Alguns, porém, não se resignam facilmente. A terra em que nasceram e que lhes ensinaram a amar com grandes tropos patrióticos, com palavras farfalhantes, existe apenas, como o resto do mundo, para fruição de uma minoria. E eles, mordidas as almas por compreensíveis ambições, querem também viver, querem também usufruir regalias iguais às que desfrutam os homens privilegiados. E deslocam-se, e emigram, e transitam de continente em continente, de hemisfério a hemisfério, em busca do seu pão.
Mas em todo o mundo, ou em quase todo o mundo, vão encontrar drama semelhante, porque semelhantes são as leis que regem o aglomerado humano. Não esmorecem, apesar disso. Continuam a transitar de ingénuos olhos postos na luz que a sua imaginação acendeu, enquanto os mais ladinos, aproveitando todas as circunstâncias ou criando-as até, fazem oiro com a ingenuidade dos ingénuos.
Eles continuam a transitar com uma pátria no passaporte, mas em realidade sem pátria alguma, pois aquela que lhe é atribuída pertence apenas a alguns eleitos. Para eles, ela só existe quando nos quartéis soam as cornetas de guerra ou nas repartições públicas se recolhem tributos. É assim na Europa e é assim nos outros continentes.
Nasce o homem e, se não dispõe de riqueza acumulada pelos seus maiores, fica a mais no mundo. Entra na vida - já se disse e é bem certo - como as feras nos antigos circos - para a luta! Luta para criar o seu lugar, luta contra os outros homens, luta pelas coisas mesquinhas e não pelas verdadeiramente nobres, por aquelas que contribuiriam para maior elevação humana. Para essas quase não há tempo na existência de cada um.
(Ferreira de Castro nasceu no dia 24 de Maio de 1898. Morreu em 1974.)
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