domingo, 19 de junho de 2016

O meu Europeu é melhor que o teu 4

Quando o futebol não era para cátias vanessas
Os nomes interessam-me muito. "Diz-me o teu nome, dir-te-ei quem és" - acredito neste ancestral provérbio chinês que acabo de inventar agora mesmo, e não no outro, bem intencionado e de autor incerto, "Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és". Millôr Fernandes explicava bem melhor do que eu o meu ponto de vista: "Judas andava com Cristo. E Cristo andava com Judas", ensinava o sábio brasileiro. Estamos então percebidos?
Portanto, dou-me ao trabalho dos nomes. Quando eu era miúdo marcava no jornal os nomes dos jogadores de futebol que me pareciam esquisitos. Ainda não tínhamos chegado à babel que agora é, mas o Marreca, o Camelo, o Cansado, o Repolho, o Chouriça, o Torto, o Maneta, o Sacristão, o Mouco e o Aguardente enchiam-me de alegria as segundas-feiras. Também gostava muito do Araponga, do Alhinho e do Manaca, que uma vez vi em Guimarães a marcar um magnífico autogolo que não tem nada que se lhe aponte. O Penteado, o Careca, o Metralha e o Cascavel já me apareceram fora de tempo, mas isto é tudo nomes só por exemplo.
Com os nomes sublinhados eu fazia equipas que jogavam umas contra as outras, num campeonato de partir a moca, porque eu imaginava os jogadores exactamente conforme o nome, não sei se estão a ver o Marreca a driblar o Sacristão e o Repolho a entrar de pé em riste ao Camelo.

(Não é preciso ir mais longe: sou de Fafe, uma terra que deu ao futebol e ao mundo nomes tão extraordinários como Ricoca, Riga, Piré, Rates, Estafete, Mulato, Zebras, Caganito, Trolas, Feira Velha, Machica, Esparrinhento, Pescoça, Ferradeira ou Mofo. Nomes que são uma primeirinha, do tempo em que o futebol era desporto e jogado por gente como nós. Uns antes, outros depois, estes e mais, foram e ainda são os meus ídolos.)

Sempre apreciei particularmente os jogadores de um nome só. Mas nome de barba rija, se me faço entender. O Freitas, o Gomes, o Antunes, o Meneses, o Martins, o Ferreira, o Oliveira, o Marques, o Almeida, o Lopes, o Carvalho - eram nomes que me punham em sentido. E se os nomes tivessem bigode farfalhudo, inclusive nas sobrancelhas, então ainda melhor. Nomes assim davam-me segurança, transpiravam autoridade, infundiam Respect. O agente Freitas, o chefe Gomes, o comissário Antunes, o nosso cabo Martins, o sargento Almeida, o capitão Carvalho... - estão a acompanhar-me?

Mas já não há nomes assim da boa e velha casca-grossa, e os bigodes de antanho foram de momento substituídos por falsas barbas jihadistas em caras de sobrancelhas depiladas. Temos agora em campo o Rúben Micael, o Emídio Rafael, o Rui Pedro, o Nuno Henrique, o Mário Rui, o Rui Miguel, o João Mário, o João Paulo, o Paulo Jorge, o Cristiano Ronaldo. Enfim, cátias vanessas. 


Banho de cultura, mas apenas molhando os pés
- E essa semaninha em Roma?
- Fantástica! Um tremendo banho de cultura! Um mergulho na História! Sabes que a cultura para mim...
- E o velho Coliseu?
- Absolutamente sem condições, carente de uma remodelação profunda. Já estão a substituir o relvado...

2 comentários:

  1. Hernâni. Não sei se já te disse que o Sr.Penteado ( sim, é um senhor!)é um dos vigilantes do Museu de Serralves. Foi engraçado, um dia, em face da amabilidade e do conhecimento que tem sobre as "obras" expostas em Serralves perguntei-lhe o nome: Penteado respondeu. De imediato me lembrei do avançado mulato, alto e correcto, que havia visto actuar no ataque do Leixões e depois no Porto.

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    1. Às vezes encontro-o a caminhar no Parque da Cidade do Porto, mas creio que ele ainda mora aqui em Matosinhos, onde é tratado, como tu também muito bem dizes, por Sr. Penteado. No FC Porto ele esteve tapado sobretudo pelo Gomes e pelo Walsh, mas, se não me engano, foi o melhor marcador no campeonato de reservas. Convém não esquecer que, para além de outros clubes, passou também pelo grande Salgueiros.

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