- Pra donde tu vais, Zeferino?
- Vou ali, já volto.
- Hoje, não é dia de trabalho não, menino!
- Não vou trabalhar não, minha mãe! Vou só ao varador preparar a armadilha.
- Sexta-feira da Paixão! Virgem Nossa Senhora!
- Amanhã é Sábado da Aleluia e nós precisamos quebrar o jejum...
A montaria escorregou macia no tejuco, banzou de bubuia em cima d’água. Zeferino pulou pra dentro, num salto ágil, com o leque do jacumão na mão. Deu um empurrão na caiçara, afastou-se ligeiro para o perau do rio e, com remadas rápidas, sumiu-se no meio do furo - xuá-xuá-xuá...
D. Marocas ficou em casa matutando. Sexta-feira Santa não era dia de se caçar não. Era pecado matar bichos na Sexta-feira Santa. Naquele dia, seu Valentim chegou da mata, com cachos de açaí às costas, estancou de espanto:
- Apois, Zeferino teve coragem de ir caçar no dia de hoje!
- Se teve!..
- É capaz de topar com o Curupira.
- Ainda outro dia, "Nhá" Fulô me contou o "causo" dum "muço" que foi pescar na Sexta-feira da Paixão e topou com a Mãe-D’água.
- Abusões!
Quando a montaria abicou no tijuco, do outro lado do igarapé, Zeferino pulou para um pau grande, deitado na barraca, que servia de ponte. Subiu pra ribanceira, atolando-se na lama, agarrando-se nos matos, com a espingarda nas costas. Entregou a alma a Deus, e penetrou no matão fechado.
"A Mata Submersa", Peregrino Júnior
(Peregrino Júnior nasceu no dia 12 de Março de 1898. Morreu em 1983.)
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