Tácticas
- Olhe que eu meto-lhe um processo!
- Defensivo ou ofensivo?
- De transição...
Da defesa mista ao prego em prato
A defesa mista não foi
inventada por Luís Freitas Lobo. Mas, na boca de Freitas Lobo, a defesa
mista ganha foros de insondável ciência, sublimidade concomitante e
apropinquada só ao alcance de dois ou três predestinados: ele. Além
disso, a defesa mística explica quase tudo o que acontece, para o bem e
para o mal, no último terço do terreno, amém.
Luís
Freitas Lobo é um homem culto e sabe muito de futebol, muito mais do
que eu - é preciso que se note. Mas fala pelos cotovelos e pelos
joelhos, decerto nunca se ouviu. É muita posse de bola, e o parlapiê
havia de aparecer também nas estatísticas finais, à beira dos cantos e
dos remates à baliza, a ver se ele tomava sentido. O comentador
televisivo não deixa espaço ao narrador que eu só quero que me diga os
nomes dos números, põe-se à frente do telespectador, acha que fala para
cegos doutorados, metaforizando as coisas corriqueiras que, porventura
desconhece, nós também estamos a ver e somos simples. Quer-se dizer: o
comentador é ruído. Freitas Lobo,
que acha que tudo o que diz é absolutamente essencial e extraordinário,
está a banalizar o jogo, a desvalorizá-lo, a transformá-lo numa treta.
Porque passam-se coisas no campo, coisas, e eu tenho dois olhos e a
minha opinião.
Já sei: vão dizer-me que, se não gosto, sempre posso tirar o som. Tirei.
Era uma bola a pinchar e onze contra onze numa luta brava em campo pelado.
Naquela altura eu acreditava no futebol. Era o jogo da bola, só isso,
mais uma que outra coça aos árbitros, fazia parte. Lembro-me dos jogadores com
camisas de botões e das chuteiras remendadas e de travessas. O meu
coração era amarelo e preto, todo branco em equipamento alternativo, com o azul e
branco ainda guardado para segundas núpcias. Lembro-me dos jogadores que
nasciam e morriam no clube onde nasceram. Lembro-me de jogadores que
verdadeiramente morreriam em campo pelo seu clube, era só dizerem-lhes
que era preciso. Lembro-me de jogadores que corriam como se treinassem
todos os dias e só treinavam durante o jogo. Lembro-me de jogadores que
fugiam da tropa para jogar e depois iam presos. Lembro-me de jogadores
que chegavam da guerra carregados de paludismo e queriam lá saber.
Lembro-me de jogadores que choravam nas derrotas e embebedavam-se nas
vitórias, porque era assim. Lembro-me e gosto. Sou um bocado velho, o
que se há-de fazer?
Os palavrões futebolísticos com
nada dentro não nasceram agora, neste tempo insosso cheio de
periodizações tácticas, champôs e espaços entre linhas. Há mestres antes
do mestre. E nem vou falar dos estimáveis Gabriel Alves e Rui Tovar, mas do consagrado Alves dos Santos, que nos deu a "pertinácia" e o
"arreganho", e viu um golo "exactamente igual ao golo anterior", quando a
Eurovisão estreou as repetições (que era só uma, com um inesperado e
mal amanhado R no canto superior direito do ecrã da televisão do Peludo)
e ele não sabia. Ou do bom do Mário Wilson, então treinador do
Boavista, quando perdeu nas Antas e queixou-se dos golos de "bola
parada". José Maria Pedroto, então treinador do FC Porto, disse que não
podia ser: bola parada não anda, logo não entra, explicou.
Resumindo e concluindo. Sou, portanto, antigo. Gosto de futebol.
Dos noventa e tal minutos que se jogam em campo. Vejo e sei o que vejo,
não preciso que ninguém me ensine a ver o que vejo, não preciso de tradução simultânea para o que estou a ver, e dispenso a opinião especialista, eu tenho a minha opinião.
Para mim um jogo não dura uma semana. E, sim, gosto de ver futebol na
televisão, mas, para ouvir futebol, prefiro a Antena 1. Ou então um
prego em prato.
Cá por mim, aposto no prego no prato.
ResponderEliminarEntão são dois, se faz favor.
EliminarAbraço, amigo Orlando.
Cá por mim, aposto no prego no prato.
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