Os fundamentos do jogo (proposta de tese)
Os
fundamentos do jogo são hoje em dia uma acepção filosófica
incontornável e fundamental, depois do futebol ter sido inventado por
Louis Freitas Wolf, em 1997. Eu vou tarde mas vou tirar uma
pós-graduação em Fundamentos do Jogo, porque já percebi que só com o
exame da quarta não chego lá. Havia antigamente um entretimento curioso,
eu sei que é entretenimento, mas, dizia, havia antigamente um
entretimento curioso que eram onze contra onze e a bola era redonda,
obviamente para se distinguir de outro entretimento curioso, eu sei que é
entretenimento, que era o cheira-cus, também chamado râguebi, que, ao
contrário do que circula em certos meios, ou mêlées, não foi inventado por Cordeiro do Vale, e são quinze contra quinze e a bola é um melão.
Antes
da extraordinária invenção de Louis Freitas Wolf, há registos de quem
chamasse futebol àquela coisa simples dos onze contra onze, mas era
apenas premonição, um por acaso feliz, um long shot que correu
bem, porém sem base científica nem atestado da Junta de Freguesia.
Falava-se então nuns tais "esquemas tácticos", como se isso quisessse
dizer alguma coisa, mas ninguém sabia nada de entre linhas, de
entrefolhos, de verticalidade, de horizontalidade, de diagonalidade, de
palavras cruzadas, de sopas de letras, de soduku, de transições rápidas
como pensos ou lentas como valsas, da ocupação do espaço, do triângulo
invertido, do ménage à trois, do losango, do ângulo recto e da
circunferência, do poliedro, da táctica do quadrado, de Aljubarrota, das
linhas subidas e da Linha da Beira Baixa, do ADN, da tibiotársica, do
conceito, do preconceito, do duplo pivô, sim, do duplo pivô e do
implante, do último terço do terreno e do quarto segredo de Fátima. Este
avanço no tutano da inteligência universal, um pequeno passo para o
homem mas um passo de gigante para a humanidade, devemo-lo a Louis
Freitas Wolf e não tem preço.
Por exemplo, o guarda-redes. O
guarda-redes nunca teve lugar nos tais "esquemas tácticos"
amadoristicamente experimentados ante-Louis Freitas Wolf. Eram "onze
contra onze", mas o guarda-redes, nem que fosse "o melhor do mundo", não
contava para o totobola. O guarda-redes, naquele tempo de trevas, era
uma espécie de Santa Bárbara (embora esse fosse do andebol), só se
lembravam dele quando acontecia penálti. De resto, havia o 1-1-8, o WM, o
4-2-4, o 3-4-3, o 4-3-3 e o 3-5-2. Sobretudo. E é só fazer as contas,
somar os algarismos e ver que dá dez, não onze. Até W mais M é igual a
dez. O "onze contra onze" é uma fraude - eram dez contra dez e era um
pau, e a bola era redonda mas nem sempre. O guarda-redes realmente não
era levado a sério (à séria, se lido em Lisboa) naquele curioso
entretimento, eu sei que é entretenimento, e nós, os que só servíamos
para a baliza nos muda-aos-seis-e-acaba-aos-doze de miúdos, eu no
recreio da Feira Velha ou no Largo do Santo, sabemos muito bem do que
estou a falar...
No meu estudo, estribado na vasta obra de Louis
Freitas Wolf, tentarei responder à questão magna e que se impõe: o que é
que o guarda-redes faz na baliza. E à questão mínima e que nem por isso
deixa de se impôr: se o guarda-redes souber jogar com os pés deve ser
lançado, no período complementar, a extremo direito, quero dizer, a ala,
a ala bem aberto? Na faixa?...
Há uma quase imperceptível diferença
A Selecção voltou a empatar. E depois? Portugal é que nos devia preocupar.
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