Arte poética
Faço poema às vezes com a displicência
de um risco sem figura,
como a preguiça de um gesto
sem destino,
às vezes como o adormecimento
no mormaço,
como o tremor de uma lágrima
de espanto;
faço poema às vezes como a faina
de colher flores, de passar os dedos
nas águas, de voltar-me
por não ver nada mais do que sonhava;
faço poema às vezes como a máquina
registra, como o dedo segue
a linha da leitura, como a força
invisível de virar
a página de um livro casual;
mas às vezes faço poema como erguendo
um punhal contra a rosa, ou contra mim,
como quem morre e resiste e quer morrer
assim
faço poema, às vezes.
Faço poema sempre como vivo.
"Poemas da Paixão", Walmir Ayala
(Walmir Ayala nasceu no dia 4 de Janeiro de 1933. Morreu em 1991.)
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