Se um pobrinho a pedir vai onde um crego,
Ainda esteja famento, manco ou cego,
Só às vezes acha um "Deus o ampare",
Que nem faz nascer côdeas no taleigo,
Nem que a andorga se farte sem jantar.
Se um crego, pela contra, pede a um pobre
O que ele chama oferendas, sempre o move,
Quando menos a dar-lhe alguma espiga,
Que, vendendo-a, qual faz, quando a grã sobe,
Deixa de sobra para encher a barriga.
Isso diz que ainda rege a lei do embudo
Pra os que o povo ter querem cego e mudo,
Ainda que diz a doutrina verdadeira:
Ninguém faça a ninguém o que el' não queira.
"Poesias Completas", Manuel Leiras Pulpeiro
(Manuel Leiras Pulpeiro nasceu no dia 25 de Outubro de 1854. Morreu em 1912.)
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