Mateo Ruecas e Soledad, ou qualquer um dos outros pares, menos Antolín e a sua turista, têm a seguinte conversa, mais ou menos: gostas muito de mim?, sim, muito, dou-te prazer?, sim, muito, juras-me que te sei dar prazer?, juro, muito prazer, vais gostar sempre de mim?, sim, sempre. Depois guardam silêncio por uns instantes, apalpam-se e continuam. Não consigo resistir ao amor que tenho por ti, nem eu, não consigo resistir ao muito que gosto de ti, nem eu, estou pronto, e eu, estou muito excitado, e eu, estou que não posso mais, nem eu, estou que nem respondo, nem eu, está dura que nem uma pedra, está sempre assim, queres que eu ta dê inteira?, não posso, porque é que não podes?, estou com o período, porque não ma chupas?, está bem, vai para o curral, está bem, queres que a tire aqui mesmo?, não, tiras as mamas pelo decote, não, só uma, está bem, na televisão estão a dar o jogo de futebol entre a Espanha e a Irlanda do Norte e o par não tem de sair para o curral porque enquanto ela tira uma mama pelo decote ele vem-se - sem a tirar da braguilha? -, sim, não lhe dá tempo, está muito calor e os rapazes, depois de se virem sem a tirarem, apoiam a cabeça no ombro da rapariga, acendem um cigarro e ficam em silêncio a olhar para a televisão. Se calhar tudo isto é mentira e ninguém a bateu a ninguém, as testemunhas dizem que não, mas o Dr. Cosme, o senhor juiz, diz que sim, que as raparigas, que são todas umas putas, estavam a masturbar os rapazes, que são todos uns viciados anti-sociais, sem excepção, isto se calhar também é mentira e nem todas o estavam a fazer a todos nem todos deixavam que todas o fizessem ao mesmo tempo, isto é muita casualidade, às vezes há algum que não quer porque lhe doem os queixais ou porque é um corte para eles, era a palavra do juiz e testemunha contra a dos actores e testemunhas, a coisa fica um pouco esquisita e além disso também não se pode meter ninguém na prisão por uma punheta a mais ou a menos, em Archidona aconteceu uma coisa parecida e as pessoas gozaram com os juízes, o pior é que aqui houve um morto.
Camilo José Cela, in "O Assassínio do Perdedor"
(Camilo José Cela nasceu no dia 11 de Maio de 1916. Morreu em 2002.)
Sem comentários:
Enviar um comentário