domingo, 24 de setembro de 2017

Austregésilo de Athayde 2

Outro dia, Brito Broca, que lê velhos jornais e velhas revistas, descobriu num deles, muito maior de trinta anos, uma nota sobre o romance "Quando as Hortênsias Florescem", que escrevi em 1919 e felizmente não foi publicado. Os originais existem, mas vou destruí-los no fogo um destes dias. Deixou de aparecer na época porque eu o escrevera tão ao vivo nas personagens e nos fatos que o meu querido e saudoso tio Professor Austregésilo, para quem eu lera alguns capítulos, me aconselhou a deixá-lo dormir na gaveta o o que lhe parecia mais acertado, substituir as pessoas e os episódios, mas isso, no meu ponto de vista, importaria em mutilar a obra de arte.
Passagens do "Quando as Hortênsias Florescem" viram a escassa luz da publicidade em jornais sem muitos leitores. Logo descobriram que um dos tipos retratados era o polemista Antônio Torres, com quem eu andara às turras na imprensa e que teve a imprudência de desafiar-me para um duelo. Torres era gordo e pesadão, jamais se dera a exercícios físicos e nada entendia de como se bater a espada ou florete. No tempo, eu tinha músculos de aço, o boxe era um dos meus esportes e o mestre Zé Ferreira adestrara-me na esgrima para toucher à la fin de l’envoi qualquer espadachim famanaz. Duma intervenção oportuna de Gilberto Amado, que advertiu Torres dos riscos que ia correr, resultou uma convenção de cavalheiros, segundo a qual não deveríamos mais nos engalfinhar em letras de fôrma.

"Vana Verba. Conversas na Barbearia Sol", Austregésilo de Athayde

(Austregésilo de Athayde nasceu no dia 25 de Setembro de 1898. Morreu em 1993.)

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