Amor
Olha estas velhas árvores frondosas
Que enchem de sombra a solitária rua,
E esse chão de verduras, e aquelas rosas
Que dos muros se pendem curiosas
Para verem passar a imagem tua.
Não te diz tudo amor? Ouves? Suspende!
Lá derramam as aves pela selva
As doces notas que tua alma entende:
Vês? Mais pálido um raio a lua estende
Para beijar-te os pés na escura relva.
Quando sabem que vens, tudo prepara
Recepção festival, como se fosse
Cousa do céu que por aqui passara;
Então a luz dos astros é mais clara,
Das florinhas o hálito mais doce.
Gorjeia o rouxinol já de mais perto,
Gemem as auras melodioso idílio,
Em tudo há um som de cânticos incerto,
E do livro das árvores aberto
Chovem rimas de Horácio e de Virgílio.
Eu pela tua mão, calcando a alfombra
Do verde musgo, absorto em sonhos vagos,
Cismo no teu amor que esta alma assombra,
E julgo que nos céus por entre a sombra
Nos está rindo a estrela dos Reis Magos.
É que, se a natureza, que te admira,
O musgo e o cedro, as rosas e o perfume,
Formam, para cantar-te, ignota lira,
Nos seios de minha alma outra suspira
Que mais poesia e mais amor resume.
"Heras e Violetas", Guilherme Braga
(Guilherme Braga nasceu no dia 22 de Março de 1845. Morreu em 1874.)
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