Eram dois homens, já na segunda metade
da idade. Um deles fica à porta, enquanto o outro entra no restaurante. O
proprietário, que o recebe no hall, pergunta-lhe "É para
almoçar?" e o homem responde "É para dar uma vista de olhos". O dono do
estabelecimento, embora lhe apeteça, não disparata: "Faça favor. Isto
não é nenhum museu, portanto não paga para ver".
Um ou dois minutos depois, o
homem sai. Olha para o amigo que o espera, não falam, e desandam dali
no mesmo passo descomprometido com que tinham chegado. Deixo de os ver.
Fico a imaginar que vão a outro restaurante, fazem a mesma cena mas
trocam de papéis. Assim, à vez, vão comendo com os olhos e já ficam
almoçados. Melhor do que ir mastigar o papo seco de nariz amarrotado
contra a montra do talho, como vi uma vez em Fafe.
Nos corredores do Orçamento se calhar não sabem: comer com a boca está a sair dos hábitos de cada vez mais portugueses.
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