segunda-feira, 2 de abril de 2012

Avenida sem saída

Foto Hernâni Von Doellinger

Há uma avenida na cidade do Porto que não vai a lado nenhum. É uma avenida sem saída, um projecto de avenida que não sai do papel. Chama-se Avenida Nun'Álvares, tem tabuleta e tudo, e foi inventada por Rui Rio, em 2007, para fazer a ligação da Praça do Império, na Foz, à Avenida da Boavista, atravessando a muito bem frequentada freguesia de Nevogilde. Era para ser uma coisa em grande: uma mega-avenida com quilómetro e meio de comprimento, três-faixas-três em cada sentido, separador central, ciclovia, zonas de estacionamento e passeios de ambos os lados, o que dava a módica largura de 37 metros.
Caíram logo o Carmo e a Trindade. "Aqui-d'el-rei, que nos querem roubar o sossego!", gritou a indignada nobreza nevogildense, conjurando reuniões e abaixo-assinados e mandando à frente a Junta de Freguesia local. Figurões como Paulo Azevedo, Artur Santos Silva, Miguel Veiga, Pulido Valente, Rui Moreira ou Souto Moura deram a cara pela revolta da fina-flor, na retaguarda, mas enganaram-se no número da porta: Rui Rio corta sempre a direito e nunca cede a pressões. Nem dos amigos, que até nem serão assim tantos. Para além disso, se calhar a superavenida dava jeito ao presidente da Câmara do Porto para as suas corridas de carrinhos.
E a coisa tem avançado. Devagar, para não levantar mais ondas, mas a verdade é que a autarquia da Invicta tem dado, com segurança e determinação, os passos política e tecnicamente tidos e achados por necessários e essenciais para que estejam rápida e completamente prontos e aprovados os projectos dos projectos que enformarão os projectos do projecto preliminar da avenida.
Rui Rio vai-se embora para o ano. E assim já não sei outra vez se vai haver avenida ou não. Avenida a sério. O que lá está agora, à mão direita de quem sobe a eternamente maltratada Rua do Molhe, é um bocado de caminho com saída para o campo e a praia a dois passos. Bem bom. Uma avenidazinha privativa que muito deve agradar à exclusiva nata nevogildense.
E tenho de confessar: não os critico, aos notáveis de Nevogilde, gente de bem. Eu, se estivesse no lugar deles, também não queria uma avenida a passar à porta de uma das minhas casas. Sim. Porque, se eu estivesse no lugar deles, também tinha... várias casas. Ou o que é que pensam?

(Ler mais em Menos uma dor de cabeça para Menezes)

4 comentários:

  1. Graças a Deus, este "criminoso" de lesa-Cidade vai-se embora.
    Ele é lesto em tirar aos pobres para dar de bandeja aos ricos. Tem o comportamento do sargento: ARROGANTE PARA BAIXO E RAFEIRINHO PARA CIMA.
    Esta Estória da "Super-Avenida"...rsrsrs (ainda bem que a contas),é de ir às lágrimas. 1.500m? Separador? Seis faixas...? Pois, está-se mesmo a ver, era o início de um excelente percurso alternativo para a corrida de carrinhos da terceira-idade de que ele tanto gosta. Nada tenho contra os homens do dinheiro. Dinheiro que,também gostaria de ter, desde que limpo. Mas este braço-e-ferro ele vai perder. Já era tempo de perder algo na vida. Vai-se embora e ainda bem. Quem lhe suceder vai ter arregaçar as mangas para limpar toda a merda que o homem deixa.
    Gaspar de Jesus

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  2. Há outra fortíssima possibilidade, caro Gaspar. Se calhar, até a mais provável. É que quem venha a seguir faça mais merda ainda.
    M.A.

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