Foto Hernâni Von Doellinger |
Quando o Sporting deu 7-1 ao Benfica
Catorze de Dezembro de 1986. Há quase 31 anos, em Alvalade o velho, num épico jogo de futebol: Sporting 7 - Benfica 1. Ainda hoje há quem diga que, a haver um vencedor, teria de ser o Benfica...
"E ao iniciarmos os nossos trabalhos, a todos desejamos uma muito boa tarde"
A frase era: "E ao iniciarmos os nossos trabalhos, a todos desejamos uma muito boa tarde". Mas só funcionava se fosse metida no meio de uma marcha do John Philip Sousa, que para mim era um músico português de Castelo de Paiva que tinha ido para a América em pequenino. Eu sabia que no Pejão havia por aquela altura uma grande banda de música que até tinha um disco e que era quase tão boa como a nossa, a de Revelhe, e era por isso. Quanto à marcha propriamente dita, de preferência Stars And Stripes Forever. Isso, sim, era serviço profissional. Serviço completo.
Eu adorava os altifalantes. Chamavam por mim e eu ia. Eram sinal de futebol no Campo da Granja, eram Festa da Bomba, eram o Santo António na minha rua, eram a Senhora de Antime que vinha à vila numa tremenda e comovente procissão. E adorava aquela frase. O meu sonho era dizê-la quando fosse grande.
E disse. Vezes sem conta, anos mais tarde, já os altifalantes tinham sido promovidos a "instalações sonoras" e a bola rolava no Estádio de campo pelado. Sim, o microfone agora era meu, eu era o rapaz da "constituição das equipas" e daqueles reclames muito jeitosos que terminavam todos em "... nesta simpática lo-ca-li-da-deee". E nem imaginam o que eu sofria quando, no defeso, andava de catrel pelas aldeias de Fafe, mais o Pimenta, a anunciar os filmes do cinema ao ar livre e sem poder dizer a frase. Não encaixava de maneira nenhuma - que seca! E os filmes também...
"E ao iniciarmos os nossos trabalhos, a todos desejamos uma muito boa tarde". Era a frase da minha infância e andou sempre comigo. Até na profissão. Quando passei pela Informação da Rádio Comercial, no tempo da RDP, muitas vezes a disse, como teste, na gravação de uma notícia ou apenas por brincadeira, de microfone fechado, antes de ir para o ar com o noticiário.
Nunca chegou cá fora, e foi o que os senhores ouvintes perderam - como certamente estão agora a perceber. Em contrapartida, uma vez, no final de um bloco noticioso particularmente bem conseguido, saiu-nos - ao colega de cabina e a mim - um "Até os comemos!", de microfone distraidamente aberto e destinatários certos, que ainda hoje é o nosso orgulho.
Porque "Até os comemos!" também é uma bela frase e resulta muito bem em rádio. Mas, verdade seja dita, não tem comparação com a outra, a dos altifalantes, pois não?...
Não sei se se recordam, mas no Mundial de 2014, no Brasil, o jogo França-Honduras não teve hinos. Num Mundial em que os penáltis de encomenda até estavam a sair tão bem, esqueceram-se do principal: do gira-discos e dos velhos altifalantes. Só pode ser falta de informação, ou então qualquer coisinha contra Portugal, porque, se o Brasil queria um serviço como deve ser, profissional e a mandar ventarolas, que viesse ao lado de cá encomendá-lo. Os responsáveis pela empreitada deveriam saber, tinham de saber, que as "Amplificações sonoras de João Baptista Gonçalves, de Antime, Fafe, deslocam-se a qualquer localidade, haja ou não haja corrente eléctrica". Não tenho a menor dúvida, o Mundial do Brasil ficava muito bem servido com os altifalantes do Baptista. Com os altifalantes do Baptista, hinos... é de calcanhar.
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