Uma boa trancada
Fafe. No monte de São Jorge havia o Pionono, assim com maiúscula, é justo que
se diga. Pionono era nome próprio, sítio, geografia. "Vou ao Pionono".
Ia-se ao Pionono. E o Pionono era naquele tempo muito mais do que um acomodado cabeço, crescia sem fim à vista, misterioso, palpitante, labiríntico, agigantava-se floresta, cenário de filme, de livrinho de aventuras, de fantasia e crime. Ao Pionono ia-se aos pinheiros pelo Natal, ia-se esgaçar umas pernadas de carvalho para o trono da cascata do Santo António, ia-se aos fentos ou
ao mato para o eido ou às giestas secas para espertar a lareira do chão
da cozinha, ia-se brincar aos cobóis, ia-se cagar ao monte e ia-se dar
umas trancadas, e o que eu gostava da palavra trancadas, mesmo sem conseguir então alcançar, coitadinho, o que ela quereria dizer.
O Pionono hoje é casas e está bem. Uma rua a descer para quem vem e, a mesma, a subir para quem vai. À merda. Monte é que... viste-lo?
E faz falta. Adaptando o meu Nobel Lobo Antunes, nem é homem nem é nada quem nunca deu uma boa trancada no monte. Eu já.
Branca e radiante
Branca de Neve brincava às casinhas com a casa dos sete anões. Com os anões brincava aos médicos, há quem diga. E a casa era na floresta.
Capuchinho Vermelho ia levar o merendeiro à Avozinha, mas apareceu-lhe o Lobo Mau que a queria comer a ela, Capuchinho. E a casa da Avozinha era no meio da floresta.
Se alguém souber dizer onde eram as casas dos Três Porquinhos, não me admiraria que fossem na floresta. E "porquinhos" porquê?...
P.S. - Hoje, 23 de Novembro, é Dia da Floresta Autóctone. Ou, melhor dizendo, Dia do Nestinho Quercus Pyrenaica, com todo o respeito e consideração (e quem quiser que faça a rima...).
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