Madrugal
A madrugada treme no meu peito.
O cobertor, bandeira esfarrapada.
Há legiões de duendes sobre o leito.
Mil sons de passos sobem da calçada.
Do teto a cal mortiça se derrama.
O travesseiro me pressiona a nuca.
Da cabeceira jorra uma maluca
onde a luz que incide sobre a cama.
Ouço o relógio perfurar, insano,
do vil silêncio o torturante pano
e respingar de sangue o meu pijama.
Meus dedos, quais formigas no lençol,
avançam temerosos para o sol
do teu indiferente corpo em chama.
Amílcar Dória Matos
(Amílcar Dória Matos nasceu no dia 24 de Janeiro de 1938. Morreu em 2010.)
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