D. Carolina, pelo contrário, havia rejeitado dez braços. Queria passear só. Um braço era uma prisão e a engraçada Moreninha gosta, sobretudo, da liberdade. Ela quer correr, saltar e entender com as outras; agora adiante de todos, e daqui a pouco ser a última no passeio: viva, com seus olhos sempre brilhantes, ágil, com seu pezinho sempre pronto para a carreira; inocente para não se envergonhar de suas travessuras e criada com mimo demais para prestar atenção aos conselhos de seu irmão, ela está em toda a parte, vê, observa tudo e de tudo tira partido para rir-se: em contínua hostilidade com todas aquelas que passeavam com moços, de cada vista d'olhos, de cada suspiro, de cada palavra, de cada ação que percebia tirava motivo para seus epigramas; e, inimigo invencível, porque não tinha travo por onde fosse atacado, era por isso temido e acariciado. Deixemo-la, pois, correr e saltar, aparecer e desaparecer ao mesmo tempo; nem à nossa pena é dado o poder acompanhá-la, que ela é tão rápida como o pensamento.
"A Moreninha", Joaquim Manuel de Macedo
(Joaquim Manuel de Macedo nasceu no dia 24 de Junho de 1820. Morreu em 1882.)
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