Antônio triste 
Esguio como um poste da Avenida  
Cheio de fios e de pensamentos,  
Antônio era triste como as árvores  
Despidas pelo inverno,  
Alegre, às vezes, como a passarada  
Nos fins da madrugada.  
Sozinho, como os bancos de uma praça  
Em noites de neblina,  
Antônio, protegido de retalhos  
Com seu cigarro aceso,  
Lembrava-me um balão que, multicor,  
Se vê no firmamento:  
Não se sabe donde veio  
Não se sabe aonde vai.  
Não era velho  
Nem era moço,  
Não tinha idade  
Antônio Triste.  
Quando as luzes cansadas se apagavam  
E as trevas devoravam a cidade,  
Antônio Triste chorava e cantava:  
À luz de um cigarro, bailava e rodava  
Pelas ruas desertas e molhadas.  
Mas, certa noite um varredor de rua,  
Viu muito lixo no chão:  
Tanto trapo amontoado,  
Quase um balão de São João!  
Um resto de cigarro num canto da boca,  
A mecha se apagara.  
Antônio, o triste balão de retalhos,  
Findara!
"Antônio Triste", Paulo Bomfim
(Paulo Bomfim nasceu no dia 30 de Setembro de 1926)
Sem comentários:
Enviar um comentário