Pelas ruas vagava, em desatino,
Em busca do seu asno que fugira,
Um pobre paspalhão apatetado,
Que dizia chamar-se Macambira.
A todos perguntava se não viram
O bruto que era seu e desertara;
Ele é sério (dizia), está ferrado
E tem o branco focinho, é malacara.
Eis que encontra postado numa esquina
Um esperto, ardiloso capadócio,
Dos que mofam da pobre humanidade,
Vivendo, por milagre, santo ócio.
Olá, senhor meu amo, lhe pergunta
O pobre do matuto, agoniado;
"Por aqui não passou o meu burrego
Que tem ruço o focinho, o pé calçado?"
Responde-lhe o tratante, em tom de mofa:
"O seu burro, senhor, aqui passou,
Mas um guapo ministro fê-lo presa,
E num parvo barão o transformou!"
Ó Virgem Santa! (exclama o tabaréu,
Da cabeça tirando o seu chapéu)
Se me pilha o ministro, neste estado,
Serei conde, marquês e deputado!...
Luís Gama
(Luís Gama nasceu no dia 21 de Junho de 1830. Morreu em 1882.)
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