O Verão dá-me cabo da cabeça, perplexa-me. Enche-me o areal ali em baixo com milhares e milhares de pessoas que não têm dinheiro para alugar meia hora numa máquina de assar frangos, e portanto vêm para a praia. Atenção: eu até gosto de praia, nem sequer me imagino agora a viver sem ter o mar debaixo de olho, e à praia passeio-a todas as manhãs, só eu e ela, de braço dado, as ondas a desmaiarem-me aos pés, o silêncio (aquela espécie de silêncio) a lavar-me a alma. Isto é - eu namoro a praia, mas não a "faço".
Os que "fazem praia" é que me espantam. Na fornada das duas da tarde, espreito da minha varanda e não há maneira de conseguir compreender o que vejo no meu quintal. O que estão a fazer ali aqueles milhares de pessoas quase nuas? Foram obrigadas? É um castigo? Promessa? Vieram de livre vontade? Porquê? E porque trouxeram as crianças e os velhos? Palavra de honra, não percebo, não percebo, não percebo. Se ao menos houvesse a sombra de uma árvore, a frescura da erva verde, um regato cristalino e gelado onde demolhar os pés e meia dúzia de garrafas de vinho, ainda vá que não vá. Mas não, é só areia, areia e mais areia, areia de mais para a minha camioneta.
Areia a escaldar e a voar, um sol a pique e impiedoso, o ar parado, pesado.
Sua-se em bica, sufoca-se, leva-se com boladas no nariz e nos tomates, a pele derrete e dói, a cabeça estala, a areia cega, pica, mete-se nos dentes, incomoda o rego do cu. E aquela gente parece que gosta, guincha de prazer. Gente esquisita. O que a praia lhes faz...
Desisto. Não entendo. Mas talvez Sacher-Masoch explique.
(Com o título de "O Verão da minha perplexidade", escrevi e publiquei este texto fará amanhã oito dias. Pois, meu dito, meu feito: o Verão apresentou-se hoje ao serviço, e olhem-me lá para fora! Sinceramente, é um fenómeno que não consigo abranger. Então este povo não estaria muito melhor numa sombrinha, valha-me Deus?!...)
Foto Hernâni Von Doellinger |
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