quarta-feira, 19 de abril de 2017

Augusto dos Anjos 4

Depois da orgia
 
O prazer que na orgia a hetaíra goza
Produz no meu sensorium de bacante
O efeito de uma túnica brilhante
Cobrindo ampla apostema escrofulosa!

Troveja! E anelo ter, sôfrega e ansiosa,
O sistema nervoso de um gigante
Para sofrer na minha carne estuante
A dor da força cósmica furiosa.

Apraz-me, enfim, despindo a última alfaia
Que ao comércio dos homens me traz presa,
Livre deste cadeado de peçonha,

Semelhante a um cachorro de atalaia
Às decomposições da Natureza,
Ficar latindo minha dor medonha!

"Eu e Outras Poesias", Augusto dos Anjos

(Augusto dos Anjos nasceu no dia 20 de Abril de 1884. Morreu em 1914.)

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