segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Comendo salada de violetas com os Pink Floyd

Luís Filipe Barros não canta, não toca, que me conste, mas é uma lenda viva do rock'n'roll. É português e da rádio, e quem não souber dele o melhor é procurá-lo na Wikipédia, porque eu aqui não faço desenhos. Conviveu com os Pink Floyd, com os Bon Jovi e com os Deep Purple, quase partiu uma perna ao vocalista dos Supertramp, ensinou a aguardente aos Spandau Ballet, levou os Police ao Jamaica, estendeu ao comprido o líder dos Clash, mas tudo começou com... Herman José.
Anos oitenta do século passado. Luís Filipe Barros era uma das vozes da moda e gozava do estatuto de verdadeira vedeta. "Ia aos restaurantes, almoçava ou jantava, mas não pagava. Nos bares, bebia sempre à borla. Ia às discotecas, aos fins-de-semana, e ainda ganhava dinheiro. Eram realmente bons tempos...", dizia-me o famoso radialista há coisa de nove anos, para um trabalho na revista 24horas.
Nas deslocações ao Norte, um dos seus companheiros de viagem costumava ser Herman José, que também fazia o circuito das discotecas. "Íamos para o Porto na sexta-feira e regressávamos a Lisboa no domingo à noite, a contar notas, cada um para o seu lado, no comboio". Da primeira vez havia em Campanhã uma pequena multidão de fãs à espera, agitando cartazes. Luís julgava que era para o Herman, mas não, era mesmo para ele...
O importante papel que Luís Filipe Barros desempenhava como divulgador musical na rádio portuguesa introduzia-o na intimidade das estrelas de rock que visitavam Portugal ou Espanha. Uma vez, em Madrid, foi convidado para jantar com os Pink Floyd, após concerto. Contou-me: "Eu estava cheio de fome, queria comer o meu bife, mas os gajos andavam numa de emagrecer e tinham marcado num restaurante japonês. Foi uma desgraça: peixe cru e salada de violetas, naquela altura eu sabia lá o que isso era. Mas dava para perceber que os tipos já não podiam ver o Roger Waters. Tinha a mania que mandava em tudo, lá por o Sid Barrett ser maluco..."

Aos Supertrump, que andavam também nos cornos da lua com o "Breakfast in America", Luís Filipe Barros ia dando cabo dos dois concertos agendados para Cascais. Alguém teve a infeliz ideia de organizar um jogo de futebol entre os músicos e a equipa da chamada comunicação social. Luís, do lado dos jornalistas, levou a coisa a sério (à séria, se lido em Lisboa) e... ia partindo uma perna ao vocalista da banda britânica. Confessou: "Dei uma trancada tamanha no Roger Hodgson, que quase não havia concerto para ninguém. Fui expulso e tudo..."
Outro que levou que contar foi Joe Strummer, a voz dos Clash, num espectáculo em que o nosso Luisinho "quase andava à pêra com um gajo da segurança que estava com eles e tinha uma boina do IRA". Com o grupo em palco a tocar na maior desorganização, dado o adiantado estado de embriaguez e não só em que todos se encontravam, Strummer pediu a Luís Filipe Barros que o ajudasse a subir ao estrado. E o radialista deu o seu melhor: "Empurrei-o para o palco, mas quando chegou lá acima, embalado, faltaram-lhe as pernas e ele espalhou-se ao comprido à frente de dez mil pessosas. Foi um trambolhão monumental".
Em abono da verdade, deve dizer-se que Luís Filipe Barros tinha por hábito desencaminhar o pessoal para os copos, no "Snob ou no Bairro Alto", depois dos concertos. Uma noite levou o Stewart Copland a esse baluarte do bas-fond lisboeta que era o bar Jamaica, e o baterista dos Police gostou tanto que, bem bebido, "já estava a querer comprar aquilo..."
Outra vez pegou nos aprumadinhos Spandau Ballet e ala até à Costa da Caparica, para almoço. Comeram sardinhas assadas e "adoraram", porém perderam-se pela aguardente. Emborcaram uma garrafa inteira, e desde esse dia - recordou o Luís -, "quando davam uma entrevista à MTV, diziam sempre que Portugal tinha a melhor bebida do mundo: o bagaço".

E enfim um extra. Luís Filipe Barros no camarim dos Bon Jovi. "Nunca tinha visto nem nunca mais voltei a ver uma cena assim: o baterista "Tico" Torres, em cuecas e de barrete na cabeça, passando as calças a ferro..."

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