Vadiagem 
Naquela hora já noite 
quando o vento nos traz mistérios a desvendar 
musseque em fora fui passear as loucuras 
com os rapazes das ilhas: 
uma viola a tocar 
o Chico a cantar 
(que bem que canta o Chico!)
e a noite quebrada na luz das nossas vozes
Vieram também, vieram também 
cheirando a flor de mato 
- cheiro grávido de terra fértil - 
as moças das ilhas 
sangue moço aquecendo 
a Bebiana, a Teresa, a Carminda, a Maria.
Uma viola a tocar 
o Chico a cantar 
a vida aquecida com o sol esquecido 
a noite é caminho 
caminho, caminho, tudo caminho serenamente negro 
sangue fervendo 
cheiro bom a flor de mato 
a Maria a dançar 
(que bem que dança remexendo as ancas!)
E eu a querer, a querer a Maria 
e ela sem se dar
Vozes dolentes no ar 
a esconder os punhos cerrados 
alegria nas cordas da viola 
alegria nas cordas da garganta 
e os anseios libertados 
das cordas de nos amordaçar
Lua morna a cantar com a gente 
as estrelas se namorando sem romantismo 
na praia da Boavista 
o mar ronronante a nos incitar
Todos cantando certezas 
a Maria a bailar se aproximando 
sangue a pulsar 
sangue a pulsar 
mocidade correndo 
a vida 
peito com peito 
beijos e beijos 
as vozes cada vez mais bêbadas de liberdade 
a Maria se chegando 
a Maria se entregando 
 
Uma viola a tocar 
e a noite quebrada na luz do nosso amor...
"Poemas", António Jacinto
(António Jacinto nasceu no dia 28 de Setembro de 1924. Morreu em 1991.)  
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