O Manuel Narciso, maricas dos quatro costados, era ruim trabalhador e detestável pessoa; só para os trabalhos mulherengos tinha jeito e só para os seus amásios tinha demonstrações de estima. Era o pior dos criados, dizia o meu pai; era a melhor das criadas, dizia a minha mãe, e um pouco por esse motivo, mas principalmente por ser irmão da comadre Narcisa, conservou-se na casa até ser velho, muito velho, sempre resmungão, sempre maldizente, escandaloso nos seus actos, que por fim estadeava, provocando a indignação e o nojo. Dizia o compadre Rosa, erudito analfabeto:
- Este diabo é como as sereias, que da cintura para baixo são uma coisa, e da cintura para cima são outra.
Todos os anos, na terça-feira de carnaval, se mascarava de mulher, e era como se a um preso dessem liberdade, abrindo-lhe a porta da cadeia. O compadre João Catarino, quando o via de saias, lenço na cabeça, um xaile pelos ombros, padejando as ancas como as marafonas, não se dispensava de lhe dizer:
- Ó ladrão, tu hoje devias fingir de homem, para te não conhecerem!
"Por Cerros e Vales", Brito Camacho
(Brito Camacho nasceu no dia 12 de Fevereiro de 1862. Morreu no dia 19 de Setembro de 1934.)
(Brito Camacho nasceu no dia 12 de Fevereiro de 1862. Morreu no dia 19 de Setembro de 1934.)
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