sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Plínio Marcos 2

Futebol e papa

O papa passou por São Paulo e houve como um despertar na espiritualidade do povo. Sente-se isso em qualquer dos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos dos roçados do bom Deus, que cruzam as quebradas do mundaréu. Esse povão lesado, sofrido, que só come bagulho catado no chão da feira, que mora na beira dos rios e quase se afoga toda vez que chove, que só berra da geral sem nunca influir no resultado, mostrou todo seu amor e todo seu carinho para esse elemento inquietador que veio para despertar. E teve, o povão, algumas chances de ver o Maluf com sua comitiva de sabujos e, isolados, vaiá-los com toda força de suas caixas de catarro. O Francelino também levou vaia. Quilômetros de apupos merecidos foram dirigidos ao Francelino pelo povão mineiro. Isso quer dizer que vai faltar vaia nos estádios de futebol nesse domingo. O torcedor já descarregou sua bateria. Amou, aplaudiu chorando o papa e vaiou Maluf e seus sabujos. São Paulo, Palmeiras, Corinthians e Santos podem entrar tranquilos em campo e apresentarem sem medo o futebol morrinhento que vêm apresentando. Tenho certeza de que a torcida não vai querer pegar nenhum jogador na saída do estádio para ralar. Os incompetentes dirigentes do futebol de São Paulo e do Brasil já estão ficando em segundo plano. O homem comum está percebendo que um Nabi, um Matheus, um cartola qualquer é apenas consequência da situação política do país, que escala Maluf, Francelino e outros do mesmo naipe serem governadores. O futebol sem arte, sem brilho que, devido aos tecnocratas, burocratas e politiqueiros, hoje se joga no Brasil é apenas o reflexo do que se passa na nação. E o torcedor mais cegueta começa a perceber isso. Começa a se desinteressar de gastar energia vaiando jogador e brigando na geral. Prefere vaiar os verdadeiros culpados por todo o nosso triste estado de miséria.
Só causou espanto entre o pessoal da galera os Maluf, os Matheus não quererem enfiar uma camisa do Corinthians no papa e levá-lo pra benzer a pedra fundamental do futuro estádio corintiano. Eles são capazes de tudo pra se fazerem notar.

Há muito tempo o Morumbi não servia para um espetáculo tão bonito, de tanta espiritualidade e fé. É hora de o torcedor despertar e se tocar que nenhum time, por mais alegria que nos dê, pode ser confundido com religião.

Plínio Marcos

(Plínio Marcos nasceu no dia 29 de Setembro de 1035. Morreu em 1999.)

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