sábado, 31 de dezembro de 2016

Junqueira Freire

O apóstata
(Canção do católico)

Não sentes por sobre a face,
Como um raio inopinado,
Esse anátema sagrado,
Essa férrea excomunhão?
Não sentes a espada nua
De Roma no teu semblante,
De Roma, - eterno gigante,
Sustendo infernos na mão?


Ah! triste, perjuro infame,
Que esqueces esse legado,
Santa herança do passado,
Santa crença de Jesus!
Que a negras voragens desces,
E julgas que ao céu te elevas!
Que por turbilhões de trevas
Trocas um reino de luz!


Ah! triste, que te abismaste
Num precipício insondável
Com esse orgulho execrável
Que Lusbel inspira aos seus!
Que duas vezes perdeste
Esse domínio sagrado,
Paraíso resgatado
Co’o sangue puro de Deus!


Ah! triste, que espedaçaste,
Com sacrilégio altanado,
O juramento prestado
Junto à fonte batismal!
Co’o perjúrio que fizeste,
Tu, infante estremecido,
Cravaste um punhal buído
No coração paternal!


Ah! triste, que te desgarras,
De queda em queda passando,
Como do monte rolando
Costuma a pedrinha vir.
Ah! onde, cristão perjuro,
Parará teu baque infindo?
Ou irás sempre caindo
De um em outro nadir?


Ah! triste, que insano clamas,
Com teus sofismas cruentos,
Que de livres pensamentos
Precisa o espírito teu!
E com Lutero te abraças,
Tu, apóstata ignorante,
Na convicção protestante,
Prelúdio certo do ateu!


Vai, apóstata, perjuro,
Com esse raio gravado,
Esse anátema sagrado,
Essa férrea excomunhão!
Não sentes a espada nua
De Roma no teu semblante,
De Roma, - eterno gigante,
Sustendo infernos na mão?


Junqueira Freire

(Junqueira Freire nasceu no dia 31 de Dezembro de 1832. Morreu em 1855.)

Sem comentários:

Enviar um comentário