Pus-me a pensar nas minhas procuras e mais em todas as outras que me despertaram as buscas dos homens de Bangalore, Imaginei o mundo como o tal imenso formigueiro, com dois de cada dez homens, para um lado e para o outro, a ver se encontram o grão para comer na sua eternidade. Imaginei um Deus com um enorme sorriso - aquele sorriso da Rita ampliado à dimensão do tempo da história, desde o homem das cavernas até ao dia em que se realizasse o tal projecto pressentido. Disse-lhe:
- Rita: eu acho que Deus tem assim um sorriso como o teu quando nos vê amargurados...
- E eu acho que ele se ri mas é daqueles que andam por aí, muito contentes e convencidos, a fazerem o mundo como está...
Depois, ainda com o mesmo sorriso, levantou a roupa da cama, deitou-se e disse-me:
- Vá. Vem para a nossa Arca de Noé...
"O Riso de Deus", António Alçada Baptista
(António Alçada Baptista nasceu no dia 29 de Janeiro de 1927. Morreu em 2008.)
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