Mar em fora
Deixa singrar o barco a onda revolta! Deixa
Que siga e no horizonte intérmino se suma
E entoe o nauta heróico esta saudosa endecha
Cujo eco esparso fica ainda a chorar na bruma.
Que importa o rumo ignoto à proa que se apruma
Contra o euro que na enxárcia ríspida se queixa,
Se o rastro vai perder-se enfim por entre a espuma
Onde a nereida ablui a mádida madeixa?
Eu não quero saber que rota ideou o esquife
Indolente que além pela amplidão balança,
Sem temer que a borrasca instantânea o espatife.
Avante' o sonho, o sonho é que nos dá confiança!
Cuidado! barra afora esconde-se o arrecife!
Embora! no meu bojo arde e anseia a esperança.
"Mistérios", Severiano de Resende
(Severiano de Resende nasceu no dia 23 de Janeiro de 1871. Morreu em 1931.)
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