O telefone toca, a gente atende num susto, e o que é que faz? A gente, quero dizer nós todos, os portugueses de um modo geral. Posto isto - então o que é que a gente faz? A gente agarra-se ao telefone com as duas mãos numa aflição que Deus me livre, e pergunta para o outro lado, aos gritos e falta de ar: - Estou?! Estou??!! Estou???!!! A gente tem medo de não estar. Precisamos de confirmação. Ó insegurança! Ó angústia existencial! Ó compinchas caguinchas! Que é das armas e dos barões assinalados? Que é dos heróis do mar, nobre pobre, nação valente?
E nisto estamos. Ou não estaremos?
Prova de vida
- Está?
- Estou.
- Está?!...
- Estou!
- Ah!
- E aí, está?
- Estou.
- Está?!...
- Estou!
- Pronto, amanhã ligo eu.
Era o Lopes
Eu levo os telemóveis muito a sério (à séria, se lido em Lisboa). Se o meu telemóvel toca, e é raro, eu atendo. Sempre. Ainda ontem: eu estava aqui nas traseiras, por acaso sem o telemóvel à mão, e ouvi-o tocar na cozinha, virada para a rua. Fui lá a correr: não era o telemóvel, era a máquina de lavar roupa, que as máquinas de lavar roupa agora também tocam. O que é que eu fiz? Atendi a máquina de lavar roupa, evidentemente, e era o Lopes...
Os amigos são para as ocasiões
Um amigo de Lisboa mandou-me uma SMS. Dizia-me que precisava de falar
urgentemente comigo. Não pensei duas vezes. Nem três: meti-me no carro e lancei-me
na auto-estrada a mais de 180 à hora. Só ao chegar a Vila Franca é que
me lembrei que não tenho carro nem sei conduzir...
P.S. - O serviço telefónico automático entre Lisboa e o Porto foi inaugurado no dia 20 de Novembro de 1963.
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