Ultimamente dá-me para sonhar com pessoas que já morreram. Pessoas de
quem gosto - familiares e amigos, sobretudo amigos. Sou um simples,
acho que são saudades. Mas dizem-me que não, que o assunto é muito mais
complicado, especialistas em correntes de ar garantem-me que os sonhos
querem dizer coisas, significam, e que não enganam. Como o algodão do
Sonasol. Nos sonhos está lá tudo, e tudo acaba por bater certo.
Limpinho.
Sonhar com pessoas amigas que já morreram, falar com elas
no sonho, explicam-me que é o melhor que me podia acontecer. É o
pré-aviso de que está aí a rebentar-me nas mãos uma fartura de boas
notícias, um mar de felicidade e saúde como o aço para mim e para os
meus. O que é preciso é estar atento aos recados que os defuntos da
corda me querem segredar. Isto é a regra geral, científica, embora possa
parecer o horóscopo.
Não sei se esta tão conveniente interpretação
dos sonhos com mortos também vale para Portugal e para vivos chamados
Hernâni Von Doellinger naturais de Fafe e residentes em
Matosinhos-sur-Mer. Pela miséria que me tem saído na rifa nos últimos
tempos, suspeito que não, mas cá fico à espera de melhores dias.
Tenho alguma pressa, confesso, porque se uma coisa sei de certeza é que
os sonhos padecem de prazo de validade. Um gajo deita-se uma noite moço e
convencido de que os sonhos molhados até são um acontecimento, vá lá,
engraçaaaaado..., e acorda de manhã ancião e alagado em mijo derivado à
incontinência urinária. A vida é tão breve, não foi?
Entretanto, gostaria de aproveitar a oportunidade para comunicar aos meus sonhos que, uma vez que desdenho a Raspadinha, o que me convinha mesmo era o Euromilhões. O jackpot do jackpot, se fazem favor. Agora vou dormir e passo à escuta.
Por falar nisso: sonhar com algodão dizem que é muito bom para a saúde e
que traz uma vida cheia de dinheiro e de felicidade. Bem empregue. É
preciso ser-se mesmo muito desgraçado para sonhar com algodão. Se ainda
fosse com merda..
Mijar no Terrace custa pelo menos euro e meio
Aflitíssimo, entrei no Terrace e pedi: - Por favor, dá-me licença de
utilizar a casa de banho? -. Estava preparado para receber uma de duas
respostas, "sim" ou "não", mas deram-me a terceira: - Vai tomar alguma
coisa? - Eu disse que beberia uma água e tornei a pedir: - Por favor,
dá-me licença de utilizar a casa de banho? - Que assim sim. Utilizei
então a casa de banho, isto é, mijei, fiz uma descarga de autoclismo,
limpei do chão duas pingas que não souberam o caminho e lavei as mãos.
Evidentemente eu poderia sair da casa de banho do Terrace e vir-me
embora, mas fui tomar a água contratada. Aproveitei para explicar
calmamente ao jovem e educado funcionário que um dia, quando ele for
mais velho, talvez da minha idade, vai ficar tipo fodido por lhe fazerem
a ele o que ele me fez a mim. O jovem e educado funcionário disse-me
que é desta maneira que ali se trabalha, no Terrace, por ordens da
gerência. Paguei um euro e meio pela água e estou arrependido: não sei
se o dinheiro chegava, mas, em vez de beber a puta da água, devia ter
comido um biju. A água pôs-me outra vez à rasca na viagem de metro da
Trindade até Matosinhos. Vim a correr para casa e mijei-me pernas abaixo
mal consegui abrir a porta...
O Terrace é um café situado no gaveto das ruas de Fernandes Tomás, da
Trindade e do Estêvão, nas traseiras da Câmara Municipal do Porto. E tem
gerência.
P.S. - Apontamentos publicados originalmente nos dias 11 de Setembro de 2014 e 20 de Outubro de 2018, respectivamente. Hoje, 29 de Janeiro, Portugal assinala o Dia da Incontinência Urinária. É também Dia Internacional do Hanseniano.
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