terça-feira, 14 de junho de 2016

Histórias de cães e outros animais 2

Um cão que percebe alemão
Estou varado. Um cão que percebe alemão! Palavra de honra, vi no Parque da Cidade um cão que percebe alemão. Coisa absolutamente extraordinária. O normal, o que é segundo a natureza, é que os cães percebam português, como toda a gente sabe e Deus quer. Bobi, senta! Tejo, vai lá para fora! Ou, condescendamos, Aramis, anda já aqui à dona! E os bichinhos compreendem e acatam. Sentam, vão ou vêm. Foi sempre assim com todos os animais desde Adão e Eva e nem podia ser de outra forma após Noé. Foi assim no Presépio e foi assim na embaixada de D. Manuel ao Papa. Agora, em alemão é que eu não fazia ideia. Parece impossível...
Eu vou contar: era um casal claramente germânico que iniciava a sua caminhada matinal pelo parque. À frente, livre da trela, saltitava um daqueles luluzinhos fraldiqueiros muito pouco germânicos e que se afastava dos donos cada vez mais, à procura da brincadeira com os melros. E afastou-se tanto que a senhora se sobressaltou, pôs-se de repente em sentido, puxou pelos galões, levantou e estendeu o braço direito (apontando ao animal, quero eu dizer) e disse qualquer coisa parecida com Mainazuçavelpencomanihaihaihaihacomanumume e que eu suponho que seja o nome de baptismo do bicho, uma vez que ele deu si, fez imediatamente meia volta e, de rabo entre as pernas, foi entregar-se aos braços abertos da dona. O palavrão também pode querer significar outra coisa qualquer, mas não sei dizer o quê, porque, neste como noutros departamentos, estou ainda abaixo de cão.
O que sei dizer é que fiquei para a minha vida. Um cão que percebe alemão? Depois do que vi, já estou por tudo, acredito em tudo. Se me chamarem para jogar na Selecção, eu acredito-me e vou. Se me disserem que a estamos a sair da crise, eu fio-me e corro a fazer o empréstimo para o Ferrari. Se me garantirem que o Miguel Relvas, não desfazendo, é muito boa pessoa, eu... eu... ... Não sei, se calhar não acredito. 


A realização do homem no século XXI
Adoptar um cão, comprar um bonsai e escrever num blogue. 


O calçãozinho vermelho
A miúda era gira. Pelo menos vista por trás. Vestia um calçãozinho vermelho e levava dois cães pela mão, cada um por sua trela. Não sei de raças de cães, só distingo duas: a raça grande e a raça pequena. Estes dois eram dos grandes, dos que se metem comigo.
A miúda era gira, dizia eu, e preparava-se para entrar no Parque da Cidade do Porto. Via-se que andava a apalpar terreno, devia ser a sua primeira vez. E decerto foi por isso que fez o que eu nunca tinha visto ninguém fazer: parou a ler o painel com as "Normas de Circulação de Cães". Pelo tempo que demorou, deu para perceber que leu toda a informação, de uma ponta a outra. Depois pareceu-me que verificou se estava tudo ok - olhando por si abaixo, para as trelas e para os cães -, e só então é que avançou. Apeteceu-me aplaudir! Bater palmas à atitude cuidadosa, ao respeito pelos outros, à lição de cidadania, ao calçãozinho vermelho que deixava as nalguinhas à mostra e não trazia cuecas.
Eu próprio fiquei curioso e fui dar uma vista de olhos ao painel. Há um igual em cada entrada do Parque. O painel explica sumariamente o que são "cães potencialmente perigosos" e "cães perigosos", ajuda a identificar, com fotos e notas explicativas, as "raças potencialmente perigosas" e, no seu corpo central, alinha as quatro normas fundamentais a observar. Que são:
"1. É obrigatório para todos os cães o uso de coleira ou peitoral, no qual deve estar inscrito, de forma visível, o nome e morada ou telefone do seu detentor.
2. Os cães devem circular com trela e sempre acompanhados pelo seu detentor.
3. Os cães perigosos ou potencialmente perigosos devem circular no Parque da Cidade acompanhados pelo seu detentor, maior de 16 anos, e com uma trela curta até 1 metro, que deverá estar fixa à coleira ou peitoral e açaimo funcional.
4. Os detentores dos animais deverão, em qualquer deslocação, fazer-se acompanhar do boletim sanitário dos animais com os quais circulam."
Infelizmente os cães não sabem ler, e isso faz diferença a muitos donos.

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