigarice das antigas". "Golpe, não, caríssimo senhor, e faça o favor de reparar que eu disse caríssimo sem saber sequer a taxa de juro. Em todo o caso, se eu fosse vigarista, e dos antigos, ter-lhe-ia indicado que precisava do dinheiro para abrir um banco", ripostou Faustino, sem se rir, e foi roubar carteiras para outro lado.
Manigâncias
O meu banco mente-me
Despesas de manutenção efectivamente
domingo, 8 de agosto de 2021
De cavalo para burro
Passou de cavalo para burro e gostou, porque a verdade é só uma: com os pés rentes ao chão, sentia-se muito mais confortável e seguro...
Quadrúpedes
O cavalo é um quadrúpede. Meio polvo, também.
P.S. - O Brasil celebra hoje, 9 de Agosto, o Dia Nacional da Equoterapia.
E as gatas?
sábado, 7 de agosto de 2021
O gato
que é primo de uma pantufa,
o gato molhou o pêlo,
foi secá-lo à estufa.
sexta-feira, 6 de agosto de 2021
Ruptura de stock
E lembro-me do Verão de 1990, na ilha do Sal, Cabo Verde. Agosto passava para Setembro, e a Super Bock esgotou sem remédio em toda a ilha. Fui eu.
A receita
- Mas com certeza, ora tome lá.
- Hummm... precisava de mais um bocadinho de cerveja e menos açúcar.
quinta-feira, 5 de agosto de 2021
Cinco contos de tremoços
Às vezes o José Manuel, que de baptismo era Rodrigues, levava-me a umas noitadas privadas (ele, o Pimenta e eu) no Peludo antigo, mesmo em frente ao seu excêntrico atelier, o que nos era de uma extrema comodidade. As noitadas entravam pela madrugada dentro, porque o Zé Manel tinha muito que contar e nós gostávamos de ouvir. O Sr. Avelino fechava para nós. Comia-se um marisquito, que àquelas altas horas estava nas últimas, e sobretudo bebia-se cerveja, finos, com tremoços, para fazer boca. Mais do que uma vez esgotámos o stock de copos, enchendo sete ou oito mesas à nossa volta, o café inteiro, porque o Sr. Avelino gostava de fazer a conta no fim. Partiam-se alguns, o Sr. Avelino afinava, tomava nota para acrescentar ao rol. Mas o pior era o desbaste nos tremoços, que pedíamos repetidamente por uma questão de princípio.
Uma noite o Sr. Avelino não aguentou e queixou-se: - Sr. Zé Manel, assim não pode ser, já comeram mais de dez pires de tremoços. É um prejuízo muito grande. Os tremoços custam-me dinheiro, valha-me Deus!...
O Zé Manel foi ao bolso do casaco, sacou da carteira marreca, tirou uma mão-cheia de notas e disse séria, calma e secamente: - Ó Avelino, traz-me cinco contos de tremoços! - e pousou o dinheiro como mão de póquer em cima da única mesa de vago, que era a nossa...