Com respeito aos dramas de Inês, considero como tradição
histórica não só o amor de perdição do herdeiro da coroa e o seu
desenlace sangrento, mas também os seus reflexos de além-tumba. Isto é, ao
iníquo intercâmbio dos executores portugueses da ordem régia contra
expatriados castelhanos e à tremenda vingança neles realizada. Chamo
histórico também tanto ao cortejo fúnebre imponente de Coimbra a
Alcobaça, como ao juramento solene, ou sacro perjúrio, enunciado pelo
filho de Afonso IV, depois de entronado, com relação ao seu casamento
clandestino; e à configuração de Inês, na estátua sepulcral
jazente, com coroa de rainha. Três actos consecutivos, intimamente
ligados entre si e com o quarto e último: o da vingança tomada nos
algozes. Actos cujo conjunto é único na história de todas as nações e
bem merece a fórmula de "grande desvairo", cunhada por Fernão Lopes.
"A Saudade Portuguesa", Carolina Michaëlis
(Carolina Michaëlis nasceu no dia 15 de Março de 1851. Morreu em 1925.)
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