terça-feira, 25 de abril de 2017

Paulo Vanzolini


Quem me viu e quem me vê

Quem me viu e quem me vê
há de dizê certamente
que hoje me vê diferente.
Se essa vida é mesmo um circo,
paiaço dela sô eu.
Destino se riu de mim,
me deu muler que eu não quero,
muler que eu quero num deu.

Uma, coitada, me adora.
Se eu passo e num ligo, chora.
Sempre eu passo, nunca eu ligo.

A outra, veja você,
destino brinco comigo,
nem finge que não me vê,
si ri pra mim tudo dia,
não sorriso de bondade,
nem de amor nem de amizade,
de maldade e de ironia.

Quem me viu e quem me vê
hoje me vê deferente.
Onde eu to tem tempo quente,
tem tiro, tem punhalada,
tem sangue, tem entrevero.
Diz que eu não sô bom de gênio,
dissesse que é desespero.

Quem conhece um pouco a vida
Vê meu destino traçado:
vô acabá de madrugada
espichado numa carçada,
morrendo de morte matada.

E nesse dia de sangue
essa muler que eu não gosto,
me vendo morto se mata.
E essa que gosto, essa ingrata,
não há de chorar por mim,
só há de dizer assim,
com seu jeito de princesa:
- Era nego muito salafra,
morrendo até foi limpeza...
Paulo Vanzolini 

(Paulo Vanzolini nasceu no dia 25 de Abril de 1924. Morreu em 2013.)

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